O garoto escolheu o caminho da direita, após pensar durante 3 segundos e analisar que o som da palavra "direita" soava melhor do que a palavra "esquerda" ele resolveu seguir pela mesma. Após um tempo, o lindo bosque cheio de cores transformou-se em uma planície aberta e vazia, com apenas algumas gramíneas e vegetação rasteira pelo chão, e a pequena trilha de terra mudou para uma pequena estradinha de tijolos amarelos.

Conforme andava, o garoto ouvia uma voz ao longe, que, aos poucos, ia se aproximando, até ele olhar para o horizonte e, com muita dificuldade, avistar uma figura sentada na beira de estrada.

– Eu não sei onde está... – A pessoa lamentava-se. – Eu perdi, eu o perdi... Ela o tirou de mim...

Soren foi aproximando-se mais, e aos poucos, identificou a pessoa; era uma garota, a mesma estava sentada em posição fetal, pelo que ele conseguia ver, ela tinha cabelos brancos, usava um vestido branco com várias faixas e laços roxos.

– Ei... – Ele a chamou.

Repentinamente a garota parou, como se a bateria tivesse acabado, ela ficou totalmente imóvel, como uma estátua.

– Oi, eu não vou te machucar... Sou Soren, quem é você? – Ele estendeu a mão à garota, abaixando-se ao lado dela. - O que perdeu?

Aos poucos, a mesma foi levantando a cabeça, seus olhos eram de um roxo vibrante, as feições eram como as de uma boneca, a garota era simplesmente de uma perfeição inimaginável, seus cabelos eram curtos, ela usava uma fita no cabelo com um laço, parecia assustada, desconfiada e maravilhada ao mesmo tempo. Seus olhos brilharam ao verem o garoto a sua frente.

– A-Alice?

– Por que todos continuam me chamando assim?! Meu nome é Soren!!! Soren Halt!! – O garoto levantou-se alterando seu tom de voz, quase gritando, o que fez a garota assustar-se.

Ela riu levemente, o que fez Soren corar um pouco. – D-Do que está rindo? - foi apenas então que ele percebeu que havia falado com poucas garotas. Nunca fora muito de conversar com ninguém na escola, era do tipo que tinha poucos amigos, e os que tinha não eram tão próximos.

– Você é engraçado. – Ela estendeu a mão para ele. – Sou Lutka. – Ela sorriu.

– Que nome... - Soren parou por um segundo, tentando achar a palavra menos errada - Exótico... – Ele a ajudou a se levantar.

– Ah! Não, não! Meu nome não é Lutka, meu nome é Jessie, eu sou uma Lutka.

– E o que seria uma Lutka?

– Uma boneca criada para o divertimento humano. – Ela respondeu, quase indiferente.

O silencio instalou-se naquele momento, o garoto olhava para ela, perplexo, e ela parecia não entender o que estava acontecendo. Eles ficaram assim um tempo até que Jessie quebrou o silêncio:

– Você é a Alice que veio nos libertar... Dela. - O de óculos não conseguiu interpretar se aquilo foi uma pergunta ou uma afirmação.

– "Dela"...?

– Não posso falar sobre ela aqui... Vamos até a casa de Oz, ele irá nos ajudar. - Ela o segurou pelo braço.

– Espera, espera, espera, eu não dou um passo daqui até você me contar o que está acontecendo! - Ele fincou seus pés no chão. Parecia estar determinado.

– Eu odeio essa parte. - A garota suspirou e sentou-se no chão, parecia já ter repetido aquilo centenas de vezes e foi apenas explicando de forma rápida e mecânica. – Você é Alice, aquele, ou aquela, que nos salvará da tirania dela, a mulher que, há muitos anos vem matando gente inocente, e acabando com a liberdade e felicidade do povo. Ela nos criou, os Lutka, para que o povo ficasse feliz, mas, com o tempo, foram nos esquecendo, e a rainha ordenou que nos quebrassem. Como pode ver, eu sou de porcelana. – Ela apontou para si mesma. – Então sou relativamente frágil, mas, com o core nós somos praticamente inquebráveis.

– Espera, mas como uma boneca de porcelana se move? E o que é o core? – Ele sentou-se de frente para ela.

– Magia, ela nos possibilita a nós nos movermos. Core é o nosso núcleo, aquilo que faz com que nós fiquemos quase inquebráveis, porém, tem um preço: ficamos sem emoção ou expressão alguma, apenas servindo ao povo. – Ela levantou-se e limpou a parte de trás da saia do vestido. - E eu realmente quero sair daqui, porque se algum dos macacos ou guardas nos verem, estamos mortos.

– Macacos?

– Eu explico quando chegarmos na casa de Oz!!! Por favor, vamos!! – A boneca o puxou pelo capuz do casaco, obrigando-o a se levantar.

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Eles andaram por alguns metros pela estradinha de tijolos amarelos até a boneca parar em um ponto e olhar para a direita. Aparentemente não havia nada ali, o garoto ficou confuso quando viu Jessie andar na direção do nada e depois simplesmente desaparecer, como se tivesse sido engolida por alguma coisa invisível que estava no horizonte. Ele esperou alguns segundos até ela reaparecer de novo.

– E aí? Você vem ou não?

Soren a olhou e simplesmente resolveu confiar em Jessie, ele andou até o lugar onde ela estava e, em um piscar de olhos, era como se estivesse em um mundo novo, um cenário novo.

Uma casa enorme, cheia de prateleiras com incontáveis livros, totalmente feita de madeira, mas sem ter o aspecto velho que uma casa de madeira tem, pelo contrário; era como se tivesse acabado de ter sido construída, tirando pelo fato de que estava uma total bagunça e mal se conseguia andar por ali por conta dos centenas de papéis e livros, além de frascos de vidro e instrumentos desconhecidos espalhados pelo chão, era um lugar deslumbrante.

Um homem surgiu de dentro de uma porta ao lado de uma das dezenas de estantes de livros, o mesmo usava óculos de proteção e tinha em mãos um cutelo, usava um avental de açougueiro totalmente sujo de sangue, assim como suas luvas.

– JESSIE!!! – O homem correu para abraçar a garota, mas a mesma escondeu-se atrás de Soren.

– Você, nem pense em me abraçar com esse avental e essas luvas. – A mesma falou rapidamente e com uma voz brincalhona.

– Ah! – Ele olhou para si mesmo e tirou o avental e as luvas, jogando-os no chão da casa junto com o cutelo e os óculos e correu para abraçar a boneca, a mesma retribuiu o abraço, ele a girou pela sala, até pôr ela sentada em cima do balcão que havia ali.

– OZ!!! – Ela deu um enorme sorriso.

Oz retribuiu o sorriso. O homem era loiro, com cabelos enormes cabelos presos em uma trança fina, uma cicatriz que ia do queixo até o lábio superior, e olhos de um verde esmeralda tão lindo e brilhante que era quase como se seus olhos fossem realmente duas pérolas.

– Jessie, encontrei mais um coelho, e este é perfeito! Dorothy me deu mais um pote de pó de orquídea! Acho que finalmente posso fazê-lo! Vamos, venha! – Ela puxou a boneca pelo braço, mas ela os impediu de entrar milímetros antes de eles atravessarem a porta, freando com os pés subitamente.

– Oz, eu tenho um pedido a você... - Ela falou, como uma criança que pedia algo, pondo as mãos atrás do corpo e abaixando a cabeça com um olhar e sorriso sapecas.

– Claro! Tudo pela Jessie! – Ele sorriu.

– A nova Alice chegou, e quero que você nos dê o mapa para chegarmos até o castelo, por favor. – Ela pôs as mãos juntas na frente do rosto, como se implorasse.

O homem olhou por cima dos ombros da boneca e viu Soren, com um olhar de "Olá, eu sou a nova Alice mesmo sem saber exatamente o que isso significa". O loiro fechou sua expressão e foi até ele com um olhar severo, mudando totalmente sua postura de uma pessoa divertida e amável para alguém que poderia o repreender, o que fez o garoto ficar levemente acanhado.

– Não gostei dele, o último foi muito melhor. – Ele voltou-se para a estante de livros atrás de si e puxou um livro, dentro do mesmo havia um mapa, um enorme mapa, que era estranho para Soren, mas extremamente familiar para os dois que ali estavam. - Jess. - Ele voltou seu olhar à boneca. - Preciso falar com você.

Ela assentiu.

– "O último foi melhor"? – O garoto cruzou os braços, ignorando a última frase dita por Oz.

– Você nunca explica a história toda. – O loiro lançou um olhar semicerrado de desaprovação para a boneca e logo depois voltou suas orbes verdes de volta ao mapa, abrindo-o e analisando-o.

– Desculpe, é que contar a mesma história 163 vezes se torna extremamente cansativo. – Ela foi até o moreno devagar, ficando a sua frente. Só então o garoto percebeu a diferença de altura entre ambos, chegava a ser quase cômico. – Chesire, o gato que te trouxe até aqui, todo ano trás 5 ou mais pessoas até aqui, todas são escolhidas por ele, não sabemos exatamente que critérios ele utiliza para escolhê-las, mas sabemos que todos que vieram aqui até agora eram todos inteligentes, mas nem todos eram gentis, nem tinham nenhuma característica física comum, além de o sexo também variar. – Oz entregou o mapa à Jessie.

– Jess, vocês vão ter que ter doces quando encontrarem com John e Mary no caminho. – A garota assentiu e ele entrou na porta de antes, segundos depois ele voltou com duas pequenas sacolas cheias de guloseimas doces.

– Se os macacos o verem com essa roupa vão perceber que ele é outra Alice, e vão avisar aquela mulher, mas não suspeitarão se eu disser que sou uma mensageira. Eles são burros, depois de 163 vezes ainda acham que eu realmente sou uma mensageira. – Ela riu, relembrando-se de outras aventuras anteriores.

– O que tem de errado com a minha roupa?

– Ela tem vestígios mágicos, garoto. Os macacos sabem ver vestígios de quem passou pelo abismo. – Oz entrou na porta novamente e voltou com roupas dobradas. – Use isso, é uma roupa normal, e acho que combina com essa sua cara de nerd. - O de óculos ficava impressionado o quanto Oz conseguia mudar o tom de voz quando falava com Jessie e quando falava com ele.

– Ei! – Ele pegou as roupas das mãos do homem.