Quando eu acordei, eu conseguia ouvir com precisão a chuva do lado de fora. Os pingos eram violentos e caiam em desespero do céu, como se necessitassem muito imediatamente desvincular das nuvens, como se necessitasse largar aquele lugar para viver aqui.
Pensar nessa possibilidade era muito fácil quando você conseguia ter uma capacidade de audição absurda que nenhum ser humano conseguia. Mas era muito difícil quando alguém "normal" tentava pensar desta forma.
E também era muito difícil você entender quem você era quando nenhum exame médico conseguia detectar alguma anormalidade no seu corpo.
Tudo começou quando eu tinha apenas 7 anos de idade. Quer dizer, tudo só se intensificou quando completei meus 17 anos, antes disso, as coisas vinham aos poucos e causavam um turbilhão de loucuras na minha cabeça. Não é muito diferente de hoje/agora, mas estou aprendendo a controlar.
A minha família estava ciente disso, mas eu tenho certeza que eles se assustavam tanto quanto eu, embora sempre me aconselhassem e me chamassem de "pedra divina", um apelido bobo pra dizer que fui a escolhida de Deus pra algum propósito. Não sei que propósito é esse, nem sei se existe algum Deus... Só sei que às vezes os sons não se controlam, e eu sinto que vou enlouquecer.
– Pronta? - Minha mãe era baixa e gordinha, sua voz era fina e desajeitada, mas eu amava esse jeito confuso e protetor dela.
Assenti.
Eu estava pronta para a escola. Mas na verdade o que outros chamavam de roupa escolar, eu chamava de presídio.
Na minha antiga escola, nós usávamos o que quiséssemos, e eu adorava apostar em uma calça jeans comum junto com um suéter qualquer que mais me chamava atenção de manhã.
Meu uniforme agora era constituído de uma saia um pouco acima do joelho, e uma blusa fina de manga curta. Como eu odiava essa blusa eu jogava um casaco grosso do colégio por cima.
Quando cheguei na escola, Melanie, minha melhor amiga, me esperava como de costume na porta de entrada, sendo esbarrada algumas vezes pelos alunos.
Ela apontou para o relógio na forma de demonstrar o meu atraso, e eu fiz um gesto de desculpas.
– Mais um minuto e eu já ia embora! - Eu sorri, sabendo que era a mais pura mentira. Melanie jamais iria me deixar sozinha, eu tinha certeza disso.
Ela segurou no meu braço e me guiou para dentro do colégio.
O ar estudantil impregnava o ambiente ao redor. Aquele sentimento de responsabilidade grudava dentro de mim com força, e eu sabia que uma nova etapa estava por vir.
O primeiro dia de aula é sempre a mesma coisa. Pessoas se abraçando, pessoas se beijando, pessoa fazendo as pazes...
Pessoas novas.