Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 37
A Queda do Reino Matamba


Notas iniciais do capítulo

Olá! Um pouco atrasada, mas aqui estou eu com esse capítulo que será um divisor de águas. Preparem seus lenços... Nos vemos lá embaixo.



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Jenny passou os seguintes dias com os braços quase o tempo todo ocupados, hora dando de mamar, hora botando pra dormir, hora botando para arrotar e às vezes apenas para acalentar o choro de causas desconhecidas. Seu cansaço estava estampado em suas olheiras de noites mal dormidas e sequências de horas dormidas mal aproveitadas. Sexta-feira tentava ao máximo ajudar, trazendo comida ou ajudando no banho e em momentos que a natureza chamava, mas seu peito era duro e não macio e quente como o colo de uma mãe. Jenny deu tudo de si para Nala e certamente sua mãe e mesmo Bonny estariam orgulhosas, mas ser mãe tinha um custo alto. Os dias transformaram-se em semanas, semanas em meses e meses em anos. A jovem Kenway abandonou a vida de aventuras no topo de árvores por jornadas de brincadeiras infantis que ela sempre negou ao irmão mais novo.

Nala cresceu forte e habilidosa, tinha aulas de português e da língua local pelo pai e da mãe recebia aulas de inglês diariamente, o que a tornava diferente das outras crianças de sua idade.

– As outras crianças chamaram de coisa do demônio, mama. – Nala anotava em um pedaço papel palavras em inglês sobre a supervisão da mãe.

– Elas não entendem e não as culpe, pois elas nunca viram algo assim antes. – Jenny a olhou com ternura, nunca vira criança tão bonita quanto a sua filha.

– Elas não gostam de brincar de pique esconde comigo porque eu consigo ver onde estão escondidas e elas não. Por que sou assim mama?

– É um dom da nossa família, dos Kenways. Não deve se envergonhar, mas evite falar disso com as outras crianças. Elas irão esquecer com o tempo. – Jenny lhe cedeu uma piscadela e ambas riram em cumplicidade.

Sexta-feira adentrou a cabana e tomou para si a atenção de ambas, Nala lhe recepcionou com um apertado abraço nas pernas, visto que a menina era baixinha se comparada as crianças de sua idade.

– Papa! Como foi a caçada? – Ela ergueu a face com um sorriso estampado e seu pai ostentava a mesma alegria.

– Por que não vai lá fora dar uma olhada? Teremos um belo jantar hoje.
Ela lhe assentiu e seu pai esfregou a mão em seus cabelos cacheados. De seguida, Nala correu para fora, já chamando pelas outras crianças para verem a caça conquistada por seu pai.
Jenny aproximou-se dele que já não era um jovem como o conhecera. Agora seu amado ostentava uma barba rebelde e cabelos crespos e volumosos . Além disso, como fruto de suas caçadas, havia cicatrizes aqui e ali. Mas seu sorriso perfeito continuava o mesmo.

– Ela é orgulhosa igual a você. Deve ser algo da sua família. – Ele lhe comentou após receber um rápido beijo de boas vindas.

– Certamente é.

– Me pergunto se você era assim e se era gostaria de apertar a mão de seu pai pessoalmente e parabenizá-lo.

– Ela é uma Kenway nata. A boca dela é igual ao do meu pai e o nariz é de Haythan. – Jenny suspirou ao mencionar o irmão que a aquela altura já devia ser um rapaz grande e bonito.

– Não se martirize por causa disso, fizemos o que pudemos. – Ela lhe olhou brevemente e desviou os olhos em seguida.

O casal permaneceu em silêncio por um tempo, apenas observando as crianças da tribo brincarem de correr uma atrás da outra, até Sexta-feira voltar a se pronunciar.

– Tenho más notícias... – Ela voltou a lhe fitar e ele prosseguiu. – A rainha Ana II declarou a invasão de Portugal como ato de guerra. Matamba está oficialmente em confronto com Portugal.

– Mas... E quanto aos tratados feitos? – Ela se virou para ele com os olhos espantados, deixando de lado toda a cena lúdica que via no instante atrás.

– Ana quer a independência de Matamba. – Jenny deu alguns passos para trás e sentou-se na cama que compartilhava com Sexta-feira e uma de suas mãos repousou sobre a barriga que começava a crescer devido à segunda gestação. – Se acalme Jenny, não fique aflita por antecipação. Nossa tribo é bem protegida pela floresta e pelo rio Kwanza. Além disso, vivemos juntos a animais selvagens. Não acredito que os Portugueses cheguem aqui.

– Eles já chegaram uma vez. – Ela lhe fitou apreensiva, fechando ambas as mãos para assim tentar conter sua apreensão.

– Há muitos anos, eu era uma criança apenas. Tenha calma, Mabuba e seus guerreiros são bons e não há nenhuma vantagem para eles conquistarem esse pequeno pedaço de terra seca. – Percebendo que suas palavras não estavam surtindo o efeito esperado ele se aproximou e lhe estendeu a mão. - Vamos lá fora um pouco e verá que nada mudou.

Sexta-feira auxiliou sua mulher a se levantar, ainda que a barriga não fosse pesada o suficiente para tal e juntos ganharam o céu da tarde ao som das vozes de crianças que corriam de um lado para outro até que uma delas gritou insatisfeito com Nala.

– Nala! Subir em árvores não vale.

– E quem disse que não vale? – Gritou ela em resposta para o menino logo abaixo de si.

– Porque ninguém mais sobe em árvores a não ser os macacos. - Nala passou a imitar um macaco se coçando no galho que lhe sustentava e ao longe Jenny ria da situação.

– Eu disse que não devia ter escalado na frente dela. – Comentou Sexta-feira com sua voz sempre calma e retilínea.

– Uma hora ela iria aprender.

– Você está grávida, não pode continuar a subir em árvores ou erguer espadas, como eu sei que faz.

– Ainda consigo me mover e Nala poderá aprender tudo o que sei, desde que ela queira.

– Está criando fantasias nela como seu pai criou em você.

– Eu darei a ela a chance que meu pai nunca me deu.

– Seu pai lhe poupou de uma vida de dor e perdas, mas ainda assim todo seu esforço foi em vão.

Jenny se virou para Sexta-feira com um olhar furioso e lhe respondeu em um tom baixo. – Se meu pai tivesse me dado uma espada ao invés de uma agulha ele talvez estivesse vivo hoje para conhecer a neta.

– Não sei se ele já teria alguma e duvido que fosse Nala.

A Velha se aproximou do casal no instante seguinte e interrompeu a pequena discussão de ambos com sua voz rouca ao se dirigir à Jenny.

– Cuide da sua filha antes que ele cause uma confusão ainda maior.

A Kenway revirou os olhos e dirigiu-se até a árvore onde a menina fazia estripulias e zombava das outras crianças no chão. Os meninos e meninas se afastaram com a aproximação da mais velha.

– Nala, desça daí. Não quero que caias e se machuque.

– Não vou cair mama, sou tão boa quanto você.

– Acredito em você querida, mas há um bocado de insetos nas árvores e não quero que pegues febre, como irei cuidar de você e do bebê?

– Está bem mama...

Ainda que contrariada, Nala desceu o tronco com uma incrível agilidade e Jenny não pode deixar de se orgulhar da sua menina. Juntas elas caminharam de volta com as mãos dadas e Nala sempre tagarela voltou a falar.

– Quando meu irmão irá chegar?

– Em alguns meses meu amor e ainda não sabemos se será irmão ou irmã.

– Eu sei. Sonhei que seria um menino e ele será parecido com você, pois eu o vi no meu sonho.

– Oh! É mesmo? – A menina confirmou meneando a cabeça e Jenny apenas sorriu. – Se for assim então o nome de seu irmão será Edward. Como o seu avô.

{#}

A Velha retirou o pano molhado sobre a testa de Jenny e o torceu no chão enquanto Sexta-feira e Nala a observavam. Nos olhos dele havia preocupação enquanto Nala chorava silenciosamente.

– A febre persiste e alta.

– Não há nada que possamos fazer?

– Eu poderia lhe dar algum chá forte, mas é muito arriscado ao bebê que provavelmente não resistiria. Ele precisa comer para dar forças ao próprio corpo e à criança. Traga-lhe limões e laranjas... – Sexta-feira assentiu, mas a Velha deu continuidade. – Será melhor mantê-la longe para evitar que a febre se espalhe.

Naquela tarde Sexta-feira levou Jenny a uma cabana mais distante da aldeia, onde eram mantidos os doentes, um local estranho mesmo a ele. Haviam máscaras de madeira com pinturas estranhas, colares brancos e utensílios próprios da Velha.

– Não olhe assim garoto. – Disse a Velha ao notar a estranheza estampada em sua face. – Tenha respeito para os velhos espíritos. Eles podem curar a sua garota.

– A troco de quê? – Ele a questionou em um tom ousado na voz.

Ela lhe lançou um olhar repreendedor e se virou de costas. – É melhor você partir logo.

Sexta-feira se foi e a Velha permaneceu para terminar seus cuidados para com Jenny. Quase já para finalizar o mesmo Jenny despertou e com dificuldade abriu os olhos apenas o suficiente para enxergar de quem eram as mãos que lhe tocavam.

– Velha... Por que não me cura de uma vez? - A voz dela estava esganiçada, parecia uma velha já sem forças para falar.

– Não posso te curar sem prejudicar o bebê e não posso poupá-lo sem te sacrificar. Se quiseres posso lhe dar ervas fortes o suficiente para expulsar a febre, mas provavelmente expulsarão seu bebê também.

– Estão por que está aqui se não pode fazer nada?

– Não seja mal agradecida. – Ela bufou e murmurou palavras desconhecidas para a Kenway. – Sexta-feira lhe trouxe para manter sua filha segura.

– Ela está bem?

– Está.

– Cuide dela Velha, eu irei viver.

A mulher lhe ignorou e quase como uma médica olhava membros, dedos, olhos e boa a procura de algo que lhe ajudasse a diagnosticar o que se passava a mais nova.

– O que sente?

– Dor... Meus joelhos doem como se tivessem levado uma surra das boas. Mal consigo dobrar os dedos e os braços. Sinto-me moída.

– Volte a dormir, trarei sopa mais tarde.

Assim a Velha lhe deixou sozinha com seus pensamentos, pois não conseguia mais dormir, quase como se o destino quisesse lhe castigar mantendo-a desperta. Jenny não ousava mexer um músculo do corpo e limitava-se a olhar para o teto de barro e palha daquela cabana esquisita. Havia pequenos bonecos em alguns cantos, um pouco escondidos e também máscaras assustadoras com dentes talhados e pintados. E assim ficou por horas, viu o entardecer pelas pequenas frestas da cabana e logo já era noite.

Repentinamente sons incomuns se fizeram presentes. Incomuns para aquela tribo, mas não incomuns aos ouvidos dela. Eram gritos e havia também disparos. Seu coração se afligiu, pois não havia uma única arma de fogo ali. Com muito esforço ela virou o pescoço para a entrada da cabana que estava aberta e viu fogo.

Chamas altas dançavam conforme o vento e ao som desesperador dos gritos. Eram os Portugueses, ela soube imediatamente. Reunindo todas as forças de si ela se virou de lado e girou por sobre a cama de palha, que fora feita como improviso e com um último impulso se jogou.

Jenny apenas caiu com a fronte do corpo sobre o chão, sua cabeça doeu e algo no solo, talvez uma pedra, acertou sua barriga em cheio. Mas a dor fora demais e ela apenas deixou uma lágrima sair antes de perder totalmente a consciência.

{#}

– Protejam as crianças e as mulheres! – Gritou Sexta-feira ao estocar um português com uma lança.

Mabuba estava ao seu lado disparando flechas uma atrás da outra, mas ainda que tivesse quatro braços não conseguiria dar conta de tantos alvos. Os Portugueses por outro lado cercavam a tribo pelos flancos e a incediara, fazendo um grande caos de pessoas correrem de um lado para o outro. Aqueles que fugiam para as matas eram capturados por homens de tocaia, os que permaneciam ou morriam ou eram feridos em meio ao combate.

– Papa! – Gritou Nala correndo para junto do pai.

– Nala! Vá embora! Corra para o rio, Nala! – Sexta-feira lançou sua arma contra um dos inimigos e o acertou na jugular.

– Estou com medo papa, não quero ficar soz...

Então um disparo sem origem interrompeu a voz fina da menina. Ela sentiu algo quente lhe escorrer pela barriga. Ela nunca havia sentido algo assim antes, era novo... Suas pequenas mãos se sobrepuseram sobre o local e ela as viu sendo tingidas de um vermelho vivido que refletia as chamas ao seu redor. Ela olhou uma última vez para Sexta-feira que mantinha-se ocupado na batalha e uma última vez ela o chamou.

– Papa...

Um baque surdo chamou a atenção do homem que lutava bravamente para defender seu povo, ele se virou e com desgosto viu o corpo pequeno caído no chão a espalhar sangue sobre o solo.

– Não! Nala!

Sexta-feira largou sua arma e correu para o corpo já falecido. Os olhos, antes tão expressivos de sua filha agora se fecharam para sempre. Ele chorou e chorou. Tentando negar com palavras o que era imutável. Seus dedos passaram pela ferida e ele concluiu que fora tiro.

Ao reerguer a cabeça procurou pelo o homem armado mais próximo e ainda que de mãos vazias correu até a ele com a fúria de um exercito inteiro.

O homem não percebeu a aproximação, pois segurava outra negra que tentou fugir, sendo assim, Sexta-feira o puxou pela roupa e acertou-lhe um soco que fizera com que seu nariz se quebrasse. Atordoado, o homem caiu após receber uma rasteira de capoeira e no instante seguinte Sexta-feira estava sobre si desferindo soco após a soco sobre a face do português que inchava mais a cada golpe. De seus pulmões um grito de fúria fugia sem cessar até haver outro disparo.

Sexta-feira caiu para o lado, ficando ainda por cima do homem que matara com violência. Um buraco em sua cabeça ainda deixava a fumaça sair junto ao sangue e miolos.


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Notas finais do capítulo

Não me taquem pedras please!

Vamos aos fatos históricos, esse ataque Português ao reino de Matamba ocorreu em 1744 e foi um dos maiores ataques do exército Português. E de fato resultou na queda do reino Matamba.

Vamos aos fatos não históricos... Pra quem ficou curioso, Jenny pegou Zica D: E aí vocês me perguntam, mas como assim?

A Zica é um vírus nativo da África, e lá deve ter sei lá, uns outros 20 vírus parecidos. Como as condições climáticas do Sudeste e Nordeste Brasileiro é bem similar ao da África, doenças naturais de lá se propagam com facilidade aqui e vice e versa.

Quanto a Nala e Sexta-feira... A morte deles era algo já determinado desde o começo dessa fic... E acredite, foi difícil matar esses dois.

Quanto a Jenny... O destino dela será revelado no próximo cap, mas acho que dá pra chutar fácil como ela voltará as antigas práticas Assassinas.

Nos vemos no próximo capítulo.



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