O Cupido escrita por Mits


Capítulo 15
Boliche




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Chovia muito, ainda. O horário de ônibus estava se findando, então na melhor das hipóteses Hayley preferiu pegar um táxi. Além de mais rápido, era mais prático para entrar com guarda-chuvas – isso até seu protetor de chuva amarelo ficar enganchado na porta do carro, fazendo-a xingar não somente a água que caía do céu, mas também o automóvel em si. Alex e Anna riam, se divertindo com a estabanada.

O caminho até o boliche não fora curto, mas nada sufocante em narrações tediosas sobre casas passando como vultos e borrões escuros devido à escuridão que fazia além da janela fumê do carro. As gotas caiam mais rigorosas, no entanto. Dentro do veículo quente, Hayley divertia Anna enquanto Alex perdia o olhar no estofado do carro, uma maneira de descanso visual que encontrara nas muitas viagens de ônibus ao voltar para casa.

No movimentado e caótico centro da cidade, estava uma placa brilhante em neon escrito Boliche do Bob, era um nome um tanto bobo – tal como o dono, Bob.  Ao contrário do nome secundário, o lugar estava sempre movimentado devido ao primeiro quadrante dos três que viriam a seguir: bar, lanchonete e boliche. As portas giratórias de um espaço para outro eram o seu charme, o aspecto hollywoodiano dos anos oitenta também trazia lá sua clientela mais velha-guarda. O piso inteiramente de madeira escura, quadros de jogadores nas paredes – futebol, basquete, etc. Um lugar vivo nas cores vermelhos e azul desbotado, um toque vinho para as mesas e cadeiras. O balcão de bebidas ficava próximo a entrada, sendo ali o ponto principal de bêbados da cidade.

A segunda parte era mais família, algo irônico já que os pais enchiam a cara logo atrás. Uma pista grande dividida por linhas e marcações, no fundo área de acerto, com pinos brancos levantados. Perto dos banheiros, a troca de sapatos era recepcionada por uma jovem moça. O espaço era também ocupado por bancos e algumas mesas. Assim como a primeira parte, esta também era tingida pelas mesmas cores, diferenciando-se na intensidade delas.

A terceira e última parte, também a menor, era mais simples e sofisticada. Lanchonete da Rosa, esta era a esposa de Bob – uma família não muito criativa com nomes. O piso azulejado de preto e branco, uma parede inteira de quadros com chefes de cozinha, mesas redondas e sofás como acompanhantes. Uma cozinha no final do sexto conjunto de mesas, e uma velha máquina de música antes do primeiro conjunto. Lá o som dos dois primeiros ambientes era cortado por uma grande porta de madeira, depois da proteção, uma simples e meiga porta de vidro.

— Anna, vem – disse Alex ao sair do táxi, depois de pagá-lo. A garotinha desceu com certa dificuldade e debaixo do teto de guarda-chuvas que os mais velhos faziam, ela esticou as mãozinhas para o irmão.

Alex entregou o guarda-chuva para a amiga segurar e pegou Anna no colo, seguindo até a entrada. Bob estava sentado no bar, rindo e mexendo sua saliente barriga de álcool. Junto a ele, um grupo de rapazes ria e fazia piadas. Hayley torceu o nariz e atravessou a porta de vidro para o segundo ambiente.

— Máquina de brinquedos! – exclamou uma Anna feliz lutando para voltar ao chão e correr em direção a grande máquina brilhante esquecida aos fundos.

— Vai fazer o cadastro e buscar os tênis, eu fico com ela – disse Hayley entregando seus documentos e dinheiro para Alex, que o recusou.

— Eu pago – afirmou com um sorriso.

— Cala a boca e pega meu dinheiro logo – Anna corria em direção à máquina quando ela acrescentou. – Não é um encontro.

— Não disse que era, bobinha – respondeu meio irritado, Hayley riu e colocou o dinheiro em suas mãos.

— Vou ficar com a pequena Alexandra ali – ela disse apontando para Anna.

Os dois se separaram e Hayley cumpriu o que dissera, seguindo até a pequena monstrinho que dava pulinhos de alegria na fila resumida em frente à máquina.

Resumida não seria figurativo, já que tinha apenas uma pessoa na tal fila. Seus cabelos castanhos caiam em lindas ondas até a metade de suas costas, o vestido de renda laranja escuro combinava perfeitamente com seu tom de pele. A dona dos bonitos cabelos batia e xingava a máquina por sua medíocre existência.

— Sério, eu estou aqui há trinta minutos e você não vai me dar um brinquedo? – reclamou a garota dando um último chute e virando-se, encontrando com o olhar brincalhão de Hayley e as risadas de Anna.

— Minha vez! – bradou a garota puxando a mais velha pela mão.

Hayley colocou uma moeda na máquina e se preparou para buscar um coelho de pelúcia para Anna, que torcia. A garota ainda estava ali, observando descrente quando a garota puxou um jacaré e o colocou no deposito – lugar onde as pelúcias desciam. Hayley pegou o prêmio, triunfante e entregou para Anna.

— Não foi um coelho, mas temos um jacaré da sorte agora – disse ela, analisando melhor a pelúcia e vendo o quanto aquilo era feio. Inclusive, poucos brinquedos ali estavam em bom estado.

— Como? – perguntou a garota, ainda surpresa. – Eu estou tentando já faz um bom tempo e não consegui nada.

— As máquinas do Bob são todas velhas, não é muito difícil de trapacear. Quer que eu te mostre?

— Não, valeu. Eu já desisti.

Hayley deu os ombros e sorriu, se preparando para sair quando Anna a interrompeu em meio a uma ideia. – Espera – disse – você e o Alex não têm um jacaré, todos precisam ter um jacaré.

— Você quer tentar pegar?

— Sim!

O tempo passou rápido ali, com Anna cometendo mais erros do que acertos, e Hayley sempre a ajudando. Até que um macaco e uma coruja conseguiram ser capturados, deixando-as muito felizes. A garota agora estava distante em qualquer outro lugar. Anna contava suas histórias mirabolantes para a amiga mais velha, que fazia perguntas e ria de algumas situações. Ela não entendia metade das coisas, mas sabia que ouvir tudo atentamente deixaria Anna feliz. Ao terminar sua aventura sobre o mar negro de mesopotâmia fantasioso, seu estômago roncou e ela encolheu-se de vergonha.

— Sabe, Anna, estou com uma baita fome, o que você acha de comermos alguma coisa? – disse com seu melhor tom descontraído.

— Seria legal… – respondeu ainda envergonhada, era estranho ver uma criaturinha antes tão desinibida agora reclusa.

— Sem timidez! Vem, vamos comer alguma coisa.

As duas seguiram até a lanchonete, sumindo da constante observação de Alex, ainda na fila. Nos lábios o inevitável sorriso não conseguia sumir, assim como a pontada de preocupação em sua expressão de irmão mais velho.

— Cara, relaxa! – disse Dan ao seu lado. – Elas vão ficar bem, não precisa se preocupar tanto.

— Não consigo, já faz parte da rotina ficar preocupado – explicou, com seu olhar sereno. – Quando você tiver uma filha, vai saber.

— Anna é sua irmã, não sua filha. Você não precisa sempre bancar o responsável preocupado – Alex tentou interrompê-lo, mas Dan fez sinal para que ele não começasse seu discurso. – Eu sei, eu sei. Não é fácil cuidar de uma garotinha de seis anos, mas, cara... Talvez a ideia de mandá-la morar com a tia não seja tão ruim assim.

De preocupação, a expressão mudou para irritação. – Eu sou a única família que ela tem, não posso simplesmente me livrar dela.

— Alex, não seria se livrar, pelo contrário, viver com sua tia seria melhor pra ela. Uma casa grande, amigos na vizinhança, uma ótima escola. Você sabe disso.

Ele sabia, e muito bem. A questão era mais profunda do que Dan imaginava, Anna morar com a tia seria ótimo para ela e seu crescimento, e péssimo para o orgulho dele. Todo esse tempo eles estiveram juntos, por mais que difíceis fossem as situações, eles sempre superaram juntos. Mandá-la embora seria deixá-lo sozinho.

Ele estava cansado de ficar sozinho.

— Não quero falar sobre isso – disse tentando esconder a tristeza repentina. – E como foi entre você e a Vanessa?

Dan fez uma careta de incerteza e balançou os ombros – Eu simplesmente não sei. Estranho, desagradável?  Não sei.

— O que aconteceu?

— A gente simplesmente não consegue manter uma conversa sem brigar, tudo vira motivo de discussão. Foi tanta patada que na metade do caminho a gente simplesmente parou de conversar – suspirou. – quando chegamos aqui, ela deu o dinheiro e os documentos e simplesmente saiu andando. Ela parece magoada com alguma coisa e eu não sei o que.

Alex preferiu o silêncio a uma explicação que não cabia ele dar.

— Depois eu vi você e a Hayley e tive certa esperança de que essa noite ficasse mais legal. Falando nisso, como está a relação dela com a Anna? Pelo que eu vi até agora, vai bem.

— Elas se adoram! Eu nunca vi uma aproximação tão rápida quanto à delas – riu.

Dan preparou-se para falar algo, até que sua visão encontrou-se com o caos que estava passando pela porta naquele momento. Em seguida, as íris verdes procuraram um relógio qualquer. Onze horas, eles chegaram.

Ele, na verdade.

Seus olhares se encontraram de relance e Dan não soube o que fazer.

Ethan sorriu para ele.

A fila andou e a vez deles finalmente chegou. Ainda sem dizer nada, e Alex não muito interessado em puxar qualquer assunto, os dois entregaram os documentos, alugaram os tênis e pagaram a moça no crucial momento em que Ethan e seus amigos cortaram fila e penduraram-se no balcão, recebendo xingamentos como resposta.

Foi então que Alex e Ethan se olharam.

O tempo atrasou alguns segundos e o ar tornou-se pesado, fazia tempo que os dois não se viam. Evitar seria palavra certa para usar. Eles esqueceram, apenas, que o destino gosta de brincar com as pessoas. Uma raiva natural cresceu no peito de Alex e lembranças tomaram sua mente em um puxar de gatilho. Rápido e fatal. Ethan, dono do constante olhar de deboche, agora esbaldava sua pior cara de infelicidade.

Ódio seria uma palavra errada.

Raiva profunda seria a certa.

Os dois seguiram cada qual seu caminho, ignorando um ao outro. A cicatriz no queixo de Ethan pulsou dolorosamente, martelando a raiva e transformando-a em um animal selvagem enjaulado. Alex apenas sorriu de lado ao passar os dedos pelo queixo, onde outrora uma marca roxa estava.

A briga entre os dois estava longe de acabar.

x

Sozinha, outra vez. Sentada na tampa da privada, Vanessa lamentava-se por ser tão idiota. Sabia que não deveria ter aceitado o convite, sabia, também, que ser estúpida era a pior saída. Mesmo que a única saída. E tudo ficara pior ainda com a segunda mensagem.

Ainda clara em sua mente, e aberta no celular, a mensagem não dava descanso.

Dan:

Quer sair comigo?

Vanessa:

Opaa!

O que tem em mente?

Dan:

Então, como você é minha amigona, eu deveria te apresentar a menina que eu gosto, certo?

Que ele gosta, isso soava tão ruim, tão trágico, tão... Patético.

Por que você não vai se foder, Dan, certo?

Um suspiro choroso deixou seus lábios, estava ali e deveria cumprir seu papel, mesmo que a vontade de ir embora gritava no peito. Vanessa, Vanessa, como você consegue ser tão otária? É um dom de Deus, este ele entregou para muitos.

Deus, ah, Deus! Espero que a piada esteja dando o que falar por ai.

A garota levantou-se e deu descarga, disfarçando o absoluto nada que ali fazia. Preferia deixar as pessoas pensando que estava usando banheiro do que se lamentando. Viu? O dom ataca novamente.

Com a mensagem de Dan avisando que eles estariam na lanchonete, ela seguiu até lá. Com dificuldade, arrastou a porta de madeira e em seguida passou pela de vidro. Uma musica eletrônica antiga tocava ao fundo, ajudando os clientes ignorar o barulho vindo do segundo espaço. O boliche.

Eu peço que você, caro leitor, respire fundo comigo. Imagine-se apaixonado, imagine, também, que a tal pessoa te chamou para conhecer o amor da vida dela. Você estaria bravo? Espero que sim.

Talvez você tenha esquecido, mas esta é uma leitura interativa. Portanto, peço que você coloque a música mais frenética e raivosa que você encontrar.

Foi-me sugerido “You blocked me on Facebook, and now you're going to die”. Uma letra longa para uma música com uma única batida. Ual! Vocês gostam disso? Pois bem, não quero dispersar mais. Voltemos a leitura.

Aperte play e sinta a raiva de Vanessa.

Parecia uma família patética e feliz. Alex estava sentado no canto, ao lado de uma garotinha sorridente. Vanessa não a conhecia bem, tanto quanto Alex. Dan também ocupava o canto, e ao seu lado, uma garota de cabelos longos e olhar selvagem ocupava uma pequena parte do banco. Dentro da paranoia de Vanessa, os dois formavam um casal perfeito. Dan sorria e olhava para garota como se apenas ela estivesse ali, ela, por outro lado, observava Alex com delicadeza. Não transparecia paixão. Conforto.

A garotinha comia seu lanche e brincava com um jacaré feio. Alex tinha um macaco no colo e a outra garota, uma coruja. Dan tentava não olhar as pelúcias feias combinando, mas era ridiculamente inevitável.

Ele então notou sua presença e sorriu. – Vanessa! – chamou.

Todos na mesa a fitaram, e os devidos reconhecimentos começaram. Alex lembrou-se da garota sorridente que sempre aparecia nas fotos de Dan, Hayley reconheceu a garota da máquina de brinquedos e riu sozinha. Anna ainda comia seu lanche.

Desconfortável, ela andou até a mesa, procurando com os olhos um lugar para sentar-se. Alex percebeu a confusão e puxou Anna para seu colo, abrindo espaço suficiente para a garota.

— Obrigada – murmurou, não reconhecendo a própria voz. – Então…

— Vanessa, esse é o Alex – disse Dan, fazendo os dois se olharem. Vanessa segurou a respiração por alguns segundo quando Alex a encarou com um sorriso, ela era mais gato do que na sua imaginação.

Olhar intenso, cabelos negros, aspecto vampiresco, do tipo vou te matar com o meus amor proibido – ou talvez isso fosse apenas parte da sua imaginação. Ombros largos e um sorriso perigoso. Se é que isso existia.

Ela corou ao perceber que até então não falara nada, apenas encarava o lindo rapaz a sua frente. – Oi – disse ainda tímida e se sentindo ridícula.

Encarou a garota à frente.

Um olhar acusador caiu sobre Hayley, que o notou e tentou disfarçar o súbito desconforto. Vanessa passava os olhos entre ela e Dan, procurando a apresentação esquecida por ambos. Dan cortou o rápido e silêncio. – Essa é a Hayley, amiga do Alex.

— E minha também – exclamou Anna, arrancando uma risada descontraída de Dan e Alex. Hayley encarava Vanessa como um tigre encara um gato.

Podemos ser da mesma família, mas eu continuo sendo um tigre e você um gato.  Havia um mistério por trás do olhar que fez Vanessa se sentir intimidada.

— Amiga da Anna, também – corrigiu-se olhando para a menor, que balançou a cabeça em sinal de aprovação e arrancando Vanessa d seus próprios pensamentos.

— Você é a garota da máquina de brinquedos – Hayley tentou não rir, mas foi em vão.

Vanessa teve a impressão de estar sendo vista como uma piada, notando, também, o quanto Hayley tinha uma olhar eu não ligo para ninguém, aquilo fez sua raiva crescer ainda mais. Já atingindo o limite, o qual Dan só alongava com os olhares fofos e incrivelmente apaixonantes. Concentre-se, Vanessa. Olhares irritantes, irritantes, i-r-r-i-t-a-n-t-e-s, que lançava para bela garota igualmente irri? O que? Tante!

— Eu mesma – disse irritada. De soslaio, pegou Alex a observando e, por Deus, ela não conseguiria ser babaca com um cara tão lindo observando ela o tempo todo.

Alex sorriu e completou a conversa que estavam tendo antes de Vanessa chegar. – Foi assim que a gente se conheceu, agora ela também sai de casa e é educada com as pessoas.

— Vai se foder.

— Um passo de cada vez.

Dan riu e comentou. – Pelo que parece, é você que está tirando ele da caverna, certo?

Hayley riu. Era estranho ficar ao lado de um garoto que não fosse seu pai e Alex. Era divertido, de fato, a sensação que sempre tivera ao socializar com o grupo masculino da história. Seu passado era sombrio, mas isso não significava necessariamente que todos eram sombrios.

Ela era sombria o suficiente. Sorriu outra vez ao perceber que estas lentas mudanças estavam tendo total influência de Alex, esperava ter o mesmo efeito sobre o amigo. Talvez ele se soltasse mais – e ela, também – talvez o clima tenso e melancólico o deixasse aos poucos.

Sim, pensar assim deixava sua amizade bem mais leve. Não apenas compartilhar momentos felizes, mas trazer mudanças positivas. Isso significava ser amigo.

Voltou a conversa. – Ele gosta de bancar o solitário, mas todos sabem que esse garanhão adora uma festa.

— Garanhão? – riu-se Alex. – Você tem uma alma de velha.

— Eu te entendo, Hayley – eles riram e Vanessa escutava, calada. Aquela era conversa mais chata que ouvira em toda sua adolescência. Seus tios estavam reunidos um domingo mais cedo ou ela estava no lugar errado mesmo?

Coisas erradas, hora de listar. Alex parecia sempre preocupado, como se alguém fosse dizer algo idiota a qualquer momento e, de alguma maneira, isso fosse afetá-lo. Dan não estava sendo o Dan, superficialmente engraçado, rindo de comentários e sorrindo nervosamente. Hayley era um enigma. Anna, um amor indiferente.

— O que pretendia com esse encontro, Dan? – ela perguntou quase se arrependendo logo em seguida. Na verdade, ela estava arrependida antes de ter dito.

— Como assim? – ele rebateu, não perguntou. Outra briga, ótimo.

— Sábado à noite, vamos encontrar nossos amigos no boliche e fingir que gostamos uns dos outros. Eba!

— Eu gosto da Hayley, não estou fingindo – disse Alex, tentando não piorar as coisas. Tarde demais.

— Ela está brava porque não conseguiu uma pelúcia – Hayley disse e era para ser uma piada, mas Vanessa sentiu-se ofendida.

— Desculpa se nem todo mundo nasceu com o seu dom de trapacear!

— Vanessa, foi uma piada – Dan rebateu outra vez. Hayley riu, achando graça.

— Vanessa, certo? – as duas se olharam. – Vamos conversar.

A ordem a pegou de surpresa. As duas se levantaram e saíram da presença dos amigos, que se entreolharam, confusos. Hayley  parou ao lado de uma mesa vazia e puxou uma cadeira com Vanessa ao seu alcance.

— Senta ai – ordenou, sentando também. Vanessa ficou parada, sem muito saber o que fazer. A raiva estava misturada com sua ansiedade. – Senta logo.

— Ok – respondeu, ríspida. – Fala – queria ter usado o mesmo tom de ordem de Hayley, mas entre os dons que Deus havia dado, autoridade não era um deles.

— Por que está sendo babaca? – perguntou sem rodeios e de braços cruzados. Apoiou o pé na cadeira.

— Não estou sendo babaca.

— Se você usar TPM como desculpa eu peço um suco só para jogar na sua cara.

— Não é TPM!

— Então o que é?

— Nada, eu nem te conheço, não te devo satisfações.

— Estamos sentadas na mesma mesa, rodeada pelas mesmas pessoas e respirando o mesmo oxigênio, já viu alguma ligação mais próxima do que a nossa? Acho que não. Você esta agindo como uma piranha, e não do tipo legal. Então fala logo, por que está brava?

— Não estou brava, merda! – exaltada, ela tentava inutilmente esconder o nervosismo.

Hayley franziu a sobrancelha. – Ciúmes é uma coisa tão engraçada, sabia? Desde o momento em que te vi, eu percebi. Foi engraçado logo de cara.

— Por isso estava rindo?

— Claro! Adoro ver pessoas ciumentas. Menos quando o ciúme esta direcionado a mim. Ai as coisas ficam irritantes, por isso eu te chamei pra conversar.

Vanessa engoliu em seco, surpresa por ter sido pega tão repentinamente.

— Eu diria que você esta com ciúmes do Alex, porque desde que eu virei amiga dele as meninas começaram a me odiar, porém – sorriu – o seu problema é com o tal de Dan – riu – que fofinho, Vanessa.

Presa em uma teia, ela só viu a confissão como saída. – Ok, e dai?

— Dai que as coisas começam a ficar interessantes. Primeiro, saiba que eu não tenho nenhum interesse por ele, menos um ponto para sua crise ai. Tipo, eu literalmente conheci ele agora, seria meio improvável sentir qualquer coisa por ele além de estranheza. Segundo, eu adoraria vê-lo dando uns beijos no Alex – as duas riram e Vanessa torceu o nariz, concordando internamente. – Terceiro, é bem óbvio que você está apaixonada por ele, e isso exclui qualquer insignificante sentimento que eu poderia vir a ter. Sei lá, mesmo você não indo com a minha, eu fui com a sua cara. E agora chegamos ao ponto que eu queria…

Ela fez uma pausa, Vanessa se inclinou, esperando algo ser dito. Nada. Hayley deixou um riso debochado escapar e ela percebeu que sua palavra revelaria o tal ponto.

— Fala logo!

— Você tem duas opções: deixar ele te fazer de trouxa, ou esquecê-lo e seguir sua vida. Eu sei que uma paixão é difícil de esquecer, e eu não sei o quanto você gosta dele, mas seguir em frente seria uma coisa boa para você. E eu adoraria te ajudar, hoje.

— Ele não esta me fazendo de trouxa, ele só não corresponde…

— De que lado você está?

— De nenhum. do meu. Eu sei lá! Estou tentando ser amiga dele, mas lidar com o fato de que ele gosta de outra pessoa é bem difícil. Ah, dane-se, ele gosta de você, pronto falei. Joguei a merda no ventilador mesmo.

— Que reviravolta!

— Você esta adorando isso, certo?

— Sim, muito. Menos a parte de gostar de mim... Isso é um pouco estranho.

— Você é lésbica? Diz que sim, por favor.

— Não, desculpa – riu. – É mais complicado do que isso.

— Você gosta do Alex?

— Não, ele é gay! – a notícia saiu rápido demais, Hayley tapou a boca e sentiu-se muito mal por falar da vida de alguém sem a permissão dela. – Finge que eu não disse isso, por favor.

— Que reviravolta – Vanessa ria descontroladamente. – Que reviravolta!

— Aah, enfim! Esquece isso e presta atenção aqui – ela pegou palitos de dente e guardanapos que serviriam com moldes para seu plano enquanto Vanessa se recuperava. – Eu vou te ajudar a encontrar uma carinha bem legal. Hoje, hein! Mas você tem que me prometer superar esse Dan.

— Eu não sei…

— Vanessa, me responde, esse sentimento esta te fazendo bem?

— Não – respondeu sincera. – É péssimo para amizade também.

— Viu? Pensa como seria melhor para vocês dois se você arrumasse alguém e esquecesse isso. Até então ele não correspondeu, por que em um passe de mágica ele corresponderia? Sem contar que ele gosta de outra pessoa.

— Você…

— A culpa não é minha, nem vem!

— Eu sei, eu sei – suspirou, pensativa. – Nossa amizade ficaria mais fácil e eu não me sentiria culpada…

— Sim.

— Você não esta me ajudando só para ficar com ele, né?

— Oh, não, fui pega – debochou. – Cala a boca, Vanessa.

— Vaca – as duas se olharam e riram. Hayley não era o monstro que ela pensava. – Desculpa pela minha estupidez. Na minha cabeça você era uma irritante pretensiosa.

— Eu sou, só estou do seu lado.

— Tudo bem, eu aceito sua ajuda.

— Vamos esfregar nossas calcinhas no chão!

— Só um pouco. Agora a gente precisa voltar e fingir que essa conversa nunca existiu, promete?

— Que conversa?

— A nossa, a que a gente acabou de ter.

— Nossa, você é muito tapada – riu e se levantaram, voltando à mesa no meio de uma falsa piada, os risos falsos acabaram se tornando em verdadeiros.

— Então...? – Dan perguntou, esperançoso.

— Ela está de TPM, dá um desconto.

Explicou ocupando o lugar ao lado de Alex, que passou o braço por cima de seu ombro e depositou um beijo em sua bochecha. Anna, antes que a garota se afastasse, puxou o braço da amiga e também deu um beijo. Findando a demonstração de afeto, Hayley lançou uma piscadela cúmplice para Vanessa, que estava ocupada demais observando a expressão incrédula de Dan.

Alex ficou sem reação e sentiu o clima pesar outra vez.


Eles parecem um casal, Vanessa pensou. Apressadamente, ela propôs. – Vamos jogar boliche!

 


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