Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Preparem seus corações de seda *__*



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—Eu acho este melhor. —Anippe sugere para mim e então mostra o colar que o príncipe Gab me deu de presente. —Ele é magnífico, mãe! —Leila me olha ao ouvir Anippe elogiar o colar e então eu me levanto desconfortável. Porque justo Anippe elogia essa jóia?

—Ele é seu. —Falo para a surpresa de Leila e Anippe. Graças aos deuses me livrei do presente de Gab. —Não gostei das pedras...

—Como não?! São belas! —Anippe fala maravilhada pela jóia e então eu me sinto ainda mais incomodada.

—Leila, me deixa sozinha com minha filha. —Peço e em seguida Leila se retira. —Tenho algo melhor para você, Anippe...

—E o que é? —Minha filha pergunta curiosa. Eu então coloco a caixa sobre a mesa e dela retiro a minha coroa. A coroa que me foi dada de presente pela minha mãe quando eu era jovem. —Mas, mãe...

—É sua. —Falo para espanto de Anippe. —Minha mãe me deu quando eu tinha apenas vinte anos!

—Eu não posso aceitar...

—Eu te passo essa coroa como a maior herança que você pode receber, Anippe. —Falo e então minha filha deixa o colar de lado e segura a coroa comigo. Pude sentir seus dedos se encontrarem com os meus rapidamente. —Minha mãe me deu e agora eu te passo...

—Ela é belíssima. —Minha filha elogia ainda olhando para cada detalhe da coroa.

—Como eu disse, ganhei nos meus vinte anos e agora como você tem quinze anos... —Falo ao pôr a coroa em Anippe com calma. Vejo então que a coroa ficou ainda melhor em Anippe do que em mim quando era mais jovem. —Caso tenha uma filha entregue a coroa para ela.

—Assim que ela completar vinte anos? Ou quinze? —Anippe pergunta curiosa e me faz rir.

—Quando você se tornar mãe irá saber a hora certa de entregar esta coroa para sua filha. —Falo fazendo Anippe corar. —Espero que tenha muitos filhos e que seja feliz como eu sou, minha filha... —Algo dentro de mim faz com que eu fale tal coisa. Talvez seja apenas um surto de emoções dentro de mim.

—Porque está chorando? —Anippe pergunta ao ver lágrimas rolarem em meu rosto.

—Não se explica o choro de uma mãe, Anippe. Quando você embalar um filho nos braços, saberá o que sinto. —Falo orgulhosa pela filha que tenho. —Saiba que estou orgulhosa de você. Pensei que o ódio que você sentia pelos hebreus fosse te consumir...

—Eu vi que estava errada a tempo. —Anippe fala e olha para os lados tentando evitar as lágrimas.—E sobre os possíveis filhos que terei, saiba que a senhora terá que ficar ao meu lado quando eles nascerem. —Foi quase como uma súplica, quase... Anippe também sente que algo pode mudar as nossas vidas. Que algo pode nos separar como eu imagino.

—Quem me dera presenciar esse momento. —Falo magoada. Sinto que não irei ver nenhum de meus netos, sequer verei os filhos de Moisés. Não em meio ao confronto que existe no momento.

—Mas a senhora vai! —Anippe é ingênua, mas ao mesmo tempo me faz ter esperança. Mal sabe a minha filha que tudo pode acontecer, da pior a menos dolorosa praga. —Agora eu preciso ir. —Anippe fala e então noto que minha filha esqueceu completamente do colar que lhe dei. Talvez seja por causa da coroa que está em sua cabeça que ela se esqueceu do simples colar.

—E para onde vai? —Pergunto temendo um encontro entre Yunet e Anippe.

—Vou me preparar para ir até o Nilo com Djoser. —Anippe fala. —Quer nos acompanhar? Será bom para todos nós!

—Pode ir na frente com seu irmão... —Falo pensativa. —Eu vou logo em seguida.

—Como preferir. —Anippe fala e vem ao meu encontro para me abraçar. —Não demore. —Ela pede antes de sair do meu quarto.

Me sinto aliviada por ter Anippe de volta. Mas ao mesmo tempo sinto que toda a minha mente está confusa em relação a Moisés! Até agora o meu filho não anunciou nenhuma praga, mas eu sei que a qualquer momento algo de muito ruim e surpreendente pode acontecer contra os egípcios. —Isso me faz temer a próxima praga. —Qual será o próximo fenômeno a acontecer no Egito?

—Ai está você. —Hur fala ao me ver sozinha. —Se sente bem?

—Precisamos conversar, Hur.

—Se for sobre Anippe...

—Hur, você precisa perdoar a nossa única filha. —O interrompo bruscamente e então ele se assusta. —Nossa única filha deseja o seu perdão...

—Mas ela não terá! —Hur me interrompe rudemente. —Henutmire, você não pode me falar de perdão se nem perdoar o seu pai você perdoou!

—Você é diferente de meu pai! —Exclamo brava o suficiente para Hur se sentar e me ouvir. —As situações são diferentes e você tem o dever de protegê-la, Hur! —Falo. —Eu sou a mãe da mesma forma como você é o pai!

—Henutmire...

—Me deixe falar! —Peço e então ele se cala. —Quando Anippe nasceu você prometeu que iria cuidar dela dependendo das autuações. Todos viram o quanto você amava aquela garotinha indefesa. —Minhas palavras fizeram por onde Hur chorar. —Essa garotinha cresceu e hoje é princesa do Egito! Mas também é sua filha! —Falo. —Temos nossos filhos, mas Anippe é nossa única filha, Hur! De todos os nossos filhos ela é a mais delicada...

—Eu sei! —Hur responde nervoso. —Mas ainda dói! Dói saber que Anippe negou o meu sangue. De certa forma ela negou!

—Pelo amor que você sente por mim, Hur! —Peço me agarrando em seus braços. —Perdoe Anippe!

—Eu não posso! É mais forte que eu! —Hur exclama deixando claro a sua incapacidade em perdoar.

—Pelo menos tente fazer por onde. Finja que não se importa com o que aconteceu e volte a falar com Anippe...

—Não me peça tal coisa, Henutmire. —Hur fala e em seguida me dá as costas. —Não posso fingir que tudo está bem!

—Como você pode ser tão teimoso? —Pergunto impaciente com Hur. —Ela é sua filha! Por que você não se lembra disso?

—Eu me lembro disso todos os dias. —Hur fala. —Mas eu não posso fingir que tudo está bem!

—Eu não vou lhe pedir mais nada! —Falo deixando claro que estou sem paciência para com Hur. —Mas também não chore quando uma tragédia acontecer.

(...)

—Não é lindo vê-los juntos? —Pergunto para Leila enquanto vejo Djoser e Anippe nadarem no Nilo.

—São dois adolescentes com almas de crianças. —Leila ressalta contente pelos meus filhos.

—São meus filhos. —Ressalto ao sentir o orgulho transbordar em meus olhos. —Os únicos que pude salvar nas garras de Yunet.

—Aquela mulher não merece o perdão de ninguém. —Leila fala magoada. É então que me lembro do dia em que Yunet cortou os cabelos de Leila.

—Leila. —Chamo por ela e então ela se aproxima ainda mais de mim. —Não se esqueça do que lhe pedi.

—Por favor, senhora. Desse modo irá me preocupar! —Leila fala nervosa, todavia eu me alegro ao ver Anippe e Djoser juntos nas margens do Nilo.

—Eu só me preocupo com eles, minhas querida. —Falo. —O que será de meus filhos quando eu partir?

—A senhora fala muito nisso faz algum tempo...

—Eu só quero saber se alguém irá cuidar deles por mim, Leila. Dos meus filhos e de Hur... —Falo ainda magoada com meu marido. —Não quero que eles sofram. —É então que olho somente para Anippe. —Hur não suporta a presença de Anippe.

—Infelizmente é verdade. —Leila fala um pouco decepcionada com Hur. —Existe uma guerra entre os dois.

—E isso é o que me preocupa. —Falo. —Hur é capa de ignorar Anippe até o dia de sua morte. Sem se importar com nada ele faria tal coisa.

—E o que a senhora pretende fazer?

—Ir embora do palácio com meus filhos. —Minha ideia acaba de assustar Leila. —Eu vou embora com eles e sem Hur.

—Mas para onde iria?

—Para onde Moisés está. —Respondo e surpreendo mais a minha dama. —Faz muito tempo que eu não me sinto bem no palácio, Leila. Aqui não é o meu lugar.

—Mas a senhora nasceu aqui! Passou a maior parte de sua vida no palácio com a cresça egípcia! —Leila ressalta amedrontada. —E o soberano não vai permitir isso...

—Ramsés não tem nenhum poder sobre mim. Ninguém tem! —Falo. A raiva é presente em minha voz, tão presente que assusta Leila. —Quando Moisés aparecer no palácio eu quero que você peça para ele me esperar com Anippe e Djoser.

—Vai fugir de imediato?

—Não vou perder tempo, Leila. Eu vou embora sem me despedir de Ramsés.

—E meu sogro, princesa?

—Hur saberá onde me encontrar. —Falo determinada. Eu irei para a vila com meus filhos e então irei partir para a terra que foi prometida ao Deus de Moisés. Caso Hur queira vir comigo ficarei imensamente feliz. Mas se ele não vir eu terei que seguir sozinha pelo deserto. —Arrume tudo o que for de meus filhos para a nossa partida, Leila.

—E a senhora? O que devo preparar para a sua partida? —Leila pergunta.

—Eu mesma preparo. —Falo. O que importa agora são os meus filhos, não eu. —Já pode ir. —Ordeno e então Leila se retira. Trato de me recompor ao ver Anippe e Djoser se aproximarem de mim. —Deixando os cabelos crescerem, Anippe?

—E porque não? —Minha filha pergunta irônica.

—Por que Leila foi embora? —Djoser pergunta curioso. —Pediu para que ela fizesse algo? —Djoser pergunta mais uma vez.

—Isso não vem ao caso. —Respondo. —Já aproveitou bastante o Nilo, não acha? —Pergunto para Anippe.

—Matei as saudades. —Anippe fala contente.

—Para onde vamos agora? —Djoser pergunta.

—Vamos voltar para o palácio. —Minha decisão desanimou os dois. —Preciso ter uma conversa com vocês dois, mas não aqui.

—É algo grave? —Anippe pergunta preocupada.

—É uma boa notícia. —Falo animada. —Se apressem. Não temos muito tempo, talvez Moisés já esteja no palácio.

—Irei conhecer Moisés? É isso? —Anippe pergunta mais animada ainda.

—Terá tempo suficiente para isso, meu amor. Agora, vamos! —Peço.

(...)

—Moisés ainda não chegou. —Falo andando de um lado para o outro.

—Eu já preparei tudo dos garotos para quando Moisés chegar. —Leila avisa. —Encontrei Yunet no caminho para cá.

—Ela falou algo para você? —Pergunto preocupada.

—Foi cínica. —Leila responde nervosa. —Graças aos deuses ela não fez nenhum mal a senhora.

—Moisés chegou. —Djoser fala ao entrar acompanhado por Moisés.

—Pode ir. —Falo para Leila. —Leve Djoser e traga Anippe. Ela precisa conhecer o irmão.

—O que queria falar comigo? —Moisés pergunta assim que Djoser e Leila saem.

—Eu quero ir embora daqui. Quero ir para a vila morar com você...

—A senhora tem certeza disso? —Moisés pergunta preocupado.

—Levarei Anippe e Djoser comigo. —Revelo. —Mas quero que os leve agora.

—Agora? —Moisés pergunta assustado.

—Eu preparei tudo para que eles partam com você. —Falo. —Eu ainda não estou pronta. Talvez ao anoitecer eu vá para a vila.

—Ramsés não vai tolerar isso, minha mãe. —Moisés me deixa ainda mais preocupada. —Mas se assim for sua vontade.

—Você vai levá-los agora? —Pergunto.

—Hur aprovou a sua decisão? —Moisés pergunta preocupado.

—Ele sabe de tudo... —Minto para facilitar a ida de Anippe e Djoser para a vila. —Ao anoitecer eu e ele iremos para a vila. Achei mais prudente os seus irmãos irem na frente.

—Tem razão. Na vila não tem o luxo daqui, mas meus irmãos ficarão bem.

—Prometa que vai cuidar deles para mim se algo der errado, Moisés. —Peço entristecida por temer uma possível separação minha com meus filhos. Se Hur não consegue perdoar Anippe certamente não cuidará dela se algo me acontecer. Por que eu sei que irá!

—Cuidarei deles como se fossem meus irmãos de sangue, minha mãe. Por que dessa forma irei pagar tudo o que devo á senhora... —Moisés fala emocionado e em seguida beija minha mão. —Obrigado por tudo o que a senhora fez por mim.

—Cuide deles, Moisés...

—Por que pede tanto para que eu cuide deles? Por acaso está doente? —Meu filho mais velho pergunta.

—Temo pela nova praga. Por que certamente ela virá...

—Virá. —Moisés confirma e então abaixo o olhar. Somos interrompidos por Anippe e Djoser que estão atrás de Leila como se fossem sombras da mesma.

—Moisés, está é Anippe. —Apresento meu filho mais velho para a minha filha mais nova.

—Tão bela quanto eu imaginei. —Moisés fala e em seguida é abraçado por Anippe. —Como você é parecida com nossa mãe!

—Todos falam isso! —Anippe concorda e começa a chorar. —Eu sempre quis conhecer você, Moisés!

—Digo o mesmo sobre você, Anippe. —Moisés fala. Anippe e Moisés passam a se olhar maravilhados um pelo outro, e então sorrisos surgem em seus lábios.

—Agora vão. —Falo e então Leila entrega um pequeno baú para Moisés. Neste baú certamente estão alguns pertences de meus filhos.

—Ir? —Anippe pergunta assustada. —Para onde?

—Para a vila com Moisés. —Minha revelação assusta meus filhos. —Vocês não desejavam viver com os hebreus? Se tornarem discípulos de Deus?

—Mas e a senhora? —Djoser pergunta é então Moisés me olha.

—Eu vou ao anoitecer com o seu pai. —Respondo. —Acho melhor vocês irem na frente.

—Não é mais arriscado a senhora e o papai irem de noite? —Djoser pergunta preocupado comigo e Hur. Mal sabe meu filho que Hur não irá comigo para a vila.

—Não se preocupe conosco, meu filho. Muito em breve estaremos juntos novamente. —Falo emocionada.

—Precisamos ir. —Moisés alerta nervoso e então eu olho para Anippe e Djoser.

—Até breve, meus queridos. —Falo abraçando meus dois filhos. Não sei o que me faz pensar que isso é uma despedida. Talvez de fato seja uma despedida.


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Notas finais do capítulo

Tô chorando com essa despedida, socorrinho.



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