Apenas uma dívida escrita por Pandrita


Capítulo 5
Capítulo V - Sentimento x Mentira


Notas iniciais do capítulo

Desculpe o atraso, mas aqui está. Boa leitura!



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Dormindo um sono pesado e profundo, Mina descansava de uma forma doce e delicada, sua respiração era um pouco alta, mais do que o considerado habitual. Ao menos essa era a percepção que Nathaniel tinha ao observá-la de uma forma cautelosa e com um sorriso bobo nos lábios.

Sabia que parte da culpa pela garota está dormindo em plena aula de história era sua, mas não conseguiu controlar. Ele amava vê-la determinada a cumprir o que era imposto e, principalmente, o seu rosto vitorioso quando conseguia cumprir o que era exigido. Mandar em Mina se tornou um vício incontrolável, quanto mais ela o questionava mais ele queria castigá-la.

Antes que o professor se aproximasse de Mina, Rosalya, que sentava atrás da garota, tentou acordá-la com empurrões leves e alguns cutucões, mas não fez efeito. O professor Faraize, com seu jeito desengonçado, ajeitou os óculos e caminhou até Mina com o livro grosso de história.

Ao ficar próximo, soltou o objeto na parte livre da mesa de Mina, o que produziu um barulho estrondoso, assustando a todos da sala inclusive Mina que pulou da cadeira acordando com o susto.

— Está confortável?

Ela não respondeu, ajeitou o corpo e encarou a cadeira de Iris sentada a sua frente. Estava cansada, o cabelo preso de forma folgada e desleixada, seus olhos, que pendiam devido ao sono, estavam cobertos por olheiras e seu corpo dolorido transmitia sua exaustão.

— Vá lavar o rosto e dar uma volta. — o professor ordenou deforma mais compreensiva. — Nathaniel, pode acompanhá-la?

— Não é necessário. — Mina interveio levantando-se da cadeira. — Posso ir sozinha, obrigada.

A garota saiu da sala um pouco lenta. Sentiu a cabeça latejar ao chegar ao corredor, encostou o corpo na parede, precisava de um apoio para permanecer em pé. A dor ia e vinha desde o momento em que acordou, talvez devido à exaustão, a raiva constante que estava passando ou as noites mal dormidas. Eram tantos motivos que chegava a ser impossível encontrar a causa.

Havia completado uma semana que precisava levantar cedo para fazer a vitamina para Nathaniel e deixar no grêmio, diariamente. Na volta para casa, levava sua mochila e a dele e, após aguentar outras ordens, que ele sequer dava valor, tinha que aturar sua mãe perturbando-a com perguntas sobre Nathaniel e quando assumiriam o namoro, estava exausta de tudo aquilo.

Além do corpo, agora ela também apoiou a mão na parede ao sentir tudo girar. Suas pernas estavam perdendo as forças. Deslizou pela parede e sentou no chão gélido e sujo do corredor. Lutou para levantar e manter os olhos abertos, mas ambas as ordens que davam ao seu corpo eram desobedecidas, o que a irritava profundamente. Era desta forma que ele se sentia com ela? Mina se perguntou.

Só podia estava delirando para perguntar a si mesma algo como aquilo e, principalmente, por pensar nele uma hora dessas. Seu corpo foi pendendo lentamente para o lado oposto da parede, sem que ela pudesse fazer algo e, antes que batesse no chão, Mina desmaiou.

Ao abrir os olhos deparou-se com o teto branco sem ter ideia de onde poderia está ou o que havia ocorrido, apenas sabia que estava deitada. Deixou a cabeça pender para o lado e se assustou; Nathaniel estava sentado de cabeça baixa na cadeira ao seu lado. Neste momento, ela reparou que sua mão estava sendo segurada pela dele.

Por um curto momento, sentiu um forte desejo de acariciar o cabelo loiro que cobria o rosto do garoto. Chegou, até mesmo, a levantar a mão livre. Estava prestes a tocá-lo, mas não o fez, ainda restava um pouco de sua sanidade. Colocou sua mão de volta na cama e preferiu fazer poucos movimentos. Temia que ele soltasse ao acordar. Nunca admitiria, mas não queria que o toque quente e doce de suas mão acabasse.

Mina prestou atenção no lugar onde estava e reconheceu o lugar. Estava na enfermaria, o mesmo lugar em que havia enfaixado a mão, que agora não precisava mais do objeto. Daquele dia restou apenas a amarga lembrança do incidente com os óculos e uma pequena cicatriz quase ilegível na palma de sua mão.

Ela olhou novamente para Nathaniel que aparentemente dormia. “Como pode aparentar ser um anjo dormindo e um demônio acordado?” pensou franzindo o cenho. Quanto tempo ele estava lá? Quanto tempo ela passou desacordada? Essas e outras perguntas surgiram em sua mente afrouxando sua expressão. Cansada e sem intenção, ela as fez desaparecerem e fechou os olhos.

Quando os abriu novamente, Mina não o viu, estava sozinha na enfermaria. Cogitou a ideia de ter sonhado com aquele momento. Ela olhou para sua mão, o toque havia sido real demais para ser apenas um sonho. Ela ouviu passos pelo corredor e olhou na direção da porta. Ficou ansiosa, não compreendia o motivo.

Ao ver Rosy passar, encobriu uma pequena decepção com um sorrio. “Quem mais poderia ser? Ele?” perguntou debochando a si mesma em pensamentos, mas os desfez antes que sua amiga corresse alegre em sua direção para abraçá-la. Mina estava feliz, ao menos alguém se importava.

— Você acordou! Ficamos tão preocupados. — Rosy ao falar, afastou o corpo de Mina para que pudesse vê-la melhor e ficou séria. — O que tinha na cabeça em vir para a escola doente? Deveria ter ficado em casa.

— Eu não podia faltar. Odeio faltar, você sabe. — respondeu sem muito ânimo.

— Você é louca. É capaz de vir até em coma. — os sorrisos de ambas alegraram o ambiente de forma descontraída. Mas depois, Rosy olhou para ela de forma curiosa. Com cautela perguntou. — É por causa do Nathaniel que você ultimamente anda afastada não é mesmo?

Mina se assustou com a pergunta repentina. Ela sabia sobre o acordo entre os dois? Uma inquietação gélida percorreu seu estômago. Tudo que menos queria era que ela ou qualquer outro soubesse da sua submissão, era humilhante.

— Mina?

— Ah. Não, nada a ver. — negou tanto com a voz quanto com a cabeça várias vezes e desviou o olhar.

— É estou vendo. — repreendeu a amiga de forma ignorante e se levantou pronta para sair.

— Espera. O que foi?

— Ah, nada. — falou imitando a voz de Mina. — Só minha amiga que não conta a verdade. — disse séria olhando diretamente para ela. — Estou cansada disso. — Finalizou sem qualquer ânimo voltando o seu corpo para a saída.

— Rosy, espera. Por que acha isso? — Mina perguntou levantando da cama e se sentindo zonza devido à velocidade do ato.

— Por quê? Mina, você ta' estranha a semana toda e não é a primeira vez que lhe digo isso. — Rosy diminuiu a raiva ao virar e vê-la apoiada na cama. Suspirou e andou até a amiga resmungando consigo mesma por ser molenga demais. — Quero apenas saber o que está acontecendo, te ajudar. — murmurrou ajudando-a a sentar. — Sei que está passando bastante tempo com Nathaniel, tempo até demais para quem queria apenas distância.

— Ele está me ajudando a estudar, só isso. — respondeu brincando com as mãos.

— Espera, a rainha do orgulho aceitando ajuda? Inacreditável. — Rosy falou de forma exagerada tentando conter o riso.

— Ei. — Mina a empurrou com o ombro de forma brincalhona. — Ele está me ajudando. — respondeu seria olhando nos olhos da amiga. — De verdade. — manteve o olhar fixo, sem qualquer desvio.

Rosy sorriu de canto, satisfeita, o que fez com que o coração de Mina apertasse. Forçou um pequeno sorriso.

— Tudo bem, mas o professor particular passar amanhã toda ao seu lado da aluna para mim é novidade. São os benefícios das aulas? — ela perguntou com tom malicioso.

Mina piscou duas vezes mantendo sua boca entreaberta devido à revelação. Era verdade, não foi um sonho, ele realmente estava aqui naquele momento, ou melhor, o tempo todo. Ela balançou a cabeça tentando formular uma pergunta que não revelasse de mais.

— Há quanto tempo eu estou aqui? — “onde ele está", era a real pergunta.

— Bem, — Ela começou pensativa. — Nathaniel te trouxe na primeira aula ao achá-la no corredor… Agora está rolando a última aula. Basicamente a manhã inteira.

A mente de Mina ficou completamente confusa. Aquilo era demais, Nathaniel, pela que Rosy falou, não assistiu as aulas pois estava com ela, também segurou sua mão e, pela segunda vez, a levou para a enfermaria.

Todos foram gestos que transmitiam preocupação.

Entretanto, os momentos que passavam juntos eram sempre frustrantes, ele buscava constantemente meios de humilhá-la e submetê-la aos seus caprichos e o pior, ela sabia o quanto ele era manipulador, conseguiu até mesmo colocar sua própria mãe aos pés dele.

Como ela podia encarar tudo aquilo? O que ele realmente queria dela? As lembranças vagas começaram a invadir sua mente: a carícia em sua mão no dia em que ele a puxou separando-a do grupo de primeiro ano, o aperto forte e, até mesmo, o que ela sentiu naquele momento.

Não, ela não sentiu absolutamente nada, afinal era impossível. Assim como era impossível ele apertar sua mão em um gesto protetor. Deveria nem sequer estar levantando essas hipóteses, ela odiava Nathaniel e tudo o que ele a fez passar, nada mudaria isso.

— Oi? Mina? — Rosy chamou estralando os dedos perto de seu rosto.

Ela a olhou meio lenta e esperou que Rosalya pronunciasse algo.

— Responde doida.

— Responder o que? — perguntou confusa.

— Comprou ou não a revista pornô?

— Jamais. — negou de imediato assustada.

Ninguém até hoje havia perguntado a ela diretamente, mas todos comentavam, em cochichos demasiadamente altos, a sua vergonha. Claro, aquelas duas garotas, que mais tarde Mina descobriu ser Li e Charlotte, haviam espalhado rapidamente o ocorrido.

Ela buscou ignorar sempre os olhares tortos e as risadinhas por onde passava. A maior parte das vezes funcionava, mas, em alguns momentos, preferia continuar trancada em seu quarto para evitar o que a esperava no decorrer do dia. Como queria nunca ter quebrado a barreira entre ela e Nathaniel.

— Sabia! — disse Rosy ao mesmo tempo alegre e espantada. — Sabe, era menos comprometedor, e muito mais fácil de esconder, se você visse pela internet.

— Mas eu-

— Não adianta negar o inegável Mina, tudo em você diz exatamente o oposto de sua boca, parece até mesmo que não me conhece. Não há necessidade de esconder as coisas de mim. A propósito, — ela falou alargando um sorriso de esperteza. — Vou amar vê-la se sair bem ao menos uma vez nas provas de história e química semana que vem, afinal, está tendo aulas com o maior nerd da sala.

Mina engoliu em seco e forçou outro sorriso.

— Pois é. — Falou nervosa.

Teria que estudar três vezes mais para ao menos tirar uma nota razoavelmente alta ou perderia de vez a amiga. Pedir a ajuda de Nathaniel estava fora de questão, definitivamente.

— Por que não está na aula? — Perguntou querendo mudar de assunto o mais rápido possível.

— Hello. — caçoou. — Porque minha parceira e melhor amiga está doente.

Mina fez careta para ela fazendo-a rir.

— Antes que eu esqueça. — Rosy falou. — Você esta sendo intimada a ir para o show comigo e com Alexy daqui a três dias. Não aceitaremos nenhuma desculpa, entendeu?

— Sim, senhora. Vocês é que mandam, mas o show será de quem?

— Não se ao certo, mas a banda do Castiel e do Lys vão abrir o show. Eles estudavam aqui antes de você chegar, aceitaram um contrato para gravar um CD. Não deu outra, as músicas foram um sucesso e acabaram saindo em Turner junto com outras bandas, agora chegou a vez de apresentar onde tudo começou. Como sou a cunhada do Lysandre tenho direito a ingressos VIPs.

Mina sorriu animada com a ideia. Precisava mesmo sair e aproveitar ao menos um pouco, o convite veio em boa hora.

— Esse é o Lys, de cabelos brancos e o emburradinho na foto é o Castiel. — Rosy falou mostrando uma foto em seu celular de ambos.

O sinal tocou anunciando o término das aulas.

— Cadê a enfermeira? — Mina perguntou reparando, naquele momento, que ela não estava presente.

— Ela e Nathaniel foram chamados pela diretora. Se não for para procurar aquele bendito cachorro, então não faço a mínima ideia do que ela queria com eles. — Rosy abaixou para pegar tanto a sua mochila quanto a de Mina. — Aqui, Armin trouxe na mudança para a segunda aula, não sabíamos quando iria voltar.

— Obrigada. — elas se levantaram, mas dessa vez Mina teve mais cautela. — Será que preciso esperar?

— Por mim, você está ótima. Mas se quiser uma explicação das faltas que levou hoje, é melhor esperar, infelizmente.

Mina recordou o papel que recebeu, Rosy tinha razão, ou ficava e conseguia o comprovante ou saía e recebia faltas sem justificativa. Não precisou esperar por muito tempo, rapidamente a enfermeira apareceu.

— Querida, você acordou. Desculpe a demora. Vamos ver como está?

Após os exames rápidos, a enfermeira recomendou repouso, bastante água, que ela comesse de três em três horas para manter as forças e nada de remédios. Pelo que Mina pode perceber, a enfermeira usaria ou recomendaria os remédios apenas em casos extremos.

Ela assinou o bilhete e liberou Mina.

Ao sair da sala com a mochila nas mãos e acompanhando Rosy, Nathaniel aparece em frente à porta assustando ambas. Mina sentiu seu coração palpitar e sua boca ficar seca, reações que antes não ocorriam. Mandou, mentalmente, que seu corpo parasse, mas era teimoso como a dona.

Nathaniel a olhou de cima a baixo e, sem dizer uma única palavra, pegou a mochila da garota e se dirigiu a saída. Mina piscou duas vezes sem compreender o que tinha acabado de acontecer.

— O que ta’ esperando? — Rosy falou empurrando a amiga para fora. — Vai logo.

Mina entendeu o que ela quis dizer e correu para alcançá-lo. Ainda preferia manter a distância que considerava segura, mas de forma inconsistente, ela estava mais próxima. Tentou se concentrar na raiva que guardava dele para cessar o sorriso bobo que surgiu em seu rosto.

Havia uma mudança em ambos, uma mudança que nenhum dos dois podia verdadeiramente encobrir, mesmo se quisessem.


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Notas finais do capítulo

"Tudo o que você é, é tudo o que eu não sou noite e dia, luz e escuridão." - Jack Savoretti feat. Sienna Miller



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