Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 11
Adeus, Capitão.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661108/chapter/11

Jenny, Bonny e Sexta-feira já estavam bronzeados e fedidos a peixe. Logo, a Kenway acostumara-se ao gosto de rum, visto que era a única coisa que bebível na fragata. O clima mostrou-se favorável em todo o percurso da viagem e o vento lhes foi favorável. À noite Bonny cantava até pegar no sono e com o passar dos dias Jenny notou que quando o sol se punha a tristeza lhe fazia companhia. A ruiva sentia falta do verdadeiro capitão daquele navio. Uma noite, a menina entrou na cabine do capitão silenciosamente e encontrou a assassina dormindo abraçada a um emaranhado de lençóis velhos e com a cabeça sobre a roupa feita de peles que ele encontrou no porão de sua antiga casa.

Ela concluiu que o motivo de Bonny estar sempre com uma garrafa em mãos não era um vício, mas uma saída, um disfarce. O rum a mantinha alegre e afastava o luto. Mas a noite quando ela ia dormi na cama que um dia provavelmente dividira com seu antigo capitão suas lembranças a arrastavam para os poços de tristeza, solidão e luto.

Para Jenny, por outro lado, estava sendo um pouco mais fácil. Havia uma década desde que estivera em alto mar e por isso desfrutava com gosto a maresia, a brisa, a paisagem de animais nadando. Avistou uma baleia enorme e azul a poucos metros do Gralha há alguns dias. Outro dia fora uma família de golfinhos felizes. Quando se sentia sozinha ia conversar com Sexta-feira, dando espaço para Bonny se recuperar.

– E se ele estava ilhado, como sabia que era sexta-feira quando te encontrou? – O rapaz apenas deu de ombros.

– Sei lá.

– Como era seu nome antes? Quero dizer, você devia ter um nome não? – Jenny estava sentada no convés, limpando um peixe que pescara mais cedo. Enquanto Sexta-feira remendava uma vela.

– Não. Apenas me chamavam de menino. Não me lembro de muito da minha infância, eu nunca ficava no mesmo lugar por muito tempo. Sempre viajava fugindo dos homens brancos. Até que um dia eles me pegaram e alguém pensou que eu era um bom mensageiro. – Ela sessou o seu trabalhou e o ficou observando costurar. Sexta-feira era muito habilidoso com trabalhos manuais. - Era pequeno, rápido e negro, logo eu passava despercebido em muitos locais. Em toda minha juventude segui homens brancos, entregando suas cartas a outros homens brancos. Eles não se importavam com o meu nome desde que eu fizesse o que mandassem.

– E como você virou um náufrago?

– Há cinco anos eu estava em um navio negreiro. Íamos para o Brasil, mas fomos pegos em uma tempestade. O navio não aguentou e se partiu. Fiquei a deriva por quatro dias até que em um dia acordei em uma praia faminto e fraco. Crusoé me achou, me deu comida e água. Não encontramos mais ninguém do negreiro, além de mim.

– O que houve com os seus pais?

– Até onde eu sei minha mãe foi levada para o norte e meu pai vendido.

Jenny ficou pensativa. Sexta-feira não era como ela, não exatamente. Ela perdeu a família, que se resumia ao seu pai. Mas ele nunca tivera uma família. Nunca teve um lar. Nem ao menos tinha um nome, até ser salvo por Crusoé.

– Olha.

Sexta-feira se ergueu e apontou para o horizonte. A menina também se levantou e se concentrou naquela direção, mas não viu nada a principio. O rapaz correu para o “elevador” no centro do convés e sem hesitar cortou a corda que o prendia ao solário de madeira. Rapidamente ele foi jogado para cima e escalando até o topo do mastro da bandeira gritou.

– Terra a vista!

Ansiosa demais para ver seu destino, a jovem escalou o mastro com cuidado até alcançar Sexta-feira ao lado da bandeira pirata.

– Veja. Aquela é Nassau. – Ele apontou a frente para um pontinho verde em meio o azul. – Iremos parar lá para reabastecer e em três ou quatro dias chegaremos à Tulum se o vento nos ajudar.

Ele precisou falar mais alto para que ela pudesse ouvi-lo em meio a ventania que os açoitava e embebecida pela alegria, Jenny não se conteve e abraçou Sexta-feira que ficou sem reação por um momento, mas retribuiu o gesto mesmo assim. Ele pode perceber o quanto ela era magricela, não tinha o corpo de uma mulher e nem mesmo músculos. Mesmo que ela escalasse e aguentasse o próprio peso, certamente não seria apta para uma luta corporal. O treinamento dela seria longo.

Quando alcançaram a praia de Nassau, Sexta-feira e Bonny foram atrás de mantimentos e de utensílios para o navio. Kenway foi até a moradia que ela soube ser do seu pai anos atrás. O atual governante local agora residia lá e por isso a menina se limitou a observar por fora. Nas árvores ali próximo alguns pequenos macacos pulavam e gritavam atrás de frutas. O vento fresco do mar tornava a estadia sob a sombra de uma árvore agradável e assim ela se deliciou.

– Sabia que você é famosa aqui? - Ela se virou e encontrou Sexta-feira sorrindo, com roupas novas e limpas.

– É mesmo?

– Sim. Seu pai fez muito per essas pessoas e esse lugar não era muita coisa antes dele se estabelecer aqui. Venha. – Ele lhe estendeu a mão gentilmente. – Vamos lhe arranjar algumas roupas limpas.

Jenny aceitou o convite e segurou em sua mão para ser alçada pelo amigo. Juntos foram até o bordel que ficava a poucos metros do cais. Lá eles conseguiram calças e vestidos para ela, mesmo que a menina deixasse bem claro que não simpatizava com saias.

– Imagine só eu escalando com um vestido destes. – Ela proferiu rindo ao fechar o cadarço que prendia a calça a sua cintura.

– Pode ser útil. Bonny usa saias. – Sexta-feira estava do lado de fora do quarto, esperando que ela terminasse de se trocar.

– Para ela funciona. Pra mim vale mais a pena se passar por um rapaz. -A jovem abrira a porta enquanto terminava sua resposta e Sexta-feira a olhou dos pés a cabeça.

– Uma pena. Pois não intimida ninguém assim. – Ele riu.

– Ainda. – Ela tomou a sua frente rumou pelo corredor de quartos, estes que estavam todos com as portas fechadas.

– Vão dar um banquete para Bonny e você. É melhor irmos.

Eles desceram as escadas até o salão povoado com mulheres, piratas, alguns cantores desafinados e rum. Muito rum. Bonny também estava lá. Muitos cumprimentavam Jenny e quando a ruiva lhe avistou chamou-lhe para perto, limpou a garganta e bateu com o copo fortemente sobre o balcão, chamando a atenção de todos.

– Amigos, piratas, assassinos e aliados. – Ela levantou-se e ergueu o copo. – Brindemos a vida de Edward James Kenway. Um grande homem e pirata. O melhor que conhecemos. Um brinde!

Com uivos, assobios e gritos todos ergueram seus copos e brindaram derrabando um pouco de rum por todo o salão. A música voltou a tocar ao ritmo de batidas nas mesas de madeiras. Algumas mulheres e homens dançavam alegres e bêbados. Jenny assistia a tudo sorridente, lembrar-se do seu pai não era mais tão triste. Não quando se fazia desta maneira. Não havia espaço para sentimentos melancólicos ali.

Mas ela fora surpreendida ao sentir alguém segurar-lhe a mão. Era Sexta-feira, como sempre sorridente e caminhando rumo os casais alegres e dançantes.

– O que está fazendo? – Ela ficou estupefata com a iniciativa. – Eu não sei dançar. Aliás, sou péssima nisso.

– E quem se importa se você sabe ou não? O importante é se divertir e beber.

Sem esperar por uma resposta ele a puxou e sem força ou vontade de resistir ela cedeu. Eles batiam palmas e Sexta-feira a rodeava, fazendo-a girar para acompanhar o rapaz. Alguns casais mais fogosos se esfregavam um no outro e ela até se sentiu tentada a fazer isso, afinal, Sexta-feira era bonito. Charmoso e sempre alegre. Mas era mais velho, ele devia enxerga-la apenas como uma garotinha e não uma mulher. Ela não estava bêbada o suficiente para arriscar algo assim. Ele segurou em ambas as mãos dela e dançaram em um ritmo animado, rodopiando para lá e para cá até que não aguentassem mais e a música se cessasse.

–x-

A lua estava alta e o clima fresco era agradável em Nassau. Furtivamente, Bonny deixara a festa e sentou-se sozinha em uma mesa ao ar livre. Fora o último local que ela e Edward ficaram juntos. Aquela música sempre via a sua mente sem ser convidada e antes que percebesse a cantarolava para si. Proibiu-se chorar. Edward certamente não aprovaria isso, mas através daquela música ela sentia a saudade martelar seu peito. Adormecera ali, sozinha, mas sorrindo. Tinha boas lembranças com ele e agora tinha uma dívida. Cuidar de sua filha.

Quando despertou com os primeiros raios de luz perdeu alguns minutos apenas observando o nascer do sol. Nassau despertava aos poucos. Os pescadores levavam seus pequenos barcos para o mar e as janelas das casas pouco a pouco iam se abrindo. Sem mais motivos para ficar ali, a não ser ficar remoendo lembranças, ela voltou para o bordel e encontrou homens e mulheres deitados no salão, uns dois ou três casais. Imaginou que o restante estava espalhado pelos quartos. Subiu as escadas silenciosamente e foi até o quarto que separaram para Jenny. Ao abrir a porta e antes de conseguir dizer qualquer coisa viu a menina dormindo aninhada entre o braço e o tronco de Sexta-feira de frente para a janela. Um singelo sorriso floresceu em seus lábios e ela os deixou em paz.

–x-

Jenny despertou aos poucos e quando percebera aonde tinha adormecido segurou um suspiro e se levantou rapidamente. Com o movimento, Sexta-feira acordara também e ainda sonolento protegeu os olhos da luz levando a mão à frente da face.

– O que houve? – Ele questionou ao se levantar.

– Nós pegamos no sono em algum momento. – Ela o fitou da cabeça aos pés procurando pistas do que acontecera a noite. – Eu acho.

– Ah sim. É verdade. O céu estava bonito.

Sua memória ressuscitou a lembrança deles sentados em frente à janela, dividindo uma garrafa de rum e procurando constelações no céu noturno.

– Melhor voltarmos ao Gralha logo. Bonny já deve estar lá.

A menina estava envergonhada, acordara abraçada a um homem pela primeira vez na vida. As vezes com seu pai não contavam, ela era criança e ele estava contando histórias para ela dormir. Sem esperar uma resposta dele, saiu do quarto sem olhar para trás. Caminhou o mais rápido possível até o píer e Sexta-feira vinha logo atrás, parecia tranquilo. Ao avistar o Gralha viu alguns homens trabalhando nele. Sua vergonha passou e curiosa subiu os degraus para o convés para encontrar Bonny dando ordens. A ruiva logo a notou e se virou em sua direção. Sexta-feira subiu atrás dela.

– Ora. Dormiram bem? – O sorriso em seus lábios rubros deixaram a malícia transparecer com facilidade, dando a entender que ela sabia o que tinha acontecido. Mas ela não sabia de fato.

A face da Kenway corou, ela se aproximou da ruiva e tentou agir naturalmente, mudando de assunto e ignorando a pergunta.

– Quem são esses homens? – Ela os olhou e eles a cumprimentavam.

– Alguns eram tripulantes do Gralha anos atrás. Velhos conhecidos meu, do seu pai e de Adewale. Propuseram-se a ser a sua nova tripulação de bom grado.

– Minha? – Jenny não estava entendendo, com o cenho franzido ela ficou de frente para a assassina.

– Mas é claro. Esse navio erado seu pai, agora ele é seu. És a filha mais velha dele, é sua herança por direito. Tome. – Anne lhe estendeu a mão com a luneta que pertenceu a Edward. – Isso também lhe pertence.

Surpresa, a jovem recolheu o objeto da mão de sua mestra e ouviu os marujos gritarem: “Viva a jovem Kenway!” em uníssono. Seu transe fora quebrado por um tapinha nas costas dado por Sexta-feira atrás de si. Quando ele chegou lá?

– Parabéns capitã. Quais são suas ordens?

– Vamos para a cede dos assassinos. – Ela lhe respondeu sorrindo e com seus olhos brilhando como os de uma criança que acabara de ganhar um presente. Jenny simplesmente não conseguia acreditar que era capitã do Gralha.

– Levantem as velas! Ouviram a capitã, vamos para Tulum! – Bonny ordenou ao subir os degraus que levavam ao timão e logo se apoderou dele.

Os homens se movimentaram enquanto Jenny e Sexta-feira foram para a cabine do capitão estudar o mapa, pois os mares do Caribe eram perigosos, cheios de corais e emboscadas de inimigos. Mas ambos tinham plena confiança em Bonny e nos homens que um dia foram parte da tripulação de Edward.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assassin's Creed: Omnis Licitus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.