Apenas uma dívida escrita por Pandrita


Capítulo 2
Capítulo II - Alto preço


Notas iniciais do capítulo

Que bom te encontrar novamente! Fico feliz (>o<).
Obrigada por continuar acompanhando, por comentar, favoritar e/ou ser um leitor fantasma. Fico muito grada!

Espero que tenham uma boa leitura *0*



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— Aposto que bateu com a cabeça, não é mesmo? — perguntou de forma irônica. — Sinceramente, tenho mais o que fazer. — afirmou ficando de costas para Nathaniel e voltando pelo caminho que ele a trouxe. Se fosse uma brincadeira, Mina ainda não tinha encontrado a graça.

— Você sabe que estou falando sério. Então evite dizer e fazer besteiras como a de agora. — ele aconselhou permanecendo onde estava.

O corpo de Mina parou ao escutá-lo, recusando-se a dar qualquer passo a mais. A voz grave e autoritária a fez arrepiar de tal forma, que temia as consequências que poderia receber devido a suas atitudes. Seu bom senso gritou pedindo para que não o contrariasse, temia o pior, mas sua forte teimosia e a raiva que sentia venceu sua sanidade. Ela voltou seu corpo para que pudesse encará-lo, e disse com irritação:

— Se acha mesmo que irei me submeter a essa ideia estúpida, está completamente enganado. Quer saber? Diga-me logo o preço do conserto e ficamos quites de uma vez.

Nathaniel sorriu como se acabasse de escutar uma ótima piada.

— Qual é a graça? — ela perguntou cruzando os braços, sem desviar o olhar.

— Tudo bem. Vamos à ótica e lá saberemos o preço do conserto. — ele confirmou com tranquilidade, ignorando sua pergunta, e começou a andar ainda sorrindo. Após passar por ela, parou e a olhou. — Você vem ou não?

Mina piscou duas vezes surpresa com o olhar de Nathaniel. Os olhos dourados, que há pouco estavam tão frios, agora continham um brilho misterioso que a fascinou. Apesar da distância, conseguiu vê-los com perfeição. O sorriso espontâneo, sem esforço, fê-la sorrir de leve; um sorriso disfarçado e sem qualquer intenção.

— Tanto faz. — Nathaniel comentou e em seguida saiu do local.

Mina despertou de seu devaneio se autocriticando pelo que acabou de acontecer. Por seu rosto ruborizar e por não conseguir controlar seus instintos. Ela bateu duas vezes às mãos nas bochechas com a intenção de acordar e apagar aquela imagem de sua memória. Sentiu a dor instantaneamente do ferimento que esqueceu, mas buscou ignorar. Ajeitou a mochila e correu para alcançá-lo, iria acabar com esta historia o mais rápido possível.

Ela andou o tempo todo atrás dele, com uma distância que ela acreditou ser segura. Mesmo que fossem juntos, não precisavam necessariamente ficar perto, ao menos era o que Mina acreditava. Preferia vê-lo de costas a ao seu lado. Aqueles novos gestos e expressões que viu foram perigosos e precisou se prevenir. Nunca iria deixá-lo manipulá-la como uma marionete.

Nathaniel manteve-se calado durante o caminho e não olhou para trás, nem ao menos por um segundo. Mesmo assim, Mina, de alguma forma, sabia que sua expressão séria havia voltado. A ótica não era muito longe da escola, por isso rapidamente chegaram.

— Caramba, Nath! — uma funcionária exclamou. — Há quanto tempo?! — perguntou alegremente e em um movimento rápido abraçou Nathaniel antes mesmo que ele colocasse os pés na loja.

"Nath?”, repetiu Mina em seus pensamentos e perguntou para si mesma por que a garota tratava-o com tanta intimidade. Ela possuía os cabelos ruivos amarrados em um coque, várias sardinha em sua pele clara, principalmente nas bochechas e o uniforme verde com blusa polo, fê-la parecer mais baixa do que realmente era.

— Faz pouco tempo. Não exagere. — ele respondeu em um tom brincalhão.

Mina novamente ficou surpresa. Não acreditou no que viu. Para ela, ele era incapaz de brincar e muito menos falar daquela forma. Mina começou a se sentir estranha, estava gostando cada vez menos do ambiente.

— Não exagere. — ela repetiu a frase dando ênfase e socou de leve o ombro do garoto. — Faz meses, seu pirralho. O que faz aqui? — a garota esticou o corpo para ver Mina atrás de Nathaniel. — Sua namorada precisa de óculos novos?

— E-Ele não é meu namorado. — Mina discordou logo, dando uma leve gaguejada no inicio.

Não esperou que ouvisse tal frase, era óbvio que eles não tinham absolutamente nada. "Acho que não sou eu quem precisa de óculos", Mina pensou irritada, mas continuou calada. A garota não deu importância a sua discordância, apena voltou a atenção para Nathaniel.

— Estou aqui para conferir algo. — ele explicou sem se importar com os comentários de ambas. Tirou de sua mochila uma capa simples de óculos, abriu e retirou o conteúdo que estava dentro — Quanto ficará o conserto? — ele perguntou, com sua voz passiva costumeira que Mina detestava.

— Conserto? — a garota fez um barulho estranho ao analisar os óculos, que agora continha hastes bambas e apenas uma lente, Mina não soube distinguir se o barulho era uma risada ou lamentação. — As charneiras estão quebradas nas partes cruciais. Não tem conserto, terá que comprar outro. — ela jogou os óculos em cima do galpão mais próximo como se fosse lixo. — Não sei como conseguiu Nath. Para quem nunca precisou consertar os óculos, fez uma proeza e tanto para sua primeira vez.

Nathaniel sorriu de canto e se virou para olhar a reação de Mina. Ela fechou a cara e apertou a alça da mochila, não iria deixar abater-se pelo comentário, se fosse necessário embarcaria mais fundo.

— Escolhe algum, e vamos acabar com isto. — afirmou de forma feroz e desviou o seu olhar do dele.

— Sem problemas. — Nathaniel falou com o tom malicioso. Afastou-se de Mina e andou diretamente para os óculos que estavam mais expostos.

Ela o acompanhou com os olhos, desviando com ignorância sempre que ele a olhava de volta, evitando contato visual.

— Deveria saber como está investindo o seu dinheiro, não acha? — Mina ficou um pouco confusa com seu comentário, não entendeu o que ele quis dizer. — Venha aqui. — ordenou após um suspiro.

Ela andou contrariada até ele. Qual a importância em ver? Em vez disso, preferia se concentrar em recordar a quantia que havia em sua conta, mesmo perto, não estava disposta a observá-lo escolher:“quinhentos e cinquenta e três ou seiscentos e dez?” Começou a se questionar na tentativa de recordar.

— Este. — Nathaniel falou apontando para os óculos de aparência simples, mas com o material impecável. Parecia, além de resistente, ter boa qualidade.

— Um modelo Chanel? Ótima escolha. Já esperava de alguém com bom gosto. — comentou a garota que o atendia, agora atrás do balcão.

Ela pegou o objeto e ajustou o espelho ao seu lado para que Nathaniel pudesse ver o resultado. Ele colocou os óculos, olhou brevemente e viu Mina, através do reflexo, observando-o. Ela não conseguiu resistir à curiosidade. Nathaniel retirou os óculos escondendo um breve sorriso e os entregou para a garota.

— Esse mesmo. — Confirmou.

Ela fez algumas perguntas referentes à lente e as consultas com o seu oftalmologista, para ter certeza de que encomendaria o grau correto da lente que estava faltando. Quando terminou, entregou uma folha para ele e disse:

— Pode acertar a forma de pagamento no caixa. E pirralho, — pausou com sorriso alegre. — Não some. Namorar não é desculpa para evitar visitar os velhos amigos.

— Nos não somos na-.

— Obrigada pela ajuda, Andy. — Nathaniel agradeceu, interrompendo a fala de Mina e a puxou pelo pulso, conduzindo-a para o caixa. Entregou a pequena folha para a moça que atendia.

— Pare de me conduzir desta forma. — Mina esbravejou.

— Paro quando merecer.

— Os óculos junto a lente saem por dois mil reais. O pagamento será a vista, cartão ou cheque?

Mina dilatou os olhos ao escutar o preço. "Roubo!", pensou imaginando como iria pagar tal prejuízo.

— Está pronta para ceder agora? — Nathaniel sussurrou em seu ouvido evitando que outras pessoas escutassem.

Mina piscou algumas vezes um pouco atordoada devido àquela voz sedutora extremamente perto. Ele se afastou o suficiente para que ela pudesse olhá-lo, a expressão vitoriosa do garoto foi o suficiente para despertá-la. A raiva de Mina prevaleceu, fazendo-a franzir a testa. Não cederia tão facilmente, iria lutar pela sua liberdade.

— Cartão, por favor. — respondeu para a moça do caixa com firmeza sem tirar seus olhos furiosos de Nathaniel.

Pegou a carteira dentro da mochila e procurou pelo seu cartão, mas não encontrou. O seu celular começou a vibrar, antes que pudesse se desesperar. Mina fechou os olhos com temor. Estava atrasada, muito atrasada para o almoço. Pegou o telefone sem olhar para a tela. Não precisou visualizar para saber que se tratava de sua mãe. Sentiu-o vibrar mais duas vezes antes de atender.

— Oi, mãe. — falou com a voz baixa, saindo de perto do caixa.

— Tem alguma noção de horas?! Acha que por ter quase dezoito é dona do próprio nariz?! Não poderia ter pedido permissão ou ao menos avisar? As coisas não funcionam dessa forma, mocinha. Quero você em casa, agora!

— Sim, senhora. — Mina respondeu quase como um sussurro antes de sua mãe desligar.

Continuou segurando o celular enquanto pensava o que diria a ela ao chegar. Distraída, não percebeu a aproximação de Nathaniel e, antes que percebesse, seu celular estava sendo puxado de sua mão. Virou assustada pelo ocorrido, mas a raiva a dominou logo ao vê-lo. O pouco tempo que estão juntos, Mina mudou suas emoções incontáveis vezes, algo a mais para acrescentar aos motivos de sua raiva sobre ele.

— O que pensa que está fazendo?! — perguntou tentando ao máximo não gritar.

Mais uma vez, Nathaniel a ignorou. Digitou algo no celular de Mina e, em seguida, uma música abafada tocou em seu bolso. Não demorou muito para parar, mexeu mais um pouco no objeto da garota e por fim, jogou para ela. Mina, no susto, conseguiu pegar de uma forma desastrada. Olhou para a tela do celular e viu um novo número salvo tanto na agenda quanto na discagem rápida. Era o dele.

— Vamos. — Nathaniel falou sério colocando a mão no bolso e dirigindo-se para a saída.

— E-Espera, tenho que passar o cartão. — lembrou nervosa enquanto sentia as mãos suarem.

— Já passei. — ele respondeu saindo da loja.

Demorou alguns segundos para que Mina assimilasse as palavras de Nathaniel. Ao perceber o que havia ocorrido, um alivio invadiu seu corpo, afina, não estava com o cartão para poder comprar, mas iria pagá-lo de qualquer forma.

— Espera. — pediu saindo da loja andando atrás dele enquanto fechava sua mochila. — Não precisava ter passado. — protestou, ainda mantendo a postura de durona. — Caso pense que aceitarei sua proposta devido a isso, está muito enganado. Saiba que pagarei de qualquer forma. Agora vou para minha casa.

Assim que afirmou, viu uma pequena parte do sorriso torto de Nathaniel, não compreendia o motivo daquele ato, tão pouco queria compreender. Acelerou os passos, passando por ele e seguiu o caminho de sua casa. Previa com isso, finalmente se separar de Nathaniel. Mas o que ela não esperava, era que ele a seguisse. Incomodada, olhou algumas vezes para trás, sabia perfeitamente que a casa dele ficava na direção oposta.

— O que quer agora? — o interrogou cansada, parando em frente à própria casa.

Ele passou por ela calado, tocou a campainha e esperou.

— O que está fazendo? Tem que sair daqui, agora! — ordenou com a voz assustada fazendo força para movê-lo. Ficaria ainda mais encrencada caso sua mãe soubesse que estava com um garoto.

Ela prendeu a respiração ao ouvir os passos de sua mãe. Apertou o braço de Nathaniel, sem perceber, no momento em que a maçaneta foi destrancada e a porta aberta.

Sua mãe apareceu sorrindo, mas o sorriso logo se desfez. Afinal, ao seu ver, sua filha estava agarradacom um garoto desconhecido na porta de sua própria casa.

— Quem é ele? — perguntou de uma forma ríspida.

— O-oi, mãe. E-ele é…

— Boa tarde, sou Nathaniel. — apresentou-se estendendo a mão para cumprimentá-la. — Receio ser minha culpa por sua irmã chegar mais tarde que o habitual. Pedi para que ela me acompanhasse na compra de meu novo óculos. Queria uma companhia agradável e ela foi minha primeira escolha.

Mina observou o rosto irritado de sua mãe voltar a ser suave e receptivo como em um passe de mágica. Ela não acreditou que sua mãe pudesse cair no papo de irmã. Engoliu seco enquanto ouvia a conversa temendo que algo desse errado, não quis, nem mesmo, arriscar falando algo.

— Não sou a irmã dela. Sou a mãe — Lucia o corrigiu alegremente, correspondendo seu cumprimento.

Nathaniel fingiu se assustar com a "revelação".

— É difícil de acreditar.

— Gentileza sua. — respondeu aumentando seu sorriso e passou a mão no cabelo para ajeitá-los. Mina a observava perplexa. — É bom ver minha filha em boa companhia.

— Bem, ela é uma garota linda e gentil. Posso ver bem qual lado da família ela puxou.

Sua mãe riu de uma forma que Mina achou estranha e nada agradável. Os elogios recebidos faziam os seus olhos brilhar cada vez mais. Não demorou muito para Mina perceber as intenções de Nathaniel, ele estava manipulando-a.

— Obrigada por me trazer, mas acho melhor ir agora. Está ficando tarde. — Mina se intrometeu soltando o braço de Nathaniel e indo para o lado de sua mãe.

— Filha, não seja má educada. — Lucia sussurrou de forma ríspida no ouvido de sua filha. — Não quer entrar? Poderia almoçar conosco. O pai de Mina iria ficar feliz em conhecê-lo.

— Adoraria, mas é melhor não. Meu pai receberá alguns empresários para jantar e precisa de ajuda nos preparativos.

— Empresários? — perguntou interessada. Mina podia imaginar a mente de sua mãe tentando descobrir o quanto o garoto era rico.

— Isso mesmo. Ele precisa resolver alguns assuntos de uma das suas empresas e por isso programou este encontro. É melhor eu ir agora. — despediu acenando brevemente para ambas e deixando seu olhar demorar em Mina antes de se retirar.


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Notas finais do capítulo

E se eu disser que nunca me entregarei? - The Pretender - Foo Fighters
Trecho: Se acha mesmo que irei me submeter a essa ideia estúpida, está completamente enganado.



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