A Vingança II escrita por mazu


Capítulo 13
Eu nunca estarei sozinho.




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Meus pulmões continuam a encher de água e uma dor alucinante toma conta do meu peito. É dolorosamente libertador.
–O que está fazendo? -Escuto uma voz perguntar e olho ao redor. Não há nada, ninguém e nem teria como.
–Acha mesmo que essa é a solução? Você é idiota?
É a voz de Ryo... Porque?
–Achou mesmo que eu iria deixar? Olhe ao seu redor, Hiroshi! Está fazendo o que eles querem!
Eles? Eles quem?
Olho em volta e a única coisa que consigo enxergar naquela água escura são umas silhuetas esquisitas e algumas delas me empurram e puxam para baixo. Cada vez mais para as profundezas do rio.
–Essas coisas são chamadas de Os Apoiadores. Quando alguém está pra se suicidar eles aparecem e ficam te rodeando, dando "apoio" para que você se mate logo.
–Está tudo bem querido... Não escute ele. Venha conosco, toda essa dor irá passar. -Umas voz familiarmente acolhedora diz pra mim.
Porque eu não posso nem morrer em paz?
–Eles estão te enganando Hiroshi, seja esperto!
–Apenas o ignore. Venha conosco meu amor, eu senti tanto a sua falta.
Agora eu reconheço a voz, é a voz da minha mãe.
Isso não pode ser real.
Mãe? É realmente você?
–Sim querido! Oh, como eu senti sua falta, meu filho.
–NÃO É ELA, HIROSHI! NÃO SE ENGANE!
Eu só quero paz, por favor! Me deixem!
–EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ FAZER ISSO!
Escuto Ryo gritar e sinto uma mão agarrar meu braço. O rio escuro fica muito claro, tanto que machuca meus olhos, é como se tivessem ligado uma lanterna em meu rosto e por causa disso sou obrigado a fechar os olhos.
Escuto barulhos estranhos, parecem gritos e a água se agitando loucamente.
Depois de um tempo eu não escuto mais nada. Será que deu certo? Abro bem devagar os olhos e me assusto com a cena. Estou caído em cima da ponte, todo encharcado e com um dos braços levantados. Um homem estranho, que nunca vi na vida o segurava e me encarava preocupado.
–O-O que aconteceu? -Pergunto confuso.
–Eu jamais te deixaria morrer! -O homem responde e dá um sorriso.
Meu coração acelera só de pensar. Aquele ali é mesmo meu irmão?
–Ryo? -Pergunto mas ele continua apenas a me encarar.
Sem responder, o homem apenas se vira e vai caminhando pra longe de mim.
–Hey, espera!
Me levanto desajeitadamente e corro na direção dele. Parece não adiantar, me sinto cada vez mais longe dele. Meus pés voltam a doer. Olho pra baixo pra ver se as ataduras ainda estavam nos meus pés, após confirmar eu levanto a cabeça e volto a procurar o homem, mas não o vejo mais.
Eu estou ficando louco? Provavelmente sim.
Volto pra perto da ponte e pego meu celular que estava lá. Depois disso vou caminhando lentamente até meu carro, sentindo na pele o frio cortante dessa estação.
Entro no carro, fecho a porta e ligo o aquecedor.
Eu sou um inútil até para me matar.
No meu telefone há uma mensagem da Victoria, tenho até medo de abrir.
"Hiroshi, eu não me importo.

Só venha pra casa, Ryo está sentindo saudade, eu também. Vamos superar isso juntos, como sempre foi. Eu te amo, preciso de você. Agora mais do que nunca. Nós 3 precisamos de você!"
3? Como assim?
Eita...
Ligo o carro e pego a estrada, preciso ir pra casa.
Ligo para a Victoria e ela me atende.
–Onde você está? -Ela pergunta preocupada.
–Eu... Eu tô no caminho. Quando você descobriu?
–Ontem à tarde. Eu fiz um exame.
–E porque não me contou?
–PORQUE EU TAVA COM RAIVA DE VOCÊ!
–Amor... Não grita. Calminha.
–Desculpa, eu tô nervosa.
No banco do carona eu vejo um papel que não estava ali antes, estranho. Apoio o telefone com o ombro e pego o papel. É do cemitério da cidade, o mesmo no qual enterramos Ryo. Ele foi enterrado aqui nos Estados Unidos, não me lembro do motivo, mas foram nossos tios que decidiram.
Eu preciso ir lá, é como se estivessem me chamando.
–Vic, eu preciso ir em um lugar antes mas já já vou pra casa, ok?
–Promete? Por favor! Você sabe que nós precisamos de você.
–Prometo. Pode deixar, já chego.
Encerro a chamada e mudo a rota, indo em direção ao cemitério.
(...)

Paro o carro em um estacionamento próximo, visto a blusa branca e saio do carro. Vou correndo em direção cemitério ignorando a dor em meus pés.
O portão, por sorte, está aberto então eu entro devagarzinho. Procuro pelo túmulo de Ryo e quando o acho me sento próximo a lápide. Nela está escrito.
"Ryo Yamada
1990-∞"
Fico ali por um tempo, apenas pensando. De repente eu escuto barulhos estranhos e quando me viro pra procurar da onde vinham vejo dois homens entrando no cemitério. Que estranho, o que eles estão fazendo aqui a essa hora?
Os dois vão se aproximando de mim e consigo ver quem são.
Seiji e um homem estranho (o mesmo da ponte) vem vindo na minha direção. Seiji estava se apoiando no outro com seu único braço. Que pena do meu irmão.
Quando estava prestes a me levantar para ajudá-lo o homem o coloca sentado do meu lado direito e ele se senta no outro. Sinceramente, não estou entendendo.
–Eu disse que ia conseguir me virar! -Seiji diz e eu o abraço de lado para evitar de encostar na ferida que ficou após a amputação do braço.
–Quem é você? -Pergunto virando o rosto para o homem desconhecido e ele novamente me dá apenas um sorriso.
–Quem você acha que é? -Seiji pergunta e sinto algo fofo e quente nos cobrir. Quando olho, uma enorme asa negra está a nos cobrir.
–Ryo? -Pergunto.
–Ora ora, achei que ia precisar de mais algum sinal pra entender! -Ele responde e se aproxima mais.
Ficamos ali, quietos, apenas apreciando a companhia um do outro. Os Irmãos Problema juntos depois de anos.
Sinto outra presença e quando olho pro lado vejo que uma menina de uns 17 anos e loira se juntou a nós, ela estava sentada ao lado de Ryo que também a cobriu, dessa vez com a asa branca.
É a Elizabeth, posso sentir.
–Como os policiais não te pegaram? -Pergunto curioso pra Seiji.
–Alguém me ajudou... Recebi tratamento médico e depois alguém aqui me trouxe para cá.
–Obrigada Ryo! -Agradeço.
–É meu trabalho, manter vocês vivos.
–Mas o que vamos fazer? Logo logo eu vou ter que voltar pra cadeia. -Seiji comenta meio triste.
–Eu não vou deixar... Darei um jeito, não se preocupe. Eu vou te tirar daquele lugar, afinal, eu sou Hiroshi Maruyama.
–Tá se achando o último cookie do pacote. -Seiji comenta num tom de desafio.
–Não me acho, eu sou! Da licença! -Digo e nós dois caímos na risada. Elizabeth segura uma das mãos de Ryo que segura a minha com a mão livre.

Um silêncio profundo cai sobre nós mas logo eu o corto.
–Vamos ficar bem? -Pergunto e Seiji me encara.
–Você ainda duvida?
Olho para aqueles três e dou um sorriso. Eu não sou um fracasso, eu não sou culpado pelas mortes deles e principalmente... Eu nunca estive e nem estarei sozinho.


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Notas finais do capítulo

PRA QUEM TAVA QUASE ME MATANDO POR EU TER MATADO O HIROSHI ESPERO QUE TENHAM ACALMADO AGORA!




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