Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 52
Capitulo 52




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661291/chapter/52

—Indisposta? —Anippe pergunta ao me ver deitada em minha cama confortável. Minha filha então põe algumas almofadas para me auxiliar a relaxar.

—É passageiro. —Falo e então seguro nas mãos de minha filha. —Você quem deveria estar repousando.

—O ferimento está se tornando menos dolorido. —Anippe fala e põe sua mão direita sobre o abdômen. —Graças a Deus e as fórmulas de Paser.

—Mesmo assim. —Falo. —Conheceu a filha de Oritia?

—Yaffa e eu temos muitas coisas em comum! Nunca me senti tão bem por ter uma garota que pense igual a mim. —Anippe fala animada e me faz rir.

—Eu e Oritia éramos grandes amigas. Mas então ela se casou com Amun e foi embora... —Falo nostálgica.

—O sacerdote me disse que eu me pareço muito com a senhora quando mais jovem. Também me disse que a senhora era muito bela e que todos os rapazes daquela época tinham os olhos voltado na princesa. —Anippe fala extrovertida, porém eu não me alegro. Por Deus! Amun ainda sente algo por mim?!

—Amun sempre foi um bom amigo. —Falo tentando esconder meu incômodo. —Mas me diga uma coisa, Anippe. Você e seu pai...

—De novo não, mamãe. —Anippe pede sem paciência. —Odeio falar sobre isso.

—Por que vocês dois não se falam? Tentem conversar! —Peço aflita.

—Não irei perdoar o meu pai nunca, mãe. Se ele não me perdoa pelo o que fiz, então eu também não irei perdoá-lo pelo o que ele quase fez. Onde já se viu levantar a mão para mim? —Anippe pergunta com a voz embargada.

—Como eu fiz. —Falo. Minha filha então então me olha com lágrimas nos olhos. —Anippe, seu pai te ama muito. Ele te ama mais que eu...

—Isso não é verdade. —Anippe me interrompe. —A senhora me perdôo, ele não.

—Mas ele está arrependido agora! —Insisto. —Perdoe o seu pai antes que seja tarde demais.

—Como foi com a senhora e o meu avô? —Anippe pergunta temerosa pela minha reação.

—Pior, Anippe. —Falo com minha voz já embargada pela emoção. —Hur passou a te amar desde o dia em que você nasceu, você sabia disso? —Minha pergunta faz Anippe abaixar o olhar. —Eu me lembro até hoje do olhar do seu pai para mim quando teve você nos braços. —Falo. —Ele desejava ter uma filha antes mesmo de saber que eu estava esperando Djoser.

—O que? —Anippe pergunta assustada.

—Ele achava que Moisés e Uri precisavam de uma irmã e não de um irmão. Seu pai até fez planos para que você fosse  concebida após o nascimento de Djoser...

—E foi o que aconteceu. —Anippe fala risonha. —Três meses após o nascimento de Djoser a senhora descobriu que estava grávida.

—Me lembro até hoje do desmaio que tive na sala do trono. —Falo nostálgica. —Acabei caindo nos degraus e fiz Ramsés quase enlouquecer de medo.

—Eu causo muito transtorno desde estive no ventre da senhora. — Anippe argumenta e nos faz rir. —Leila me falava que meu pai andava com Djoser nos braços enquanto a senhora me carregava no ventre.

—Você não pesava dentro de mim. —Falo. Os olhos de minha filha passam a brilhar com o que falo.  —Eu fiquei tão assustada quando você nasceu...

—Eu era tão feia assim? —Anippe pergunta extrovertida.

—Não! —Respondo. —Você, ao contrário de Djoser, era uma recém nascida muito frágil. Pequena demais e doce demais... —Falo e faço minha filha corar. —Eu tinha tanto medo em te amamentar...

Flash Back On

—Pelos deuses, Leila! —Exclamo assustada, porém Leila passa a rir. —Eu fiz ela se engasgar com o meu leite! —Falo ainda mais assustada. Leila então pega Anippe em seus braços e dá leve tapinhas nas costas de minha filha.

—Não fique tão nervosa, princesa. —Leila pede rindo ao ver meu desespero. —A senhora já sabe amamentar!

—Mas Anippe é muito frágil. As vezes eu penso que somente em toca-la irei lhe machucar. —Falo e então Leila me devolve Anippe já melhor.

—Ela é linda. —Leila elogia a minha filha e então Anippe passa a olhar para todo o local. —Abençoada nos olhos pelo céu...

Flash Back Off

—Leila me contou isso. —Anippe fala e passa a sorrir.

—Eu tinha medo até quando você pedia para dormir entre mim e o seu pai nessa cama. Principalmente nas noites em que você tinha algum sonho ruim...

Flash Back On

—Hur? —Chamo por meu marido ao ver a porta de nosso quarto ser aberta. Eu então vejo Anippe correr até a nossa cama e se jogar entre mim e Hur.

—O que faz aqui, filha? —Hur pergunta sonolento ao ver nossa filha se aninhar entre nós dois.

—Eu tive um sonho ruim. —Anippe fala amedrontada. Suas vestes esbranquiçadas e alaranjadas roçam em minha pele, todavia eu não me importo.—Posso dormir aqui? —Ela pergunta e nos olha transmitindo toda sua doçura.

—Somente hoje, mocinha. —Falo ao pôr o cobertor sobre o corpo da criança de cinco anos. Anippe então abraça Hur e fecha seus olhos. Suas mãos pequenas ficam próximas ao rosto do pai, que ainda sonolento, não se importa com o contato.

—Acho que alguém sobrou... —Hur brinca ao abraçar nossa filha carinhosamente. Eu fico olhando para os dois por um tempo, mas rapidamente volto a dormir.

Flash Back Off

—Você amava dormir abraçada ao seu pai quando criança. —Falo nostálgica e tomada pelas boas lembranças. —Enquanto  Djoser vivia de mãos dadas comigo, você vivia com o seu pai pelo palácio, Anippe. —Lagrimas brotaram de meus olhos ao lembrar da união de Hur e Anippe.

—Eu me lembro bem. —Anippe fala entristecida. —Mas agora as coisas mudaram. Assim como tudo na vida muda.

—Algumas coisas mudam para melhor e outras para pior, Anippe. Cabe a cada um de nós saber fazer a mudança correta nas nossas vidas. —Falo. A emoção é tanta que minha filha me abraça fervorosamente.

—Eu queria ser como a senhora. —Anippe fala e passa a brincar com os fios de cabelo da minha peruca. —Tão paciente, tão doce e compreensiva até mesmo comigo que sou rebelde demais!

—Você não é má somente por ser rebelde, Anippe. Você é minha filha e isso é o que vale. —Falo emocionada. —No dia que você tiver uma filha, uma menina linda de olhos negros como os de seu pai, irá saber o que sinto. —Falo ao acariciar o rosto de minha única filha. —O meu amor pelo seu pai é tão grande que não coube nos nossos corações. Esse amor é tão grande que vi meu ventre crescer duas vezes...

—Mãe! —Anippe fala e então deita-se ao meu lado na minha cama. Eu e minha filha nos abraçamos mais uma vez e então Anippe chora. —Como a senhora se sentiu quando beijou o meu pai pela primeira vez?

—Completa. —Respondo nostálgica. Eu ainda posso sentir os lábios de Hur nos meus desde aquela noite no jardim real.—Seu pai cicatrizou todas as feridas que existiam em minha alma. —Falo. —Nenhum outro homem faria isso por mim, Anippe.

—Isso é verdade. —Anippe concorda. —Meu pai amou a senhora desde que ainda era casada com Disebek?

—Sim.

—Eu não consigo imaginar como tudo favoreceu vocês dois. —Anippe fala pensativa. —Já imaginou se o general soubesse de que meu pai amava a senhora? Poderia ser um escândalo.

—Disebek não faria nada contra Hur. —Falo. —Ele não chegaria  a esse nível.

—A senhora, como sempre, tem razão. —Anippe fala risonha.

(...)

Um novo dia começou e eu ainda sinto Anippe abraçada a mim. Pelo o que vejo eu e minha filha dormimos sem nem perceber. Olho para o divã e vejo Hur dormindo com total desconforto, então eu me levanto sem fazer com que Anippe acorde e vou até ele. —Faço carícias em seu rosto, mas ele não se move. —Eu então passo a sorrir ao sentir meus dedos em sua pele. Me assusto ao ver Hur acordar rapidamente e me puxar para si.

—Meu Deus, Hur! —Falo assustada enquanto ele passa a rir. —Pensei que você estivesse dormindo.

—Estava apenas com os olhos fechados. —Hur fala e me faz rir. —Ela e você dominaram juntas. —Hur fala sobre Anippe.

—Ela adormeceu como fazia com você.  —Falo. —Ela se preocupou comigo.

—Eu soube que você ficou enjoada. —Hur fala desconfiado. —O que você tem?

—Fiquei indisposta com tudo o que está acontecendo. —Falo e então me levanto. —Mal me alimento graças a preocupação.

—Mas você não perdeu peso. —Hur argumenta sua observação, no entanto me olha constrangido já que passo a olhá-lo com desconfiança. Como ele ousa falar do meu peso? —Digo por quê...

—Eu entendi. —Falo para não deixar Hur em uma saia justa. —Mas você tem razão. —Falo perplexa. Eu não estou pendendo peso, mas sim ganhando. —Eu não posso entender como estou ganhando peso se estou me alimentando mal.

—Por que não se consulta com Amun? —Hur pergunta sugestivo. Justo Amun? —Gab já apresentou melhoras.

—Não será necessário. —Falo ríspida. —Já disse que não venho me alimentando bem por que estou muito preocupada com o que vem acontecendo, Hur...  —Hur então se levanta e me abraça, mas eu me sinto desconfortável graças ao perfume de meu marido.

—O que foi? —Hur pergunta assim que me afasto bruscamente dele.

—O seu perfume. —Falo sem olhá-lo. Tenho náuseas ao sentir o aroma do perfume de meu marido.

—É o perfume que você me deu de presente no dia de meu aniversário. —Hur fala me deixando envergonhada. —Você não está nada bem, Henutmire.

—Ou então eu tenho um péssimo gosto para presentes. —Ironizo. —Mas isso vai passar logo.

—Você também teve isso quando esteve grávida. —Hur ressalta, mas eu não dou muita importância.

—Como se isso fosse possível agora na idade que tenho. —Falo rindo pela forma que Hur me olha. Seus olhos brilham ao me imaginar grávida, porém ele deve saber que isso é impossível com a idade que tenho. —Vinte anos se passaram desde que nos casamos e eu já te dei dois filhos.

—Eu sei e sou feliz por isso. —Hur fala e então olha para Anippe que ainda dorme. —Mas você não imagina que lindo seria se você tivesse outro filho agora? —A pergunta de Hur me faz rir.

—Com Djoser e Anippe já crescidos? —Pergunto risonha. —Seria interessante... —Falo pensando na hipótese de ter mais um filho. —Mas isso é impossível. Já estou em idade avançada e...

—Você falava a mesma coisa á vinte anos atrás. E ainda se lamentava porque pensava que não poderia gerar um filho nunca. —Hur fala persistindo na ideia de me ver grávida.

—Hur... —Falo e então unimos nossas mãos. —Nossa hora de ter filhos já passou. O que irá acontecer agora é esperar os nossos filhos se casarem e terem filhos.

—Você já está pensando nisso? —Hur pergunta e me faz rir. —Isso me faz lembrar que Bezalel irá se casar daqui a algumas luas.

—E você não vai para a cerimônia? Bezalel deve estar esperando por você e Uri.

—Uri não irá para a vila. Conheço meu filho... —Hur fala decepcionado.

—Por que você e nossos filhos não vão? Aproveitam um pouco a festa ao lado de Leila e toda a família. —Incentivo Hur.

—E você não vai conosco?

—Eu não posso. Ramsés iria se dar conta da minha ausência e de certa forma ficaria contra mim. —Falo. —Mas vocês devem ir. Eu espero por vocês aqui no palácio...

—Eu não quero deixar você sozinha com Gab por perto. —Hur deixa claro o seu ciúme. — mesmo depois do que ele fez eu ainda não confio nele.

—Não é hora de ter ciúmes. —Chamo a atenção do meu marido. — Gab se mostrou um amigo ao me ajudar para fugir até a vila e até agora não se ensina mais para mim.

—Eu não sei. Ele pode ser apenas um amigo... Se bem que os seus olhos lembra os dele. —Hur ressalta. —Poderia ser seu irmão por exemplo...

—Karoma me falou a mesma coisa, mas isso é impossível já que somos primos distantes até porque  a tia dele casou-se com meu pai. —Falo pensativa. —Em outras palavras o nosso parentesco é tão insignificante...

—Mas deveria significar pra ele se manter longe de você...

—Ele me salvou, mas isso não quer dizer que vou amenizar o meu desprezo por Gab. Até porque ele uma certa vez te colocou contra mim ao falar que era o pai de Anippe. —Falo enojada ao lembrar do que Gab foi capaz de fazer.

—O senhor não é o meu pai? —Anippe pergunta subitamente ao ouvir a nossa conversa. Hur me olha assustado, no entanto não responde a nossa filha. —Gab é o meu pai?

—Não. —Respondo assustada. —Você entendeu errado. Gab apenas se aproveitou da fragilidade de um momento meu e do seu pai...

—E então você e ele... —Anippe entende tudo errado e me olha com nojo.

—Escute sua mãe! —Hur pede aflito. —Gab só falou que era seu pai para me fazer mal. Ele queria colocar-me contra sua mãe porque na época que Henutmire soube que estava grávida...

—Eu tinha brigado com o seu pai e desde então fiquei indiferente com ele. —Completo no lugar de Hur. —E então Gab aproveitou esse impasse e o usou para que seu pai pensasse que eu havia o enganado.

—E porque meu pai acreditou? —Anippe pergunta desconfiada.

—Por que, como eu já disse, eu estava indiferente com seu pai. —Falo já sem paciência. —Hur é o seu pai. Você entendeu tudo errado. —Assim que acabo de falar vejo Djoser e Uri entrarem em meu quarto.

—Eu preferiria ser filha de Gab do que ser sua filha. —Anippe fala deixando claro que nega o sangue de Hur e o próprio como pai. Djoser e Uri me olham assustados ao ouvir Anippe falar, então todos nós nos assustamos com a reação de Hur.

—Pai, não! —Djoser e Uri falam em uníssonos ao ver Hur puxar Anippe pelo braço para fora da cama.

—Solte-a! —Peço ao interferir na briga. Eu então empurro o corpo de Hur para longe onde Uri e Djoser conseguem conte-lo. —Como pode desejar uma coisa dessas, Anippe? —Pergunto voltada para minha filha mais nova. —Enlouqueceu?

—Talvez sim, talvez não. —Anippe responde ofegante e então olha para seus braços avermelhados pelas mãos de Hur.

—Como você pode me odiar tanto? —Hur pergunta incrédulo ao ver que de fato Anippe o odeia. —Eu te amo desde o dia em que você nasceu.

—Me amaria se tivesse me perdoado! Agora arque com as consequências! —Anippe esbravejou mais uma vez.

—Cale-se, Anippe. Pelo amor de Deus! Cale-se... —Djoser pede já enfurecido com a atitude da irmã mais nova.

—Faça o que Djoser pede! —Uri fala ainda contendo Hur pelos braços.

—Eu deveria te castigar pelo o que está fazendo. —Falo ao olhar para minha filha. —Você tem ideia do que acaba de desejar? —Minha pergunta fez Anippe abaixar o olhar. Mas a minha raiva é deixada de lado ao ver tudo girar em minha volta.

—Henutmire! —Hur chama por mim ao me ver cambalear para o meu lado direito e pôr minha mão acima do meu estômago.

—O que a senhora tem? —Djoser pergunta preocupado.

—Fiquei tonta, tudo começou a girar... —Falo segurando firma nas mãos de Anippe. —E eu estou enjoada.

—É melhor se deitar. —Uri sugere e então me segura firme e me leva até a minha cama. —Eu vou chamar Paser.

—Não precisa. —Falo ofegante. Então todos nós somos surpreendidos por Moisés que entra em meu quarto com um belo sorriso no rosto.

—Shalom. —Meu filho fala ao entrar. —Aconteceu alguma coisa? —Moisés pergunta ao me ver deitada.

—Ela não está se sentindo bem. —Hur responde.

—O que faz aqui? —Pergunto já aflita.

—Eu vim porque quero que a senhora conheça duas pessoas. Aliás, três. —Moisés fala sorridente e eu me sento na cama. Todos nós fingimos que nenhuma briga aconteceu antes mesmo de meu filho entrar, portanto esperamos ansiosos pelas pessoas que Moisés quer que eu conheça.

—Quem são? —Pergunto ao olhar para todos presente. Moisés então abre a porta e chama por três pessoas.

—Gérson, Eliezer, Zípora... —Meu filho chama e então uma mulher e dois garotos entram em meus aposentos intimidados pelo ambiente. Eu olho para Hur assustada por saber que a mulher é minha nora e os meninos são meus netos.

—Eu não acredito. —Falo ao ver a família de meu filho. —Como isso é possível? —Pergunto e me levanto de súbito.

—Meus filhos, aquela é a avó que vocês queriam conhecer? —Moisés pergunta sorridente para os dois meninos. Sorrisos ganham espaço nos rostos de meus netos e então eu me esqueço do desentendimento entre Hur e Anippe. Fico sem reação ao ver os meus netos correrem até mim e me abraçarem carinhosamente.

—Como você conseguiu trazê-los? —Pergunto ao olhar para meus netos. Um deles, o que mais me abraça forte, tem grandes traços físicos de Moisés quando criança.

—Meu sogro veio até o Egito e com ele trouxe Zípora. —Moisés fala e então eu olho para minha nora.

—Ela é linda. —Falo maravilhada com a minha nora.

—E a minha sogra é adorável. —Zipora fala ainda envergonhada.

—Bem que o papai disse que a nossa avó egípcia era linda, Gérson. —Eliezer  fala e então todos riem.

—Esses são seus tios, meus filhos. —Moisés fala e apresenta Anippe e Djoser aos meus netos.

—Temos duas tias e dois tios! —Gérson fala animado para o irmão.

—Anippe e Djoser. —Moisés faz a apresentação e então meus netos olham para meus filhos.

—Eles se parecerem com você. —Falo para Moisés. Eu então olho para Zípora e vejo o quanto minha nora é recatada. —Nós temos muito o que conversar, minha querida...

(...)

—Então você cuidou de suas irmãs desde os doze anos? —Pergunto surpresa para Zipora.

—Sim. Meu pai cuidava dos negócios enquanto eu cuidava da casa e das minhas irmãs. Não tive muito tempo para mim. —Zipora fala entristecida.

—Eu sinto muito pela sua mãe, Zípora. Mas aí está você... —Minha nora então passa a rir.

—Moisés me trouxe para o palácio para conhecer a senhora , mas agora eu vejo o quanto eu estava equivocada em relação a senhora. —Zipora fala e me faz rir. —A senhora é mais bondosa do que pensei. E agora como rainha...

—Isso não é nada. —Falo e então Zípora passa a sorrir. —Ramsés sabe que você está aqui?

—Moisés pediu ao rei para me deixar conhecê-la. Mesmo com tudo o que está acontecendo... —Zipora fala e então eu passo a sorrir ao ver meus filhos e meus netos. —Eu só lamento por não conhecer o pai adotivo de Moisés. Ele sempre me falou muito bem do pai.

—Apesar de tudo, Disebek era um pai maravilhoso. —Falo e suspiro.

—Tia Anippe! —Gérson chama por Anippe e então eu vejo minha filha e meu neto abraçados.

—Anippe cativou os sobrinhos. —Zipora fala risonha. Meus netos então cercam Anippe e Moisés. Eu sorrio feliz ao ver que todo o meu sofrimento valeu a pena. —Ela é como Miriã, sabe alegrar qualquer criança.

—Você tem razão. —Falo enciumada ao ouvir Zípora falar de Miriã.

—Pena que Anippe é a irmã mais nova. Se ela tivesse um irmão mais novo certamente o mimaria. —Zipora acaba me fazendo rir com sua ideia. —Não pensou em ter mais filhos depois que Anippe nasceu?

—A diferença de idade entre Anippe e Djoser é muito pequena. Tentei dar outra filha á Hur, mas isso foi cinco anos após Anippe nascer. E então não tive sucesso algum. —Falo.

—Em Midiã existia uma mulher de idade avançada que conseguiu gerar um filho no ventre. —Zipora fala nostálgica. —Por que não poderia acontecer o mesmo com a senhora?

—Mas eu já tenho o que quero. —Falo ao olhar meus filhos e meus netos brincando no jardim.

—Se sente bem? —Zipora pergunta ao me apoiar em seus braços já que perdi as forças. —Sente-se. —Ela pede e então eu me sento. —A senhora ficou pálida...

—E sinto muito calor. —Protesto e então uso o leque para tentar me refrescar.

—Precisamos ir. —Moisés fala de mãos dadas com meus netos.

—Sua mãe não se sente bem. —Zipora fala e então meus netos se aproximam de mim.

—A senhora tá passando mal, vovó? —Gérson pergunta preocupado e nos faz rir.

—Eu vou ficar bem. —Falo e então olho para Moisés. —Ele é o que mais se parece com você.

—E também é o mais maduro. —Moisés fala e então eu vejo Zípora se orgulhar.

—Você é uma ótima mãe. —Falo e então meus netos me abraçam.

—Nós vamos pedir para Deus que a senhora fique bem, vovó. —Eliezer fala e então me abraça novamente.

—Espero voltar a vê-los. —Falo para Moisés. Meu filho então beija uma de minhas mãos e sorrio feliz por ter conhecido meus netos.

—Shalom, mãe.

—Shalom, meu filho.

(...)

—Henutmire. —Ouço uma voz familiar me chamar enquanto estou no jardim real.

—Amun. —Falo ao ver o homem.

—Posso? —Ele pede permissão para se sentar ao meu lado. Eu então aceito sua companhia. —Muita coisa mudou na sua vida.

—Na sua também. —Falo e então sorrimos.

—Quando eu me lembro do jovem inconsequente que eu era... —Amun recorda o nosso passado. —Não sabe como fico envergonhado por isso.

—Isso já passou. Éramos jovens e agora somos velhos demais para pensar nisso. —Faço Amun rir.

—Soube que poderíamos ter um neto. —Amun fala e eu fico confusa.

—Do que fala? —Pergunto confusa.

—Não sabe que Ramsés tem planos de casar Yaffa e Djoser?  —Amun pergunta risonho e então eu o olho friamente. Como Ramsés ousa fazer planos de casar Djoser com Yaffa sem me contar nada?

—Ele não me contou. —Falo tentando minimizar a minha raiva. Eu acho que em toda a história do Egito, eu sou a única rainha a ficar furiosa ao saber que o filho irá casar.

—Quanta ironia em nossos filhos casarem. —Amun fala e acaba me fazendo rir.

—Não quero pensar nisso agora. Djoser e Yaffa são jovens demais para que Ramsés planeje um casamento. —Deixo claro o meu aborrecimento. Amun então passa a me olhar fixamente, de certa forma me intimida. —Se não se importa, irei me recolher.

—Sente-se mal? —Amun pergunta ao se levantar no mesmo instante que eu.

—Não, apenas estou muito cansada. —Falo e então observo melhor o rosto de Amun. Ele mudou muito! —Gab está melhor? —Pergunto. Anippe já está melhor, diferente de Gab que passou mal tempos antes dela.

—O príncipe já está melhor, mas seu coração já está velho demais para fortes emoções. —Amun fala e então olha para mim com uma certa curiosidade. —Vocês dois têm uma história...

—De onde tirou esse absurdo? Gab é apenas uma linha incompreensiva dos papiros que escrevo a minha história. —Dou ênfase. Amun se espanta com a minha reação e então abaixa o seu olhar.

—É exatamente isso que você deve fazer, Henutmire. —Amun fala sugestivo. —Escrever a sua história em papiros já que não podemos confiar nos escribas que sempre apagam os acontecimentos importantes.

—Os papiros seriam destruídos nas mãos de outros reis de toda forma. —Falo um pouco indignada com a atitude dos antigos reis. Por uma determinada fração de tempo eu e Amun nos olhamos tentando entender o que está acontecendo agora. —Eu realmente preciso ir. —Falo. Amun então faz uma devida reverência e então eu o olho pela última vez. —Com licença.

(...)

Ao andar no corredor onde os aposentos de Gab está, ouço uma conversa na calada da noite. —Desta vez eu verifico se ninguém irá me ver e então ouço a conversa por detrás da porta. —Talvez agora eu possa saber o segredo de Gab.

—Soberana. —Me recomponho ao ver Yaffa e Anippe juntas.

—O que vocês duas fazem sozinhas pelo palácio? —Pergunto em um tom de brincadeira e as duas garotas sorriem.

—Fugimos para a cozinha real. —Anippe fala brincalhona e Yaffa sorri.

—Gosto da amizade de vocês. —Falo e então as duas sorriem ainda mais.

—Eu sou filha única e para mim Anippe é como a irmã que eu sempre desejei ter. —Yaffa fala envergonhada. Eu então olho para Anippe e vejo o quanto ela está feliz por ter Yaffa como amiga.

—Eu tenho três irmãos, sou a mais nova de todos e não tenho nenhuma irmã. Talvez eu sinta o mesmo por você. —Anippe fala e então olha para mim. Eu então me lembro do trágico episódio entre minha filha e Hur.

—Acho melhor vocês duas irem descansar. Já está tarde... —Falo e então as duas concordam.

—Eu acho que minha mãe deve estar me procurando pelo palácio. —Yaffa fala.

—Eu vou com você e de lá irei para o meu quarto. —Anippe fala. —Boa noite, mãe.

—Boa noite, minha filha. —Falo ao beijar o topo da cabeça de minha única filha.

—Shalom. —Anippe sussurra e então segue acompanhada por Yaffa. Eu então desisto de ouvir a conversa que há no quarto de Gab e então vou até os meus aposentos.

(...)

—Tão rápido? —Indago para mim mesma ao ver que Hur já está dormindo em nossa cama. Meu quarto já está um pouco escuro, Hur apagou algumas lamparinas para poder dormir sem toda aquela claridade.

Eu então vou até meu marido que acabou por adormecer sem pôr o cobertor sobre si. Eu então cubro o seu corpo para que ele se sinta mais confortável. E ao aproximar meu rosto ao seu para lhe dar um beijo de boa noite, nojo uma umidade na almofada em que Hur repousa sua cabeça. Talvez ele tenha chorado antes de dormir.

—Bons sonhos, meu amor. —Falo ao beijar sua face carinhosamente.

—Bons. —Hur fala e me surpreende com sua voz. —Onde você estava?

—No jardim. —Respondo ao me deitar ao lado de meu marido. Hur então põe sua mão em meu ventre e me olha.

—Eu te amo, sabia?—Hur pergunta com uma certa emoção em sua voz, mas essa emoção é tão forte que por pouco lágrimas não caem de seus olhos.

—Eu sei. E sou grata por ter você comigo agora. —Falo ao aproximar meu rosto ao seu. —Eu não poderia ter escolhido homem melhor para ser meu marido...—Falo antes de ser envolvida pelos braços de Hur como sou todas as noites.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sobre essa ultima cena Hurmire ( ͡° ͜ʖ ͡°) ( ͡° ͜ʖ ͡°) ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Gostaram da Zipora e Henutmire se conhecendo? Tá ai uma coisa que não passou na novela. É coisa de minha cabeça ou Zipora e Hur estão querendo mesmo que Henutmire tenha mais um filho ( E ela usando a idade como desculpa ( ͡° ͜ʖ ͡°) )
Me pediram duas coisas e como eu sou a fada madrinha desse fandom... Quem pediu sabe muito bem o que vem por ai...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração De Seda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.