Ao abrir os olhos senti que um dos piores dias da minha vida só estava começando. Sim, estou extremamente dramática ultimamente, na situação que me encontro quem não estaria...

Para piorar tudo acordei atrasada, resultado de uma noite sem dormir, ansiedade e tudo de ruim!

Coloquei a roupa do colégio e uma barra de cereal no armário da cozinha, joguei a mochila nas costas e saí apressada. Sentia como se meu estômago estivesse tomado por borboletas só de pensar em ver Cameron.

Assim que cheguei no colégio me deparei com Karla e Adam, ele revirou os olhos assim que me viu. O sol estava começando a surgir no horizonte, tirei a blusa de frio e amarrei na cintura a medida que me aproximava deles.

— Olha quem é vivo sempre aparece - Comentou Adam.

— Pra você ver né... Não ia se livrar tão fácil assim de mim.

— Tudo bem pirralha? - Perguntou sorrindo amigável.

— Estou melhorando...

— Olha só... Eu estou aqui gente! Bom dia pra você também Alexia! - Disse Karla cortando o assunto.

— O dia está bom só pra você... 

— O Cameron está ali, vou conversar com ele... Beijos meninas - Se despediu.

Meu coração começou a palpitar, preferi não olhar pra ele. Karla percebeu minha tensão.

— Está tudo bem amiga? - Perguntou tocando em meu braço.

— Não, mas precisa ficar... Já estou fodida mesmo.

Ela riu e comentou em seguida:

— Você não tem jeito.... Quando vai falar om ele?

— Hoje... - Falei determinada.

O colégio já estava ficando cheio, e já havíamos perdido Cameron e Adam de vista.

— Vai falar sobre aquilo...? 

— Ainda não sei, estou confusa...

— Pense bem... Bom, vou até a biblioteca enquanto não começa a aula, vem comigo?

— Não, vou ver se encontro ele!

— Tudo bem, boa sorte - Brincou.

Sentei na escada que dá acesso as salas de aula, o prédio do colégio era do estilo antigo, o corrimão era de madeira, as janelas gigantes e decoradas. Lembrava as decorações dos vidros da igreja que eu frequentava com meu pai quando era criança.

Por um instante senti a presença dele ali e isso me deixou mais segura pra tomar qualquer decisão, e não me senti sozinha como estava me sentindo nos últimos dias...

Alguns minutos depois me deparei com Cameron rodeado de amigos como sempre, inclusive Adam. Ele olhou nos meus olhos mas me ignorou completamente.

— Cameron, por favor! Me escuta - Pedi, levantando rapidamente.

Ele revirou os olhos e fingiu que não havia ninguém falando com ele.

— Escuta ela pelo menos uma vez cara, conheço ela, sei que está arrependida - Disse Adam tocando levemente em seu ombro.

Cameron desceu um degrau a fim de ficar na minha altura, enquanto seus amigos subiam... 

— O que você tem pra me dizer?

— Bom... primeiro...

Fui interrompida pelo sinal que tocava bem ao nosso lado.

— Depois da aula, me encontra no jardim - Disse dando de costas.

Subi arrastada pra sala, Karla estava com os olhos brilhando de tanta curiosidade.

— E aí? Como foi?

— Não deu tempo, esse sinal maldito toucou - Falei sentando na última carteira ao lado da parede.

Coloquei minha blusa novamente e a touca, me afundei na cadeira com meus fones de ouvido.

Assim que o professor entrou na sala olhou diretamente pra mim. Continuei do mesmo jeito, rabiscando a última folha do meu caderno e planejando como eu iria me matar (nem sou exagerada).

— Johnson, preste atenção na aula por favor - Falou irritado colocando o óculos em cima da cabeça.

Não respondi nada, apenas olhei para frente, mas não estava entendendo porra nenhuma do que ele estava falando. Estava apenas imersa em meus próprios pensamentos.

— Você não está nada bem né?! - Cochichou Karla.

— Prometo que vou ficar... - Prometi cabisbaixa.

O sinal tocou, indicando a hora de ir embora. Arrumei minha coisas na mochila rapidamente, mas fui interrompida pelo professor.

— Alexia, estou achando meio distante nas minha aulas ultimamente. Serei obrigada a falar com sua mãe se continuar assim.

— São só alguns problemas pessoais. Te garanto que não precisará falar com ela...

— Assim espero - Me olhou desconfiado.

— Agora eu posso ir? 

— Pode sim - Afirmou enquanto empilhava várias atividades e trabalhos.

Desci aquelas escadas o mais rápido possível... Do pátio avistei Cameron encostados em meio as árvores com seu celular em mãos.

O sol estava bem forte, brilhava entre pouquíssimas nuvens.

— Oi

— Pode falar... - Disse grosseiramente.

— Eu estava bêbada e não vou culpar a bebida, reconheço meu erro. O fato é que eu fiquei furiosa quando, sem reação quando vi aquela puta te beijando... Na verdade não gosto nem de lembrar daquela cena... - Desabafei desviando o olhar - E minha reação foi aquela e você não tem noção do quanto eu me culpo por isso, como minhas noites estão sendo a cada dia que não falo com você. Mas a culpa não foi completamente minha, não é justo eu ser a única culpada de tudo isso.

Senti como se um peso tivesse sido retirado das minhas costas, respirei "aliviada".

Ele olhou em meus olhos por alguns segundos como se tivesse procurando palavras para e dizer.

— Bom... O problema é que você é impulsiva Alexia, não espera respostas.... Age como acha que deve agir e pronto. Antes de qualquer coisa, aquela louca me beijou, você pode não acreditar mas ela forçou aquele beijo, e eu não tive a chance de escapar.

Comecei a sentir uma leve tontura e minhas vistas um pouco embaçadas.

— Você está bem? - Perguntou preocupado, segurando meus braços.

— Preciso sentar, longe desse solo. 

Ele me levou até uma sorveteria que tinha na calçada em frente ao colégio.

— Está melhor? Quer alguma coisa?

— Estou. Só comi uma barra de cereal hoje, e esse sol forte só piorou as coisas. Uma garrafa de água por favor. Voltando ao assunto, nós dois estávamos errados e fomos extremamente infantis.

— Concordo - Disse sem me olhar nos olhos.

— Cameron... Olha para mim... - Ergui levemente o queixo dele.

A sorveteria não era muito grande, mas estava sempre cheia, era o point dos alunos depois da aula em dias quentes. Mas hoje em especial estava praticamente vazia.

— Eu estou grávida! - Anunciei.

Sua reação foi bem parecida com minha, não era pra menos né. Parecia estar em transe, ficou me olhando por minutos sem falar nenhuma palavra.

— V-você tem certeza? - Gaguejou.

— Sim, tenho. Queria que fosse apenas um engano, mas não é - Disse desviando o olhar para baixo - E agora, como vai ser? Eu aborto ou me mato?

—  Nenhum dos dois, tá louca Alexia? - Disse inconformado - Hey, vamos enfrentar isso juntos tá?! Eu estou com você - Anunciou enquanto acariciava meu roto.

— Você contou pra mais alguém?

— Não, apenas a Karla sabe disso... E sua mãe e minha mãe? E o colégio? Eu estou desesperada.

— Já disse, vamos resolver juntos - Deu um sorriso em seguida.

— Como você pode estar tão calmo e positivo numa situação como essa? - Perguntei.

— Por que eu sei que vai dar tudo certo.

— Mas Cameron... Temos apenas 17 anos, dependemos de nossos pais... Como vamos cuidar de uma criança?

— Você confia em mim? - Perguntou olhando fixamente em meus olhos.

— Claro! 

— Isso basta

Parecia que tudo aquilo era mentira, nunca me senti tão segura e protegida na minha vida. Meus planos de abortar ou cometer suicídio começavam a sumir da minha cabeça... Eu estava pensando seriamente nessas possibilidades, sou bem louca!

— Quando vai contar para sua mãe? Quero estar com você nesse momento.

— Que tal só depois que nascer? - Brinquei.

Ele sorriu e balançou a cabeça negativamente.