Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 34
Girimum com Jabá


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Na próxima semana essa fic completará um ano de postagem!!!! Uhul! É bem verdade que houve alguns congelamentos de postagem. inclusive o dos últimos dias. Poderíamos estar uns 3 ou 4 capítulos mais frente, mas saiba que não tonho a menor intenção de abandonar essa fic,

Como prometido teremos algumas reflexões e respostas nesse capítulo e tenho certeza que deixarei alguém surpresa. Enfim, espero que fique do vosso agrado, apreciem a leitura ;)



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Com uma brisa suave e fresca, as estrelas e a lua brilhavam no céu negro da noite. Sentia que a lua sorria para mim e claro que sorria, mas não de felicidade e sim da situação. Eu finalmente havia retornado ao meu lar, encontrado o meu povo e devia então escolher entre os meus amigos e a minha casa. Agora percebo o porquê de Adewalé não desembarcar, ele certamente já conhecia a falta de interesse em minha tribo de prestar qualquer auxílio em sua causa, não, na causa dos Assassinos. O som do caldo de abóbora a despencar sobre o recipiente me tirou de minhas reflexões e despertou uma fome em meu interior até agora adormecida.

Antes de retornar para o recluso canto onde estava os outros tripulantes fiquei a observar uma Jenny distraída com as estrelas. Foi do acordo de todos que passássemos a noite ali e com clara satisfação recebemos porções de uma sopa quente de colheita fresca. Com uma tigela de barro em cada mão, dei alguns passos em sua direção e sentei-me ao seu lado. Sua atenção foi fisgada pelo aroma doce de abóbora que se misturava com o da carne seca.

— Parece delicioso.

Assenti a ela antes de levar meus lábios na borda da rudimentar tigela e apreciar com gosto o doce e salgado ao mesmo tempo. Uma combinação no mínimo peculiar, mas o que não era peculiar na África?

— O que ela lhe disse lá dentro? Sei que foi algo sério, pois você está muito calado desde então.

Novamente estava mergulhado em meus pensamentos quando Jenny trouxe-me a realidade uma vez mais naquela noite.

— Ela me reconheceu.

— Ela é da sua família?

Eu apenas neguei com a cabeça e respirei fundo, não sabia como começar a lhe contar tudo. – Ela foi levada no mesmo dia em que também fui.

— Não há ninguém de sua família?

— Aparentemente não.

— Sinto muito Sexta-feira.

— Está tudo bem, eu não tinha grandes esperanças quanto a isso.

— Então o que te aflige?

Olhei diretamente em seus olhos, em seguida observei ao nosso redor para localizar nossos companheiros de bordo e estes estavam a alguns metros e conversando entre eles. Voltei a encarar o único rosto alvo dali e que me aguardava com paciência, não havia como fugir desse momento.

— A velha conhece Adewalé.

— Verdade?

Assenti e continuei. – Mas diferente de outras tribos pelas quais passamos antes, ela não está disposta a ajudar os Assassinos, pelo contrário, ela quer distância. Ela foi escrava de um Templário e conhece sobre o conflito entre Assassinos e Templários, de certo ela viu muita gente morrer e não quer arrastar esse conflito para essa tribo.

— Não posso culpa-la afinal. Meu pai levou esse conflito para casa e veja o que aconteceu.

— Então concorda com ela?

— Não, mas não estou em posição de julgar.

— Isso não é tudo. – Mais uma vez respirei fundo. – Ela me permitiu ficar contanto que eu corte todas as ligações que tenho com a Ordem dos Assassinos.

— Oh! Então é isso. Quando você precisa dar sua resposta?

— Até amanhã de manhã.

— É um curto prazo.

— Mas é tudo o que tenho.

Repentinamente Jenny segurou uma de minhas mãos e a apertou de maneira terna, surpreso eu olhei para o gesto e depois para seu sorriso tímido estampado em seus lábios finos.

— Não importa o que escolha, terás o meu apoio.

— Obrigado.

Após a muito bem degustada refeição fomos alojados improvisadamente em uma cabana e enquanto eu ouvia os roncos dos outros tripulantes do Ashai eu revirava cada canto da minha mente até estar agoniado o suficiente e ir para o céu aberto. Encontrei um canto para deitar na terra batida e contando as estrelas adormeci. A luz matinal me despertou com seu primeiro raio sobre mim e para o meu espanto notei que já havia outros despertos também. Mulheres com pá e sacolas de pano, uma meia dúzia pelos menos, havia também um outro grupo com uma trouxa do que eu deduzi serem roupas e por último um grupo de Mukuoulas. Enquanto eu os observava Mabuba cutucou-me com o pé.

— Que bom que já está acordado. Kazola o espera.

Ergui-me e a segui para aquela que seria a escolha mais difícil da minha vida. Quando passei em frente à cabana onde Jenny e os outros dormiam senti meu coração acelerar e eu soube que aquilo era um sinal do que eu deveria escolher.

{#}

Mabuba estava ao meu lado quando sai da cabana da velha e lá estava Jenny me esperando poucos metros à frente com uma expressão tranquila na face, em sua mão um pedaço de aipim era levado até sua boca e com voracidade ela o devorava. Mabuba se distanciou logo que me viu indo na direção de Jenny.

— Acordei com a movimentação, quer um pedaço? Isso está ótimo.

— Imagino que esteja ansiosa para saber o que foi tratado lá dentro.

— Primeiro quero sua ajuda.

— Minha ajuda? Para quê?

— Aonde podemos encontrar madeira?

— Jenny, estamos rodeados de madeira.

Jenny rolou os olhos exatamente igual como ela fazia quando alguém lhe discordava em algo, talvez houvesse algo da velha Jenny em si então. - Não seja tolo Sexta-feira. Me refiro a madeiras já cortadas, levaríamos muito tempo para lenhar.

— Como a tribo usa madeira para construir as cabanas, suponho que haja alguma quantia de reserva.

— Consegue quatro ou cinco? O suficiente para fazer uma pequena jangada.

— Jangada? Você não precisa de uma jangada por aqui.

— Já se passou muito tempo e eu não sei quando terei outra oportunidade novamente.

Jenny se virou, mas antes de dar o primeiro passo eu a segurei pelo braço e então ela tornou a ficar de frente para mim.

— Espere, antes preciso lhe contar a minha decisão.

A mão da Jenny tocou em meu ombro e ela sorriu confiante para mim. – Eu já sei a sua decisão. Vi o sorriso da sua admiradora.

— Admiradora? – Sexta-feira arqueou a sobrancelha.

— Ela ficou a noite toda ontem olhando para você e acredite seja aqui ou em Londres o sorriso de uma garota apaixonada é sempre o mesmo.

— Mabuba não está apaixonada por mim. Mas você então não dirá nada?

— Eu lhe disse que teria meu apoio independente da sua escolha. Não sou mais a menina inconsequentemente de antes, aprendi a minha lição e será mais seguro para você ficar aqui, junto ao seu povo.

— E quanto a Adewalé? Ele não irá ceder e pegar mais leve com você.

— Pensarei nisso depois, agora irei ao Ashai pegar suas coisas, também levarei os outros tripulantes de volta.

— E você por acaso sabe o caminho?

— Eu sou filha do meu pai, claro que sei o caminho.

{#}

Eu estava dando alguns nós em tiras de cipós da mesma forma que fiz há muitos anos junto a Crusoé até que Jenny chegou com um punhado de corda e alguns panos que deduzi serem velas pela cor.

— Use estas, será melhor.

— Onde conseguiu isso?

— No Ashai. Deixe-me dar os nós.

Juntos, eu e ela amarramos as tiras de madeiras uma ao lada da outra fazendo uma jangada grande o suficiente para uma ou talvez duas pessoas. Por fim Jenny fincou uma estaca bem no centro e amarrou a vela ali, semelhante uma estai de velacho. Sem dúvida, uma construção muito melhor do que a feita por mim e Crusoé.

— Vamos para o rio. – Eu assenti ainda sem entender o propósito de tudo aquilo. – Podemos encontrar algumas flores pelo caminho?

— Acredito que sim.

— Bom, iremos coletá-las.

Com mais um restante do cordame, arrastamos a jangada até a chegada do rio, fazendo eventuais paradas para coletar flores que Jenny amarrava juntas como um buquê.

— É uma tradição na Inglaterra levar flores aos nossos mortos. – Ela disse ao me perceber fintando-a curiosamente.

— E quem morreu?

— Anne Bonny

Me calei, pois tudo agora fazia sentido. Em um navio quando alguém morre são ditas poucas palavras de conforto, mas dada as circunstâncias Bonny nem isso teve. Jenny estava reclusa demais e eu estava preocupado demais com ela para pensar na Asassina. Adewalé também não manifestou qualquer intenção de algo, então logo caiu no esquecimento, mas aparentemente não para a sua pupila.

Quando enfim chegamos à margem do rio, Jenny mais uma vez me deixou alegando que havia esquecido de algo e pediu para lhe esperar ali. Fiquei sentado novamente absorto em curiosidade, mas resolvi ser paciente, afinal aquele seria meu último dia junto a ela.

Alguns minutos se passaram quando enfim minha amiga retornou com um arco em uma das mãos e uma garrafa de vidro na outra. Havia também algumas flechas amarradas na sua cintura e sem explicações ela passou a arrumar as flores vermelhas colhidas sobre a jangada, a cor escolhida não era por mero acaso, pois eram do mesmo tom dos cabelos de sua antiga mentora. Em seguida ela desarrolhou a garrafa e senti o característico cheiro de rum.

— Onde conseguiu rum?

— O cozinheiro mantinha sempre um pouco entre os temperos e em minha estada como sua ajudante eu eventualmente descobri.

— Adewalé não gosta de seus tripulantes bêbados.

— Por isso ficava escondido entre os temperos e por isso ele cedeu essa garrafa, ou o capitão iria descobrir sobre suas escapulidas.

— Certamente você ainda é a filha do seu pai...

Ela deu de ombros e respingou a bebida sobre as flores e finalmente um pouco na vela. Juntos empurramos a jangada para o rio que tinha uma correnteza tranquila naquele ponto e logo estávamos vendo a pequena embarcação se distanciar. Jenny deu um gole no pouco que havia sobrado da bebida na garrafa.

— Os irlandeses são descendentes dos Vikings, um povo antigo que gostava do mar e de hidromel. Tinham seus próprios deuses e heróis. E acho que Bonny merece um funeral digno de sua terra natal.

Jenny ergueu o arco e sacou uma flecha de sua cintura, eu nunca a vi com um arco e flecha antes, não era uma arma de seu agrado, mas ela ajeitou a flecha entre o arco o fino fio e parecia concentrada.

— Onde encontrou esse arco?

— Com sua admiradora. Não que ela saiba.

Seus dedos soltaram a flecha e cortando os céus a mesma caiu no rio, sem acertar a jangada. Jenny xingou e pegou outra flecha. Ela havia trago quatro. Fez todo o mesmo processo e novamente sem sucesso, logo comecei a perceber a impaciência em seu semblante. Depois da terceira tentativa falha eu a interrompi.

— Espere.

Jenny afrouxou a tensão da corda e me olhou enquanto me aproximava. Estendi-lhe a mão e ela olhou desta para o meu rosto até entender o significado e me dar o arco e a flecha. Não era o tipo de arma que eu gostava de usar também, mas ao menos eu tinha experiência graças ao meu período ilhado com Crusoé.

A jangada já ia longe, então mirei um pouco mais acima torcendo para que o vento não me traísse e então soltei a flecha que subiu alguns metros até cair. Tão logo a fumaça começou a subir e soubemos que o alvo havia sido acertado.

— Obrigada.

Ficamos em silêncio, observando o pequeno incêndio sumir de nossa visão e então ela tornou a falar.

— Quando cheguei a Tulum meu pai me levou até onde Bonny estava, então eu a vi cantando com sua belíssima voz pela primeira vez e notei como meu pai a olhava diferente. Certamente eu não entendia o motivo na época, mas hoje não tenho dúvidas quanto o amor que ambos sentiam um por outro, mas era um amor estranho. Um amor saudável que não cresceu mais do que ambos, um amor terno e carinhoso. Eu sei que ele a chamou para ir embora junto a ele e eu teria ficado muito feliz se ela tivesse aceito, mas Bonny nunca se encaixaria nos vestidos de Tessa e morreria de tédio se vivesse presa em Londres depois de ter navegado ao lado de grandes piratas. Por isso hoje sei que sua decisão foi a melhor e talvez meu pai devesse ter ficado não? Mas a irmandade precisava dele em Londres e foi pela irmandade que ele morreu.

Refleti em suas palavras por um instante e ficamos em silêncio por alguns instantes. - Então qual será o seu caminho a partir daqui?

Ela se virou e sorriu para mim de uma maneira que julguei ser divertida. – Meu pai tinha regras no Gralha, ele dizia que mesmo a liberdade precisava delas e entre elas estava a de não roubar dentro do Gralha. Acontece que Adewalé segue as mesmas regras e ele provavelmente irá sentir falta daquela vela ali

Não consegui conter o riso, pois no fim Jenny não havia perdido sua essência de se meter em confusão e eu confesso que amo isso.

— Bom e qual o seu plano? – Eu a observava ainda um pouco descrente de sua atitude.

— Se a velha dos dedos curtos me permitir eu ficarei e viverei sem qualquer ligação com os Assassinos, caso não então partirei sem remorso e arranjarei alguma passagem pelo porto.

— Para Londres?

— Não há nada para mim em Londres e os Templários estão por toda parte lá, seria arriscado demais. – Seus olhos estavam presos no horizonte enquanto suas palavras saiam carregadas de serenidade.

— Turquia?

— Não é uma pista certeira e ainda sim sozinha em um país completamente desconhecido onde pode haver atividade Templárias, não seria um bom plano. Pelo menos não por enquanto.

— Então para onde irias? Não podes retornar à Tulum.

— Bom, Achiles parece ter se mudado para Nova York, talvez eu possa encontrar alguma ajuda por lá ou quem sabe o Brasil. Tenho certeza que há navios partindo daqui para esse destino.

Desta vez fui eu que tomei a sua mão e entrelacei meus dedos aos dela e ela me olhou nos olhos. – Eu irei garantir que fiques, fique tranquila.

Fazia muito tempo que eu não a beijava e como foi doce a sensação e o prazer quando ela me retribuiu.

Mais tarde naquela mesma noite Mabuba defendia a ideia de que Jenny seria uma ameaça e uma desonra ao nosso povo enquanto eu lhes garantia com a minha vida de que Jenny já não pertencia a irmandade e estava disposta a abandonar essa vida para viver uma vida paz ao meu lado. Mabuba parecia furiosa e isso porque ela nem sabia sobre seu arco.

— Está bem rapaz, eu permitirei que ela fique e então veremos quanto tempo ela irá resistir vivendo sobre o sol quente e sem os caprichos de seu povo.

Eu assenti e as deixei, pude ouvir Mabuba contestando fortemente após a minha saída. Não era possível que ela realmente visse qualquer ameaça em Jenny, ao menos não para a tribo. E eu ainda não acreditava que ela nutria qualquer sentimento amoroso por mim, ela não teria motivos.

Foi a noite de sono mais tranquilo que tive no último ano e Jenny estava em paz ao meu lado e sob as estrelas.


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Notas finais do capítulo

Sexta-feira escolheu seu povo e Jenny escolheu Sexta-feira ♥ Esse casal é muito arco-íris. Mas acho que se fosse o contrário o mesmo aconteceria.

Parece que Jenny está um pouco desiludida com a Ordem dos Assassinos né... E agora como será a vida desses dois nessa tribo remota?

Ah e para quem não conhece o título do cap é o nome da comida que eles comeram na primeira noite: abóbora com carne seca.

Não sei se teremos ainda algum cap esse mês, espero do fundo do meu coração que sim. Mas nos vemos lá com certeza, beijos e obrigada por acompanharem até aqui!



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