Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 47
Capítulo 47


Notas iniciais do capítulo

Hoje vamos começar com um flash back *__*
Lembrando que, vamos comentar, cantem "Não deixem o samba morrer, não deixem o samba acabar " e se preparem para as fortes emoções!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661291/chapter/47

Flash Back On

—Henutmire... —Meu pai chama por mim ao me ver entrar em seus aposentos. Vejo que o joalheiro real está prestando serviços ao meu pai e a minha mãe, então de imediato olho para a nova jóia de meu pai.

—Atrapalho? —Pergunto ao ver o joalheiro abaixar seu olhar com a minha chegada.

—De forma alguma, Henutmire. Seu pai e Hur estavam apenas conversando. —Minha mãe fala com um leve sorriso nos lábios. Noto que a rainha olha para mim e em seguida para Hur, porque será?

—Veja. —Meu pai fala sobre sua nova jóia. — Hur é o melhor joalheiro de todo o Egito, minha filha.

—Fico feliz com a satisfação do soberano. —O homem fala e então nossos olhares se cruzam rapidamente.

—E eu como sua filha predileta não mereço uma jóia nova? —Pergunto risonha e acabo fazendo o meu pai sorrir. São raros os momentos em que meu pai se alegra, principalmente se tiver algum servo ou nobre presente.

—Hur, faça uma jóia para a minha filha. —Meu pai ordena sem sequer olhar para o joalheiro. Eu então beijo a face de meu pai e faço por onde ele se alegrar ainda mais. —Você não muda nunca. —Meu pai fala ao segurar minhas mãos. Noto o olhar indiscreto do joalheiro para mim, mas de imediato volto minhas atenções para o meu pai.

—Será uma honra para mim servir a princesa. —Hur fala um pouco intimidado pela minha presença.

Flash Back Off

—Chorando novamente? —Gab pergunta ao me ver de frente para o rio Nilo.

—Vir aqui me faz lembrar de muitas coisas. —Falo sem sequer olhar para Gab.

—Posso? —Gab pede permissão para sentar-se ao meu lado. Eu permito sua companhia e então Gab passa a olhar para o Nilo. —Sente falta dele, não é?

—Como sabe disso? —Pergunto espantada.

—É visível. —Gab fala seriamente. —Já está escurecendo, Henutmire. Você precisa voltar para o palácio.

—Eu vou ficar mais um pouco. —Outra lágrima escorreu pelo meu rosto ao lembrar de meu pai e de minha infância.

Flash Back On

—Eu quero ir! —Falo apavorada ao saber que meu pai irá para uma guerra.

—Você não pode! —Meu pai fala nervoso. —Você ainda é muito nova...

—Então quando eu ficar adulta poderei ir? —Minha pergunta faz meu pai rir.

—Não. —Meu pai responde. —Você deve permanecer no palácio enquanto eu estiver fora, princesa.

—A mamãe pode fazer isso. —Falo. Meu pai segura o meu rosto com suas mãos e então volta a falar:

—Você já tem dez anos, Henutmire. Você precisa saber o quanto é pesado a vida da filha de um rei. —Ele fala orgulhoso. —Você é quase uma rainha. —Meu pai fala e em seguida eu o abraço forte.

Flash Back Off

—Enxugue essas lágrimas. Você agora é a rainha do Egito. —Gab tenta me convencer a parar de chorar. —Deve transmitir confiança!

—Eu não posso transmitir confiança se ainda nem sei se sou capaz de perdoar o meu pai...

—Pelos deuses! —Gab fala eufórico. —Seti está morto faz tantos anos e você ainda não o perdoou? Por acaso não sentiu a vontade de perdoá-lo ao ter seus filhos nos braços? Que coração é esse que não é capaz de deixar o perdão entrar?

—Eu não sei. —As palavras de Gab me feriram ainda mais. —Eu não sei...

—Tente saber quando lembrar de seu pai...

Flash Back On

—Princesa! —Oficiais de meu pai chamam por mim ao me ver andar sozinha em meio a plantação de trigo.

Minha mão acaricia delicadamente os trigos plantados pelos escravos, pelo povo hebreu que meu pai tanto odeia...

—Eu ainda não entendo como ele pode odiar tanto aqueles que trabalham pelo reino. —Falo profundamente magoada com o meu pai.

Flash Back Off

—Você precisa reagir! —Gab pede estarrecido por minha causa.

—Eu não consigo. —Falo ao sentir uma grande culpa tomar conta de minha alma. —Por que eu não consigo esquecer tudo o que aconteceu?

—Porque enquanto você estiver com esse rancor no coração, sua mente continuará perturbada para o sempre. —Gab fala ainda mais enfurecido comigo ao se levantar. —Pelo o que vejo o Egito está sendo governado por duas pessoas que não sabem definir sequer o que sentem!

—Veja como fala comigo! —Falo e então me levanto bruscamente e fico de frente para ele.

—Veja o que você está fazendo com você! —Gab fala um pouco calmo. —Se continuar assim vai perder as pessoas que ama.

—E o que você sabe sobre amar? —Minha pergunta feriu o príncipe, mas é a única forma que tenho de me defender. —Vá embora daqui!

—Eu já devia ter feito isso há muito tempo! Mas não vou porque me preocupo com você! —Gab fala alterado. —Você não percebe que está se transformando em uma rainha amarga e tirana como Nefertari?

—Eu já mandei ir embora! —Falo rapidamente. —Você prometeu que ficaria longe de mim!

—Eu vim para te ajudar! —Gab rebate. —Está cega? Eu vim apenas para ajudar você!

—Mas eu não preciso mais de você! Por sua causa meu casamento com Hur quase acabou! —Esbravejo infeliz e então Gab põe uma de suas mãos em seu peito.

—O que está acontecendo aqui? —Ikeni pergunta ao aparecer com Leila e Karoma. —Ouço vozes alteradas...

—Eu lamento muito por tudo o que fiz, Henutmire. —Gab fala e então eu começo a rir feito uma louca.

—Lamenta? —Pergunto ironicamente. Minhas damas e o oficial me olham assustados ao ver o meu estado e o de Gab. —Eu quase perdi minha família por sua culpa! Você fez Hur duvidar de mim e da minha fidelidade!

—Não grite comigo! —Gab pede ofegante ao me ver enfurecida. Ou será que ele está passando mal?

—Eu grito porque sou a rainha do Egito! —Esbravejei usando do meu poder para com Gab. —Se eu quiser posso mandar prende-lo agora mesmo!

—Eu não ouvi isso... —Gab fala ofegante e então me olha abismado. —Você não teria coragem.

—Não me subestime. —Falo. Gab então tenta se aproximar de mim, mas eu esquivo o meu corpo.

—Eu não vim para o Egito para ver você se tornar rainha do Egito e se tornar uma pessoa tão frívola, Henutmire. Embora você não acredite, eu te amo muito. Amo ao ponto de me preocupar com você... —Gab para de falar e então grita de dor. Todos nós nos assustamos com seu grito e gemido de dor, mas eu fico apavorada ao ver Gab cair aos poucos diante de mim.

—Gab? Gab, o que você tem? —Pergunto aflita ao ver o príncipe núbio desmaiar aos poucos. Um grito meu é dado ao ver Gab inconsciente no chão por minha causa. —GAB!

(...)

—O que aconteceu com Gab, Henutmire? —Ramsés pergunta ao ver Ikeni e outros oficiais levarem Gab até seus aposentos. Noto que Jahi e Radina estão com Ramsés, assim como Hur e meus filhos.

—O que aconteceu? —Jahi pergunta apavorado.

—Eu não sei o que aconteceu. —Respondo aflita.

—Você estava com ele! —Ramsés fala bravo e então eu me vejo sem saída.

—Será que ele morreu? —Radina pergunta aflita.

—Vamos ver. —Jahi fala e então se retira com Radina. Hur e meus filhos voltam a olhar para mim curiosos e então Ramsés me ampara em seus braços.

—Diga de uma vez o que aconteceu com Gab. —Hur pede e então eu respiro fundo.

—Se Gab morrer eu serei s culpada. —Minhas palavras assustaram á todos. —Eu fiz ele ficar assim...

—Mamãe! —Anippe fala assustada.

—Eu e Gab começamos a discutir e então ele passou mal... —Falo e todos me olham ainda mais assustados. —O que foi que eu fiz? —Pergunto olhando para minhas mãos trêmulas.

—Fiquem com ela. Vou ver se tudo está bem com Gab... —Ramsés pede antes de sair. Eu desabo em meio ao corredor do palácio e tento abafar o meu choro, mas é inútil.

—Se acalme. —Hur pede ao se ajoelhar e me abraçar. Vejo meus filhos me olharem assustados ao me verem nesse estado.

—Eu não vou me perdoar se ele morrer, Hur. Eu não aceito ter matado uma pessoa... —Falo. Estou tão nervosa que tremo só de imaginar que Gab pode morrer por minha causa.

—O que aconteceu? Porque brigaram? —Djoser pergunta, mas eu apenas choro como resposta. Somente eu sei o medo que estou sentindo e a culpa que carrego por ter feito Gab passar tão mal.

—Eu vou pedir alguma fórmula para Paser. Talvez ela se acalme... —Anippe fala tensa ao me ver chorar nos braços de Hur. Ela olha apreensiva para Djoser antes de sair corredor à fora.

—Vamos levar a senhora para seu quarto. —Djoser fala sugestivo e então eu me levanto do chão com Hur. Desta vez não é Hur quem enxuga minhas lágrimas, mas sim o meu primogênito. —Gab vai ficar bem. Acho até que esse seu mal estar deve ser consequência da preocupação que ele tem com o reino.

—Em parte. —Falo. Nossas atenções são dadas para Chibale, que ao nos ver, passa a andar lentamente.

—O que foi? —Hur pergunta curioso.

—Yunet está passando mal na cela. —Chibale fala um pouco assustado. —Não se sabe ao certo o que ela tem.

Uma ideia de formou em minha mente ao saber que Yunet está passando mal em sua cela. O que vou fazer não significa que estou preocupada com Yunet, mas eu também não quero me aproveitar da situação. Até porque Yunet será queimada viva em praça pública e eu estarei lá para ver essa maldita mulher queimar.

—Peça para que os guardas levem Yunet para seus antigos aposentos. —Meu pedido surpreende todos. Meu rosto é inexpressível, mas meu olhar é de profunda dor e vingança.

—O que pretende fazer? —Hur pergunta confuso com a minha atitude inesperada. Eu não respondo meu marido com palavras, eu respondo com meu olhar.

Sempre falaram que meus olhos deixavam claro tudo o que eu sentia, tudo o que eu transmitia era através do meu olhar. E agora mais do que nunca eu deixo claro o que eu quero, o que eu sinto e o que eu sou. —Uma lágrima então brotou de meus olhos ao saber que minha vingança será concretizada. —Eu irei vingar a morte de todas as vítimas de Yunet, mas será uma por uma.

(...)

—Eu fiz o que a senhora pediu. —Djoser fala e então me entrega a fórmula. —O que vai fazer com o meu tio?

—Do seu tio eu cuido depois. —Falo ao me preparar para ir até Yunet.

—Vai saber como Gab está? —Djoser pergunta.

—Também. —Respondo ao ter a fórmula que irei usar em Ramsés. — Sabe onde Amenhotep está?

—Vou ao encontro dele agora mesmo. —Djoser fala sendo prestativo e então eu sorrio orgulhosa.

—Você me orgulha ainda mais, sabia disso? —Pergunto e então beijo a face de meu filho. —Pode cuidar de Amenhotep para mim?

—Claro que posso. —Djoser fala. Desde muito pequeno meu filho é o meu braço direito. —Agora eu preciso ir.

—Tente animar seu primo, certo? —Pergunto sugestiva e então meu filho lança um sorriso antes de sair.

Volto a olhar para o pequeno frasco esbranquiçado na palma da minha mão e então a tristeza toma de conta de minha alma novamente. —Mas meu desejo de vingança é ainda maior e então aguardo o frasco cuidadosamente. —Não vou decidir no lugar de Ramsés agora, darei mais um tempo para meu irmão pensar melhor. Portanto irei até os aposentos de Yunet e quem sabe essa noite mesmo eu não vingue a morte de todos os meus filhos que essa mulher matou.

Sei bem que a vida se encarregou de colocar Hur no meu caminho e então construí a família que tanto desejei ter. Todo o mal que me atingiu foi recompensado com o que fiz ao lado de Hur, mas ao relembrar toda a dor que senti pensando que eu não poderia gerar um filho no ventre e que por culpa disso pensei em suicidar, eu sinto meu sangue ferver. —Tomada pelo ressentimento e pela raiva saio de meus aposentos. — Hoje mesmo matarei Yunet em vida.

—Para onde pensa que vai? —Ramsés pergunta ao me ver sair de meu quarto. —O que pretendida fazer com Yunet?

—Como voc... —Sou interrompida por meu irmão mais novo.

—Soube da sua ordem e também soube por Gab que você está planejado se vingar de Yunet. —Ramsés fala um pouco assustado pela minha atitude. —Te desconheço, Henutmire. Por favor, volte a si...

—Tente fazer o mesmo. —Falo provocativa e então meu irmão me olha com um certo espanto.

—Você está atordoada, minha irmã. —Ramsés fala e então eu reviro os olhos. —Yunet será queimada em praça pública...

—Mas quando isso vai acontecer, Ramsés? —Minha pergunta faz Ramsés me olhar com curiosidade. —Essa mulher não merece viver mais!

—Se controle! —Ramsés pede e então vem até mim. —Pelos deuses, você não é mais a mesma!

—Você não pode exigir nada de mim! —Falo estarrecida ao ver Ramsés me dar uma lição de moral. —Ou já se esqueceu de que o Egito só está assim por sua culpa?

—CALE-SE! —Ramsés grita e então eu me afasto dele bruscamente. Eu e meu irmão nos olhamos por alguns instantes, talvez Ramsés esteja procurando algo em mim. —Sei que está enfurecida por tudo o que Yunet fez, mas você não deve perder seu tempo pensando em vingança.

—É tão fácil falar, não é mesmo? Você acha soluções para meus problemas sendo que não sabe resolver o seus. —Falo ríspida com meu irmão mais novo.

—A vingança está te deixando cega!

—A hipocrisia faz o mesmo com você. —Respondo e deixa claro que Ramsés não vai mais se pôr acima de mim, não como antes.

—Seja lá o que estiver acontecendo com você, saiba que perto de Yunet você não vai mais chegar. —Ramsés fala e então eu me enfureço ainda mais com o meu irmão. —Gab fez bem em que me contar os seus planos.

—Ele está bem? —Pergunto.

—Na medida do possível. Voltou ao normal, mas agora delira de febre. —Me espanto ao saber que Gab está delirando por minha causa. —Não sei se é bom você vê-lo, Jahi desconfia que você possa ter provocado isso em Gab.

—Mas eu de fato provoquei. —Falo. —Discutimos e o coração dele quase parou...

—Ele está quase morrendo, Henutmire. —Ramsés fala preocupado com Gab. —O que de fato aconteceu entre você e Gab para que ele ficasse neste estado?

—Gab e eu discutimos sobre várias coisas, Ramsés. E então ele se indispôs...

—Então a discussão foi muito séria. —Ramsés me interrompe bruscamente. —Isso pode abalar a aliança entre o Egito e a Núbia, Henutmire.

—Eu sei muito bem, Ramsés. Mas o que eu não posso permitir é que Gab diga o que sou e o que devo fazer e que muito menos fale as besteiras que ele me falou. Ele precisa entender que eu sou esposa de Hur e que eu o amo, não preciso que nenhum outro homem me corteje. —Desabafo estarrecida por lembrar das investidas de Gab.

—Ele te ama. —Ramsés fala triste. —Não sei como você não sente nada por ele.

—Porque eu amo outro homem, Ramsés. E quando se é amada por um homem benevolente como Hur nada mais importa. Nem o que a realeza diga, nem o que os escravos e os reinos vizinhos pensem. —Mais uma vez eu insisto em defender o meu amor por Hur. Não é a primeira vez que faço e nem será a última. —Você lutou por Nefertari, Ramsés. Quase morreu por ela e enfrentou nosso pai! Enfrentou o reino!

—Me perdoe! —Ramsés pede ao me abraçar acaloradamente. —Você está fazendo o mesmo que eu fiz, me perdoe.

—Agora entende? —Pergunto.

—Eu me preocupo também porque sei que esse amor que existe entre você e Hur é grande demais, Henutmire. Você preferiu ser presa, passou por tanta coisa por ele que me faz pensar que você tem coragem de dar a sua vida pela dele. —Ramsés fala preocupado comigo.

—Eu sou capaz de qualquer coisa por ele e por meus filhos, Ramsés. Você não faz idéia do que eu sou capaz para vê-los bem...

—Então em nome do amor que você tem por Hur, esqueça essa vingança absurda. —Ramsés pede então me separo dele bruscamente. —Henutmire, você não é uma assassina! Pelos deuses!

—Não me peça isso, Ramsés. —Falo. —Tudo menos isso!

—Peço, Henutmire! Você não é assim! Olhe para você mesma! Olhe para a sua alma! —Ramsés pede.

—Quanta hipocrisia. —Desafio o meu irmão mais uma vez. —Justo você me dando lição de moral.

—Faço isso para que você não se torne uma pessoa como eu e como nosso pai, ou talvez até pior que nós dois. —Ramsés me assusta com a sua comparação. —Mas é você quem decide o que quer se tornar. Rainha do Egito você já é, mas resta saber se vai se tornar uma mulher amarga...

(...)

As palavras de Ramsés me deixam pensativa e então eu vou até o jardim real com a fórmula que pedi para Paser. —Meus olhos ficam sem foco por culpa das lágrimas que se formam. — Eu não posso fazer isso com Ramsés, não posso trai-lo como pensei em fazer. Como ele mesmo disse: Eu não sou assim, não sou essa pessoa infame que aparento ser. Ramsés é o único irmão que tenho, o pequeno irmão que nasceu antes de Ramsés não pode me ajudar em nada.

—A senhora conhece a rainha do Egito? —Hur pergunta irônico e então ele me abraça por trás. Me assusto com o seu contato, mas rapidamente fico aliviada ao olhar em seus olhos.

—Já existiram tantas. —Falo e então suspiro pesadamente pelo fardo que carrego. —Estou cansada de tudo isso, Hur. Tudo acontece muito rápido e eu não consego compreender tudo.

—E quem não ficaria assim diante dessa situação? —Hur pergunta e tenta me consolar.

—Eu quase matei Gab... —Falo desconsolada ao saber do mal que fiz para Gab. —Acha que estou mesmo me tornando uma pessoa amarga? —Minha pergunta não foi respondida por Hur, talvez porque ele mesmo tema em me responder. —Eu não faço a mínima ideia do que possa estar acontecendo comigo.

—Você mesma me disse uma vez que sentia como se sua própria vida tivesse sido escrita sem você se dar conta...

—Naquela época eu era outra pessoa. —Falo ao me lembrar da conversa que tive com Hur há muitos anos atrás. —Eu não poderia imaginar que hoje eu seria a senhora das duas terras.

—Ninguém poderia imaginar tudo isso que está acontecendo. —Hur fala um pouco pensativo. —Ou quase isso...

—Como assim?

—Me referi á José, um hebreu que foi vendido como escravo pelos próprios irmãos e veio para o Egito ainda muito jovem. —Hur fala. —José tinha o dom de decifrar os sonhos e com isso acabou salvando o Egito dos sete anos de fome.

—Ele tinha o dom de interpretar sonhos? —Pergunto irônica. Quem me derá ter alguém com esse dom para decifrar todos os meus sonhos.

—Esse dom fez com que José se tornasse um homem importante e poderoso. Abaixo apenas do faraó. —Hur me deixa confusa com a história que conta então eu tento me lembrar de algo parecido.

—Que rei era esse?

—Esse rei foi á mais de quatrocentos anos. Era outra dinastia de reis e rainhas. —Hur revela e então eu me lembro de que várias outras dinastias existiram antes de Ramsés I, o pai de meu pai e que por causa disso a história de José não tenha sido tão importante para a história do Egito. —A história da família real é de fato curiosa.

—Imagine daqui há cerca de quarenta anos os príncipes e princesas estudando tudo o que está acontecendo agora. —Falo um pouco amedrontada pelo futuro.

—Ficarão fascinados com a princesa que acolheu um bebê hebreu no palácio como seu filho e que depois se tornou rainha. —Hur fala orgulhoso. —E provavelmente esse príncipes e princesas que você fala serão a nossa descendência.

—Descendência. —Falo ao me lembrar que Djoser é meu primogênito assim como Amenhotep é o de Ramsés. —Meu Deus...

—O que foi? —Hur pergunta ao ver meu semblante.

—Djoser é o herdeiro do trono. —Falo assustada. —Ele é o meu filho, Hur. Filho de uma rainha e querendo ou não é mais velho que Amenhotep.

—Eu não havia pensado nisso. —Hur fala ainda mais assustado ao ligar os fatos. —Mas é possível Djoser se tornar o herdeiro do trono?

—Por ser meu filho, Djoser tem o direito de exigir o trono. E sendo mais velho que Amenhotep, mesmo que pouco tempo, tem esse direito. —Falo. —E se algo de grave acontecer com Amenhotep, Djoser sucescederá Ramsés.

—Deus mais uma vez está te usando. —Hur fala e então me deixa espantada. —Henutmire, se você estiver mesmo com a razão, então Deus te escolheu para ser mãe do libertador e de um rei! —Hur exclamou sereno e surpreso. Até eu mesma estou espantada com os planos que Deus fez para mim.

—Eu não sei no que isso pode influenciar, Hur. —Falo ainda confusa. —Talvez Ramsés não aceite isso, mas por direito Djoser pode ser o herdeiro do trono.

—Então nosso filho não poderá sair do Egito. —Hur fala entristecido por saber que Djoser não irá para Canaã. —Não acho que ele vá aceitar isso com facilidade.

—Se algo de muito grave acontecer com Amenhotep, Djoser terá que ficar no Egito por ser o único herdeiro legitimo de Ramsés. Espero que nada de mal aconteça para o meu sobrinho durante essas pragas. —Falo ao temer pela vida de Amenhotep. —Qual será a próxima praga? Eu não faço a mínima ideia do que Deus está preparando para nós.

—Eu temo por você, somente por você. —Hur fala apreensivo e então segura minhas minhas mãos. —Te ver sofrer me faz sofrer também.

—Nefertari morreu e isso prova que nenhum egípcio está a salvo. —Fico melancólica ao lembrar da morte de minha cunhada. —Eu ainda me lembro dela com perfeição. Nefertari foi uma criança tão bela, mas com o passar do tempo se transformou na mulher que era.

—O que importa é que ela entregou sua vida e reconheceu Deus. —Hur tenha me tranquilizar.

—Poderia ter sido eu e não ela... —Começo a chorar melancólica nos braços de Hur.

—Mas, não foi você. Henutmire, você está viva porque Deus assim quis. —Hur fala e então interrompe o abraço para me olhar. Ele passa a sorrir ao olhar para a coroa posta em minha cabeça, talvez ele esteja orgulhoso de mim. —Imagine o que seria de mim sem você?

—Eles estão ali. —Ouvimos Djoser falar aliviado e então Anippe olha para nós.

—Aconteceu alguma coisa? —Pergunto ao ver as expressões sérias de meus filhos.

—Moisés voltou ao palácio, mãe. —Anippe fala eufórica. —Ele veio pedir para o meu tio libertar os hebreus, mas como nós sabemos ele não vai fazer isso.

—Ai está a senhora. —Jahi fala enfurecido ao me ver no jardim. —A consciência da soberana não pesa pelo o que fez com Gab?

—Foi um acidente. Henutmire não teve culpa! —Hur me defende ao ver que Jahi está descontrolado.

—Acidente? Gab está morrendo por culpa dela! —Jahi põe a culpa em mim. Mas eu não posso me queixar, ele está certo. Se Gab está morrendo é por minha culpa. —Não posso considerá-la rainha do Egito porque para mim você é apenas uma usurpadora!

—Como ousa falar assim com minha mãe? —Moisés nos surpreende com sua chegada. Jahi não se deixa intimidar pela presença do libertador, segue me caluniando da mesma forma.

—Sua mãe usurpou o lugar da rainha, Moisés! —Jahi repete mais uma vez. —Essa traidora deve morrer! —Foi então que um punhal surgiu nas mãos de Jahi e veio em minha direção.

—Não faça isso! —Moisés tenta interceder para me salvar das garras de Jahi, mas o príncipe Núbio consegue se esquivar do libertador.

Hur se pôs em minha frente para me defender do punhal que está em uma das mãos de Jahi, mas no último momento Anippe atira seu corpo e o faz de escudo para que o punhal não me fira nem á mim e muito menos á Hur. Jahi então perfurou o corpo franzino de minha filha mais nova, mas ao ver o sangue de Anippe jogar e ir ao chão, ele retira o punhal e o solta no chão.

—NÃO! —Grito desesperada ao ver minha filha ferida. —Minha filha não! Minha filha não... —Me agarro ao corpo de Anippe totalmente desconsolada. —Anippe, fala comigo...

Anippe pôs uma de suas mãos em meu rosto enquanto eu a mantenho de pé já que ela está perdendo o equilíbrio de suas pernas. Djoser e Moisés então se unem comigo para manter Anippe de pé, mas minha filha vai caindo aos poucos até o chão. Ponho a mão sobre o ferimento de Anippe, me assusto ainda mais ao ver que suas vestes não está ganhando contraste por causa dos detalhes avermelhados, mas sim por causa de seu sangue. —Rubro sangue que não para de jorrar de seu abdômen. —Vejo a sombra de Jahi e o próprio fugir como um covarde, mas não me manifesto diante isso. Eu apenas olho para a minha jovem filha agora ferida em meus braços.

—Anippe, fala comigo... —Peço infeliz ao ver que minha filha está fechando seus olhos aos poucos.

—Anippe! —Moisés chama pela irmã, mas minha filha não responde. Os olhos azulados de minha filha se fecham aos poucos e tendo como última imagem o meu sofrimento, Anippe descansa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pobre Anippe, vai começar a pagar por ter feito a mãe sofrer e o pai ter ficado tão magoado agora...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração De Seda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.