Continuamos comendo o sorvete em silêncio, queria pagar um para a conselheira tutelar que estava junto, mas ela disse que não podia aceitar por conta que estava trabalhando, e aceitar “presentes” atrapalharia o processo. Assenti, já que não queria que nada atrapalhasse, nem insisti.

— Então meu amor, como sua mãe tem te tratado.

— Ela não é minha mãe. – Ele disse firme. – Você é. – Ele suspirou. – Ela me trata bem até, me da o que comer, tenho um quarto para dormir. As vezes não briga comigo, e diz que se eu ficar no meu canto as coisas vão ficar bem.

— Como? – Perguntei incrédula.

— Ela disse que se eu comer no quarto, fazer minhas coisas direito, tudo vai ficar bem. Disse que conselheiros não visitam pais biológicos e que ninguém ia se meter mais na minha vida. E que era para eu me acostumar. Eles não gostam muito de mim. – Ele suspirou.

— Como não meu amor. – Tentei amenizar, sabia que isso o fazia sofrer. – Por que mais eles iriam querer você por perto se não te amassem?

— Dinheiro eu acho. Ouvi eles falando esses dias que logo sairia o dinheiro que eles iam ganhar por estar comigo, uma herança eu acho. E acho que é por isso que eles me querem por perto, acho que não ganham o dinheiro se eu não estiver junto. – Suspirou. – Disse que só faltava vim os papéis para que eles pudessem pegar tudo.

Olhei-o incrédula. Então era isso? Queriam o Lorenzo por conta do dinheiro. Olhei para a conselheira tutelar. Agora eu tinha algo realmente forte contra eles, eles nunca mais tocariam em Lorenzo.

Depois de passar um dia maravilhoso com ele, eu o peguei no colo e murmurei para ele.

— Se seus pais perguntarem, não diga que me falou sobre o dinheiro. Não quero que eles fiquem brabos contigo.

— E você vai voltar para me buscar? – Ele me olhou suplicante com os olhos mareados.

— É claro meu amor, já estou fazendo de tudo para trazer você de volta para casa, e não esqueça o quanto eu te amo.

A hora de entregar Lorenzo foi ainda mais dolorosa. Ao ver Rafaela o recebendo, sabendo que não tinha nenhum amor pelo filho que ela colocou no mundo, minha vontade era de parti-la em dois. Não podia fazê-lo, tinha que me controlar, e deixar que o tribunal tomasse conta dela depois.

Agora precisava ir atrás de um detetive melhor que o que Gil havia conseguido, para confirmar essa história. Isso poderia facilitar muito, e eu ganharia o direito de ter Lorenzo junto comigo, onde era o lar dele. Agora tinha de voltar para casa, pegar Julia na creche. Ela perguntava pelo pai há alguns dias, o mesmo havia sumido do mapa, não ligava mais, não perguntava por Julia e quando liguei para o hotel que ele tinha se hospedado quando nos separamos, disseram que ele havia saído de lá.

Fiquei preocupada, mas não moveria mais nenhuma palha para encontra-lo. Havia ficado farta de tudo. Estava cansada física e emocionalmente.