Apenas uma dívida escrita por Pandrita


Capítulo 1
Capítulo I - Distância


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos serão postados as quartas e domingos.
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Capítulo I - Distância

Correndo pelas ruas com toda a velocidade, Mina tentava chegar à escola antes que fechassem o portão. Ela não era a única, quanto mais se aproximava, mais alunos se juntavam a corrida contra o tempo. Mina se desesperou ao avistar o porteiro da escola preparando-se para trancar o portão. Devido ao desespero, ela disparou, ignorando o cansaço que sentia. Conseguiu passar entre o pequeno espaço que restava para o fechamento completo, recebendo um arranhão de leve no braço.

Mesmo exausta, continuou sem diminuir a velocidade, precisava chegar à sala antes do professor, ou estaria em apuros. Passou pelo pátio, seguiu pelo corredor principal e depois o secundário. Antes que pudesse subir as escadas, trombou com alguém que a fez cair no chão.

Ouviu um estralo fraco de algo se quebrando, mas ignorou. Ajeitou a mochila rapidamente e olhou para cima na tentativa de ver quem era. Arrependeu no mesmo instante. Nathaniel, aquele que ela buscava evitar completamente de todas as maneiras possíveis, estava parado a sua frente com um rosto assustador. Parecia estar reunindo todas as forças que possuía para conter a raiva que pulsava em todo o seu corpo.

Mina se arrastou para trás por instinto, mas parou ao sentir algo furando sua mão direita. Ela tirou-a de cima do objeto e segurou-a com a outra, o sangue impedia de saber qual a profundidade do ferimento. Olhou para trás para ver o que a feriu. Um frio intenso percorreu todo seu corpo. Os óculos de Nathaniel estavam completamente quebrados e culpa era sua.

— Me-Me desculpe — pediu assustada. Levantou rapidamente, toda atrapalhada. — Eu não tive a intenção, sinto muito — seu olhar alternava entre ele e os óculos. — E-Eu vou pagar por isso.

Nathaniel, ainda com o rosto assustador, não quis saber de conversar. Segurou o pulso de Mina e saiu puxando-a na direção oposta de sua sala.

— O-O que vai fazer comigo? — perguntou aterrorizada. — E-Eu disse que vou pagar. Por favor, me solta. — tentou puxar o pulso, temendo o que ele poderia fazer, mas Nathaniel ignorou seus apelos e não se importou com os puxões. — Foi um acidente!

Ela estava com tanto medo, que não reparou no caminho que estavam fazendo.

“Será que irei para a diretoria? Qual será a minha punição. Quebrei os óculos de uma das pessoas mais importante do colégio, não vou sair ilesa. Será que meu atraso também vai contar?”

Os seus pensamentos continuaram torturando-a durante todo o caminho. Apenas pararam quando Nathaniel a puxou para uma sala e começou a falar com a enfermeira.

— Com licença. Poderia examiná-la, por favor? Ela caiu agora pouco e feriu a mão. — sua voz era passiva, mas com um tom de seriedade.

— Claro, Nathaniel. Sempre se preocupando com os outros, não é mesmo? — a enfermeira comentou com a voz fina e alegre. — Pode retornar a sua aula sem problemas. Cuidarei dela daqui em diante. — passou sua mão pelo ombro de Mina e conduzindo-a para sentar na cama.

Nathaniel, ignorando a sugestão da enfermeira, continuou segurando o pulso da garota e soltou somente quando a mesma se sentou. Ato que ela nem percebeu, ainda se sentia confusa por não ser nada do que pensou. Lembrou-se de agradecê-lo, mas ao se virar, ele já havia saído da sala.

— Ele é muito gentil, não é mesmo? — perguntou enquanto limpava o ferimento. — A administração da escola conta muito com a ajuda dele por ser muito responsável e ter um ótimo carisma.

Mina fechou a cara ao ouvir os comentários. A ferida ardia, mas ignorou. Onde quer que fosse sempre ouvia elogios e mais elogios a respeito do representante. Sobre o quanto ele era inteligente, responsável, carismático e todas as personalidades boas que poderia encontrar em uma pessoa.

Mas ela sabia que era tudo fachada. Na verdade, Nathaniel era um completo manipulador. Já perdeu as contas de quantas vezes o viu sem sua máscara. De pessoas assim, o melhor era manter o máximo de distância possível.

— Pronto, querida. — Mina olhou sua mão e viu que estava enfaixada apenas no meio onde estava o ferimento. — Não foi muito fundo. Só precisará usar a atadura até cicatrizar e pronto, estará novinho e folha. — pegou um papel, assinou e entregou para ela. — Precisará disto para entrar na sala.

— Obrigada. — agradeceu e saiu com a cabeça um pouco baixa.

Sua franja repicada cobria parte de seus olhos azuis enquanto caminhava de volta para a aula, seu cabelo longo e loiro estava amarrado com um laço no topo. Dessa vez, caminhava sem pressa. Não havia mais a necessidade para correr, afinal, já estava na metade da segunda aula.

Durante o percurso, lembrou-se do rosto de Nathaniel e sentiu seu corpo estremecer. Mesmo com esta sensação, ela estava determinada a pedir desculpas, pagar pelo prejuízo e continuar com a distância segura que mantinha. Tinha consciência de que Nathaniel não deixaria passar o que aconteceu tão facilmente: “Mas por que ele não contou o ocorrido para a enfermeira?”, pensou.

Ela balançou a cabeça no intuito de mandar os pensamentos para longe e, neste momento, notou que já estava em frente à porta de sua sala. Bateu duas vezes antes que o professor Faraize abrisse.

— Antes tarde do que nunca, não é mesmo? — o professou falou sem muita confiança, mas foi o suficiente para arrancar algumas risadas fracas da turma.

Mina ajeitou a mochila com sua mão boa e entregou o papel para ele. O professor passou os olhos pela folha, duas vezes, antes de ceder espaço para que ela entrasse. A turma estava escrevendo um relatório sobre ditadura militar, algo que ela teria que fazer em menos de uma hora e sem qualquer explicação do professor. Seu pai, com toda a certeza, não ficaria feliz ao ver a futura nota da filha em história.

Ela sentou em seu lugar, perto da janela ao lado de Kim e pegou o material, agradecida por ser canhota. Olhou brevemente para o lugar onde Nathaniel estava. Ele conversava com Melody, a garota que sempre conseguia notas excelentes, enchia os professores de perguntas, sentava na frente dele e o ajudava na sala dos representantes, o exemplo da sala.

Eles trocaram uma folha rosa do fichário e, em uma tentativa fracassada, ela tentou jogar todo o seu charme. Como consequência, Nathaniel lançou seu famoso sorriso falso que dava ânsia de vômito em Mina, fazendo Melody esbanjar felicidade como uma boba enquanto voltava para sua posição correta na cadeira. Mina riu de uma forma irônica da atitude de Melody, não acreditou o quanto a garota era patética ao ponto de deixar levar-se por aquele sorriso. Na verdade, todos eram levados menos ela, o que a sempre deixou orgulhosa de si mesma.

Nathaniel ajeitou sua postura e, nesse momento, foi possível para Mina observar o sorriso falso se transformar em ganancioso ao passar a limpo o que estava na folha rosa. Suspeitou que fosse o resumo feito por Melody. Não aguentando mais a cena repugnante, voltou sua atenção para o que devia fazer. Não precisava perder tempo com coisas fúteis, focaria apenas em suas atividades.

Mesmo tentando, a garota não conseguiu eliminar de sua mente a visão dos óculos quebrados. Durante todas as aulas, incluindo o intervalo, Nathaniel não fez menção sobre o ocorrido ou demonstrou a suposta raiva que Mina achava ter visto mais cedo. Ele agia como se nada tivesse acontecido. Ela até mesmo chegou a agarrar-se a esperança de que nada iria acontecer.

Mas sabia que estava errada.

O sinal agudo tocou indicando o fim da última aula. Mina arrumou rapidamente seu material e, junto com Alexy e Rosalya, se retirou da sala e seguiu para a escada. Os dois amigos conversavam sobre as tendências atuais da moda e o quanto precisavam fazer compras, o que Mina duvidava, mas não comentou.

Ela se contentava em apenas ouvir o que diziam, sem se intrometer. Já cometerá esse erro uma vez, o que acabou fazendo-a ouvir explicações e mais explicações sobre quais cores combinam melhor com sua pele. Desde então evitava interrompê-los temendo qual seria o próximo discurso.

Mas hoje preferia ouvi-los discutindo sobre moda em vez de a encherem novamente de perguntas sobre o seu ferimento. Quando perguntaram, apenas simplificou o ocorrido dizendo que havia caído durante a correria para chegar no horário, preferindo omitir as partes que envolviam Nathaniel. Se um dos dois havia percebido, não comentou.

Seus dois amigos estavam tão vidrados na conversa que começaram a andar mais rápido proporcionando cada vez mais uma distância entre eles e Mina. Logo, ela não conseguir vê-los no meio dos estudantes que praticamente corriam para a saída. Acostumada com essa separação, ela não se importou, apenas seguiu para a escada.

Ao chegar ao meio da escada, ela se assustou ao sentir uma mão pousando de leve em seu ombro. O susto a fez virar bruscamente seu corpo e dar passos para trás, errando um dos últimos degraus. Um grito estridente escapou de sua boca naqueles milésimos de segundos que caia, temendo o impacto que sentiria no instante que batesse as costas.

Mas um puxão forte pelo seu braço evitou o pior. Sua respiração ficou ofegante, o coração acelerado, seus olhos dilatados olhando para o chão e suas mãos tremendo. Por um instante, perdeu a noção de onde estava e com quem. Conforme a adrenalina sumia de seu corpo, sua consciência voltava ao normal.

— Você está bem? — ouviu uma voz extremamente perto, mas não reconheceu de imediato a quem pertencia.

Mina balançou a cabeça tentando colocar os pensamentos em ordem. Levantou a cabeça e se surpreendeu ao se deparar com Nathaniel, a voz, com certeza, era a dele. Ele estava tão perto de seu corpo que ela conseguiu até mesmo sentir a respiração dele em sua pele. Seus olhos encontraram os de Nathaniel sem que ela pudesse controlar ou ao menos tomar consciência do seu ato.

— Essa foi quase, em? — brincou, com sua voz passiva e um sorriso falso que chegava a cegar Mina.

Aquele gesto foi como um baque forte que a fez reagir. Puxou com força a mão que Nathaniel segurava e se afastou descendo o restante da escada com raiva. Ele não a impediu, mas Mina conseguiu sentir os olhos do garoto fixos em suas costas enquanto a seguia, o que a deixava mais furiosa.

Distância, era tudo o que queria de Nathaniel, apenas isto. Ela passou a mão que não continha o ferimento pelo braço, na tentativa de diminuir o calafrio desconfortável que sentiu ao lembrar-se do quanto estavam próximos. Apressou os passos inconscientemente, precisava sair daquele lugar o mais rápido possível.

Antes mesmo de chegar perto da saída, Nathaniel se pós a caminha no mesmo ritmo ao seu lado. Mina o ignorou focando seu olhar apenas na saída. Já haviam ficado perto de mais por um dia, parecia até mesmo que todos os esforços do passado para mantê-lo distante estavam prestes a serem em vão.

— Precisamos conversar. — exigiu.

— Se for sobre os óculos. — adiantou sem olhá-lo — Pode ficar tranquilo, vou conseguir a quantia o quanto antes.

— Já disse, você não pode pagar. — ela ficou séria se sentindo ofendida. Não era rica, mas não queria dizer que não poderia pagar um simples conserto. — Vamos conversar. — repetiu. Mina ainda sentia o tom autoritário em sua voz.

Já haviam chegado ao pátio do colégio.

— Não quero.

— Quem disse que tem escolha?

Antes que Mina pudesse compreender a pergunta, Nathaniel a segurou pelo pulso e a levou para o ginásio da escola, parando apenas quando estavam bastante afastados da entrada.

— O que pensa que está fazendo?! — gritou tentando se soltar. Mas dessa vez ele não a soltou.

— Não seja escandalosa. Fale baixo e apenas me escute. — alertou com seriedade em sua voz.

Mina parou de debater o corpo, ainda irritada, mas ficou quieta. Sentia como se ele a tratasse como uma criança e odiava a si mesma por permitir.

— Assim está melhor. — ele soltou o seu pulso, mas a observava o tempo todo de uma forma penetrante e intimidadora.

Mina não se moveu e se sentia estranha com tanta atenção.

— Tenho uma proposta para você. — pausou, parecia analisar a sua reação. Ela apenas continuou parada esperando-o terminar. — Eu disse que não pode pagar os meus óculos e-

— Por que acha que não posso pagar? Por acaso pareço com uma pobre coitada? — interrompeu irritada. — Saiba que irei pagá-lo, de um jeito ou de outro independentemente da quantia. Sou uma garota de palavra e arco com minhas responsabilidades. — concluiu com convicção e orgulho.

— Além de não saber agradecer ainda tem uma péssima educação. —argumentou ainda sério, sem aumentar o tom de voz, se referindo ao ocorrido na escada e a ela interrompendo sua fala.

Mina se sentiu envergonhada diante de tal afirmação relembrando a ajuda de mais cedo no corredor. Engoliu em seco, mas preferiu não dizer nada. Estava odiando-o cada vez mais a cada minuto.

— Vou ter muito que trabalhar... — comentou baixo o suficiente para que Mina não escutasse. — Mas vou deixar passar desta vez. Está mesmo disposta a pagar e uma forma ou de outra? — perguntou com malícia.

— Sim, estou. — afirmou com menos coragem do que da última vez.

— Tem certeza do que está dizendo? — ele a questionou mais uma vez.

— T-Tenho, sim. — confirmou novamente, mas falhando a voz.

— Neste caso, será fácil aceitar o que irei lhe propor. — um sorriso sádico surgiu em seus lábios, um sorriso que Mina nunca havia visto. — Será a minha escrava por um mês.


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Notas finais do capítulo

"Nós enganar o mundo com mentiras que esconder por trás dos sorrisos" - Red glass HouseTrecho: Nathaniel lançou seu famoso sorriso falso que dava ânsia de vômito em MinaTrailer: https://youtu.be/0zRcCDFtWZk



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