Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 56
O Início do Fim


Notas iniciais do capítulo

Bom, o nome do capítulo expressa bem o que estamos a vivenciar nessa fic. Estamos chegando aos momentos finais e críticos do envolvimento de Jenny e o credo. Eu quero pedir desculpas pela longo período de espera, mas minha filha está adoentada e os últimos dias estavam deveras cansativos. Graças a Deus ela está melhor. Agora vamos ao que interessa.

Apreciem a leitura!



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Cansada após fazer e refazer inúmeros cálculos a considerar todas as possibilidades que lhe vinham à mente, Jenny recostou suas costas na madeira dura da cadeira que lhe sustentava. Sobre sua mesa repousava um mapa oceânico que detalhava todas as ilhas do Caribe. Ao lado estavam as cartas náuticas de seu pai, que lhe serviam para deduzir as condições climáticas da região. A ilha de Nova Inagua era seu destino, uma ilhota com um cais e alguns casebres beirando a praia. Mas não importava a época do ano que decidisse partir, sua viagem levaria mais de uma lua e isso considerando ventos bons a bordo de um navio leve e rápido. Sem essas condições certamente a viagem levaria por volta de dois meses.

 

Liam não poderia se ausentar por tanto tempo de sua Irmandade e ela sabia disso. Ele era deveras fiel à Achilles. Mas a loira simplesmente não podia ficar ali esperando feito uma boa esposa. Mais e mais crescia dentro si uma vontade de estar de volta à ativa e não buscando respostas para um artefato a qual ela já havia perdido as esperanças. Além disso, Miko não lhe respondia a respeito de seu irmão, suas perguntas eram ignoradas e no fundo do coração ela sabia o porquê. Seu irmão estava agindo. Como? E aonde? Tais questões lhe perturbavam o sono todas as noites.

Se Miko sabia dessas respostas escolhera manter somente para ele e isso a fazia se sentir novamente uma criança ignorada pelos adultos que lhe rodeavam. Todavia, a loira se culpava por fazer o mesmo com Liam. Mas como ela poderia lhe revelar que seu próprio irmão era um Templário e lhe ajudou a matar Reginald Birch? De qualquer forma era tarde, ela já havia lhe omitido isso por muito tempo.

Seus olhos se concentraram novamente no mapa e não havia dúvidas, ela precisaria partir sem Liam se quisesse ir até Nova Inagua e quem sabe lá poderia obter mais informações sobre os passos Templários com a irmandade caribenha. Talvez até encontrasse mais pistas sobre a chave. Só lhe restava agora encontrar uma embarcação pequena e leve para levá-la.

— Amanhã começarei minha busca...

A Kenway se levantou e esticou os braços antes de apagar as lamparinas que iluminavam o local. Sozinha ela retornou até seu quarto e retirou as vestes para se deitar. Antes, contudo, ela verificou a compressa que ainda estava por antre suas pernas. Era o terceiro dia de sangramento. A loira respirou profundamente.

— O que Liam irá pensar quando souber disso?

Finalizando sua higiene noturna, ela por fim se deitou e adormeceu em pouco tempo.

 

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Jenny já não tinha muito dinheiro para barganhar com os donos de embarcações, isso quando de fato conseguia ser ouvida. Sozinha e sendo mulher por muitas vezes era ignorada pelos capitães e outras até mesmo recebia propostas deveras indecentes, mesmo que se apresentasse como uma mulher casada e provasse com o anel que recebera de Liam.

Todavia, uma dupla de irmãos donos de uma velha nau demonstrou interesse no percurso da loira, muito mais por estarem cansados de navegarem pelos mares gelados. Após uma longa manhã de buscas, decidiu-se para retornar até sua casa onde iria reunir todo o ouro que ainda lhe restava juntamente aos seus instrumentos de navegação.

— Me pergunto se Liam sabe que sua mulher anda a procurar por um navio no porto de Nova York.

Jenny cessou seus passos e se virou para encarar Hope que estava há poucos metros atrás de si.

— E quanto a mim resta a dúvida se Achilles sabes que estás a usar seus recrutas para vigiar meus passos.

— Tenha certeza que sim. Não é porque Liam lhe tomou como mulher que minhas desconfianças simplesmente desapareceram quanto a seu respeito. Ainda mais agora que estás a buscar uma embarcação de pequeno porte. Planejas voltar para Londres? Para sua decrépita irmandade?

— Talvez. Aparentemente há mais o que se fazer na minha decrépita irmandade do que ficar espionando outros Assassinos.

— A Inglaterra é um antro de Templários, o que me garante que não os estaria ajudando? Que não passa de uma farsa como seu pai fora enquanto se passava por Duncan Walpole.

Jenny riu secamente e se aproximou da mais jovem. – Acredite e mim, não queres falar do meu pai na minha frente estando eu tão armada como tu.

— Eu não tenho medo de tuas ameaças.

— Duncan Walpole também não tinha medo do meu pai e já estou a perder muito o meu tempo com essa conversa. Passar bem.

A Kenway se virou e retomou sua caminhada até as ruas da cidade, em sua mente ela tentava calcular quanto tempo teria até Liam descobrir sobre sua empreitada particular. Decerto Hope iria com muito prazer contar a ele. De qualquer modo, ela estava decidida e não havia nada que ele pudesse dizer que fosse capaz de lhe mudar a ideia.

Naquela tarde a Assassina fez as malas, escondendo seu par de pistolas por entre os vestidos enquanto a Hidden Blade permanecia todo o tempo em seu pulso direito. Em uma bolsa separada estava sua luneta, bússola e alguns mapas que usaria para manter o curso. Obviamente os donos da embarcação ainda não sabiam disso. Antes de dormir a loira passou boa parte da noite a escrever uma carta para Liam que ela deixaria uma em sua casa e outra com sua tia.

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Assim como na maioria das cidades, o movimento de pessoas pelas ruas reduzia drasticamente após as primeiras horas de lua. Todavia tal condição não tornava a cidade silenciosa, em alguns pubs, irlandeses cantavam e bebiam como se fosse a última noite de cada um deles. Ingleses não eram dados a esse tipo de hábito, mas havia sempre as exceções. E depois de deixar sua carta por debaixo da porta de Mirela que Jenny encontrou uma dessas exceções.

Seu vestido a denunciava como mulher mesmo na calada da noite e ainda que houvesse optado por seguir seus caminhos através das ruas mais vazias, Flyn e Mirela moravam em uma parte deveras movimentada e quando ela se virou para partir rumo ao porto um jovem de cabelos negros e olhos na cor verde esmeralda se pôs à sua frente

— Boa noite. – Ele disse sem parecer embriagado ou qualquer coisa do gênero.

— Boa noite. – Os olhos dela se atentaram à farda vermelha usada pelo rapaz e complementou. - Senhor.

— Uma mulher a caminhar sozinha a noite é uma visão deveras incomum aqui em Nova York.

— Pois não há com o que se preocupar, soldado, já estou de partida.

Ela passou por seu lado e apressou o passo, mas a voz do casaca vermelha lhe interrompeu a caminhada uma vez mais.

— É ainda mais incomum ver mulheres entregando recados a essa hora da noite. Esse bilhete lhe pertence? – O homem estendeu a carta na altura de sua face para que a ela a visse claramente.

— Como tu mesmo dissestes soldado, és muito tarde para despertar um casal de idade somente para entregar uma reles carta.

— De fato, mas há sem dúvida alguma urgência na entrega dela, ou poderia ter-lhes entregue a carta pela manhã. .

— Acontece, soldado, que estou de partida e não teria tal oportunidade. Agora se me dá licença...

Contudo, antes que ela terminasse suas palavras o rapaz lhe interrompeu novamente. – Kenway... Um nome bem incomum seja aqui ou na Inglaterra. Jeniffer S. Kenway. É como se chama não?

— E que diferença faz?

— Bom, preciso de um nome para procurar. Não posso deixar alguém suspeito perambular livremente pelas ruas da cidade. Mesmo uma inglesa como no seu caso. – Com tranqüilidade ele se aproximou dela e com o sorriso vitorioso lhe segurou o braço com força.

— Como eu disse estou de partida e não posso mais perder o meu tempo.

A Assassina não deixou barato e puxou de volta o braço, mas para sua surpresa ele continuava a sorri. – Se não vier por bem, então terei que levá-la por mal.

O soldado logo levou a mão direita para o punho da espada pendurada na cintura e enquanto ele deduzia poder tratar Jenny como uma mulher frágil e que simplesmente se aterrorizaria com o gesto, ela lhe acertou um tapa com as costas da mão em sua face esquerda. O soldado bufou em fúria e tentou repetir o gesto, mas a Kenway era sagaz e lhe segurou o braço antes que este lhe atingisse. Com a mão livre ela puxou a espada dele e se afastou o suficiente para permitir a espada ficar entre os dois.

— Agora, vire-se soldado.

— Não te atreverias. – Ele replicou ainda com o olhar em fúria.

A loira, todavia, fez sem pestanejar um corte raso sobre a farda vermelha na altura de seu peito. Uma linha vermelha escorreu por sobre a roupa dele e sua expressão mudou de bravura para espanto no mesmo instante.

— Sua...

Jenny levou a ponta da espada até a garganta dele, tocando-o ameaçadoramente. – Cuidado com a língua, ou eu posso tirá-la.

— És uma rebelde não? Certamente uma mulher inglesa e educada não se uniria a esses colonos hostis.

— Bom, não sou o tipo de inglesa que estavas a esperar. Agora, me obedeça e se vire de costas.

Com a cara amarrada e um olhar fatal, ele se virou e imediatamente ela pagou seus pulsos e desamarrou os cabelos para usar a fita que os prendiam para manter as mãos dele firmes e unidas atrás de suas costas. Por fim ela o acertou na nuca com a punhadeira da espada. O jovem caiu inconsciente e com um pouco de pressa a Kenway o arrastou para trás da casa de Mirela.

De volta à seu caminho, ela chegou ao porto e encontrou David e Jack Thompson. Os irmãos que aceitaram lhe levar até Kingstonw por uma quantia razoável de moedas. Sua bagagem já estava lá, fora levada mais cedo para evitar atrasos ou imprevistos de última hora.

— Já era hora... Pensamos que havia mudado de ideia. – Disse David já a subir em sua nau até que seus olhos recaíram sobre a espada na mão dela. – O que é isso aí?

— Um presente de despedida. – Ela passou por Jack que desfazia os nós que prendia a embarcação ao cais e subiu a bordo, ficando de frente para o capitão David. –Melhor partimos antes que os ventos mudem.

O velho homem fez uma careta e levou seu cachimbo à boca, dando uma tragada no fumo ali amassado. – Era só o que me faltava, uma criança a me dizer quando partir... – Ele resmungou consigo. – Vamos logo Jack! Não temos o dia todo!

O mais novo dos irmãos já enrolava as cordas e as jogava para dentro, correndo para adentrar na nau e tomar seu lugar a ajustar as velas. Em alguns minutos a pequena embarcação distanciava-se do porto de Nova York, rumo ao sul e seu calor aconchegante.

Após verificar se sua bagagem estava intacta e completa, a Kenway sacou sua luneta e bússola para se dirigir até o convés onde deu uma boa espiada, através do artefato que um dia fora de seu pai, no horizonte. De seguida ela checou à posição das estrelas e foi até o timão. David a observava com seu cachimbo no canto da boca e a expressão emburrada como de costume.

— O que estás fazendo menina?

— Checando nosso curso, mantenha em vinte e sete graus. Alguns mares ao sul são tempestuosos, não somos pesados o suficiente para aguentar um furacão, então melhor nos mantermos distantes desse clima.

— Aonde uma garota como você aprendeu sobre os mares? – Ele arqueou a sobrancelha alva e a encarou perplexo.

— Com o meu pai.

Jenny sorriu orgulhosa ao se lembrar dos agradáveis momentos que teve ao lado de Edward Kenway, lhe ensinando sobre o sul e o norte. Sobre as bestas marítimas e tudo mais que a fez acreditar que o mar era seu destino. Era lá aonde ela desejou tanto viver, mas seu pai tinha razão. O mar era a mais terrível das mulheres.

 

Abril, 1752 - Rio Valley

 

Após os últimos relatos de Adewale, Achilles enviou Shay, Liam e Chevalier a bordo do Morrigan para conseguirem mais informações sobre a caixa percussora. Com a ajuda de um espião de Louis-Joseph, os Assassinos descobriram que o objeto estaria sob a posse de Lawrence Washington, um Templário importante dentro de sua ordem. Cabia agora ao trio seguir a caixa e tomá-la para a Irmandade.

Tendo em vista a importância do passo que se sucederá, Achilles preferiu reunir seus principais alunos no Rio Valley. Hope e Kesegowaase partiram juntamente ao seu mentor para encontrarem os três que receberiam a seguir a tarefa de encontrar e pegar o artefato.

No topo de uma colina e sobre a sombra de um moinho o grupo de Assassinos se reunia por completo após meses. Davenport observava atento cada um de seus alunos, começando pelo nativo que lhe ajudava a manter as boas relações com os Mohawk. Na frente dele estava a jovem Hope que com maestria vinha administrando a base Assassina de Nova York. Chevalier estava um pouco afastado, observando o porto e como sempre Liam e Shay conversando. Seu primeiro aluno e também seu principal Assassino junto ao mais novo e mais problemático deles. Ainda que O'Brien o houvesse desobedecido e mantido um relacionamento com a filha de um pirata, ele certamente era seu melhor aluno em campo.

Chevalier relatou a respeito de tudo o que seu homem de confiança o havia dito. Lawrence tinha aliados e navegava naquele instante pelas águas fluviais com a caixa precursora. Seu Man'o War não poderia navegar por curvas estreitas e sinuosas, logo ficou a cargo de Shay e Liam encabeçaram a missão.

Sabendo disso, o espião de Louis-Joseph dera novas armas para serem equipadas ao Morrigan.

— Muito obrigado. – Respondeu Shay sem tirar os olhos no canhão.

— Não há de quê, espero que vos ajude bem. – O homem de cor de ébano lhe sorriu em resposta.

— Tenha certeza que nos será muito útil. – Disse Liam ao pegar o presente em suas mãos. – Shay, irei preparar o Morrigan para partir.

O mais novo lhe meneou levemente com a cabeça enquanto O'Brien já se dirigia para o sopé da colina. Entretanto um chamado inesperado lhe fez cessar suas passadas.

— Liam... Espere. – Soou Hope que se aproximava apressadamente do Assassino.

— Hope? – Ele arqueou a sobrancelha com nítida estranheza na face ao se virar para encará-la.

Frente a frente, a Assassina retomou o fôlego antes de lhe voltar a falar. Shay permaneceu próximo, tão curioso quanto o amigo e nenhum dos dois pareceu se importar com isso. De dentro de um bolso de seu vestido pesado ela retirou um papel dobrado.

— Sua mulher partiu de Nova York, achei que gostaria de saber.

— Que tipo de mentira estás a inventar agora Hope?

— Não minto, mas já esperava por tal reação por sua parte. Por isso trouxe isto.

Seus olhos indicaram o papel dobrado em sua mão esquerda. Liam olhou dela para o papel e por fim para ela de novo antes de recolher o que parecia ser uma carta. No envelope estava escrito seu nome na caligrafia de Jenny.

Liam,

Eu sinto se estás a ler essa carta longe de mim, mas eu já não podia esperar. Encontrei uma nau simples para realizar minha viagem e prevejo meu retorno dentro de quatro meses. Não intento em me demorar em minhas buscas. Imagino que estejas furioso comigo, mas lembre-se, por favor, que ainda sou tudo o que Miko tem para dar continuidade ao seu trabalho. Tal qual tu, não posso negligenciar meu dever perante meu mentor. Não depois de ele depositar todas suas esperanças em mim e não depois dele acreditar em mim, mesmo depois de tantos outros não o fazerem. Inclusive meu pai.

Eu irei voltar para Nova York, para nossa casa. Sinto que tudo está para mudar Liam. Só não sei bem ainda como será essa mudança.

Jeniffer O'Brien.

Shay se aproximou, preocupado com o silêncio e toda seriedade estampada na face do amigo. – O que é isso?

O mais velho ergueu seu rosto e encontrou os olhos curiosos de Cormac lhe interrogando em silêncio e tamanha ansiedade. – Uma carta de Jenny.

— Achas que ela está a falar a verdade? Que iras retornar? – Questionou Hope claramente satisfeita com o resultado de sua empreitada.

— O que eu acho não lhe importa, não quando se trata da minha vida longe do credo. Tenho certeza que Achilles já sabe dessa novidade não?

— Mas é claro. Ela não era uma relé civil e sim uma suspeita em potencial. Espero que percebas isso agora Liam.

A Assassina se virou e retornou tranquilamente para onde estava Kesegowaase e Achilles, na sombra do moinho velho que rangia o vento. A dupla de amigos ficou a lhe observar até reaver seu lugar ao lado do mentor.

O'Brien estendeu o papel amassado para o Assassino ao seu lado e rapidamente ele leu palavra por palavra, até que no fim de sua leitura ele esboçou um sorriso no canto dos lábios. – Não devias esperar menos dela, afinal era tu que dizias que desejava uma mulher de personalidade ao invés das muitas que conhecemos por aí.

— Shay, não entendes... – Liam inspirou profundamente e lentamente antes de continuar. – Tu melhor do que ninguém sabes que os mares entre as colônias e a Europa são agora campo de batalhas navais entre franceses e ingleses. Jenny está a bordo de uma simples nau rumo ao sul, onde a França também mantém colônias juntamente com Holanda e Inglaterra. Não importa o quanto eu a admire, ela ainda é uma mulher. Podes imaginar o que irá acontecer a ela se por ventura algum navio franco lhe abordar?

— Ela é a filha de um pirata e também de um Assassino, saberá se defender e se virar.

— Jenny ainda é procurada pela morte do Duque Philip, além da acusação de tentativa de assassinato de dois marinheiros ingleses quando estava sendo escoltada de volta para a Inglaterra. Há uma boa recompensa sobre sua cabeça

— Sabes para onde ela foi?

— Em seus mapas, Bahamas estava como seu destino. Mas há dezenas de ilhas lá...

— Não será a primeira vez dela viajando por aqueles mares, o que já é mais do que nós dois poderíamos fazer. Tenho certeza que ela voltará em segurança, agora temos que partir. Vamos.

Shay seguiu colina abaixo e seu amigo se pôs a fazer mesmo, mas seus pensamentos agora se flagelavam ao pensar aonde e como estaria a jovem Kenway. Sua saudade parecia ter inflamado feito uma vela cheia de ventos fortes e sua vontade mais íntima era de ir atrás dela. Mas a loira estava certa, ele tinha seu dever e precisava cumpri-lo. Ainda mais agora que estavam tão perto da caixa precursora.

 

Maio, 1752 –Nova Inagua

 

As águas cristalinas da praia lhe serviam como um potente calmante natural. Na varanda da antiga casa de seu pai a vista do paraíso se estendia diante de si. O último vestígio do tesouro de seu pai já estava na nau e lhe garantiria sustento por um tempo considerável, mas ouro fora tudo o que encontrara na velha casa. A construção estava tomada pela poeira e pelas traças, havia mofo crescendo em alguns cantos e a maior parte da mobília foi furtada. Sujeira era tudo o que restava do triunfo de Edward Kenway.

Graças a localização geográfica privilegiada da casa, não escolhida atoa pelo seu pai, ela podia ver toda a extensão da praia povoada por casebres. Perto do cais funcionava uma taberna ao ar livre que não coincidentemente ficava ao lado do bordel. David e Jack lá estavam bebendo e comendo tudo o que podiam com o pagamento que receberam. Voltariam para Nova York tão pobres quanto saíram.

A pequena nau dançava conforme o ritmo das ondas, amarrada por cordas e com as velas enroladas ao redor dos mastros. Jenny deu mais uma boa olhada no bordel com sua música alta e vozes alegres, embriagadas, mas ainda sim alegres. Já dizia o ditado que a situação faz o ladrão e talvez não houvesse melhor definição para os Kenways. Ao menos se dependesse de Jenny e seu falecido pai.

A loira deixou a casa e tranquilamente se dirigiu ao pequeno e simples cais que segurava o Unbroken.Um nome no mínimo ousado para um barco pequeno, quase uma insignificância perto de um Man'o War. Mas dadas as circunstâncias, suas opções eram deveras limitadas. Sem remorso algum ela desfez os nós das cordas e pulou no barco para preparar velas. Mesmo uma nau pequena apresentava dificuldade ao ser velejada por uma pessoa apenas, contudo a Kenway não iria longe e pretendia retornar em breve. Precisava voltar à Tulum.

 

Junho, 1752 – Tulum

 

Antes de a lua mudar a loira avistou a antiga ilha base dos Assassinos. As árvores ainda se mostravam densas e não havia um sinal de vida na praia. Desde que deixara Adewale para trás ao escolher ficar com Sexta-feira, nenhuma notícia daquele lugar lhe chegou aos seus ouvidos. Com maestria o curso da nau fora ajustado e a embarcação chegou à praia, onde ela a amarrou e jogou âncora água abaixo.

Jenny tirou as botas e puxou o capuz de seu manto por sobre a cabeça. Com a água a lhe cobrir metade do corpo, ela enterrou os pés na areia fofa e branca. Foram poucas e pesadas passadas para lhe por em terra firme novamente. O canto dos pássaros locais lhe encheu os ouvidos enquanto um macaco curioso lhe observava próximo à trilha que levava para a aldeia. A Kenway reuniu suas forças e foi a diante, mergulhando em um mar de lembranças que em sua maioria eram felizes, mas que ela preferia manter no limbo do esquecimento.

Mesmo antes de seus olhos encontrarem as velhas cabanas ela pôde ouvir vozes, todavia ao alcançar de fato o pequeno aglomerado de casas se deparou com negros e não Assassinos. Algumas dezenas deles pararam o que quer que fizessem e a encararam, homens, mulheres e crianças. Um deles se aproximou com nítida cautela.

— Eu já vi um capuz desses antes, mas eles se foram. Partiram e nunca mais retornaram. – Ele lhe disse em inglês.

— Os Assassinos? – Ele lhe acenou positivamente e com a expressão séria. – Ah Tabai está morto?

— Não sei quem é Ah Tabai, mas eu diria que sim. Eu e meus irmãos viemos fugidos para este lugar, pois nos disseram ser um lugar bem protegido e com outros de nós. Outros que lutavam pela nossa liberdade. Mas só encontramos essas casas vazias.

— Há quanto tempo?

O homem, que não devia ser muito mais velho que ela, olhou para o garotinho que observava os dois, meio escondido atrás de uma árvore e depois a encarou.

— Meu filho ainda estava dentro de sua mãe quando chegamos.

— Entendo. Eu vim de muito longe para entrar ali. –Jenny apontou para a ruína Maia que imperava no topo da escadaria.

— Um lugar perigoso, ninguém entra lá. – O homem lhe respondeu enquanto fitou a antiga construção.

— Não desejo muito e nem é a minha intenção exigir algo de seu povo, mas meu pai esteve aqui há anos e eu vim à procura de respostas.

— Meu povo não irá te impedir desde que não faça nada. Estás livre para ir.

O negro saiu de seu caminho e ninguém mais ficou entre ela e as escadas que levavam à entrada da ruína Maia. A loira assentiu levemente ao anfitrião e seguiu seu caminho sob os olhares curiosos de todos ao redor. Olhares temerosos. Afinal novamente ela era uma branca em meio às negros fugidos. Ex-escravos que estavam apenas à procura de uma vida de paz.

Seus passos ecoaram nas pedras que compunham os degraus, tomados pela vegetação rasteira e de frente a entrada, a loira se viu diante da escuridão. Diante das lembranças de sua juventude, diante da voz de Ah Tabai que ecoava alto, diante do riso de Anne Bonny. Seu peito de inflou e deixando de lado suas lembranças tristes ela adentrou o breu.

 

Julho, 1752 – Nova York

 

Fazia quatro meses que Liam não retornava para sua casa, mas tão logo Hope lhe informou, com a cara amarrada, que Jenny estava de volta e ele simplesmente não pôde resistir. Da chaminé de sua casa uma fumaça branca se alongava como magros dedos que tentavam alcançar as nuvens claras daquela tarde de verão.

No instante em que abriu a porta seu olfato captou o delicioso cheiro de cozido, o que o fez se dirigir diretamente à cozinha. Ainda no limiar do acesso ao cômodo ele a viu de costas, remexendo uma panela. Todavia, a loira não tardou a lhe perceber parado ali e se virou para encará-lo.

Sua tez estava mais corada do que a última vez que se viram, mas a dele provavelmente também estava. Parecia um pouco mais magra, mas não fraca e nunca frágil.

— Liam...

Em um inesperado gesto, ela lhe alcançou e envolveu seus braços em torno do pescoço dele. O Assassino lhe retribuiu o gesto, apertando seu corpo contra o dela. Seu cabelo cheirava bem e o rapaz se permitiu se embriagar pelo mesmo até ouvir a voz dela.

— Nada... Não havia nada sobre o artefato. Absolutamente nada. – Seus cochichos pareciam a beira de lágrimas.

— Eu sinto muito por isso. - O'Brien entrelaçou seus dedos entre as madeixas dela e lhe acariciou gentilmente.

— Miko não sabe. Ele não sabe que fui até Tulum e também Nova Inagua. Ele teme que eu seja capturada sejam por franceses ou ingleses.

— Também temi por você. – Ele a afastou o suficiente para lhe fitar os olhos. –O que fizestes fora uma completa loucura. Sair pelos mares com a guerra que estamos a pelejar em uma velha nau mercante? Mesmo uma canhoneira poderia lhe derrubar.

— Quanto menor e mais leve o barco, mais rápida seria a minha viagem. Veja só, fui e voltei em três meses. Não queria me demorar mais que o necessário.

— E o que iria acontecer se fosses capturada? Miko disse que não conseguiria lhe salvar da forca uma segunda vez.

Ela abaixou os olhos e após um pesaroso suspiro lhe respondeu em tom baixo. – Eu não podia esperar que retornasses porque...

— Porque estava cansada de sua pesquisa não gerar resultados como tu esperavas, pressuponho.

— Não Liam, há uma coisa que preciso lhe falar.

O Assassino franziu o cenho e cruzou os braços frente ao tórax. – O que?

— Lembra-se quando eu havia lhe dito que não podia mais ter filhos? – Ela enfim reergueu os olhos e o encarou em sua expressão desconfiada.

— Disse-me que havia perdido um bebê ainda em sua barriga e isso lhe deixou graves sequelas. Sim, me recordo.

— As sequelas não existem mais.

— O que isso quer dizer Jenny? Eu não compreendo.

— Quando a lua torna-se nova, sangue escorre de dentro de meu ventre, assim como antes. Assim como quando eu era jovem.

A face de Liam passou de desconfiada para plena surpresa, seu maxilar nem mesmo fora capaz de manter seus lábios unidos. - Como isso é possível?

— Eu não sei. Não sei o porquê e nem como. Aconteceu há três meses.

— Então agora podemos ter filhos?

— Eu não sei Liam, podemos? Como dissestes, estamos no meio de uma guerra. Eu não quero chorar a perda de um filho de novo.

— Tu estás segura aqui. Nova York pertence aos Assassinos. - Jenny lhe olhava com melancolia, seus olhos denunciavam sua vontade falar, mas sua boca nada mais disse. – Confie em mim.

— Não posso Liam, não enquanto seguir Achilles cegamente. Não enquanto não perceber que só estão atraindo os Templários ao recrutarem mais e mais pessoas. Logo eles verão o risco e atacarão. Nem mesmo Achilles está preparado para encarar uma ofensiva Templária, mas ele insiste em ignorar os avisos de Miko. Eu posso ficar aqui e esperar por ti, mas não me peça para envolver uma vida inocente nisso.

Jenny se virou e voltou para a panela onde fervia alguns legumes com pedaços de carne, logo estaria pronto. Enquanto isso Liam a deixou para retirar as roupas sujas, refrescar a pele com água fresca em um bom banho e remoer as palavras dela dentro de sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

E quem era esse casaca vermelha de cabelos pretos e olhos verdes hein? rs

Hope é mesmo uma odiosa botando intriga entre esses dois. Agradecimentos especiais à BadWolf que me ajudou com essa parte.

Mas Jenny realmente foi um pouco irresponsável e ainda foi sacana deixando os donos da Nau em Nova Inagua.

Bom, a irmandade Caribenha se diluiu à nada depois da morte de Ah Tabai. Anne já estava morta e Adewale envolvido com a união francesa... A frota inglesa certamente subjulgou Tulum e Inagua sem maiores dificuldades.

E parece que o relacionamento de Jenny e Liam não anda nas melhores épocas né... Esperemos para ver como isso terminará.

A boa notícia é que o próximo capítulo já está pronto e sai semana que vem ok? Uma recompensa pela longe espera de vocês.

Comentem abaixo o que estão achando dessa reta final.

Beijos e até o próximo capítulo.



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