A Viagem escrita por MiSwan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A minha primeira one - podem dizer tudo o que acharem.

Escrito em português de Portugal (caso não entendam algo, perguntem, terei todo o gosto em responder)



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— Nós pensámos que era o melhor, querida, parecia que precisavas de tempo. Claro que nunca pensei que fossem cinco anos. - A minha mãe ia falando comigo, muito calmamente, na cozinha, antes de dizer a todos que eu já tinha chegado. - O teu pai ficou abalado, afinal tu e a Nessie ainda são uns bebés para ele. No Natal, em cada Natal desde que saíste de casa, ele comprou-te um presente. Estão todos no teu quarto, mas sabes como ele é, certo? Em vez de te ligar e pedir para voltares a casa, decidiu ser "forte" e deixar-te curar... Mesmo o Edward...

— Mãe - interrompi -, eu não quero mesmo falar sobre isso. Já passou. O Edward é passado.

Ela assentiu. Deixei as malas na cozinha e segui, atrás da minha mãe, pelo corredor. Senti mais saudades deste lugar do que aquilo que pensei ser possível. Tive uma infância feliz, beneficiei da proximidade dos meus pais com os vizinhos. Todos cresceram juntos, então escolherem a mesma cidade e casas próximas para viver pareceu-lhes muito bem. Um grupo de jovens, caídos quase que do céu, aterrou em Forks, já lá vão quase trinta anos. Com o tempo, vieram os filhos. Por estranho que pareça, temos todos idades muito próximas uns dos outros. Na "primeira leva" da cegonha, nasceram o Edward Cullen, Emmett Swan e Jacob Black, no alto dos seus 28 anos. Depois disto, os tios Halle trouxeram ao mundo os gémeos Rosalie e Jasper, com 26. Passado apenas um ano, eis que chega a pequena Alice Cullen. Por último, e não menos importante, cheguei eu, Isabella Swan, e a minha irmã gémea, Reneesme Swan, contando hoje 23 anos.

Os nossos pais sempre brincaram que, no final de contas, ficaríamos juntos. Os quatro rapazes com as quatros raparigas. Os que começaram primeiro, e que me conseguiram fazer voltar a Forks, foram o meu irmão e a Rose. O casamento deles é esta semana. A relação deles sempre foi de extremos, uma coisa adorável e exasperante de ver. Tanto andavam a espalhar amor pelos cantos como andavam à porrada - sim, praticarem ambos kickboxing parece algo totalmente perfeito para aquele casal. Depois, aos poucos, outros casais se foram unindo - Jasper e Alice, Jacob e Reneesme, e, por último, eu e o Edward.

Tudo ia bem, sabem?, era fácil. Os meus pais confiavam em nós, sabiam o que esperar. Mas eu sempre me senti deslocada, não me sentia totalmente bem no meio de todos. Queria algo mais, algo que eu não sabia o que era, um je ne sais quois que me fazia ser bem mais fechada que os outros. O Edward era um namorado perfeito, como ele dizia, só o tinha a ele como exemplo real - segundo ele, os meus livros não contam. Ele sabia desta impressão, tantas vezes que lhe tentei explicar, tentei que ele me ajudasse a entender o que era. Contudo, por vezes, a nossa diferença de idades, cinco anos, parecia grande demais para ultrapassar.

Foi difícil quando ele foi para a faculdade. Fiquei feliz por ele, o meu menino estava a seguir o sonho de vir a ser médico, mas esse sonho levou-o para longe de mim, mais precisamente para Harvard. Meio país entre nós. Exames para ambos, era muita coisa. Tentava, ao máximo, não o incomodar - doía quando ele me gritava que tinha "coisas mais importantes a fazer que lidar com uma adolescente". Logo no primeiro Natal, quis ter uma conversa séria com ele. A criança de 15 anos... Disse-lhe que era melhor acabar a nossa relação. Não estava a dar para ambos.

— Estás doida? Achas que te vou perder para algum puto da escola? Nem que eu ponha o Jasper a tomar conta de ti, mas não te vou deixar por nada, pirralha.

Fiquei feliz. Ele ainda gostava de mim, mesmo estando rodeado de futuras médicas, mulheres mais velhas e mais experientes que eu. Só tinha estado com ele, em todos os sentidos que "estar" pode ter. Era ele e mais ninguém.

Entre altos e baixos, todos os casais foram sobrevivendo. Eu e a Nessie estávamos com pressa para acabar o ensino secundário. Estava decidido, cada uma de nós ia lutar para conseguir entrar em faculdades o mais perto possível das nossas caras metade. Chegava, finalmente, a nossa vez de sermos caloiras. Quando se decidiu a data do baile de finalistas, a Nessie deu a correr para ligar ao Jake. Eu não podia lugar logo, teria que esperar até ao dia seguinte - o Edward tinha-me avisado que tinha que fazer um turno complicado e, a menos que fosse caso de vida ou de morte, que não lhe devia ligar. Por vezes, queria ter a sorte da Nessie, ou das outras, que ligavam quando queriam para eles, mandavam-lhes mensagens e tinham resposta. A minha mãe e a tia Esme, mãe do Edward, brincavam que eu tinha uma paciência de santo para com ele. Eu sorria, tinha que a ter, um dia podia ser eu a exigir aquele nível de paciência.

No dia seguinte, perto do almoço, decidi que era hora de telefonar ao Edward. Fui para o jardim, sentei-me no baloiço, a chamar. Esperei, sempre a ouvir o toque de chamada. Fui parar à caixa postal. Desliguei e tentei uma segunda vez, tendo o mesmo resultado, mas, desta vez, deixei-lhe uma mensagem:

— Olá, Edward, pensei que te fosse apanhar a esta hora. Espero que esteja tudo bem. Olha, quando puderes, liga-me, queria falar contigo sobre uma coisa. Hum, é isso, pronto, amo-te. Liga-me quando puderes.

Não tive resposta por dois dias, mas a tia Esme tinha dito que tinha falado com o Edward naquela noite. Fiquei um pouco em baixo. A Nessie estava radiante, o Jake até deixou que ela escolhesse entre gravata ou laço e a cor, segundo ele, o que importava era ver a namorada feliz. Já tinha comprado bilhete e tudo.

Passada uma semana, o Edward finalmente respondeu às minhas mensagens, chamadas e emails. Apenas uma mensagem. "Tenho andado com muito trabalho, que queres?" - senti-me estúpida. Eu estava cansada, a felicidade da Nessie era linda de ser ver, mas estava a tirar-me do sério, assim como todos a conseguirem falar com o Edward, menos eu.

"Está tudo bem?"

"Não te preocupes. Afinal que querias?"

"Já marcaram a data do baile :)"

"Eu não vou."

Fiquei sem chão. Nem lhe tinha dito a data, simplesmente disse não. Decidi ligar-lhe, mas rejeitou-me todas as chamadas. Estava no meio de um almoço, e num momento de nervos, simplesmente pedi o telemóvel do tio Carlisle. Todos me olharam como se eu fosse maluca. Expliquei que não estava a conseguir falar com o Edward e contei que ele não me estava a atender. Já com o telemóvel pronto a ligar ao Edward, a minha mãe pediu-me para ficar perto, eu estava nervosa.

— Então, paizinho, estás com saudades do génio aqui?

— Olá.

O silêncio reinou mal eu falei. Fechei os olhos. Ele respirou fundo, aposto tudo em como apertou os olhos e remexeu no cabelo.

— Que estás a fazer com o telemóvel do meu pai?

— Estamos a almoçar, Ed. É normal. Ele sabe, deu-me o telemóvel de livre vontade. Que se passa?

— Não podes simplesmente deixar de ser chata?! Não se passa nada, Isabella!

— Então - respirei fundo, ganhando coragem -, o baile. Nem me perguntaste o dia, só disseste que não...

— Eu não tenho a tua vida! Achas que eu vou correr para Forks só porque queres ir ao baile? Já foste ao meu, não te chegou?

— Porquê?

— Olha, Bella, eu não te quero magoar, mas acho que é melhor acabarmos.

— O quê?!

— Estou cansado, tu és uma criança e eu preciso de uma mulher...

Desliguei a chamada. Quando entreguei o telemóvel, todos me perguntaram como é que ele estava. Disse que não sabia e saí dali. Em menos de duas horas, todos sabiam do que se tinha passado. Eu continuava sem entender. Não conseguia perceber o que se tinha passado, onde é que eu tinha errado.

Não fui ao baile, não me candidatei a Harvard, não o fui buscar ao aeroporto. À minha frente nunca diziam nada, mas, desde o dia em que o Edward acabou comigo por chamada, todos mandavam comentários, pelas minhas costas, que magoavam. "Ela ainda precisa de amadurecer", "já duraram mais do que esperava", "ele merece seguir em frente"... Facas, pequenas lâminas que me deixavam de rasto. Tive que ir jantar com todos no restaurante de sempre, ele também lá estava, com uma loira magnífica. Mal o olhei, mas, quando fui à casa de banho, ele estava na porta à minha espera. Supostamente eu estava a estragar a noite, a incomodar todos, principalmente a loira dele.

Chegando à mesa, situada depois de uma parede com fotos, tudo desmoronou. Todos se desculpavam com a nova integrante do grupo. Eu era a ex-namorada que ainda não tinha ultrapassado a situação, era nova de mais, mil e uma coisas. Agarrei no meu casaco, na mala, pedi desculpas e saí.

Quando cheguei a casa, cansada de tudo, tomei a decisão mais louca de sempre. Ir embora, sem despedidas, só partir. Precisava daquele tempo para me perder, para me encontrar. Fui arrumando as coisas que seriam estritamente necessárias, malas pequenas, bem acamadas. Quando ouvi os carros a chegarem, deitei-me como se nada fosse. Eram três da manhã quando me levantei, escrevi uma carta a pedir desculpa por coisas que eu não compreendia. Expliquei-lhes que tinha sido aceite na Universidade de Santa Bárbara, que ia ficar numa residência, mas que precisava de tempo. Levei o carro, coloquei as minhas coisas e saí, estive fora até hoje.

 

 

 

— Charlie, olha quem está aqui.

Abri um sorriso enorme. O meu pai não mudou nada, o bigode, aquele estilo de homem forte, mas que se derretia quando eu e a Nessie pedíamos algo.

— Senti saudades, papá. - Disse-lhe ao ouvido.

— Nunca mais, Isabella - desfez o nosso abraço, mantendo uma mão no meu ombro, a empurrar-me, e outra a apontar na minha cara -, nunca mais desapareças por cinco anos. Nunca mais!

Ri. Ri com vontade, mas prometi-lhe isso. Cumprimentei todos, quando cheguei ao Edward, simplesmente disse "olá" e acenei de longe.

— Então, Bella, agora já podes experimentar o teu vestido, está lá em cima, no teu quarto. - Disse a Rose. - Tirámos medidas pela Nessie, mas acho que vamos ter que ir à costureira.

Subi com a Nessie, aparentemente o vestido tem um fecho complicado. Quando o vi, em cima da minha antiga cama, arregalei os olhos. O vestido era curto, extravagante e ia deixar-me numa posição complicada.

— Não gostas? A Rose adorou e eu e a Alice acabámos por aceitar...

— É uma racha muito grande, Nessie... Não quero que o pai tenha um ataque cardíaco.

— Ele já meu viu e não disse nada...

Não lhe respondi, mas fui tirando as calças. Ela deu um grito e começou a rir com vontade. Quando éramos pequenas, o nosso pai fez-nos prometer que nunca, em situação alguma, iríamos fazer uma tatuagem. Quando comecei a viver sozinha, pagando as minhas contas com os dois empregos, numa biblioteca todas as tardes, estudava de manhã e, aos fins de semana e quando fosse preciso, trabalhava num bar, decidi experimentar as tatuagens. A primeira, segunda, umas mais pequenas que outras. Mas o vestido tinha uma racha na coxa, no lado direito, deixando a tatuagem à mostra - uma liga de renda preta e vermelha. No peito era justo, respirar estava a ser difícil. Como não tinha alças, a tatuagem que começa na parte de trás do pescoço e que desce peças costas também fica à mostra.

Descemos as escadas a conversar, era sempre bom conversar com a Nessie, ela estava noiva do Jake, desde ontem. O nosso pai estava a sondar o Jake para saber se a menininha dele estava grávida. Quando entrámos no jardim, tentando tapar a tatuagem o mais possível, disse à Rose que precisávamos urgentemente de uma tarde de meninas para me arranjar o vestido e pormos a conversa em dia. Todas concordaram e, como combinado com a Nessie, ela abraçou-me mal virei as costas para que o meu pai ainda não soubesse das tatuagens.

Em menos de meia hora já estávamos a andar pela cidade, para resolver a questão "vestido". Com muitos rodeios, fui inventando mil e uma razões para que eu tivesse um vestido mais tapado, com uma racha mais pequena, mas naquele estilo. Discussão vai, discussão vem, já com a costureira, acabei por admitir a razão verdadeira para aquele entrave que estava a colocar. A minha mãe, depois de me dar um sermão, acabou por dizer que me ajudava com o meu pai.

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— Era preciso ires daquela forma?

Estava sozinha, no baloiço, a ler. Sem fazer barulho nenhum, o Edward aproximou-se de mim, sentou-se no outro baloiço.

— Fui como achei melhor...

— Pensei que fosses mais madura...

— Claro - disse, virando-me para ele -, diz a pessoa que me chamou criança e acabou comigo por telefone. Muito maduro, Cullen.

— Tu não entendes, Bella. - Levantou-se para se sentar na relva à minha frente, com o semblante cansado. - O teu pai andou meses a odiar-me. A minha mãe deu-me na cabeça nem que eu fosse um puto pequeno. Tu foste embora, na loucura, passaram cinco malditos anos...

— E estás à espera que eu diga alguma coisa?

— Onde está a Bella que eu conheci?

— Nunca me conheceste...

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— Falaste com o pai?

— Bella, o teu pai achou que eu estava a brincar. Com alguma sorte, ele quer ir para a piscina para ter certeza...

Faltam três dias para o casamento e os homens simplesmente decidiram que era bom passar um dia a descansar na praia. Mal a minha mãe me contou, quis correr até ao meu pai e explicar-lhe, mas ele já tinha saído. Supostamente queriam fazer um churrasco quando chegássemos. Péssima ideia, pai, péssima.

Fui com a Nessie para a praia, fomos as últimas. Quando chegámos, o meu pai deu uma cotovelada à minha mãe, ainda devia pensar que tinha razão. Mal tirei o vestido, ouvi-o a engasgar e soube que vinham ali problemas. Fazer o meu pai entender que era apenas uma forma de arte foi difícil, conseguir ficar em biquíni na praia "cheia de abutres" estava a ser mais difícil até a minha mãe se meter e me salvar. Com muitos risos disfarçados, a Rose lá me entregou uma cerveja.

— Era suposto tu continuares pura, Bella. - Começa o Emmett, com muito pesar na voz. - Já não me chega a Nessie atracada com aquele idiota?

— Já não sou virgem há quase 10 anos, devias ter pensado melhor. - Mal as palavras saíram da minha boca, apercebi-me da asneira que fizera. O meu irmão estava a fixar o Edward, prestes a explodir. - Emmett, não foi bem isto que eu quis dizer...

— Cullen - chamou, estalando os dedos enquanto se levantava -, temos que falar.

— Ei, vai atrás de todas as pessoas que já passaram pela minha cama, é? Emmett, já sou grandinha, não preciso que me defendas dos homens, trabalhei durante três anos num bar, acredita, sei defender-me. Desculpa, não quis dizer aquilo, e quanto às tatuagens, eu adoro-as, por favor, não sejas mau. Preocupa-te com o teu casamento, vais ter que andar de gravata um dia inteiro...

Com a piada da gravata, ele lá se esqueceu de ir atrás do Edward. Quando ele descobriu que a Nessie e o Jake já tinham dado aquele passo, decidiu que ia caçar o cunhado e amigo. Continuam a dar-se lindamente.

Mais tarde, o Emmett veio ao meu quarto, quis conversar, entender aquilo que nem eu conseguia entender plenamente: a forma como eu e o Edward acabámos, a minha ida embora, o tempo que me mantive longe. Ele acabou por me dizer que o Edward tinha comentado que eu estava mais esquiva, intocável de alguma forma. Na cabeça do meu irmão, aquela história de amor ainda não estava acabada. Segundo ele, a loira foi embora no mesmo dia em que eu saí de Forks, quando o Edward ameaçou ir atrás de mim. Ele voltou para casa, agora trabalhava no hospital, ao lado do pai.

— Ele devia estar à espera que voltasses, Bella. Levou cinco anos, mas voltas-te, abelhinha...

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— ... pode beijar a noiva!

O meu irmão estava casado com o amor da vida dele. Era algo lindo de se ver. Depois de horas e horas a preparar tudo, toda a gente estava maravilhosa, a chorar, mas ainda assim maravilhosa. Entrei na igreja com o Edward, um dos padrinhos do Emmett, foi estranho. Ele pediu-me desculpa pela forma como tudo acabou. Segundo ele, sentia-se perdido, achava que precisava de algo mais e confirmou o que o Emmett me disse: voltara para Forks esperando que a minha saída fosse apenas temporária. Mostrou-me um bilhete que comprou no primeiro Natal que eu estive fora, um bilhete para a Califórnia.

— A Alice descobriu e contou a todos, não consegui escapar.

Como eu nunca o procurei, ele acabou por se acomodar com a minha decisão, sempre acreditando que eu ia voltar o mais rápido possível. Afirmou que passou a entender aquele mau estar que eu sentia e não conseguia explicar.

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— Já bebes vinho?

Estávamos a meio do jantar. Sentados lado a lado.

— Sim, há algum tempo. Receita para depois dos exames com os meus amigos, Chardonnay e chocolate, maravilhosos para todo e qualquer desgosto. - Ri. - Achavas que ia passar a vida toda alérgica a isto?

Olhei-o. Copo na mão, sentado de maneira displicente, o cabelo desalinhado. Aos poucos, enquanto fui falando, o sorriso que antes envergava foi desaparecendo. Baixou os olhos, acenou com a cabeça algumas vezes e, depois de suspirar, disse:

— Perdi todas as hipóteses com o que fiz no passado, certo?

Fiquei desconcertada. Ele tinha os olhos rasos de lágrimas. Nem quando o avô faleceu o vi assim. Estava cansado, parecia destruído por dentro, a ponto de desistir de tudo a qualquer momento. Sorri, fiz-lhe um carinho no rosto.

— Deixa de ser parvo, consegues muito melhor que eu.

Sem mais nem menos, mal disse isto, levantou-se, agarrou o meu pulso e arrastou-me até à entrada do restaurante onde o movimento era mínimo. Largou-me e nenhum dos dois disse nada por algum tempo. Limitei-me a avaliá-lo: andava de um lado para o outro, murmurando coisas que não conseguia entender, puxando o cabelo.

— Eu errei, Bella. Provavelmente estourei com a escala de erros que podia cometer contigo. Durante três anos fiz com que andasses à minha volta de forma controlada, acreditas que me esqueci da tua gargalhada? Nem quando eu vinha a casa me libertava do stress de tudo e descarregava em ti. Estavas sempre pronta a ajudar, estiveste a estudar comigo coisas que não precisavas só para passares mais tempo comigo. Ao fim de algum tempo estava cansado, e nunca entendi, estava cansado de mim, precisava de ti, mas meti a pata na poça, foi pata, foi rabo, foi tudo. Deixei de te responder, acabei contigo por telemóvel, não foste ao teu baile de finalistas, quebrei promessas e ainda trouxe uma miúda para cá, para esfregar na tua cara que conseguia viver sem ti. Para quê?! Mal o teu pai entrou pelo meu quarto dentro a pensar que te ia encontrar lá, totalmente desesperado, vi que alguma coisa estava muito mal. Andei a negar o facto de teres ido embora sem te despedires, achava que era uma brincadeira qualquer, uma brincadeira de mau gosto... Mas foram cinco anos. Não sei como conseguiste, mas, é como me disseste, eu não te conheço, não entendo a tua força... - Calou-se durante algum tempo, sentando-se ao meu lado e baixando o tom de voz. - Andei por algum tempo a pensar o que te tinha feito aturar-me naqueles três anos... Apanhei uma bebedeira monumental, o meu pai teve que me ir buscar ao bar. Mal cheguei a casa, a minha mãe passou-me um sermão de meia noite. Só lhe disse que tinha saudades tuas, que não entendia como não voltavas para casa. Porque não voltavas para mim... Ela disse-me na cara que eu não te merecia, Bella. Fizesse o que fizesse, tinha deixado de ser digno de ti e do teu amor, tinha deitado tudo pelos ares. Mas também me disse que toda a gente tinha contribuído para a tua saída. Quis tanto voltar atrás no tempo, nunca me tinha apercebido, durante anos nunca o percebi, era eu a criança no nosso relacionamento, não era capaz de o ver.

— Tu és um idiota. - Sentados, lado a lado, olhávamos para o horizonte. O sol fazia a sua descida diária para se fundir no além, dando lugar à lua. Limpei as lágrimas que tinha deixado escapar. - Sem dúvida, um grande idiota. Afinal, tinhas alguma coisa com a loira?

— Não; quer dizer, beijei-a depois de acabar contigo e convidei-a a vir aqui. Naquela noite, isto é vergonhoso, tentei ir em frente, sabes?, não consegui... Não funcionou, Swan, e a culpa foi totalmente tua.

Rimos em meio às lágrimas. Escorreguei no meu lugar, apoiando a cabeça no encosto. Ele olhou-me, sorriu, fazendo um carinho na minha bochecha.

— Foi o pior erro da minha vida, pimentinha.

— Eu nunca te esqueci, besta. A primeira tatuagem que fiz, foi à conta desse apelido. Uma pimentinha no rabo. Acho que, se tivesses aparecido à minha porta, eu mandava tudo para o ar... Não te consegui esquecer, foi uma porcaria. Quando fiz a tatuagem, a Kate, a minha tatuadora, acabou por me perguntar o porquê daquilo. Chorei como um recém-nascido, mas falei tanto de ti... Ela disse que, no final de contas, apostava que eu ia voltar para ti. Independentemente de tudo. Ela dizia que se via ao longe...

— Não chores, pequena. - Puxou-me para o colo dele. As minhas defesas foram todas pelo ar, era ali o meu lugar no mundo, com ele. Não importava o resto. Escondi o rosto no vão do seu pescoço. - Eu ainda te amo, amo-te muito, pequena. Podemos ir para onde quiseres, mas fica comigo, deixa-me fazer parte da tua vida...

— Também te amo, descabelado, muito, nunca deixei de amar...

Um beijo na testa. Um beijo na ponta do nariz. Um beijo em cada lágrima que fazia o seu caminho pelo meu rosto. Por último, um beijo nos lábios. Calmo, com saudade, com amor. O mundo voltara a rodar na direção certa. Não importava o resto. O passado pode ter sido doloroso, mas o presente, havemos de lutar, de mãos dadas, para que seja bom.

Um pequeno sorriso, olhos a derramar lágrimas de felicidade, um abraço há muito esperado. Estávamos juntos, para o que der e vier...


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Digam qualquer coisa e muito obrigada por lerem
:)



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