Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 50
Capítulo 50


Notas iniciais do capítulo

Vem grandes novidades por aí...



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Abri meus olhos lentamente e tentei mover minha cabeça para o lado direito, mas a dor que sinto me fez permanecer imóvel. Toda a minha cabeça está doendo por causa da pancada que levei ao cair e bater com a cabeça no chão. —Olho para os lados e vejo que estou sozinha em meu quarto. —É noite e nenhum gafanhoto está em meu quarto. Será que a praga já cessou?

—Como dói... —Reclamo ao levar minha mão até a cabeça. Assim que meus dedos pousam no local dolorido, a dor se torna ainda maior.

—Senhora... —Karoma fala ao entrar em meus aposentos. —Graças aos deuses a senhora acordou.

—Onde estão meus filhos e Hur? —Pergunto sendo auxiliada por Karoma para me sentar na cama.

—A princesa Anippe está em seus aposentos e o príncipe Djoser está com o príncipe Amenhotep. —Karoma fala e então eu olho para todos os lados. —Não se preocupe, a praga já cessou.

—Ramsés libertou os escravos?

—Não, senhora. O soberano foi pessoalmente até a vila pedir para que Moisés cessasse a praga. —Karoma me surpreende com a sua revelação. —Foi logo depois do seu acidente.

—Ele foi por minha causa?

—Sim, senhora. O soberano pensou horrores ao vê-la inconsciente nos braços de Hur. —Karoma fala e então eu fico ainda mais surpresa com o que Ramsés fez. —Ele ficou desesperado ao ponto de querer sair sozinho e ir até a vila.

—Ramsés... —Falo orgulhosa do meu irmão. —Mas alguma coisa aconteceu?

—Sim. Após a praga cessar o príncipe Jahi foi executado. —Karoma fala temendo a minha reação.

—Gab e Radina não se revoltaram? —Pergunto incrédula.

—Eles estão tristes pela morte de Jahi, mas seguem conformados com a justiça que foi feita. —Karoma fala e então eu abaixo a minha cabeça.

—Tudo isso poderia ter sido evitado, Karoma. Agora o que resta para Gab e Radina é a consolação. —Falo. —Sabe se Gab melhorou?

—Fisicamente ele está aparentando melhores, mas o estado emocional está na lama. Acho que o primo da rainha pode morrer de tanta tristeza...

—Primo? —Indago confusa.

—É assim que eu vejo já que a Gab é sobrinho de uma das esposas do faraó Seti. —Karoma explica. —Primos distantes quem sabe.

—Eu nunca pensei dessa maneira. Mas você fez bem em me alertar sobre isso. —Falo. —Embora eu não saiba nada sobre algum irmão ou irmã de Nayla que seja pai ou mãe de Gab.

—É estranho. Pouco se sabe das origens de Gab, até mesmo Radina desconhece. —Karoma fala e então eu a olho com desconfiança. —Eu o acho muito parecido com a princesa Anippe e com a senhora.

—Explique melhor. —Peço.

—Os olhos, senhora. Gab não tem nenhuma característica de um príncipe núbio, mas sim de um egípcio. —Meu coração bateu ainda mais forte ao entender o que Karoma quer dizer. —De certa forma a senhora e ele se parecem muito nas características do rosto. Os olhos, o olhar, até mesmo o sorriso... 

—Me ajude, Karoma. —Peço ao me levantar da cama. —Eu preciso ir até os aposentos de Gab...

(...)

—O que faz aqui? —Gab pergunta surpreso ao me ver entrar em seu quarto. Eu então passei a observar melhor todo o rosto de Gab.

—Eu vim saber de algo que somente você pode me falar. —Falo e então vou até Gab. —Quem são os seus pais, Gab? Você é filho de um algum irmão de Nayla?

—Porque isso agora, Henutmire? —Gab pergunta desconfiado. Seus olhos duelaram com os meus ao ouvir minha pergunta.

—Eu sei que Radina e Jahi são filhos de um irmão de Nayla. Mas você... —Paro de falar ao olhar bem nos olhos de Gab. —Nayla tinha algum outro irmão?

—Isso não é assunto que eu trate com você. —Gab fala friamente pela primeira vez desde que nos conhecemos.

—Você é mais velho que Jahi e eu nunca ouvi falar de você antes, embora você tenha falado que conheceu o meu pai. —Falo confusa. —Quem é você, Gab?

—Sou um príncipe núbio como Jahi foi. —Ele fala e então eu me aproximo ainda mais dele. —Porque está aqui, Henutmire?

—Porque eu quero entender quem você é. —Falo curiosa. —Nayla nunca me falou de você, Gab. Por acaso você foi adotado?

—Em parte. —Gab fala sem sequer olhar para mim.

—Então você não é primo de Jahi... —Falo surpresa. Os olhos de Gab então deixaram lágrimas escaparem. Gab não é um príncipe por direito. —De quem você é filho, Gab? Em que ano você nasceu?

—No mesmo ano em que você nasceu. —Gab responde. Isso não pode ser possível, se Gab nasceu no mesmo ano que eu porque eu não o conheci? —Nasci no mês de Meshir, o segundo mês do calendário egípcio.

—Na época da estação seca onde haviam colheitas. —Falo surpresa. —Na mesma época que eu.

—Quando o deus Shemu avisa que o solo está pronto para a colheita. —Senti minhas forças irem embora ao saber que Gab e eu temos a mesma idade.

—Eu nasci na décima quarta lua daquele mês, Gab. E você? —Minha pergunta espantou Gab. Senti meu coração bater ainda mais forte ao temer a resposta de Gab.

—Na décima segunda lua. —Gab responde. Não pode ser! Gab é apenas dois dias mais velho que eu...

—Como você pode ter nascido na mesma época, ano, mês e com apenas duas luas de diferença e eu nunca ter ouvido falar de você? —Pergunto incrédula. Porque eu sinto que Gab esconde algo?

—Ai está você. —Ramsés fala ao entrar eufórico. —Não deveria estar repousando, Henutmire?

—Eu vim apenas saber como Gab está. —Falo.

—Volte para o seu leito e descanse. A pancada que você levou foi muito forte. —Ramsés fala e então olha friamente para Gab. —Eu e Gab precisamos conversar.

—Então eu já vou indo. —Falo desconfiada com a troca de olhares entre Gab e Ramsés. Saio dos aposentos de Gab e assim que fecho a porta olho para os lados para ter a certeza de que ninguém irá me ver.

—Henutmire está desconfiada. —Ouço Gab falar ao aproximar meu ouvido na porta. —Jahi falou para ela o que falou para mim e você?

—Matei Jahi justamente por isso. —Ramsés revela enfurecido. —Henutmire não pode saber quem você é, Gab. Estou abismado com o que aconteceu no passado.

—Henutmire ficaria arrasada se soubesse quem eu sou. —Gab fala e então eu fico ainda mais curiosa. Então de fato Gab é adotado pela família núbia, mas porque ele acha que eu ficarei arrasada ao saber quem ele é?

—Henutmire não pode saber que você é...

—Henutmire? —Hur chama por mim no momento que Ramsés iria falar quem Gab é. —Ouvindo alguma conversa por detrás da porta dos aposentos de Gab?

—Não. —Minto descaradamente. Porque Hur apareceu justo quando Ramsés iria falar o segredo de Gab?

—Não minta. —Hur fala com seu semblante sério. —Porque estava ouvindo a conversa?

—Estou com um pressentimento ruim em relação à Gab e Ramsés. —Falo deixando claro a minha desconfiança. —Gab e eu temos a mesma idade, a diferença é de luas. Mas eu nunca ouvi Nayla falar sobre ele.

—E o que você pensa sobre isso?

—Gostaria de entender o que meu coração diz para mim. Eu sinto que algo aconteceu neste palácio na época em que eu e Gab nascemos. Mas o que eu não sei... —Falo aflita. —Deve existir algum registo de Gab neste palácio.

—Se de fato Gab tem algo a esconder então o rei também deve ter apagado os seus registros neste palácio. —Hur fala e então eu concordo. —Vá até a sala real onde há os registros da história do Egito, Henutmire.

—Você tem toda razão. Eu preciso investigar as origens de Gab, mas não sei por onde começar...

—Procure nos papiros que falam da aliança entre Egito e Núbia. —Hur sugere. —Mas deixe isso para depois. Você deveria estar repousando, Henutmire.

—Não vou conseguir descansar até saber quem Gab é de verdade, Hur. —Falo.

—Não seja teimosa, Henutmire. —Hur pede e então eu tento disfarçar o meu incomodo. —Você terá tempo suficiente para fazer isso.

—Farei isso agora mesmo...

(...)

—Isso é um absurdo! —Falo ao ler todos os papiros sobre as relações entre Núbia e Egito e não encontrar nenhum vestígio sobre a vida de Gab.

—Acabei achando o registro do seu irmão. —Hur fala ao me entregar um papiro velho. —O irmão que nasceu antes de Ramsés.

—Está tão velho... —Falo e então Hur segura a minha mão. —Onde achou?

—Estava junto com esses papiros. —Hur fala e então eu vejo um papiro familiar. Mas não é o papiro que me chama a atenção, mas sim o laço de fita azul. —O que foi?

—Segure a fita. —Falo e então entrego a fita azul de seda para Hur. Desenrolo o papiro e então me deparo com o meu registro. —A princesa hereditária, ricamente favorecida, filha do rei, protegida por Amon,Osíris e Ísis nascida no mês em quê o brilhante Rá favorece a terra para o cultivo dos frutos...

Princesa Henutmire do alto e baixo Egito. —Hur termina de ler o papiro em meu lugar. —Seti quem escreveu isso?

—Sim. —Respondo chorando. —É a mesma seda que continha no manto de quando eu era um bebê. Pelo menos era o que minha mãe me contava. —Falo sobre a fita.

—Seti deixou claro o quanto te amava. —Hur fala e me faz rir. —Vamos embora, Henutmire. Não há nada sobre Gab aqui.

—Há sim. Eu sei que há relacionado á Gab, Hur. —Falo.

—Não seja teimosa, Henutmire!

—Não estou sendo teimosa! —Falo. —Ramsés e Gab estão escondendo algo de mim, Hur. Eu sei que estão! Eu posso sentir isso!

—Você está nervosa com tudo o que aconteceu, Henutmire. —Hur fala. —Vamos esquecer nossas brigas recentes e vamos conversar...

—Não é isso! —Falo angustiada.

—Henutmire, eu acho que você está vendo coisas onde não existe. —Hur fala e então eu volto a ficar confusa. —Você está muito confusa com tudo o que aconteceu...

—Eu ouvi Ramsés e Gab falarem sobre eu não descobrir quem Gab é de verdade. —Minha revelação choca Hur.

—O que acha que está acontecendo? —Hur pergunta assustado e então passa a acreditar em mim.

—Acha que Gab e Ramsés estão tramando alguma coisa contra mim?

—Mas porque Ramsés faria isso com a ajuda de Gab? —Hur pergunta e então eu concordo. —Não existe nenhuma possibilidade de Gab e Ramsés te fazer algum mal.

—De toda maneira eu preciso saber quem é Gab. —Falo. Somos interrompidos por Ikeni e Bakenmut que chegam até nós eufóricos.

—Soberana. —Bakenmut faz uma reverência ao me ver. —Está acontecendo um infortúnio e somente a senhora pode resolver.

—O que foi dessa vez? —Pergunto e então os dois soldados se olham.

—Um rapaz hebreu chamado Zion está nos portões do palácio exigindo a presença da senhora. —Ikeni revela.

—Zion? —Hur indaga curioso. Sua expressão era de total confusão.

—O que devemos fazer, senhora? Ele está aos gritos chamando pela senhora. —Bakenmut fala. Quem esse rapaz pensa que é? Como ele ousa fazer um escândalo?

—Você o conhece? —Hur pergunta ainda mais curioso.

—E o pior é que ele está acompanhado por uma moça chamada Halima. —Ikeni ressalta. Halima é a moça que mostrou interesse no meu filho, em Djoser.

—Mande eles me esperarem no jardim. —Minha ordem foi acatada rapidamente.

—Porque Zion e Halima querem falar com você? Você não os conhece... —Hur fala.

—Irei conhecer agora mesmo. —Falo determinada. Eu preciso conhecer esses dois irmãos que ajudaram os meus filhos, mas também preciso saber o que Zion quer falar comigo.

(...)

Meu olhar foi de encontro ao casal de jovens que está no jardim real. Noto o quanto a moça é tímida por causa de seu olhar e de sua maneira de sentar e agir. —Seus olhos são tão negros que chego a temer o seu olhar. Mas ao mesmo tempo eu me agrado da maneira tímida da moça. — Já Zion é mais determinado e me olha com um certo receio, mas se mantém firme. Penso que seus olhos são azuis, mas ao me aproximar dele noto que na verdade são verdes.

—Você deve ser Zion. —Falo e então Halima levanta-se rapidamente. —Não precisa de levantar, Halima. Não se acanhe. —Falo e então a moça se senta novamente. —O que deseja?

—Eu soube do que aconteceu com Anippe. —Zion fala com um certa desconfiança. —Eu desejo muito vê-la...

—Minha filha está acamada, mas ficará bem. —O silêncio se estabeleceu no jardim e então eu vi o medo de Zion. Não resisti a persistência que há no olhar de Zion, então cedi. —Está bem. —Falo e então Zion passa a sorrir. —Levarei você até Anippe, Zion.

—Eu agradeço muito a senhora por isso! Não sabe o quanto fiquei preocupado quando soube que o príncipe da Núbia havia atacado Anippe. —Zion fala demonstrando toda sua preocupação. Ele mais parece ser uma versão mais nova de Hur, a forma como se preocupam com quem amam é igual. Eu vejo o quanto Zion ama Anippe porque o olhar dele deixa isso bem claro.

Mas algo em meu coração diz que eu devo me preocupar com Anippe e Zion. —Não paro de olhar para Zion e isso o deixa constrangido. —Algo nesse rapaz me chama muito a atenção... O olhar? Não, o olhar é comum como todos os outros. Não importa o que seja, eu apenas acho que o quê existe entre Zion e Anippe ainda é muito novo, porém forte. —Os olhos desse rapaz brilham quando falam de Anippe.

—Mandou me chamar, soberana? —Karoma pergunta ao chegar no jardim.

—Leve Zion até os aposentos de Anippe. —Ordeno e então Zion passa sorrir ainda mais forte para mim. Eu então olho para Halima, que sentada também me olha assustada, mas ao ver Zion partir tenta fugir do meu olhar.

—Você deve ter a mesma idade que meu filho. —Falo ao rondar Halima. —Eu soube da sua vida e da vida de seu irmão. —Falo e então me sento ao lado de Halima. —Eu sinto muito pelos seus pais.

—Eu também sinto. —Lágrimas brotaram nos olhos de Halima ao lembrar de seus pais. —Eu não conheci o meu pai. Ele morreu e eu ainda estava na barriga de minha mãe.

—Eu posso fazer alguma coisa por você? Me peça qualquer coisa... —Halima se assustou com o meu comportamento.

—Eu não quero nada, soberana. Vim aqui apenas para acompanhar meu irmão. —Halima fala e então eu enxugo suas lágrimas. A moça se sente um pouco acanhada com a minha atitude. —Djoser está bem? Ele sempre me falou muito bem da senhora. —Me orgulho ao saber que Djoser falou de mim para Halima. —Ele me falou da mulher extraordinária que a senhora é...

—Anippe também me falou muito bem de você. —Halima ficou um pouco decepcionada ao saber que quem falou sobre ela foi Anippe e não Djoser. —E Djoser também me falou... —Minha mentira fez Halima sorrir. —Você e seu irmão se tornaram pessoas próximas de meus filhos...

—Imagine! Nós apenas ajudamos os filhos da senhora a esquecer um pouco a tristeza. —Halima fala envergonhada. —Djoser é um grande amigo. Me deu conselhos que nem mesmo o meu irmão poderia dar.

—Conselhos? —Pergunto.

—Sim! Me disse que eu deveria sempre pensar mais no futuro do que nas tragédias do passado. —Halima fala sorridente. —Ele lhe contou do que Anippe fez?

—Ainda não.

—Anippe tentou fazer pães para seu marido e Djoser. Mas acabou passando do ponto e deixou os pães queimarem! —Halima revela entre risos e então eu começo a rir. —Mas eu a ajudei em preparar outra fornada de pães. —Ela fala e então eu passo a rir ainda mais. —Miriã quem ficou com a tarefa de limpar tudo depois... —Meu sorriu sumiu ao ouvir Halima falar de Miriã.

—Miriã? —Indago curiosa. Como Anippe teve contato com Miriã? Claro...De certa forma elas são irmãs de Moisés.

—Ela mesma! —Halima fala extrovertida sem notar meu desapontamento. —Mas Anippe evitava Miriã. Djoser mal falava com ela...

—E Hur? —Pergunto curiosa e movida pelo ciúme.

—Nunca o vi perto de Miriã. —Halima fala. —Ele passava a maior parte do tempo no terraço contando os dias para encontrar a senhora. —Um sorriso estampou o meu rosto ao saber que Hur me esperava. —Ele me falou o quanto amava a senhora. Me lembro que ele chegou até a parar de comer com tantas saudades!

—Foram dias difíceis. —Falo. —Mas agora tudo está resolvido.

—Djoser não irá para Canaã, não é? —Os olhos de Halima se entristecerem  ao me perguntar tal coisa.

—Eu não sei, Halima. O que eu sei é que eu não poderei ir. —Falo. —Mas meus filhos estão livres para ir.

—Djoser não irá a lugar algum sem a senhora. Ele mesmo me disse que não teria coragem. —Halima fala entristecida. —Ele me falou de que quando era criança teve dificuldades para dar os primeiros passos...

—Foi horrível. —Falo ao lembrar de Djoser ainda criança. —Mas eu tive paciência. Djoser não iria andar se não tivesse para onde ir.

—Até o dia em que ele viu a senhora entrar na sala do trono e então ele correu para os seus braços. —Halima fala orgulhosa e então eu começo a rir. —Isso é tão lindo. O amor que há entre uma mãe e um filho...

—Eu pensei que nunca fosse ter um filho, Halima. Daí então após cinco anos de casada com Hur, eu comecei a enjoar e desmaiar pelos cantos do palácio. —Falo nostálgica. —Eu notava que meu ventre estava ganhando forma, mas pensei que talvez eu estivesse apenas ganhando peso... —Minhas palavras fazem Halima rir. —Pensava que quando Hur estava trabalhando eu estava sozinha, mas eu não estava. Naquela momento Djoser estava crescendo aos poucos em meu ventre, eu estava vivendo por mim e por ele. A cada dia que eu pedia para que Moisés voltasse, Djoser ia crescendo até os enjôos e os desmaios começarem a surgir.

—E então? —Halima pergunta ainda mais curiosa.

—E então eu e Nefertari descobrimos que estávamos grávidas. —Fico triste ao lembrar de minha cunhada. —Lua após lua meu corpo se preparava para a chegada de Djoser...

Flash Back On

—Sexto período. —Falo animada ao ver que minha barriga está crescendo cada vez mais. Meus seios já estão se tornando fartos com tanto leite e isso me deixa menos despreocupada.

—É tão bom ver você assim. —Hur fala feliz ao me ver na expetativa da chegada do nosso filho.

—Eu só estou me estranhando um pouco. —Falo confusa. Meu corpo está diferente não só pela enorme barriga, mas também o meu rosto.

—Isso é normal. —Hur fala ao se aproximar de mim e tocar em minha barriga. —Eu me lembro que quando Léia, mãe de Uri, estava grávida ela também se queixou das mudanças em seu corpo.

—E não é para reclamar? —Minha pergunta faz Hur rir de mim. —Já não tem mais como disfarçar que estou grávida, Hur.

—Agora todos já sabem que você não anda sozinha. —Hur fala ainda mais feliz por sentir a minha enorme barriga.

Flash Back Off

—E ele decidiu então nascer durante um cortejo. —Falo e então nós duas rimos. —Eu me lembro bem do medo que eu senti e da preocupação de todos.

—Isso mostra que Djoser sempre teve pressa. —Halima fala.

—Para tudo! —Falo. —Mas aí está o meu filho. Quase um homem e eu lembrando de quando ele ainda dependia do meu corpo.

—E quando a senhora esteve grávida de Anippe? Como foi? —Halima pergunta curiosa.

—Foi uma gestação inesperada. —Falo. —Djoser tinha pouco mais de dois meses e eu não sabia o que fazer com uma criança nos braços e outra se gerando em meu ventre...

Flash Back On

—Meu amor... —Falo ao pegar Djoser nos braços e vê-lo sorrir para mim. —Você está muito grande, sabia? —Pergunto.

—E pesado. —Hur fala e então toma Djoser de meus braços. —Evite pegar Djoser nos braços agora que está grávida novamente, Henutmire.

—Eu estou grávida e não doente. —Rebato.

—Mesmo assim. Além do lado da criança que carrga, também irá carregar Djoser nos braços? De forma alguma!

—Você tem razão. —Concordo ao bocejar e deixar claro a minha sonolência.

—Eu sei que toda grávida tem muito sono, mas você é um absurdo. —Hur brinca e me faz rir.

—Nunca senti tanto sono em toda minha vida. —Minha reclamação faz Hur rir.

Flash Back Off

—Olhe só para você. —Falo. —Mal nos conhecemos e estamos conversando como se nos conhecemos há muito tempo.

—E isso é ruim? —Halima pergunta tímida. —Eu nunca imaginei que um dia fosse conversar assim com a rainha...

—Não precisa se envergonhar, minha querida. —Minhas palavras confortam Halima. —Enquanto Zion está visitando Anippe, porque você não vai rever Djoser?

—Eu? —Halima arregala os olhos. —A-agora não. Talvez em outro momento. —A voz de Halima saiu tão tremula que eu mesma me senti nervosa.

—Como quiser. —Falo.

—Anippe me contou que está intrigada com o pai. —Halima fala pausadamente. —Tentei fazer com que os dois voltassem a se falar enquanto estavam na vila, mas não obtive resultado nenhum.

—Hur e Anippe estão intrigados desde muito antes de minha filha ir para a ilha de Philae. Mas ultimamente eles tiveram outra forte discussão. —Desabafo. —Não faço a mínima ideia do que será deles dois daqui para frente.

—Hur mal falava com Anippe, mas ele se preocupava com ela. —Halima revela. —Ele passava a maior parte do tempo zelando os filhos, mas no final do dia ninguém o consolava. Era nesses momentos que ele sentia falta da senhora.

—Como eu já disse, foram dias difíceis para todos nós. —Repito. —Mas agora todos nós estamos juntos. O que me deixa triste é não poder ir até a vila e ir embora com vocês.

—Não pode abandonar o rei. —Halima ressalta e eu concordo. —Mas ele permite que a senhora louve e adore o nosso Deus?

—Ele permitiu isso. Talvez com medo de me perder. —Falo e então eu sinto meu colar deslizar sobre a seda de minha roupa.

—Acho que quebrou. —Halima fala ao ver meu colar já em minhas mãos.

—Ele apenas se soltou. Não está quebrado. —Falo e então olho para Halima e tenho uma idéia. —Fique para você.

—O que? —Halima pergunta assim que eu entrego meu colar para ela.

—Eu não sei como agradecer o que você fez pelos meus filhos e também eu me sinto em dívida com você e seu irmão. —Falo. —Eu te dou o colar.

—Eu não quero que me pague, senhora. Assim vou me sentir ofendida! —Halima rebate tímida.

—Então eu te dou apenas por ser um desejo meu. —Falo sorridente. —É uma das jóias que Hur fez demonstrando seu amor por mim. Mas as jóias mais valiosas que ele me deu foi Anippe e Djoser. —Halima então aceitou o colar. —Leve-o para Canaã para que todo o povo hebreu lembre-se de mim.

—Todo o meu povo deve muito a senhora! Deve porque a senhora fez o impossível pelo nosso libertador e fez com que o decreto do faraó Seti fosse vetado. —Halima fala orgulhosa. —Irei guardar essa jóia para sempre. E quem sabe um dia eu a dê de presente para alguma filha minha. —Lágrimas rolaram de meus olhos com o que Halima fala. —Falei algo de errado?

—Não. —Falo ao lembrar que Halima é apaixonada por Djoser, mas meu filho não sabe. —Eu choro por tudo, minha querida. Isso é normal.

—Isso mostra o quanto a senhora é boa. —Halima fala e sem pensar duas vezes me abraça forte.

—Halima. —Zion chama pela irmã. —Anippe está melhorando aos poucos.

—Ainda bem. —Halima fala. —Nós já vamos?

—Vamos sim. —Zion fala e então olha para mim. —Muito obrigado por ter me deixado ver Anippe.

—Avise a Leila que eu já sinto a falta dela aqui no palácio. —Falo. —E se puder também avise a Moisés que eu o amo muito. Eu não posso mais sair do palácio com tanta frequência...

(...)

—Soberana. —Paser chama por mim ao me ver andar sozinha pelo palácio. —Já soube que teremos visita.

—Eu não soube de nada. —Falo assustada. —Quem são?

—Oritia e Amun. —A notícia que Paser me dar me fez ficar zonza. Porque Amun voltaria para este palácio?

—Amun é apenas um sacerdote, não deveria estar de volta ao palácio em tempos de guerra. —Falo friamente. —Eu apenas me entristeço ao saber que Oritia se casou com ele.

—Casou para esquecer a mulher que amava. —Paser fala pausadamente. —Me lembro de quando eu e Amun estudávamos juntos. Ele sempre me falou do que sentia pela senhora...

—Cale-se, Paser! —Ordeno brava e então o sumo sacerdote me olha assustado. —Essa história foi esquecida faz tanto tempo... Muitos anos se passaram desde o dia em que Amun revelou o que sentia por mim.

—E a senhora fez de tudo para ele ser mandado embora e então ele levou Oritia como esposa. —Paser relembra. —Eles hoje tem uma filha da mesma idade que a princesa Anippe.

—Eu não quero saber da vida deles, Paser. —Deixo claro a minha indignação. —Amun era louco, fiz de tudo para meu pai não saber do interesse dele em mim.

—Ele era louco de amor pela senhora. —Paser ressalta e me deixa constrangida. —Mas não se preocupe, senhora. Amun veio apenas para tratar de Gab.

—E para isso precisava trazer toda a família? —Pergunto. —E porque não cuida de Gab você mesmo, Paser?

—Ordens do rei, minha rainha. —Paser fala e então eu fico ainda mais confusa com as atitudes de Ramsés.

—Espero que Gab não fale o que sente por mim para Amun. Ou então Hur ficará enciumado. —Falo preocupado. —Não fale do que Amun sentiu por mim para ninguém, Paser...

—Claro que não, senhora. Até porque muitos anos já se passaram e Amun já não deve mais sentir o que sentia pela senhora.

—Você tem toda razão. Mas mesmo assim é melhor prevenir uma certa intriga entre Hur e Amun. —Falo. —Fazem anos que não vejo Oritia. Eu me lembro que ela foi embora antes mesmo de minha mãe saber que estava esperando Ramsés.

—Me desculpe pelo o que vou falar, senhora. —Paser fala temendo minha reação. —Mas me parece que a sua beleza atrai todos os homens.

—Por que fala isso agora? —Pergunto.

—Hur se apaixonou pela senhora desde que a conheceu, mas nada disse porque a senhora ainda era esposa de Disebek. Já casada com Hur, foi cortejada pelo príncipe Gab. E agora Amun volta ao palácio. Juntamente o sacerdote que sempre amou a senhora. —Paser fala e me deixa um pouco nervosa.

—Eu preciso me recolher. —Falo nervosa e então dou as costas para Paser.


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Notas finais do capítulo

Passando para dizer que agora temos Gab e Amun para atrapalhar Hurmire *__*



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