Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 41
Quebradora de Correntes


Notas iniciais do capítulo

O título do capítulo é uma referência muito forte e direta à GOT. A verdade é que a 3ª Season de GOT foi muito inspiradora para o capítulo abaixo e espero que gostem.

Capítulo grande para recompensar o último e bom começo de semana a todos!



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Havia uma dúvida em Jenny quando ela olhou para o céu que tornava-se escuro rapidamente naquele dia, pois a noite seria sem lua e isso em mar era um terrível mal presságio. Mas Jenny não estava navegando, não estava a mercê de uma abordagem surpresa ou similaridade que a vida em alto mar carregava junto aos louros. Ela deixou Joaquim assim que chegaram à estalagem e de alguma forma mirabolante o bom homem havia conseguido vender todos os seus abacaxis. Ele tinha seu dinheiro e poderia partir, mas a jovem lhe prometeu justiça.

Pelas ruas do porto ela caminhava quase que tranquilamente, não havia capuz ou a mera necessidade deste e em prol de sua simplicidade optou por não cavalgar, pois de certo chamaria menos atenção. Seu ritmo até os limites da cidade era uniforme, mas quando as matas voltaram a ser predominância perante as construções, então a estrada convencional foi abandonada.

A Kenway escalou as árvores que rodeavam a estrada de barro, seguindo pelos galhos feito uma sombra indistinta. A temperatura caiu e as folhagens rebatiam contra o seu rosto, como se tentassem expulsar a intrusa dali. Mas seu nariz não se engana, vinha chuva.

Era difícil calcular o tempo sem a posição da lua como indicativo, mas a loira calculou um pouco mais de uma hora desde que deixou a cidade até ter em vista uma vasta plantação, coroada com um bonito casarão no horizonte. Algumas lamparinas se moviam pela extensão da fazenda e pela velocidade ela concluiu por serem homens, provavelmente guardas. 

Jenny saltou ao solo e pulou a precária cerca de madeira que informava que a partir dali ela estava invadindo propriedade privada. Logo ela estava percorrendo por entre a vegetação do plantio, evitando as luzes que indicavam a proximidade de alguém.

Há pouca distância do casarão ela por fim viu o que deveria ser a senzala. Um grande galpão resumiria bem o que era a morada dos negros escravos. Jenny estava prestes a deixar o abrigo da plantação quando ouviu a porta da senzala abrir e passos saírem do local. Ela aguardou e observou um homem puxando uma garota pelo pulso. A senzala foi fechada e ele a levou ao estábulo poucos metros mais a leste. Jenny os seguiu ainda oculta pela vegetação alta e ouviu a voz do homem logo a seguir.

— Fique tranquila, os outros estão fazendo a ronda. Seremos só eu e você.

A garota estava pressionada contra a parede de madeira do estábulo e colado a ela estava o homem segurando seu quadril com uma mão e abrindo a fivela do cinto com a outra. Não houve qualquer som da negra, qualquer palavra de súplica ou mesmo um choramingo qualquer.

Ainda que se arriscando passionalmente apenas por dar crédito ao fato do homem mencionar que estariam sozinhos, Jenny deixou a mata e feito um felino prestes a atacar, seus passos eram inaudíveis a qualquer um preocupado em conseguir uma foda rapidamente e gratuitamente.

— Fique tranquilo, os outros estão fazendo a ronda. Seremos só eu e você.

Ela cochichou próximo a orelha dele para seguidamente lhe penetrar tal qual ele fazia a negra paralisada logo a frente. A jugular dele espirrou sangue que sujou tanto Jenny quanto a jovem que agora se virava em um misto de horror e surpresa. Seus olhos iam do corpo caído ao chão para os olhos de Jenny que brilhavam em meio ao púrpura.

— Sinto muito.

Após refletir sobre aquela noite, Jenny se arrependia por ter dito aquilo. A verdade é que ela não sabia o que fazer com a jovem agora. Até que esta em um ímpeto a abraçou sem pensar ou cogitar a mera possibilidade que ela própria poderia ter igual destino ao homem que ali jazia em seus pés.

— A quem eu devo ser grata?

Jenny estava ainda mais perdida que antes com tamanha pergunta e gratidão expressa nos olhos lacrimejados daquela jovem. Mas a sorte podia virar a qualquer instante e ela não tinha muito mais tempo a perder em sua busca. A lâmina foi recolhida em um tilintar rápido antes dela se pronunciar.

— Estou procurando por uma negra. Uma recém-chegada aqui, seu nome é Mabuba.

A garota espantou-se ao ouvir aquele nome, o que era bom sinal, pois significava que o reconheceu.

— Ótimo, parece que a conhece. Ela está lá dentro com os outros?

A escrava desviou o olhar de Jenny para o casarão alguns metros atrás da Kenway e depois voltou a encarar a loira. – Sim, por enquanto. Assim que a sinhá tirar os olhos do marido ele irá vir buscá-la para...

— Já entendi. Pode me levar lá dentro?

A jovem assentiu e tomou a frente da breve caminhada até o interior da senzala. O local estava mergulhado em breu, haviam algumas fendas entre as tábuas de madeira que permitia a entrada de alguma luz, mas a lua não estava presente naquela noite e as luzes do casarão não eram o bastante para iluminar o local.

Mesmo com sua visão aguçada, Jenny mal via contornos de corpos não fosse o baixo som da respiração do que ela calculou ser três dezenas de escravos. A princípio ninguém se preocupou com o som dos passos dela e da outra negra, pois muito provavelmente visitas noturnas deviam ser costumeiras. Sem alternativas e querendo poupar tempo, a Kenway optou pelo jeito mais fácil de localizar alguém.

— Mabuba, sou eu. Reconhece a minha voz?

Houve movimentação ao fundo do lugar, alguém estava se erguendo lá, mas outros ergueram suas faces, certamente surpresos com o estranho questionamento, ainda mais de uma voz estranha, nunca antes ouvida ali. Uma voz feminina.

— Você não pode ser quem diz ser.

Jenny não teve dúvida de que aquele timbre pertencia à Mabuba e para sua surpresa, sua voz não estava fraca ou baixa. Ela falou com a mesma potência e atitude que falaria com qualquer um na tribo.

— Tenho certeza que você preferiria ouvir outra voz ao invés da minha. Provavelmente acreditava que assim como minha filha eu havia morrido no ataque não é mesmo?

Passos lentos aproximavam-se de Jenny, mas mesmo a curta distância entre elas não auxiliava para uma enxergar a outra. E repentinamente a Kenway sentiu dedos tocarem a sua face e consequentemente se sujarem de sangue. Sua lâmina oculta se ejetou, mas seu pulso continuou soltou junto ao seu quadril.

— Tente qualquer gracinha e eu juro que a minha voz será a última coisa a ouvir antes de morrer.

Os dedos se afastaram e por instantes o único som no local era o da respiração de ambas. – O que você veio fazer aqui?

— Vim atrás de respostas. – Jenny respirou fundo e junto ao ar expeliu tudo o que lhe tirava o sono. – Quantos homens você matou em seus ataques?

— Se refere aos caçadores de negros e capatazes? Aos homens que ameaçavam o meu povo com suas buscas cada vez mais invasivas nas matas? -  Mabuba falava arrogantemente e sem o mínimo arrependimento em sua voz. - Quanto a eles, posso dizer que algumas dezenas. Por que uma Assassina se importaria? Não são vocês que pregam sobre “ Tudo é permitido”?

— Tu não podes querer compreender isso tão superficialmente e eu nunca fui uma Assassina, não menti a vocês quando disse que a Irmandade nunca me aceitou. Contudo, o mesmo não pode ser dito quanto a sua franqueza. Uma última pergunta, há poucos meses matou um jovem com cabelos loiros feito os meus e pele clara que procurava por alguns negros próximo a estrada?

— A descrição me parece familiar...

— Era tudo o que eu precisava saber. Vamos embora, sua Velha está te esperando no que restou da tribo.

Mabuba deu dois passos a frente e apoiou as mãos sobre os ombros de Jenny, balançando a mesma em um gesto impulsivo de ansiedade.

— Ela está viva? Ela realmente está viva?

— Foi sua Velha que garantiu que eu vivesse apenas para vir buscar sua neta ingrata que trouxe desgraça à sua tribo que vivia em paz há tantos anos. Sim ela está viva, lamentando cada dia cada morto, cada família, cada choro causado pela sua insensatez. Ou você achou que matar aqueles homens não chamaria a atenção, não geraria represálias?

— Você não tem direito de dizer qualquer coisa, pois eles não eram o seu povo. A sua família!

— Onde está a sua família agora? E seu povo?

Após o silêncio da negra diante de questionamentos tão reflexivos quanto aquele, não havia mais o que ser feito se não abaixar a cabeça e aceitar a humilhante derrota.

— Vamos logo embora, antes que apareça alguém.

Jenny segurou firmemente no braço de Mabuba e se virava para partir, mas uma mão lhe parou a altura de seu peito.

— Espere... E quanto a nós? Irá nos libertar também?

Era a voz da mesma jovem que salvara há poucos minutos, ela estava na sua frente, lhe barrando seu caminho rumo à saída.

— Libertar vocês?

— Por favor! Não pode nos deixar aqui após matar aquele homem. Seremos todos açoitados como castigo.

— Mas que porra.... Não consigo fugir com tantos assim. Não posso ajudá-los.

— Você viu com seus olhos o tipo de sofrimento que precisamos aguentar, veja ao seu redor e ficará claro que os cavalos são mais valorizados do que nós. Por favor, não vire as costas.

Jenny olhou nos olhos da jovem e suspirou diante dos fatos incontestáveis. Ela precisava ajudar.

— Escute aqui, eu não posso garantir nada mais que uma distração, terão que fugir por conta própria.

— Obrigada. – Ela sorriu docemente como agradecimento.

— Está bem, você me deve um favor e eu o irei cobrar agora entendeu? Venham as duas comigo.

Jenny tomou a dianteira rumo ao exterior da Senzala com as duas negras logo atrás de si. Por sorte nenhum outro guarda veio trocar com o homem agora caído próximo ao estábulo. Sua pele já estava pálida e os músculos endureciam aos poucos quando a Kenway recolheu o corpo e o jogou por entre a vegetação do plantio. Enquanto isso as duas escravas mantinham-se escondidas na baia de um dos cavalos a espera do retorno daquela que estava sendo até então sua melhor chance de liberdade.

O curto assobio da loira lhes sinalizou para saírem e trazerem o animal junto. O baio era manso e seguiu as duas calmamente para trás do estábulo. Alguns metros mais a frente a cerca separava as árvores de copas altas do terreno da fazenda.  

— Vocês ficam aqui. – Ela olhou diretamente para a escrava mais nova e lhe cedeu às rédeas do cavalo. – Se Mabuba tentar fugir quero que a impeça a todo custo entendeu?

Ela assentiu ao passo que Mabuba as observava seriamente, mas antes de ter a chance de retrucar tais orientações alguns passos denunciaram a aproximação de alguém.

— Pedro? Mas onde diabos o Pedro foi com aquela escrava?

As três ficaram em silêncio a espera que o homem simplesmente partisse, mas um relincho desavisado do cavalo junto a elas chamou a atenção do homem.

— Puta que merda, era tudo o que me faltava: um cavalo fujão.

A Kenway contou os passos do homem que logo as encontraria, por isso se posicionou no limite da parede do estábulo e assim que ela viu a perna dele ao seu lado estendeu a mão para puxar a blusa trajada por ele. Uma boa cabeçada no centro da testa do guarda o pôs inconsciente no instante seguinte. O homem desabou e de sua mão caiu uma tocha quase como um presente para Jenny.

As escravas arrastaram o corpo do guarda para atrás do estábulo enquanto Jenny observava o corte superficial na testa dele sangrar lentamente. – Você o conhece?

— Sim. Provavelmente veio trocar de posto com o outro.

A loira se abaixou e vasculhou pelo cinto do homem até encontrar uma pistola e sacá-la para si. – Prestem atenção, precisarão manter esse cavalo firme até que eu volte, pois tudo ficará um caos a partir de agora.

Jenny as deixou e voltou para a senzala, lá encontrou todos os escravos de pé e lhe observando, e pela primeira vez em anos ela sentiu um frio na barriga. Ela já havia dado ordens a bordo do Gralha, mas aqueles eram homens livres que viviam cada dia como se fosse o último. Agora ela olhava para um grupo de homens que clamavam para não morrerem ali. Sua face agora era nítida a todos eles pelas chamas que crepitavam na tocha. Assim como ela podia ver os rostos daqueles que estavam mais próximos a ela.

— Terão que ser silenciosos, escondam-se pela plantação. Mantenham as cabeças abaixadas e andem em grupos pequenos. Não posso matar todos os guardas da fazenda, por isso tentarei atraí-los para cá e assim deixar as cercas livres, mas eles irão atrás de vocês assim que perceberem a fuga. Estarão por conta própria...

— Faremos como você nos dizer para fazer.

— Ótimo. – Ela respirou fundo, no fundo ela torcia para não receber resposta como aquela, mas era tarde demais.  – Vão em grupos de quatro, espalhem-se assim que estiverem abrigados pelo plantio e se alguém se aproximar demais, bom, não permitam que denunciem vocês.

Jenny reuniu quatro homens jovens para ir primeiro enquanto ela vigiava outros guardas mais distantes. Assim que eles se misturavam às folhas ela liberou mais quatro e assim ocorreu mais sete vezes. Quando por fim a senzala estava vazia ela foi até o fundo desta e com a tocha baixa passou por toda palha até chegar a saída novamente. A fumaça tomou o local e o fogo apoderava-se pouco a pouco da construção quando Jenny começou a gritar e sinalizar.

— Fogo! Fogo!

Os outros guardas moviam-se de pressa em sua direção, deixando assim a fazenda às escuras em outros cantos. Era o momento dos escravos fugirem sem serem vistos.

— Mas o que houve aqui?!

Jenny se virou para a voz potente que vinha de sua esquerda, era um homem bem vestido, com bigode e cabelo bem aparado logo não poderia ser um guarda e sim alguém da casa grande.

— Os escravos?! Onde eles estão?! Há alguém lá dentro? – O homem estava furioso ao tentar enxergar no interior fumacento da senzala e nada enxergar. Ele se virou para Jenny e continuou aos berros. – Como isso veio acontecer?! Onde estão os meus escravos?!

— Eu não sei senhor. Quando cheguei para trocar de turno Pedro não estava aqui e o local já fedia a fumaça.

Quando ela notou estava rodeada por uma dezena de guardas e capatazes que olhavam atentos para o homem que agora ela sabia ser o Senhor daquelas terras.

— O que estão esperando?! Vão atrás dos meus escravos!

Os homens se espalharam e Jenny aproveitou para seguir até onde Mabuba e a outra escrava lhe aguardavam, mas havia mais três homens indo na mesma direção. Sem um plano melhor, ela se aproximou de um e sutilmente ejetou sua lâmina contra as costas do homem que nada proferiu em meio ao caos. Os outros dois não deram conta e ela teve tempo de recolher a Hidden Blade e sacar a pistola das calças de sua vítima. Agora com duas pistolas ela mirou covardemente contra as costas os dois que seguiam a frente e atirou.

Foi quando o pandemônio começou. Ambos caíram e os tiros chamaram toda a atenção para si. O sino começou a tocar e o Senhor gritava desesperadamente.

— Traidor!

Sem olhar para trás, ela correu para trás do estábulo e um tiro atingiu a parede de madeira poucos centímetros de sua cabeça. Mabuba e a outra negra lhe olhavam estarrecidas e sem dizer nada, Jenny tomou às rédeas e montou no animal.

— Suba Mabuba! E você vá para as matas enquanto distraio o Senhor.

A escrava correu sem pestanejar e pulou a cerca para se embrenhar pelo verde enquanto Mabuba se erguia sobre a lombar do equino logo atrás de Jenny.

— Eu não permitirei que fujam!

Gritou o Senhor assim que vira o “traidor” junta a uma escrava sobre o seu melhor cavalo de corrida. Ele fez pontaria com a outra pistola, mas Jenny esporou as costelas do pobre animal e o acelerou na direção do Senhor. Ele não desviou, descrente de que seria atropelado, e quando destravou o gatilho para atirar, a Kenway apenas fechou os olhos e se abaixou.

Não houve tiro no instante seguinte e seus olhos apenas puderam ver o corpo do Senhor abaixo da poeira levantada pela corrida. Mas os outros guardas também estavam armados e atiravam contra ela que continuava a incentivar o cavalo para frente, por entre as plantações até alcançarem a estrada novamente.

O baio corria feito uma besta desesperada pela escuridão, mas a estrada tinha a terra plana e batida devido o uso constante promovendo certa confiança. Os gritos e tiros ficaram para trás, mas Jenny sabia que era por pouco tempo. Por isso manteve o ritmo do galope até chegar à cidade novamente, no que se mostrou ser uma breve corrida de poucos minutos em alta velocidade.

Quando enfim chegaram à cidade portuária, ela desceu com Mabuba e espantou o cavalo para longe enquanto observava o céu carregado de nuvens. Choveria em menos de uma hora.

— Vamos! Vamos! Não temos tempo.

Jenny se virou para Mabuba e só agora, com a ajuda das tochas e lamparinas espalhadas pela cidade que ela pode ver bem como estava a melhor das guerreiras da tribo. Havia hematomas e arranhões em seus ombros e braços, mas o rosto estava intacto. Os trapos sujos permitiam ver ataduras em ferimentos no abdômen e foi com horror que ela percebeu as marcas de mordidas nos seios da negra.

— Os homens são como bestas quando estão excitados.

Foi tudo o que ela disse ao perceber o olhar analítico dá loira sobre si. A Kenway engoliu a seco e se virou para focar no restante do plano.

— Siga-me silenciosamente e mantenha-se sempre nas sombras.

Jenny e Mabuba se esgueiravam pelos armazéns, lojas e estalagens. Esperando quando outras pessoas passavam pelas ruas e preferindo seguir pelos becos e vielas sujas de lixo. Por sorte, começou a chover e o movimento nas ruas diminuiu, permitindo um melhor avanço por elas. A essa altura os guardas já haviam chego e vasculhavam a cidade.

A Kenway entrou no estábulo aos fundos de onde Joaquim permanecia hospedado. Ela e Mabuba estavam encharcadas, ao menos a chuva proporcionou certa limpeza em seu rosto que antes manchava-se de sangue e fuligem. Jenny puxou a negra pelo pulso e entrou pelos fundos do prédio, seguindo diretamente para as escadas até chegar ao quarto do bom vendedor de abacaxis. Ela bateu na porta e logo ouviu um murmúrio do homem ao destrancar a fechadura e lhes receber com um semblante sonolento.

— James? - Seus olhos se arregalaram de espanto ao ver o estado do “rapaz”. – Por Deus, o que houve com você? E quem é essa?

— Vamos conversar lá dentro.

Joaquim abriu passagem e Jenny empurrou Mabuba para dentro para fechar a porta logo após ela mesma entrar. Sua Hidden Blade ressoou ao ser ejetada ao passo que Joaquim parecia mais confuso e espantado a cada momento.

— O nome desta mulher é Mabuba e ela era a líder de um grupo de caça. Há pouco tempo um outro membro desse grupo me disse que eles caçavam mais do que animais. Ela talvez possa falar de seu filho, por que não o descreve para ela?

— Jorge? Ele se parecia com você. Pele branca, cabelos loiros e bagunçado. Era dá mesma altura, mas era um bocado mais forte.

— Matou esse homem? – Questionou Jenny ao se virar para encarar a negra.

Mabuba abaixou a cabeça, seus olhos cor de mel se fecharam, mas seus lábios se abriram. – Íamos conferir nossas armadilhas e foi quando em uma delas havia esse homem... – Ela pausou sua voz e continuou após a Kenway lhe cutucar. - Ele não estava preso, mas sim atento e pelo seu jeito soubemos o quê procurava. Estávamos há poucas horas de nossa tribo e decidimos por...

— Por matarem Jorge? – Completou Jenny ao perceber e hesitação de Mabuba.

— Deixá-lo vivo significava expor nossa tribo. Nossa localização e nossa segurança estariam perdidas. Decidimos por atirar. Deixamos seu corpo longe de nossas terras, pois sabíamos que viriam atrás dele. Mas não foi o suficiente no fim.

Os sinos das igrejas começaram a tocar e uma agitação crescia do lado externo da hospedagem. De certo já haviam sido espalhadas as notícias sobre o ataque na fazenda do capitão e a fuga de seus escravos.

— Mas o que está acontecendo lá fora? – Joaquim se aproximou da janela e de lá viu homens a cavalo percorrem as ruas debaixo da chuva.

— São os guardas e caçadores de escravos. - Respondeu Jenny a ele. – Prometi lhe trazer justiça e aqui está a voz que deu as ordens que tiraram o seu filho. – Ela ergueu a lâmina próximo ao pescoço da ex-escrava e esta não reagiu diante do que parecia ser o seu fim.

Joaquim se aproximou de Jenny e Mabuba. Seus olhos recaíram sobre a negra que mantinha a cabeça abaixada. Estava deplorável e parecia assumir seu destino sem relutância.

— Eu a perdoo.

O bom homem tocou levemente sobre o ombro dela. Mabuba abriu seus olhos e ergueu a face para olhar diretamente nos olhos dele. Olhos de compaixão que ela nunca pensou que viria em um homem branco para com uma negra.

Jenny recolheu a sua Hidden Blade e assentiu à Joaquim. – Sabia que faria a escolha certa, senhor. – Ele lhe sorriu gentilmente em resposta a ela. – Mas tenho um último favor a pedir. Deixe-a no local onde me encontrou, por favor.


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Notas finais do capítulo

Eu diria que Jenny começa a afastar a sombra do que foi o pai dela para ela própria criar sua identidade e ter seus próprios ideais.

Espero não ter decepcionado quem esperava tortura e sangue, Foram possibilidades que passaram pela minha cabeça, mas achei que a humilhação de Mabuba foi o suficiente.

Bom, agora Jenny está presa em uma cidade rodeada de homens lhe procurando e voltar para as terras selvagens não é um opção.

No próximo capítulo teremos Jenny saindo de uma confusão para cair nas garras do leão.

PS.: Leão só no modo de dizer ta? rs

Por fim quero agradecer aos novos leitores por esse incentivo a mais. Beijos e até o próximo capítulo.

Aliás, contagem regressiva para o tão aguardado reencontro Kenway.



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