Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 91
Capítulo 91


Notas iniciais do capítulo

Bom sábado, gente! Prometo responder os comentários do capítulo anterior logo, logo.



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—Assim está melhor. —Djoser fala ao me ver com as roupas que ele trouxe para mim.

—Azuis? —Indago irônica e então ele não consegue evitar o riso. —A cor favorita da mamãe. —Falo. Sempre gostei de cores mais atraentes como o vermelho e o amarelo. Mas pelo o que vejo, azul também combina comigo.

—Isso também é seu. —Djoser fala ao me entregar um pequeno baú. —A nossa mãe disse que você deveria voltar para casa não como uma hebréia, mas sim como uma Rainha.

—Rainha? —Pergunto confusa e então vejo a coroa que um dia foi de minha mãe quando ela ainda era uma princesa.

—Ela disse que mesmo que um dia eu me caso com Yaffa, ou com qualquer outra mulher, você deve ser a Rainha. —Djoser fala. —Amun disse que uma nova rainha tomaria tudo de nossa mãe. E então ela pensou que com você no poder, nenhuma outra rainha iria ganhar o trono.

—Ela não aguentou. Não foi? —Indago ao ter minha coroa em mãos. —A nossa mãe não aguentou ser rainha.

—Sim, ela aguentou. Mas desde que foi para a Núbia com Lyanna e com... —Djoser parece temer a minha reação, então olha para o chão. —Com a lembrança de nosso pai. —Ele fala. —Nossa mãe tem paz desde então, Anippe.

—E ela não sofre mais com a morte do nosso pai? —Pergunto e então Djoser permanece mudo, mas logo resolve falar.

—Ela chorava todas as noites. —Djoser fala ao me dar as costas. —Quando tirei Lyanna de seus braços e a mandei para a Núbia, dando ela como morta para todos, nossa mãe me odiava. Ela odiava Gab naquele dia, odiava o mundo. —Fala. —Maa então eu voltei para ela o que estava acontecendo.

—Que dando Lyanna como morta, Amun não iria tentar fazer nenhum mal para ela? —Pergunto ao compreender Djoser.

—Quer saber a verdade? —Djoser pergunta enquanto a embarcação navega. —Nosso pai já sabia.

—Sabia? —Pergunto confusa.

—A idéia de salvar Lyanna já existia antes mesmo dele morrer. —Djoser revela. —Ele pensou em simular a morte da nossa mãe, mas nosso pai sabia que algo faria errado. Ou iriam descobrir, ou nossa mãe não iria concordar.

—Se ele pudesse fraldar a morte dele. —Falo pensativa. —Mas eu ainda espero aceitar a morte dele.

—E você ainda não aceitou? —Djoser pergunta incrédulo.

—Nunca. —Falo e então olho para o mar. —Eu nunca aceitei a morte do nosso pai, Djoser. E se quer saber, desde que sonhei com ele morto, não sinto nada.

—Uma noite sonhei com você. Sonhei que estávamos velando nosso pai.

—Eu sei. —Falo para sua surpresa. —Tivemos o mesmo sonho, talvez na mesma noite. Em Abul Simbel.

—Como isso é possível? Também viu Uri? —Djoser pergunta incrédulo.

—Vi. —Respondo feliz. —Desde aquela época eu tenho visto aparições em meus sonhos, como uma espécie de dom. —Falo. —Sonhei com Lyanna no Vale dos Lírios, na Núbia. —Minhas palavras assustam Djoser, mas ele logo sorri. —Era como se eu pudesse manter contato com as almas das pessoas.

—Então, você viu a alma do nosso pai? —Djoser indaga irônico.

—Não. —Nego seriamente. —Eu vi aquilo que meu subconsciente desejava ver. —Falo e então vejo decepção nos olhos azuis de meu irmão mais velho. —Por anos pensei que, dos filhos de Hur, apenas restava eu e você. —Falo. —Mas ainda temos Lyanna. —Falo sorridente.

—Não sei o que dizer. —Djoser fala enquanto olho para a coroa em minhas mãos. —Apenas estou surpreso. —Meu irmão fala.

—Eu também. —Falo ao olhar para o homem que Djoser se tornou. —Mas aí está você. Podemos ter perdido Uri, que deveria sustentar a família após a morte de nosso. Mas além de representar o nosso pai, você, Djoser, representa Ramsés II. —Falo e assim um sorriso nasce nos lábios do meu irmão.

—Eu ainda não fui coroado oficialmente. —Djoser revela. —Não quero fazer isso em meio a uma guerra.

—Essa guerra vai acabar. —Falo e então ponho a coroa em mim mesma. —Temos Yaffa, Djoser. Amun irá parar.

—Eu realmente espero que ele pare. —Meu irmão fala sem paciência. —O reino não evolui em guerra.

—E como conseguiu sustentar todo o reino?

—Guerra e escravidão. —Djoser responde para minha surpresa. —Não fique tão surpresa. —Ele pede enquanto tento pensar. —Quem elaborou isso foi nosso tio. Eu apenas segui o que deveria ser feito.

—Cinco anos em guerra, Djoser. —Falo abismada. —Como consegue viver com tanta calma? Você mentiu para mim dizendo que Lyanna estava morta. Não me falou sobre a morte do nosso tio. E aliás, você me deve uma explicação por ter demorado tanto a mandar a notícia de que nosso pai havia morrido. —Minhas palavras assustam meu irmão. —Você não mente apenas sobre isso, Djoser. Você me esconde muito mais.

—E o que eu teria para esconder? —Djoser indaga irônico. —Por favor, Anippe. Se fiz tudo isso foi para o bem de todos nós.

—Não sei, Djoser. —Falo negando as atitudes de meu irmão. —Algo você me esconde. E não pense que eu sou a nossa mãe que desconfia e fica por isso mesmo.

—Anippe. —Djoser fala ao respirar fundo. —Eu precisava manter você longe do Egito para que Amun não usasse você contra a nossa mãe. Dei Lyanna como morta e nossa mãe como louca para ele atacar somente à mim. Nosso tio estava morto, Gab é um bastardo, mas Amun não iria atingir ele diretamente. Se eu me casar com Yaffa, e se Amun me atingir, também vai ferir a própria filha. —Djoser fala seu plano. —E com você ao meu lado, seremos dois. Yaffa será nossa garantia de pegar Amun de uma vez por todas! —Meu irmão esbraveja. —Eu não escondo nada de você, Anippe. Eu só posso contar com você, não quero envolver a mamãe nisso. Ela deve sua atenção apenas para Lyanna. Porque nossa mãe perderia tempo com a guerra se ela como mãe deve cuidar de Lyanna que não teve nosso pai? —Djoser pergunta, me deixando sem voz. —Eu levantei o Egito, enfrento Amun, protejo nossa mãe e estou prestes a me casar com Yaffa. Mas sabendo todos, que a desejo da rainha, você irá substituir ela. —Ele dá uma breve pausa e logo volta a falar. —Não sabe como foi difícil manter o povo crendo apenas em Deus, quando isso aconteceu tudo caminhou. Não existe mais estátuas de deuses, não existe culto. —Ele fala me surpreendo. —O povo já não raspa mais os cabelos, estão livres da cultura egípcia. Outros fazem isso por hábitos, mas já não cultuam deuses como antes. Não depois de sentirem fome. Não depois que nossa mãe proibiu a entrada dos camponeses na cidade, assim fazendo com que uns morressem e outros não.

—Os portões?

—Fechados por anos, Anippe. Longos anos até acharmos uma solução. —Djoser revela. —Quando completei dezoito anos, abri os portões e alimentei todos eles pedindo perdão. Mas não havia o que perdoar. Se nossa mãe não tivesse feito isso, todos teriam padecido de fome antes mesmo de Lyanna nascer.

—Coração de leão. —Falo ao me lembrar dos contos de meu pai. —Você tem um coração de leão, Djoser. Você é o rei prometido de sangue hebreu da tribo de Judá, do sangue egípcio de Ramsés do sangue de leão que nunca se curva. —Falo vendo então que meu irmão é digno do trono.

—Todos dizem que após Ramsés I, nosso bisavô, o verdadeiro rei prometido do sangue de leão sou eu. —Meu irmão fala. —E é verdade. —Ele afirma. —Poder é a grandeza e força pela própria soberania, Anippe. —Ele fala sorridente. Enquanto vou até a ponta da embarcação.

—O temor nos teme. —Falo ao avistar terra firme. —Philae. —Falo ao reconhecer o lugar. —Ainda reconheço. —Falo para a surpresa do meu irmão mais velho.

—Vamos ficar aqui até amanhã de manhã. —Djoser fala e então sorrio. —As águas são do Nilo. —Djoser fala e então sorrio de canto a canto. Voltei para o meu reino.

(...)

—Lhe caiu muito bem. —Falo para Halima ao vê-la vestida como uma nobre de família real.

—Não fiquei melhor que o meu irmão. —Halima fala risonha ao olhar para Zion.

—Deixe de bobagem. —Zion pede antes de olhar para mim e sair do quarto.

—Esse templo é enorme. —Halima fala ao olhar para o local. —Djoser disse que não há nenhuma estatua.

—Ele derrubou todas. —Falo e então Halima sorri. —Graças a Deus, meu irmão não se deixou levar.

—Foi exatamente isso o que ele falou na noite em que dormiu na minha tenda. —Halima fala e então eu junto às peças.

—Eu sei que ele foi para lá, Halima. —Falo para sua surpresa. —E Zion? —Indago.

—Não estava até a hora de Djoser partir. —Halima revela irônica e então me levanto, mas me incomodo com a barra do vestido azul claro. Não sei se me irrito por ter perdido o hábito, ou porque a cor não combina com a minha personalidade.

—Está insinuando que...

—Não estou insinuando nada. —Halima me interrompe. —Ninguém quer Yaffa como esposa do seu irmão, eu sei disso. —Ela fala. —Que trágico seria outra mulher esperando um filho do rei.

—Por um lado agradeço em me ajudar. Mas pelo outro me preocupo. —Falo. —Como tem tanta certeza que está grávida?

—Conto com a sorte. —Halima fala. —Yaffa não vai tirar ele de mim. —Ela fala pensativa.

—Essa guerra é perigosa para se conceber uma criança. —Falo preocupando Halima. —Mas agora está feito. —Falo estarrecida com a possibilidade de ver Djoser se tornar pai. —Acha mesmo que pode ter concebido em apenas uma noite?

—Certamente que sim. —Halima fala e então me assusto. —Anippe, está tudo bem? Você ficou pálida.

—Não foi nada. Apenas me Imaginei sendo tia. —Minto, mas acabo fazendo Halima sorrir. —Bom, eu vou descansar.

—Já é tarde, não é? —Halima indaga sorridente. —Mas quando estávamos no acampamento não tínhamos noção do tempo.

—Não mesmo. —Falo sorrindo. —Eu vou descansar, estou exausta.

—E com olheiras. —Halima chama a minha atenção. —Desde a manhã que saímos do acampamento, parece que na noite anterior você não dormiu bem. —Ela fala me fazendo tremer. Halima fala justamente da noite em que passei com Arão. —Passou a noite em claro?

—Quase isso. —Falo dando as costas para Halima. —Passei a noite em claro, mas não nego que gostei de fazer isso e não me arrependo. Foi por um bom motivo. —Falo pensativa ao me lembrar de Arão. —Boa noite, Halima. —Falo antes de sair de seu quarto.

Ao andar pelo corredor vazio e iluminado pelas tochas, em uma noite negra sem luar, ouço barulhos vindo de detrás de uma das pilastras em formato espiral. São risos abafados e sons semelhantes a beijos. Me assusto um pouco por saber que já é tarde, mas logo sou tomada pela curiosidade e vejo de quem se trata. Vejo Yaffa e Djoser aos beijos, mas logo me escondo ao ver tal cena. Quando olho para eles novamente, Djoser nota minha presença. Posso ver em seu olhar o quanto está enganando Yaffa. —Yaffa não tem culpa de nada. Mas é a melhor chave e solução contra Amun. Não vejo nojo em Djoser ao beijar a filha do assassino do nosso pai. Vejo que ele está se divertindo ao enganar Yaffa. Quanto mais Yaffa se apaixonar por Djoser, mais fiel ela será à ele.

—Para onde vai me levar? —Ouço Yaffa perguntar e então à vejo ser carregada por Djoser. Me escondo, mas logo levo um susto ao ver Zion.

—O que faz aqui? —Zion pergunta e então sorri. —Não tem sono?

—Tenho. —Respondo. —Você não tem? Ou está me rondando?

—As duas coisas. —Zion responde. —Mas você deveria estar dormindo. Amanhã ao amanhecer iremos partir.

—Sei muito bem disso. —Falo. —Vai mesmo me servir até o último dia de sua vida?

—E porquê não?—Zion pergunta ao se aproximar de mim. —Eu prometi isso, vou fazer isso então.

—E vai me proteger? —Indago. —Seja lá de quem for? —Pergunto fazendo Zion rir.

—Você é muito descrente. —Zion brinca comigo. —Mas, respondendo a sua resposta, claro que vou. —Ele fala ao segurar minhas mãos. —Eu não posso te amar porque você não quer. E eu não quero forçar você, Anippe. Mas enquanto eu estiver te protegendo, saiba que vou te amar. —Zion se declara e eu fico sem palavras. Tento esconder meu rosto, tento achar palavras, mas não encontro nada. Respiro fundo e então olho para Zion.

—Boa noite. —É a única coisa que falo antes de fugir das declarações de Zion. Ando rápido e acabo perdendo o fôlego, mas logo entro em meu quarto e tento me acalmar. —Que perseguição é essa? —Indago chateada e então me deito em minha cama ainda assustada. Me aninho nos lençóis tentando esquecer Zion, mas acabo mesmo é me lembrando de Arão.


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Notas finais do capítulo

Até mais!



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