PDV SAM

Talvez fosse inútil demais explicar por que eu estava assim. Afinal para quê tentar advinhar motivos para uma situação deplorável, quando, na realidade, você tem é que achar uma saída? Não posso dizer que deixei meu lado arrogante de lado apenas para chorar por um Nerd qualquer, mas também não posso dizer que não estou mais frágil que o comum.

(***)

Acordei cedo novamente. Aquilo estava se tornando comum.

Não estava afim de fazer meu café da manhã, já que isto nunca foi minha especialidade, gosto de chegar e a comida já estar pronta. Então desci as escadas e senti o cheiro de bacon vindo da cozinha. Pam cozinhando? Ela estava bem?

–Bonjour! - não, não era Pam e sim o Wallace, que minha mãe chama “carinhosamente” de Wall.

–Bom dia! - eu não estava muito boa para reclamar com ele sobre o avental que ele usava, então peguei um Bacon e sentei a mesa. Soprei a ponta do dedo quando senti a fatia quente.

Ele terminou de fritar o Bacon e derramou numa tigela branca, colocando sobre a mesa. Depois me ofereçeu um suco de laranja, que aceitei de imediato. Estava bom. Confesso que esse tal Wallace é um bom cozinheiro.

Terminei a refeição e descidi partir para a escola. Não que eu estivesse animada, na verdade nem um pouco, mas como ontem minhas pernas não me deixava dar passos curtos. Eu queria vê-lo.

(***)

Era estranho me aproximar do Freddie sem poder abraçá-lo ou beijá-lo ali mesmo. Ele ainda continuava a usar aquelas roupas descoladas, que Badboys usam por aí. Mascava, delicadamente, um chiclete de menta e dizia algo, baixo, a Carly.

Me aproximei e eles se calaram:

–Qual a novidade pessoal? - senti o olhar dos dois sobre mim de uma maneira temerosa.

–Nenhuma Sam! - Carly vociferou rapidamente e se virou para o armário.

Eles estavam estranhos e isto estava me deixando sutilmente curiosa. Abri meu armário tacando meus livros lá dentro e, logo após, abri um pacotinho de bolo-gordo. Carly e Freddie observavam cada movimento meu.

–Sam, quer ir lá em casa hoje? - ela nunca fizera essa pergunta antes.

–Claro! Mas pra quê? - eu também nunca perguntei isto.

Ela se embaraçou nas palavras e no fim de tudo disse apenas que havia alugado alguns filmes e pretendia fazer uma maratona. Como minha mãe e Wallace iam jantar fora hoje, e eu não queria ficar sozinha, resolvi aceitar. Afinal, precisava me distrair.

O sinal tocou e fomos para nossa primeira aula: Geometria. Alguém devia ter estrangulado esse tal Euclides, por ter inventado essa matéria dos infernos. Hoje aprenderíamos sobre trigonometria do triângulo retângulo e como eu me “importo muito” com essa matéria, acabei tirando alguns cochilos, enquanto o professor, com voz de gazela, explicava aquele emaranhado de números.

(***)

Estava na casa da Carly escolhendo algum filme para nós vermos, enquanto ela preparava uma pipoca. Eu não estava nem um pouco interessada em ver TV, mas eu não queria tirar as expectativas da minha amiga. Então continuei a procurar um bom filme.

–Freddie não vem? - tentei não parecer interessada demais e ela me olhou lá da cozinha.

–Não...ele disse que tinha que fazer uma homenagem! - ela respondeu com um meio sorriso.

–Homenagem!? - falei, enquanto colocava um filme no aparelho de DVD.

– Sim...e tem a ver com comida.

Ela sorriu para mim e sentou-se no sofá com a vasilha nas mãos. Sentei-me ao seu lado e esperamos o filme começar.

Aquela história de homenagem não me passava pela cabeça. O Freddie e a Carly estão andando com muitos segredinhos ultimamente. Ele vestindo roupas estilosas, jogando basquete e chamando atenção de garotas? O que estava acontecendo? Ele me evitando... isso não estava certo.

–Carly, o que deu no Freddie? - pausei o filme e foquei nela.

–Como assim?

–Ele tá estranho! Nem fala comigo!

–Ele vai falar com você Sam... Confia em mim!

Algumas horas depois…

Eu até dormiria na casa da Carly, se ela não tivesse me obrigado sair de lá com a desculpa que ia ter um encontro, ou algo assim. A miserável nem se deu ao trabalho de me chamar um táxi, tive que caminhar até em casa. Pelo menos a noite estava agradável, exceto pelo fato de eu estar com uma dor horrível nos pés.

Cheguei na varanda de casa e destranquei a porta sem paciência. Por um segundo pensei ter ouvido uma música baixa do lado de dentro.

–Pam! - resmunguei. Ela deve ter resolvido se divertir com Wallace em casa mesmo.

Entrei e vi tudo escuro. Não lembro de ter apagado todas as luzes.Acendi-as e tive uma baita surpresa.

–Freddie!?

Ele estava encostado na bancada da cozinha com um sorriso de lado. Olhei em volta e vi um enorme banquete sobre a mesa da copa. Aquela música que ouvira lá fora era a mesma que ele cantara no vestiário ontem. A luz estava baixa e o ar suave.

–Por que…?

–Porque eu te quero Sam!

Minhas pernas travaram, meu ar se esvaiu e minha visão escureceu. Sabia que ficar sem comer direito não era uma boa ideia. A única coisa que lembro, foi do Freddie gritando meu nome e depois tudo era negro.