Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais


Capítulo 2
Capitulo 2




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Yasemine vira mais uma página da agendinha e sorri ao ver mais uma fotografia de seu pai, escondida entre as folhas. Ele estava sorridente e trazia Alda nos braços. Era uma imagem bonita demais e sempre atraia a atenção.

Eram seus amores e seus protegidos. Sua mãe havia lhe dado a missão de cuidar dos dois, quando ela não estivesse por perto. A ordem deveria ser obedecida e teria de disfarçar suas habilidades para não provocar a tristeza em seu belo pai.

– O que você está lendo, Yasemine? – a professora aproxima-se da garota sentada no canto onde ficavam as mochilas. – Posso ver?

A garota sorri e exibe a fotografia.

– É uma bela foto! Mas acredito que você poderia deixá-la guardada na agenda e vir participar da nova atividade com seus colegas. O que acha?

– Tudo bem. – mas antes de conseguir guardar a fotografia, Yasemine é surpreendida por um colega, que tira a fotografia de sua mão e afasta-se correndo. – Não!

A professora vai atrás do menino, mas não consegue retirar a fotografia da mãozinha dele. Ao ver-se encurralado, o menino rasga a foto e joga os pedaços no chão. Ele ri da maldade.

Yasemine abaixa-se e apanha os pedaços da fotografia. Mantém a cabeça baixa e levanta apenas os olhos na direção do ruivo gordo que ria muito. Ela guarda os pedaços do papel dentro de uma bolsinha que usava constantemente a tiracolo. Tranquila, caminha até sua mesa e senta-se ali.

Tudo volta a sua normalidade e a aula continua. Faltando pouco tempo para a saída, Yasemine vai apanhar sua mochila e retornando para sua mesa, decide mudar sua rota e aproximar-se da mesa do garoto ruivo. Ela sorri e segura firmemente o braço do menino.

Ele grita e tenta livrar-se da menina, porém não consegue.

“Manere incubuerit!” Emagreça! – ela o liberta e vai sentar-se ao ouvir a professora chamando sua atenção.

O menino começa a chorar ruidosamente.

– Ela me chamou de gordo! Ela me chamou de gordo!

Vasco é chamado pela professora, no momento da entrega de Yasemine. A mulher mostrava-se encantada em todas as vezes que conseguia conversar com o marido da prefeita. O homem atraía a atenção de todas as mães, por ser o único pai que vinha buscar as crias e por ser um homem belíssimo, além de elegante, gentil e sua timidez era o seu charme total.

– Eu sinto muito, Sr. Agilulfo, mas um colega de classe rasgou uma fotografia que sua filha carregava num livro.

– Não há problema algum, Srta. Smila. Espero que minha filha não o tenha agredido.

A mulher sorri enfeitiçada pela beleza daquele homem. Somente depois de alguns segundos, consegue responder.

– Ela apenas chamou o menino de gordo.

– Conversarei com ela. Obrigado por incumbir-se dos cuidados ao longo do dia. – ele sorri e derrete vários corações que já estavam acelerados ali por perto. Afasta-se da professora, levando Yasemine pela mão e carregando a pequena Alda.

Outra professora aproxima-se e emite um gemido risonho.

– Como esse homem consegue ser tão lindo? O cara é o genro que minha mãe sempre pediu!

– A Rainha Má deve ter roubado este homem de algum outro reino. Talvez a verdadeira esposa ainda esteja chorando por ele. – Smila fala entre os dentes travados. Subitamente, observa Yasemine olhando para ela por cima do ombro, enquanto o pai abria a porta do carro para acomodá-las no banco de trás. – E aquela coisinha tem a mesma aura que a bruxa mãe. Os grandes venenos estão nos menores frascos.

– Regina não é mais aquela que conhecemos. É outra mulher depois do casamento e da maternidade.

– Uma vez Rainha Má, sempre Rainha Má. Sobretudo, depois de ensinar seus truques sujos para a Salvadora da cidade. Ela tem pupilas.

A outra professora toca o ombro da colega.

– Não se iluda e tire os olhos de cima do marido da prefeita. Você pode acabar sendo transformada em um sapo com pernas de avestruz.

As duas riem e iam afastando-se, quando a professora de Yasemine desequilibra-se e desaba sobre o soalho duro. Não havia tropeçado. Tinha sido empurrada por mãos fortes e invisíveis.

Quando Regina chega em casa, abre a porta e permite que Henry entre primeiro. O rapaz estava ávido por rever suas irmãs e queria muito cobri-las de beijos e mimos. Deixa a mochila no chão e ao caminhar para o ambiente onde ficavam os sofás, depara-se com Yasemine e Alda gargalhando e saltando para apanhar os pequenos blocos plásticos, que flutuavam como se fosse uma nuvem colorida. Yasemine mantinha os blocos no ar, usando as mãos espalmadas.

Mesmo chocado, o rapaz consegue ver graciosidade naquela cena.

– Henry está aqui!

As meninas gritam e correm na direção do irmão, esquecendo-se dos blocos coloridos que caem pelo carpete e sobre os sofás. Os três abraçam-se e entregam-se às gargalhadas.

Regina fecha a porta e alarga um sorriso ao ver a cena dos filhos brincando. Vê Vasco descendo a escada e trazendo o rosto as marcas da presença de dor. Mesmo assim, ele sorri.

– A Sra. Vargas teve de sair mais cedo e eu me encarreguei de terminar o jantar. – ele se aproxima da esposa e a abraça. Beijam-se por um momento significativo, até que ele se manifesta para afastar-se. – Você poderia servir o jantar? Preciso dormir um pouco.

Depois do jantar, Regina permite que os filhos vejam um DVD com desenho animado, enquanto ela iria organizar a cozinha. Sozinha no cômodo, aproveita-se da solidão e organiza tudo em questão de segundos, usando suas habilidades tão contestadas por Vasco. Acha graça em sua travessura.

Naquela noite, Regina perde-se em devaneio, observando os contornos do seu homem adormecido sobre a cama. Sua mente vagueia no tempo e retorna àquela noite em que o conhecera na colina. Depois daquela noite, a presença dele havia se tornado uma constante em seus dias. Recorda-se do momento em que Henry e Mary evocaram lembranças de como Vasco nascera para a vida humana. A primeira separação fora dolorosa, mas a primeira reconciliação antes do casamento tinha sido maravilhosa. O nascimento de Yasemine, o retorno de Robin para suas vidas e o envenenamento de Vasco. Seu marido tinha ficado em coma, morrido e trazido de volta, para não se lembrar de quem ela era em sua vida. O retorno da memória e a descoberta da gravidez de Alda. A vida tinha tomado o seu rumo dentro do elenco de personagens felizes naquele conto de fadas.

As filhas eram saudáveis e cada qual exibia sua personalidade peculiar. Yasemine era possessiva, dominadora e nutria uma dose de ciúme quase doentio pelo pai. Mostrava-se vingativa e paciente ao retribuir algum desagrado sofrido. Já a pequena Alda era serena e observadora. Muito madura para os seus dois anos e certamente deveria ser mais meticulosa que a irmã impetuosa. Era viver para conhecer melhor as suas duas preciosidades mirins.

Cora adoraria conhecer as suas netas. Herdeiras poderosas do clã das Mills. Caso Zelena não se preocupasse com coisas frívolas, poderia conviver com as sobrinhas e ensinar todo o seu conhecimento àquelas pupilas curiosas e ávidas por novidades.

Regina não consegue conter seus anseios. Debruça-se sobre o marido e começa a mordiscar os lábios dele. O homem desperta.

– Quando sinto o seu cheiro, eu me esqueço do que fizemos na última noite e quero me apossar de você como se fosse a nossa primeira vez. Tudo se torna novidade para mim e quero explorar cada um dos centímetros desse corpo. – ela sussurra ainda com os lábios colados aos lábios do seu amor. – Ainda bem que você é meu, Vasco, ou teria de roubá-lo de alguém.

E a noite é finalizada. Uma noite para ser guardada em sua mente e em seu coração. Regina não entende o motivo, mas se sente triste ao ver o marido adormecido sobre a cama. Algo aperta o coração dentro de seu peito e parecia gritar algo que não é nítido a ponto de ser entendido ou mesmo interpretado corretamente.

Era apenas angústia? Presságio? Intuição? Sexto, sétimo, oitavo sentido? Algo que somente as mulheres conseguiam sentir? Ou algo que somente as mulheres do clã Mills conseguiam antecipar?

Fosse o que fosse, não seria forte para roubar a sua família.


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Notas finais do capítulo

Julia Ormond como Professora Smila.



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