O Que Restou de Nós? escrita por Ookamimi


Capítulo 4
Sou uma caçadora?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661614/chapter/4

Akemmyh: Estávamos andando pelo acampamento, não era tão vasto, mas rendia um bom tempo para pensar. Rechishiah estava muito séria, não a culpo de forma alguma, ela tinha que cuidar de mim já que ninguém se oferecia, era complicado.

  Eu não me importaria em ficar sozinha, o problema é que eu seria apenas mais um peso para eles, precisava ser algo mais. Não posso agir como uma criancinha e viver a custa dos outros, de jeito nenhum. Rechishiah vasculhava o local em busca de qualquer coisa que eu pudesse fazer, mas ao parecer todos estavam ocupando.

  Ela dizia algo sobre como o irmão dela ficaria irritado por não ter o ajudado. Fiquei curiosa, queria mesmo conhecer esse irmão, será tão impulsivo e divertido como a mesma? O que me restava era esperar para ver.

  – Já sei! – Sorriu e pulou com pouco impulso, – Você poderia ajudar o Kentin e a … Nina, eles precisavam de mais uma mãozinha! – parecia estar bem animada, mas ao falar o nome da menina se arrepiou.

  – Kentin? N-Nina? – Perguntei como reflexo. A reação dela me assustou, se ela consegue se arrepiar pelo nome da menina, imagine eu que mal a conheço.

  – Ah, não se preocupe. Ela só não gosta de mim mesmo, eu gostaria de saber o por que de tanto rancor. – Ela suspirou profundamente e soltou o ar rapidamente, parecia estar decidida. – Vamos lá! Qualquer coisa é só jogar o Kentin em cima dela e fugir. – Não parecia falar comigo, é como se estivesse dialogando consigo mesma.

  Agarrou meu braço e me arrastou para alguns metros de distância do acampamento. Consegui avistar duas pessoas. Era um rapaz de cabelos castanhos, estava cortando tocos de madeira em dois pedaços. E também uma garotinha, ela estava brincando com uma bolsa de coelhinho sentada no chão.

  – Kentin, Nina! – Ela gritou quando estávamos quase perto.

  – Ah, você. – Senti um calafrio percorrer todo meu corpo. Poderia jurar que vi uma aura maligna saindo dessa criança.

  – Sim, eu. – A voz de Rechishiah ficou mais forte e alta. O rapaz suspirou, prendendo uma risada alta. Ela parecia ter ganhado confiança do nada, e parecia tão sombria como a metade de pessoa que a encarava.

  – Aconteceu alguma coisa? – O jovem que cortava os tocos ao meio perguntou.

  – Ah, eu trouxe uma pessoa para ajudar vocês com os tocos. – Ela me jogou um pouco para frente, fazendo-me ficar de cara para a menina e o rapaz. – Eu tenho que ir ajudar o Castiel, depois volto. – Ela mostrou a língua para Nina, sorriu de canto e foi embora. A garota ficou irritada. Bem irritada.

  – Que droga! Aquela idiota. Só age assim por que o Lysandre gosta mais de mim!

  – Se gostasse ele teria se oferecido para ficar no seu grupo, e não do da Rechishiah. Hahahaha – Ele parecia ser um amigo próximo de Rechishiah, não somente por estar a protegendo, mas a olhava da mesma forma com que a heterocrômica olhava a minutos atrás.

  – Cale-se, eu idiota! – Ela jogou um dos tocos partidos pela metade nele, fazendo um corte na bochecha.

  – HAHAHAHA! – Ele continuava rindo, parecia que não havia percebido o corte na bochecha. – Talvez ele não curta pedofilia, sei lá, 13, 16, 18, só acho. As vezes até eu me impressiono com a capacidade de ser avoada da Rechishiah, Hahahahaha!

  – Eu disse para ficar quieto! – Ela puxou a camisa dele, com uma expressão de raiva. Parecia estar se segurando para não bater.

  – Me bater não vai fazer senpai te notar. – Ele disse agarrando as mãos dela da blusa e afastando-a. – Talvez seja por causa disso que ele não se interessou por você. – Ele pegou o machado novamente, já que havia deixado cair, e começou a cortar os tocos.

  Eu não sabia o que fazer! Quem é esse cara? Como assim senpai? Pedofilia? Uma garota de 13 anos gosta de um garoto de 18, mas o garoto de 18 gosta da garota de 16, mas a garota de 16 é impulsiva e não percebe que o motivo da garota de 13 não gostar da garota de 16 é por que o garoto de 18 gosta da de 16 que não gosta da… Hã?!

  Depois da última frase dita por ele, a menina ficou calada, mas ainda estava com raiva, e batia o toco de árvore na bolsa de coelho, esmagando-a. Seria errado eu pensar que isso é meio doentio?

  A menina continuou esmagando a bolsa com o toco de madeira, e eu fui arrumando os outros tocos em ordem, para levar mais facilmente depois. O aparentemente chamado Kentin agradeceu, com um grande sorriso no rosto.

  – Ei, você não vai lavar isso? – Perguntei apontando para o corte.

  – Lavar? O que? – Ele passou a mão por cima do corte, só foi se dar conta quando viu o sangue na própria mão. – Isso já estava aqui? Hm, eu vou lavar no lago. Já está bom por hoje, pode voltar para o acampamento. A verdade é que você chegou um pouquinho atrasada, eu já fiz tudo. De qualquer forma, obrigado por ajudar. – Ele olhou para Nina por alguns segundos e voltou a olhar para mim, depois disse em sussurro – Ela realmente não me ajudou em nada. Só ficou falando o quão seria interessante se o Lysandre fosse só dela e se a Rechishiah morresse. Não me sinto à vontade com ela. – Ele deu meia volta e foi andando pela floresta, sumindo entre alguns arbustos altos e árvores longas.

  Andei o mais rápido possível, afastando-me dela.

  – Ei! Volte aqui, agora. – Hã? “Volte aqui, agora?” – Jogue isso no lixo para mim. – Ela entregou o corpo e a cabeça do coelho separados, ela havia o decapitado com o toco de madeira.

  – Jogue você mesma, não sou empregada de ninguém. – Recusei e lhe dei as costas. Acho que estou entendendo Kentin e Rechishiah agora. Até mesmo entendo o garoto que não quis ficar com essa Nina, existem suicídios mais rápidos do que ser babá de alguém assim.

  Consegui escutar um grunhido dela, mas, por sorte, havia andado rápido suficiente para me afastar bastante. Que situação doentia! Existem realmente pessoas assim? Bem, obviamente, Akemmyh. Geralmente são levados a psicólogos ou algo parecido, não é?

  Minha cabeça começou a doer novamente, mas não era pelo mesmo motivo de antes. Pensava que aqui seria um local calmo, estava errada. Apenas não julgo, afinal, se eu passasse um ano a mais sozinha, com certeza, estaria tão louca quanto … é.

  – Volte aqui! – Era uma criança. Ele estava correndo atrás de um Corgi Pembroke, já tive essa raça de cachorro, eles são tão lindos e amigáveis, porém tão agitados e persistentes. – Totó! Venha aqui logo. – Péssimo nome.

  O cachorro veio em minha direção, como já tive um antes sabia como pegá-los mais rapidamente. Eles sempre desviam, essa é a pior parte. Perdi a conta das vezes em que me machuquei para pegar o meu cachorro que sempre fugia de casa.

  Peguei-o no mesmo instante, não foi nada difícil. O menino me olhou com uma expressão de agradecimento jovial, não pude evitar gargalhar, sua expressão era tão desigual.

  – Aqui está. – Entreguei Totó a ele. – Tome mais cuidado da próxima vez, essa raça é desnorteada.

  – Ah, mas ele não é meu. É da “Shermsauidjasaioushd” – Ao parecer não sabia a pronúncia, talvez quisesse falar um nome.

  – É o cão da senhora Shermansky. Obrigada pela ajuda. – Uma adolescente ruiva, parecida com o menino apareceu, tomando o cachorro de suas mãos. – Esse cachorro é realmente uma peste. – Ela riu, para depois me olhar fixamente. – Não lembro de você por aqui, é nova?

  – Sim, eu cheguei hoje. Sou Akemmyh, é um prazer. – Nos cumprimentamos.

  – Sou Íris, esse é meu irmão Thomas. Espero me dar bem com você. – Thomas saiu correndo logo após ela terminar a fala – Thomas! Não fique correndo por ai! – Ela foi atrás dele, com o cachorro nos braços.

  Eles se afastaram bastante e foram em direção a um casal, talvez fossem os pais. Suspirei e comecei a andar, talvez já fosse hora de encontrar Rechishiah novamente, talvez pudesse ajudá-la com alguma coisa.

  Depois de alguns minutos de caminhada, encontrei a barraca do grupo de caçada. Pedi licença, mas ninguém respondeu, quando entrei, estava vazia. Deveriam fazer algo importante, e eu sendo um peso morto. Completamente desagradável. Andei para trás sem me virar, acabei colidindo com alguém.

  – D-Desculpe! Não foi por querer. – Virei-me automaticamente, eu realmente deveria pensar na hora de fazer qualquer coisa, parece que sempre causo algum problema.

  – H-Hm … Ah, tudo bem. Mas você deveria olhar por onde anda. – Ela tinha cabelos castanhos um pouco a mais dos ombros e olhos rubros. – Hm? Quem é você? – Deu-se conta de que nunca havia visto meu rosto por aqui.

  – Ah, eu sou nova, cheguei hoje. Sou Akemmyh. – Respondi automaticamente.

  – Hm, sou Meary. Seja bem-vinda, agora tenho que ir. – Percebi que ela carregava duas bolsas grandes, pareciam estar bem pesadas.

  – A-Ah, você gostaria de ajuda? – Precisava fazer alguma coisa, ficar parada sem fazer nada era uma tortura.

  – … Sim, claro. – Ela me entregou uma das bolsas que estava segurando. Era pesada. Muito pesada. – Você consegue?

  – S-Sim, tudo bem. Onde devemos ir? – Logo após ela apontou para uma barraca mediana, a poucos metros dali.

  – Até ali, nada demais. – Era pesado para nós duas, mas ela parecia estar mais acostumada, não liguei muito para isso, afinal, não era uma coisa que eu não podia fazer.

  Ela apontou a outro local, para uma árvore, haviam outras bolsas dessas encostadas ali, ele estava fazendo isso a algum tempo. Andamos até lá sem mais diálogos e colocamos as bolsas nos seus respectivos lugares, não foi tão difícil assim, apesar de ela ter mais facilidade do que eu. No fim eu não sabia se ia para a barraca ou para a árvore, tive que segui-la.

  – Obrigada por isso. Então, você é Campista ou Caçadora? – Perguntou-me com um sorriso, estávamos voltando para onde viemos, não sabia o porque, mas era melhor que ficar sozinha.

  – Não faço ideia do que significa. – Dei uma risada sem graça.

  – Ah, Campistas são aqueles que não saem do acampamento, eles geralmente cuidam dos Caçadores. Bem, os Caçadores são os … “aventureiros”, em outras palavras, os que mais se ferram. Eles tem que sair, procurar alimento, exterminar todo e qualquer perigo ao redor, mesmo que custe sua vida, entre outras milhares de coisas.

  – Não é um pouco complicado? – Parecia extremamente perigoso.

  – Sim, é por isso que os Caçadores só podem sair em grupo, o Grupo de Caçada. Aqui no acampamento nós temos 4 Grupos de Caçada: O Moore, o White e os grupos Hill e Hunter, que não são muito amigáveis entre si. Afinal, os Hills são uns babacas idiotas. – Ela ficou bastante irritada ao pronunciar o nome “Hill”, eles devem ter feito algo terrível.

  – C-Como acabei de chegar não sou Campista nem Caçadora, mas eu gostaria de estar em algum grupo, não curto ficar parada. – Ser Campista deve ser geralmente para pessoas mais fracas fisicamente, como idosos e crianças, talvez alguns adultos.

  – Você pode falar com alguns líderes de Grupos. Eu sou uma Cooperadora, estou um cargo abaixo de líder do grupo Hunter. – Então era esse o motivo de raiva dos Hill.

  – Ah, entendo. Eu gostaria de conhecer o líder, assim talvez eu pudesse entrar. – Eu realmente gostaria de entrar em um Grupo de Caçada, eu poderia ajudar os outros e alguma vez na minha vida fazer a diferença. Estou cansada de viver sozinha, e de forma alguma que, na hora que encontro alguém, vou viver as custas dessa pessoa.

  – O meu grupo possui dois Líderes, você realmente não os conhece? Sabe, Rechishiah e Castiel.

  – Hã? São eles? – Eu já deveria saber, parece que todos os conhecem por aqui.

  – Somos consideravelmente o melhor grupo do acampamento, os Hill são os piores. Somos como Grifinória e Sonserina. Não nos suportamos. – Ela disse, e depois riu passando a mão pela cabeça.

  – Entendo … Existe um limite para membros do grupo, ou uma forma de entrar nele?

  – Existe. A Senhora Sherman alguma coisa estabeleceu um limite. Não podemos sacrificar tanta gente assim, os Grupos de Caçada são perigosos, as chances de sobrevivência e de morte estão meio a meio. – Suspirou. – Além disso, para entrar em um grupo, você tem que agradar o líder, ou os líderes, com alguma coisa. Nada superficial, obviamente. Você tem que mostrar que tem um objetivo que não seja simplesmente sair e brincar com gente morta. Tem de ser útil.

  – Faz sentido … – Eu não tenho habilidade nenhuma, como posso ser útil? Assim tudo fica mais difícil.

  – Você parece estar disposta a ajudar, se continuar desse jeito, entrará no grupo com certeza. Como eu disse, não é só por que você dá mortal para trás que é útil, se sua personalidade for forte, você também será. Entendeu? – Não havia percebido que já estávamos no acampamento. – Eu filosofando horrores. – Ela disse rindo.

  – Todos no grupo Hunter são assim? – Ela tinha, com toda certeza, uma ótima personalidade, apesar de também ter uma cara fechada em alguns momentos.

  – Você quer dizer lindos? Não, só eu tive essa oportunidade. – Ela jogou os cabelos para o lado e foi embora rindo, e dando um sinal de “tchau” para mim. Seria bom conhecer mais gente assim, com um lado sarcástico e outro sério.

  Fiquei olhando ela se afastar, estava decidida. Eu tentaria entrar no Grupo Hunter, ajudar quem precisa, deixar de ser um peso, ser útil. Precisava encontrar Rechishiah, queria conversar com ela sobre isso, se ao menos eu soubesse antes.

  Dei meia volta e corri até a cabana onde o grupo dela ficava.

  BUM

  – Que droga! Você não olha para onde anda? – Eu havia batido em alguém, conhecia essa voz. Era aquele rapaz que havia me salvado do Cour, Castiel, não é?

  – S-Sinto muito, não foi por querer. – Ele parecia ter um humor péssimo!

  – Você? Tsc. – Ele se levantou e ofereceu a mão para mim. – Não deveria ajudar o garoto e aquela pirralha nojenta? – Parece que ela não é muito amada por aqui.

  – Eu já acabei. – A expressão dele era ameaçadora, parecia que ia me assassinar com uma faca de cozinha. – Quando cheguei o trabalho já estava praticamente terminado, tudo que fiz foi organizar o que sobrava.

  – Tá. Então arrume algo mais para fazer, não seja um peso. – Ele me deu as costas.

  Ele iria embora e eu não conseguiria falar sobre o grupo. Mas que culpa eu tenho? Ele é muito rude! Isso é realmente um líder? Precisava encontrar Rechishiah, ela é muito mais calma que ele, muito mais gentil!

  Dei meia volta, “não seja um peso”, realmente uma ótima frase para falar a uma pessoa. Merece um prêmio nobel de gentileza. Tanto faz, procurar a alguém no grupo Hunter – Além dele – era algo mais importante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Que Restou de Nós?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.