Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Volteeiii



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—Não demore. —Moisés pede com o baú em mãos. Djoser e Anippe permanecem de mãos dadas e então eu aceno para os dois.

—Não irei demorar. —Falo e então lanço um olhar para meus filhos. Eles me olham pela última vez e partem com Moisés rumo a vila.

—A princesa Anippe mal retornou e já partiu novamente. —Leila fala assim que o portão dos fundos do palácio é fechado.

—Pode ir, Leila. Peça para Hur me encontrar no santuário. —Falo. Leila então se retira apressada e me deixa sozinha sozinha no portão.

Eu então me ajoelho no chão e levo minhas mãos até o portão tentando resgatar a imagem de meus três filhos indo embora. Lágrimas derramadas se tornam marca do meu sofrimento, do meu medo por temer que algo impeça a minha saída do palácio. Hur não será um problema, Ramsés será!

—Cuida deles, meu Deus... —Falo me surpreendendo comigo mesma. É a primeira vez que clamo pelo Deus de Israel. —O Senhor presenciou o sofrimento de Joquebede ao colocar Moisés em um cesto no rio Nilo e fez por onde ele chegar até mim. Então faça por onde meus filhos traçarem o caminho certo rumo a terra que foi prometida ao povo de Moisés. Eu entrego a vida de meus filhos, o meu sangue, nas tuas mãos.

(...)

Toda a minha força foi embora ao ver Hur no santuário. Como eu vou explicar para ele que Anippe e Djoser foram para a vila? Talvez o mínimo que ele irá fazer pensar é que eu estou louca. Mas na verdade eu estou apavorada por ter Yunet neste palácio, estou temendo pela próxima praga! Sei que a praga que está por vir não afetará meus filhos, mas Yunet pode fazer algo contra meus filhos.

—O que quer falar comigo? —Hur pergunta assim que me vê entrar no santuário. Olho para Leila e em seguida ela se retira, todavia vejo preocupação em seu olhar.

—Moisés levou Anippe e Djoser para a vila, Hur. —Falo de uma vez sem rodeios. Hur tenta assimilar a notícia de todas as formas possíveis, mas pelo o que vejo ele não entendeu nada.

—Levou? Do que você está falando? —Hur pergunta ainda assustado.

—Eu pedi para Moisés levar os nossos filhos para longe daqui. Era o desejo deles irem para a vila...

—E você não me pergunta nada? Tomou essa decisão sozinha? —Hur pergunta me interrompendo. —Porque fez isso?

—Porque você não se importaria. —Falo. —Você no mínimo iria impedir a ida deles.

—Claro! Eles estão na vila, Henutmire! Longe de nós!

—Podemos ir para perto deles agora mesmo. —Falo sugestiva e me vou até ele. —Podemos recomeçar uma nova vida na vila. E assim que os hebreus partirem iremos com eles!

—Ramsés não vai permitir! —Hur ressalta.

—Ele não pode me impedir de ter paz, Hur! Ele é meu irmão, não é o meu pai. —Falo. —Eu vou para a vila dos hebreus ao anoitecer. Você vai comigo? —Pergunto ansiosa pela resposta. —Me responda!

—É arriscado. —Hur fala de cabeça baixa. —Mas se você quer, então eu irei com você. —Hur responde. Rapidamente eu o abraço grata por ele ir embora comigo para a vila. —Mas eu ainda acho isso muito arriscado. O rei com certeza não irá aprovar a sua ida para a vila. Você é a princesa do Egito, Henutmire...

—É o momento de decidir de qual lado ficar, do bem ou do mal. Não de ser da egípcio ou ser hebreu, Hur. —Minhas palavras causam grande impacto em Hur, todavia meu olhar expressa ainda mais a importância de partir. —Moisés tinha tudo para ser um príncipe egípcio leal ao reino, mas nos traiu para ser fiel ao seu Deus.

—Mas você tem sangue real nas veias, Henutmire. —Hur ressalta.

—Eu já tomei a minha decisão. —Falo.

—Então será o que você decidiu. —Hur concorda comigo. —Vamos esperar todos se recolherem de noite para podermos sair sem que ninguém nos veja.

—Enquanto isso iremos agir naturalmente. —Falo. —Ninguém pode suspeitar de nós.

—Mas e se perguntarem por Anippe e Djoser até o final do dia? —Hur pergunta preocupado.

—Ninguém vai perguntar nada. —Falo nervosa. —Não falta muito para anoitecer. Enquanto isso vamos fingir que tudo está bem. Mesmo que Yunet esteja no palácio...

—Tenho medo de que algo nos impeça de sair do palácio, Henutmire. Principalmente que este algo seja Yunet. —Hur fala temendo que Yunet faça algum mal. —Agora só temos um ao outro.

—Isso é o suficiente. —Respondo.

(...)

—E Uri? —Pergunto preocupada com meu enteado. Hur não me responde já que alguns servos passam por nós enquanto andamos de mãos dadas pelo palácio. Antes mesmo que Hur me responda algo assim que os servos somem, uma voz feminina nos assusta enquanto seu olhar cai sobre minha mão entrelaçada a de Hur.

—Que cena mais tocante. —Yunet fala se aproximando de nós. —Isso é bom já que a situação do reino está se agravando por causa de Moisés. —Senti um nó se formar em minha garganta ao ouvir o nome de Moisés sair da boca de Yunet. —Seria uma pena se algo de muito ruim acontecesse com ele... —Yunet fala em tom de ameaça. Eu me aproximo dela aos poucos para a surpresa de Hur e em seguida faço a seguinte pergunta.

—Por acaso está ameaçando o meu filho? —Pergunto de imediato.

—Tudo pode acontecer com o seu querido filho, princesa. Tanto com ele quanto com Anippe e Djoser... —Meu sangue ferveu ao ouvir Yunet falar de Anippe e Djoser. Eu perdi o bom senso, perdi a compostura ao esbofetear Yunet. O corpo da mulher foi jogado contra a parede ao se desequilibrar após sentir o peso de minha mão em seu rosto. Eu não esperei Yunet me olhar ou falar qualquer outra infâmia contra mim, eu a seguro pelo braço esquerdo e em seguida a jogo contra o chão frio do palácio.

—Isso pouco perto do que você merece. E quase nada diante do que eu sou capaz de fazer! —Esbravejo assustando-a novamente. Hur me olha assustado pelo o que acabo de fazer e então segura o meu braço para que eu me afaste de Yunet. —Não volte a falar de nenhum dos meus filhos, Yunet!

—Esse tapa vai lhe custar muito caro, princesa. —Yunet se defende enquanto tenta se levantar. E então quando se poe de pé, antes de me olhar dos pés a cabeça, Yunet vai embora.

—O que foi isso? —Hur pergunta ainda assustado. —Você está tremendo...

—Eu nunca senti o que sinto agora. —Falo assustada ao olhar para minhas mãos. —Por um momento pensei que eu fosse matá-la com minhas próprias mãos!

—Tente se acalmar! Por favor, tente se acalmar! —Hur pede aflito. —Você não é violenta!

—Tratando-se Yunet qualquer pessoa se torna violenta. —Falo. —O tempo parece se arrastar todas as vezes que penso que vamos fugir.

—Fale baixo! —Hur pede cauteloso. —Alguém pode nos ouvir.

—Eu não aguento ficar mais neste palácio, Hur. —Falo. —Acho melhor eu me preparar enquanto você se despede de Uri.

—Tem certeza de que quer partir agora mesmo? —Hur pergunta aparentemente nervoso.

—Agora mesmo. —Respondo e antes de me separar de Hur o abraço forte como nunca abracei antes. —Isso não é uma despedida já que em breve iremos partir juntos.

—Claro. —Hur concorda e em seguida beija uma de minhas mãos. —Eu não irei demorar, meu amor...

(...)

—Rápido, Leila! Eu não sei quando Hur irá voltar e também não sei o que levar! —Falo aflita pelo tempo e minha dama põe tudo o que vê em sua frente dentro do meu baú.

—Meu sogro está demorando...

—Certamente deve estar convencendo Uri em partir conosco. —Falo sugestiva e ao mesmo tempo aflita por Hur. Porque ele demora tanto? Meu pensamento se torna genuíno ao ver Ramsés entrar em meu quarto com o semblante sério, mas ao mesmo tempo desapontado. —Me deixe a sós com o meu irmão, Leila. —Peço sem ao menos olhar para a minha dama. Ramsés então se aproxima mais de mim assim que Leila sai pela porta.

—O que pensa que está fazendo, Henutmire? —Meu irmão pergunta seriamente e então o nó na garganta foi inevitável.

—Eu estou indo embora do palácio...

—VOCÊ NÃO VAI A LUGAR ALGUM! —Ramsés grita me deixando ainda mais aflita. —Somos irmãos! Como pode me trair desta maneira? Como? Me diga! Eu quero entender como pode se voltar contra mim?!

—Eu te amo! E sempre te amarei, Ramsés. Mas eu não posso continuar compactuando com as coisas que anda fazendo.

—E o que eu ando fazendo além de proteger o reino e zelar por todos nós? —Ramsés pergunta cruamente.

—Você está se deixando cegar pelo seu orgulho. —Falo para sua surpresa. —E isso irá lhe custar tanto o reino quanto as pessoas que pensa em proteger. Será possível que você não percebe que existe uma força maior do que todos nós? E que você e nem ninguém é capaz de conter?!

—Está falando do deus de Moisés? —A pergunta de Ramsés me deixou sem saída.

—Sim.

—Está disposta a sair do palácio, abandonar aos nossos deuses e renegar a minha proteção? —Meu irmão pergunta. —Tem noção do que está fazendo, Henutmire?

—Eu sinto muito, Ramsés. —Respondo de cabeça baixa fazendo com que meu irmão pense que estou arrependida, todavia volto a olhar para ele e em seguida falo o que tanto desejei falar. —Mas a partir de agora eu entrego a minha vida nas mãos do Deus de Moisés. —Falo e dou uma breve pausa. —Ele irá me proteger. —Finalizo e então passamos a nos olhar por determinado tempo.

—GUARDAS! —Ramsés grita e então dois oficiais surgem em meu quarto a disposição do rei. —Prendam a princesa. —A ordem de Ramsés me deixou completamente desnorteada. Os oficiais se olharam abismados. —Obedeçam! Façam o que estou mandando... —Meu irmão finaliza assim que os guardas se aproximam de mim e cada um me segura pelo braço, todavia não me debato para me soltar. Eu apenas olho para meu irmão profundamente decepcionada. —Você não me deu outra escolha. —É a última coisa que ouço antes de ser levada pelos oficiais. Por sorte meus filhos já estão na vila e em seguida Hur irá partir, mesmo que sem mim ele irá partir. Sempre deixei claro que entre mim e nossos filhos Hur deveria sempre optar por nossos filhos. Rogo ao Deus de Israel que ele fuja sem mim e vá de encontro aos nossos filhos que estão na vila. Se eu não posso ser feliz, pelo menos eles podem.


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Notas finais do capítulo

Não se desesperem! Peço que não deixem de ler minha fic agora que Henutmire foi presa!



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