Antes que Eu Me Perca escrita por Emilly


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem (:



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Estaciono o Pontiac na frente do prédio de quatro andares, a poucos metros do campus. Saio do carro e coloco meu óculos de Sol, esticando minhas pernas bronzeadas. Espreguiço e olho ao redor, procurando Zack. Dirigi doze horas só para chegar até aqui, e estou cansada e com a bunda doendo. Ainda assim, estou entorpecida por estar longe dos mus pais. Eu estava sufocada demais. Enlouquecendo entre aquelas paredes brancas.
Tiro meu celular do bolso de trás do jeans apertado e digito uma mensagem para meu irmão, avisando-o que cheguei. Observo os carros esportivos parados ao longo da rua, e até em cima dos gramados. Provavelmente, nessa área, apenas estudantes moram aqui. Provavelmente há festas todos os dias. E eu estou perfeitamente bem com isso.
Meus pais não queriam que eu viesse. Mas não os culpo. Eu também não iria confiar em mim. Depois daquele verão me tornei uma pessoa extremamente instável. Aliás, três meses após o que aconteceu eu permaneci no meu quarto, encarando a parede azul que fica em frente a minha cama. Comia apenas o necessário para ficar viva, e bebia água. Não chorava, gritava ou nada desse tipo. Eu sofria calada, me lembrando da sensação da lâmina fria no meu pescoço e dos seus dedos quentes e escorregadios em meus seios. Me lembrava da sensação da chuva caindo em meu rosto enquanto ele me prensava contra a parede do beco escuro.
Após os três meses vegetando, eu decidi sair de casa. Claro, todos os canais de tv exibiam minha foto quando coloquei minha cara para fora. Isso foi a pior parte. Meu pai, o piloto de corrida mais famoso do mundo, era aclamado como "o homem que tinha uma filha traumatizada". Eles não importavam comigo. Então, resolvi viver um pouco. Ou muito.
E foi assim que cheguei aqui hoje. Desde aquele verão, não sinto mais nada.
Observo o edifício á minha frente. Dois garotos saem dele, com mochilas nas costas. Eles sorriem para mim, e eu pisco de volta. Jogo meu cabelo, que chega em meus ombros, para o lado, e um dos caras assobia.
Eu gosto de flertar. Gosto de caras. Ultimamente essa é a única coisa que me faz sentir viva. Também gosto de chamar atenção. Com a atenção, é mais fácil atrair o perigo. Eu eu amo a sensação de adrenalina. De desafiar. Eu deveria estar morta agora. Mas consegui escapar ilesa, apenas quebrada.
Talvez, se eu tiver sorte, eu não escape da próxima vez.
-Dana! - escuto alguém me chamar.
Vejo Zack saindo do prédio com dois caras. Um negro e outro loiro. Os dois, felizmente, são lindos como o inferno.
Meu irmão me abraça pela cintura, me erguendo do chão facilmente. Sinto o cheiro de menta e capim santo. Familiar.
Ele me afasta do seu corpo musculoso e me segura pelos braços, como se para assegurar que não irei fugir. Seus olhos verdes me observam, atentos.
-Sentiu minha falta, irmão? -pergunto, com um olhar divertido no rosto.
Zack ri, me recordando de nossa infância.
-Claro que sim, danação!- ele diz, fazendo um trocadilho com meu nome.
Zack está como eu me lembro, desde que o vi um ano atrás. Seu cabelo castanho claro, da mesma cor que o meu, está sempre bagunçado, e seus olhos, sempre com um ar brincalhão. Tenho que olhar para cima, devido á nossa diferença de trinta centímetros. Suas sardas, como as minhas, salpicam seu nariz e bochechas, se assemelhando a um céu estrelado.
-Nossa, você mudou!- ele suspira, me analisando.
Seus olhos correm pelas minhas botas surradas e a calça jeans rasgada, se arregalando quando avistam a regata curta e cor de musgo que pende no meu torso. Sei que Zack irá gostar das tatuagens espalhadas pelo meu corpo, porque ele mesmo tem algumas. Antebraço, pulso, ombro, clavícula... Agradeço a Deus por meu cabelo estar escondendo a data escrita em minha nuca. Zack iria odiar. Bem, quem se marca com o dia de sua tragédia?
Ele cutuca a argola no meu septo, sorrindo. Percebo que seu olhar se desvia para a cicatriz fina e longa em meu pescoço.
Onde a faca cortou. Ainda me lembro do sangue pingando quente em meus dedos.
-Você está bem? - pergunta, franzindo as sobrancelhas.
Zack nunca me perguntou sobre aquela noite. Sempre evitou falar sobre o assunto, e quando ele me buscou no hospital, fizemos o caminho para casa todo em silêncio.
-Sim.- respondo, assentindo.
Mentira, uma voz no meu subconsciente grita.
Ele acredita. Porque é isso que ele faz. Acredita em mim. Mesmo quando estou despedaçada e digo que estou ótima, Zack acredita em mim.
Deslizo minha atenção para os garotos atrás de Zack, e os cumprimento com um olhar divertido.
-Meu nome é Dana, sou a nova colega de quarto de vocês. -digo, com uma pontada de provocação na voz.
O moreno sorri, exibindo um dos sorrisos mais lindos que já vi. Ele soca Zack de brincadeira e diz:
-Porra, cara, quando falou que íriamos receber alguém, não pensei nisso. - ele enfativa o "isso".
Zack fecha a cara, revirando os olhos.
-Fique longe da minha irmã, Jack.
Eu cruzo minhas pernas, me apoiando em Jenny. Sim, meu carro tem um nome.
-Não o escute. -pisco, abrindo a porta do Pontiac.
Eu amo carros. A velocidade é alucinante. Desde que éramos pequenos, Zack e eu aprendemos a concertar motores, trocar óleo e dirigir. Nosso pai sempre nos levava ao backstage das corridas, para acompanharmos seus pit stops. Eu amava aquilo. Depois daquele verão, eu sabia que correr iria me acalmar. Então comprei o Pontiac, o modifiquei e passei horas dos dias correndo em estradas de terra e competições clandestinas.
O garoto loiro se debruça sobre Jenny, obsevando as rodas e as calotas. Quando ele estende a mão para toca-la, solto:
-É bom que saiba que se arranha-la, vai ficar sem as mãos.
Ele arregala os olhos e se afasta, recebendo uma risada hilariante de Jack em resposta. Descarrego minhas malas e entrego algumas para os garotos, enquanto eu mesma arrasto uma delas até a portaria do prédio.
Quando decidi vir para a UCLA, perguntei a Zack se eu poderia ficar em sua fraternidade. Ele não hesitou. Claro, ele gostaria de ter seus olhos em mim o tempo todo, mesmo que isso significasse também ter que aturar outros vunte homens me observando. Sempre acho que Zack só está esperando eu explodir, como a porra de uma bomba relógio.
Subimos as escadas, e topamos com vários caras conversando, rindo e até jogando futebol no saguão. Eles assobiam quando passo, e eu faço questão de fazer um agradecimento exagerado nas escadas, me curvando pra frente. Eles aplaudem mais ainda.
-Bom, o prédio é da fraternidade. Temos vinte apartamentos. Moro no terceiro andar, com mais outros três caras. -Zack explica.
Concordo. Chego no nosso andar, já ofegante. Zack abre a porta, e logo sinto o cheiro de cerveja e suor. Não ligo. Bom, muita pouca coisa me incomoda, nesses dias.
-Meu quarto é bem em frente ao seu, Dana! - Jack ri, se jogando em um sofá.
-Que sorte a sua, cara. -o garoto loiro ri, indo até a cozinha.
Ouço um ruído e me viro em direção ao barulho. Um cara sai do apartamento ao lado, segurando suas chaves. Ele fecha a porta, e quando se vira, consigo vê-lo. Ele é alto, mais do que Zack. Seu cabelo é negro, enfiado dentro de uma touca cinza. Seus ombros são largos, e consigo ver seus musculos pressionando a camisa quando ele se vira para descer a escada. Meus olhos delizam pelas tatuagens que preenchem seu braço direiti até pouco depois do cotovelo.
Sinto cheiro de canela.
Ele é tão lindo que minha cabeça gira quando ele passa. Meus pêlos arrepiam, como estática. Ouço o ruído de quando suas chaves caem. Me debruço para pega-las, e grito:
-Ei, suas chaves!
Mad ele continua descendo as escadas, ignorando meu chamado.
-Esse é Kyle. -Jack diz, de dentro do nosso apartamento. -Ele é surdo.
Pisco algumas vezes, ainda sem fôlego.
Desde que tentaram me matar, nunca senti nada como isso. Na verdade, desde aquele dia, eu nunca senti.


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