Não Me Deixe Ir escrita por Juliane Bee


Capítulo 2
Espelho.


Notas iniciais do capítulo

Hello, it´s me.
Gente, que demais essa recepção de vocês! Eu amei cada comentário :) Muito obrigada! E podem ficar tranquilos, eu não vou sumir hahah Esse capitulo de hoje (27), por exemplo, foi programado, e o próximo também já está. Yey! Ninguém vai ficar na mão, ok? Mas minha resposta aos comentários pode demorar um pouco. Tentarei responder pelo celular catando a wifi de uma loja perto do meu cursinho kkk God bless aquela loja! Então me perdoem pela demora, não é descaso, é falta de internet mesmo. "Tá, e como voce vai fazer para postar os outros capitulos?" Bingo! Como não tenho internet em casa eu escrevo no meu tempo livre, e toda quinta feira depois da aula - no período da tarde -tentarei ir até uma lan house para responder os comentários que faltaram, e agendar o capitulo da semana. Na teoria acho que consigo, vamos ver na prática :)
Sobre o capitulo anterior, bem, conhecemos um pouco sobre a Claire, mas ainda não sabemos nada sobre seu passado. No capitulo de hoje vamos ver um lado dela desconhecido, e assim como Helen ficaremos surpresos com algumas atitudes dela. O pior é que também existe isso na vida real. A pessoa nem te conhece, e já comenta algo negativo sobre voce. Lamentável.
Ahhh! Outra coisa, eu gosto de colocar músicas nos capítulos (minhas leitoras fieis já sabem disso kk) só que dessa vez vou colocar o link da música (quando possível). Começaremos com Ghosts, da Gabrielle Aplin :) Amo ela, e essa música é muito Claire, combinou com essa fase dela. Espero sinceramente que gostem da música, e do capitulo.
Nos vemos em breve,
Não esqueçam de comentar,
E boa leitura!
Beijão~



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When you're awake on your own

Shadows turn into ghosts..

Ghosts— Gabrielle Aplin

(...)

Respirei fundo antes das portas do elevador se abrirem.

Olhei meu reflexo no espelho. Eu estava um caco, tanto por dentro quanto por fora. Cada vez mais minhas energias são consumidas pelos fantasmas que me assombram internamente.

Soltei o ar e me dirigi até minha sala. Ao entrar, deparei-me com um buquê de rosas generoso, pela qualidade deve ter custado provavelmente mais de duzentos dólares.

Helen chegou logo em seguida.

— Deixe-me adivinhar, Sebastian ou Geoffrey? - ela riu tímida.

— Sebastian. - devolvi o cartão - Ele está se superando, confesso que admiro sua força de vontade. - continuei arrumando minha mesa. - Alguma mensagem, email, reunião ou data comemorativa? - ela negou com a cabeça.

— Ah, hoje um dos funcionários mais antigos do departamento de RH está se aposentando.. - ela olhou para a agenda - Nev..

— Shepard. - balancei a cabeça - Não é que ele está entregando as pontas? - gargalhei - Vou dar uma passada lá para me despedir, providencie um cheque bem generoso para essas primeiras férias.

— Qual o valor exato?

— Dez mil dólares. - seus olhos se arregalaram.

— Senhori.. Claire, tudo isso? - assenti.

— Se não fosse pelo velho Shepard eu nem estaria aqui, Helen. Ele merece muito mais do que um simples cheque pela sua contribuição na empresa. - ela balançava a cabeça concordando em silêncio. - Mais alguma coisa?

— Sim. - se aproximou - Sobre aquele assunto, consegui o último lugar em um voo hoje a noite. - que maravilha - A distância é grande, a senhorita sabe. Perdão. - gaguejou - Mas o avião chegará apenas as 6 horas da manhã.

— Tudo bem, se foi o que conseguiu de última hora.. - sorri.

— Claire, - voltei a fita-la - a empresa disponibiliza jatinhos para os cargos mais altos, porque não usa um deles? - ri fraca.

— Eu realmente acho esse gasto desnecessário, posso muito bem pegar um avião comercial sem problema algum. Seria hipocrisia da minha parte gastar mais de 5 mil dólares em uma viagem sabendo que demiti quatro pessoas na segunda por “corte de gastos”. Simplesmente não faz sentido.

— A senhorita tem razão. - sorriu.

— Obrigada, Helen. Pode ir agora. - ela me deixou sozinha.

Senti um desconforto no estômago e me remexi na cadeira. Eu sabia muito bem que não estava indisposta por causa do café da manhã. Não comi nada, não consigo fazer isso quando estou nervosa.

Sim.

Claire Walsh está com medo de voltar para casa.

Decidi focar no trabalho que ganharia muito mais tempo e dinheiro. Aproveitei também para organizar umas tarefas especiais para Helen durante minha ausência. Depois de algumas horas, quando o horário de almoço apitou em meu celular, fingi que não vi, tinha me engajado em um caso que merecia total atenção.

Uma ONG em defesa de animais marinhos tentava a todo custo paralisar as obras de um porto que ameaçava toda baía. Aquilo envolvia política também, e nunca que nosso escritório concordaria em pegar essa causa. Por mais que eles estejam corretos, o próprio governo já deu seu aval favorável a construção. Tem muito mais em jogo aqui.

Peguei o celular em mãos e procurei em minha minúscula lista de contatos um número em especial.

Alô?— seu tom de voz demonstrava surpresa.

— Stefan Reagan?

Sim, é ele mesmo.— silêncio - Desculpe, esse número não está gravado em meu telefone, quem está falando?— ri baixinho.

— Sou Claire Walsh, a “capitalista que não liga para a comunidade que sofre com as ações das empresas que minha companhia defende”. - repeti a frase exatamente como ele havia dito semanas atrás. - Você jogou seu cartão em mim aquele dia, não se lembra?

Há quase três semanas estava saindo do escritório, quando uma manifestação contrária a uma das empresas que defendemos - ganhamos o caso em questão - acontecia em frente ao prédio. Algumas pessoas reconheceram meu carro e começaram a agredi-lo. Um homem, na casa dos trinta, estilo descontraído - nada parecido com seu jeito grosseiro - começou a me destratar e a jogar papéis pela janela.

Prontamente quando cheguei em casa - irritadíssima pelo que tinha acontecido - procurei o nome do tal homem na internet. Stefan Reagan, professor de ciências políticas em uma universidade comunitária e militante de diversas causas sociais. Consta também que ele foi preso por não sair de um imóvel da prefeitura que segundo ele é "um marco nacional".

Gostei do cara, idealista.

Ahn..— ele não sabia o que dizer - Eu.. a que devo a honra?

— Tenho um caso em minhas mãos que merece atenção da mídia e acredito que com a visibilidade certa pode ser ganho. - expliquei tudo a ele.

Eu ainda não entendi uma coisa, Walsh.— ele pensou antes de me chamar pelo nome. - Por que está me contando isso? Você sabe que a chance de perdemos é enorme.

— Não dessa vez, isso se trata de um crime ambiental. - estava tudo tão óbvio - Olha, eu não posso defender esse caso, existem mil coisas envolvidas e não tenho como ir contra meus superiores. Sei que se você fizer um alarde a mídia vai olhar com mais atenção e o governo vai suspender esse aval ridículo. Você pode fazer isso? - ele gaguejou alguma coisa, mas não respondeu de primeira.

Desculpe por aquele dia, Walsh.— silêncio mais uma vez - Você é muito mais que uma burguesa.— não contive o riso - Obrigado por me ligar.

— Não fiz mais do que minha obrigação. - era verdade - Mas, por favor, em hipótese alguma envolva meu nome.

Deveria ser ao contrário.

— Isso não vem ao caso. - disse seca - Espero que dê certo, Sr. Reagan.

Muito obrigado, Walsh. Você tem um aliado aqui.

— Digo o mesmo. - e desliguei.

Pelo menos dormiria um pouco melhor à noite.

Isso se conseguisse dormir.

****

Na metade da tarde soube por Helen que uma festa de despedida havia sido montada para Nev. Como já tinha finalizado tudo, resolvi passar pelo segundo andar.

— Venha comigo. - terminei de arrumar minha bolsa.

— Claro. - senti uma pontada de tristeza em sua voz.

Pelo que pude notar nesses dias em que Helen tem trabalhado para mim, ela ainda não fez muitos amigos por aqui, o que eu entendo muito bem. As poucas mulheres que trabalham no escritório ao invés de se apoiarem e ajudarem uma a outra, não o fazem. Preferem ficar falando mal das colegas pelos quatro cantos, seja pelo jeito ou sotaque, nunca pela competência.

É ridículo.

Helen é uma garota extrovertida pelo que pude perceber. Tem 21 anos e está finalizando a faculdade de administração. Logo no primeiro dia já a adverti que esse mundo corporativo pode ser muito machista, mas que ela não pode de jeito nenhum ser destratada pelo simples fato de ser mulher. Não aqui. Se ela foi aprovada na seleção, é pela sua competência, não por beleza.

Quem me disse isso uma vez foi Nev.

Ao chegar na recepção muitas pessoas já estavam ali, algumas eu nunca tinha visto antes. A recíproca não era verdadeira, e percebi que algumas mulheres - e homens - me encaravam de uma maneira diferente. Sustentei o olhar, não devo nada a ninguém.

— Claire! - Nev sorriu ao me ver. Ele estava bem mais grisalho do que me lembrava.

— Não acredito que está nos abandonando. - o abracei.

— Já estava na hora, não acha? - notei pés de galinha ao redor de seus olhos - Obrigado pelo cheque, não tinha necessidade. - franzi o cenho, claro que tinha.

— Não fiz isso por mim, e mesmo que o fizesse, você merece. Todos esses anos trabalhou com tanto carinho, mostrou como se trabalha por amor. - agradeci - Você empregou muitos jovens que já saíram do estágio prontos para o mercado de trabalho.

— Como uma certa moça que virou vice presidente. - escutei cochichos ao meu redor sem querer.

— Obrigada por ter me dado uma chance, Nev. Eu precisava muito dela naquela época.

— Eu sei. - assentiu - Vi nos seus olhos potencial e você me provou que não estava errado. - sorri - Claire, - seu tom de voz mudou - Você já conseguiu tudo que desejava, pelo menos nessa empresa, mas eu não te vejo feliz. - mordi o lábio. Talvez a dor conseguisse amenizar outra muito pior, a solidão. - Não falo isso para te atingir, longe disso, é só que ainda vejo aquela jovem assustada, frágil. Você tem que sair dessas grades e viver lá fora.

— Eu sei, Nev. - ele sorriu gentil.

— Você não precisa mais ter medo de nada, sabe disso. Agora você é uma mulher forte! - fez uma careta - Por favor, não esqueça de mandar notícias. - me abraçou.

— Digo o mesmo, não deixe de mandar seus cartões de natal. Eu adoro recebe-los.- Ele sorriu se despedindo. Nev era um dos poucos amigos que fiz aqui, um dos únicos. Ele cumprimentou outra pessoa, e eu me vi sozinha com toda aquela gente. Andei até um canto procurando me isolar.

Era nítida a inveja com a qual me olhavam, principalmente as mulheres mais velhas.

— Aceita um salgadinho, senhorita Walsh? - uma das funcionárias da limpeza me estendeu um prato.

— Obrigada, Consuelo. - ela sorriu. - Como está o Diego, tudo certo na escola?

— Sim, senhorita. Ele está cada vez melhor e a professora disse que é o primeiro da classe.

— Isso é muito bacana, fico muito feliz. - sorri sincera, esse garoto vai longe.

— Muito obrigada por tudo. - ela estava emocionada.

— Ei, - me aproximei - Aproveite que hoje é dia de festa. - sorri - Se precisar de mais alguma coisa é só falar comigo, tudo bem?

— Que Deus lhe abençoe, Claire. - voltou a servir os convidados, só que dessa vez sorrindo ainda mais.

Ela foi a única que falou comigo em 20 minutos.

Sim, eu contei.

Depois de um tempo Helen acenou para mim, vindo ao meu encontro.

— Graças a Deus. - sussurrei baixinho - Eu estava procurando por você.

— Me perdoe, eu estava no banheiro. - conheço esse truque, já usei muitas vezes.

— Eu estou cansada, acho que já vou para casa terminar de arrumar minhas malas. Você precisa de carona? - seus olhos se arregalaram mais uma vez.

— Não precisa se incomodar, Claire. - gostei que me chamou pelo nome.

— Está tudo bem, vamos. - dei uma última olhada na sala em busca de Nev. Só obtive olhares maldosos. Levantei o rosto e saí, não preciso disso.

Ao chegar no carro confirmei a ela mais uma vez que não teria problema em lhe dar uma carona.

— Onde você mora?

— É um pouco longe daqui, uma república para estudantes em South West. - era bastante longe. Sei por que também morei lá quando cheguei na cidade.

— Helen, como você vem para o trabalho?

— De ônibus. - meu palpite estava certo. Ela deve pegar um ás 5 e meia, e para voltar um ás 7.

— Vou providenciar um carro para você, assim ficará mais fácil para atender qualquer eventual emergência.

— Obrigada. - sorriu aliviada. Eu sabia como era difícil acordar cedo todos os dias e ficar horas dentro de um ônibus lotado.

Liguei o rádio, hoje não queria ficar em silencio.

— Posso.. posso fazer uma pergunta? - me surpreendi.

— Claro.

— De todas as pessoas na festa, a senhorita só falou com uma faxineira, não conversou com mais ninguém.. - ela estava curiosa.

— A Consuelo não é uma simples faxineira, ela trabalha conosco há uns dois, três anos, e sempre me tratou com muito respeito. Uma manhã notei que ela estava mais atrasada que o habitual, e também um pouco nervosa. Pedi o que estava acontecendo e ela me contou que a escola em que o filho estudava estava muito perigosa, algumas gangues fizeram ameaças aos professores que não conseguiam contornar a situação. Não podia deixar isso continuar acontecendo, Diego tinha só 12 anos. - a encarei - Consegui uma vaga para ele em uma escola particular perto do escritório, e aumentei o salário dela para que pudesse morar na região. Quem paga a escola dele sou eu e, consequentemente, quem mais ganha com isso sou eu também. - sorri - Diego é um garoto muito inteligente, já avançou um ano. Ele quer ser médico, e eu não poderia ficar mais feliz em ajuda-lo a conseguir alcançar esse objetivo. - continuei prestando atenção na estrada.

— Nossa.. - gaguejou.

— Não sou esse monstro que todos falam, não é? - gargalhei - As pessoas gostam de falar e as vezes não vale a pena contestar esses boatos. Ninguém quer a verdade, só a sujeira. - falei com amargura porque sabia bem disso.

— A senhorita é muito generosa com todos ao seu redor, é inteligente, muito bem sucedida, não entendo por que falam coisas horríveis a seu respeito.

— Você mesma já disse a resposta, sou bem sucedida. - olhei para ela - Na vida ninguém quer saber o que você fez de bom, e sim o que faz de errado. Aquelas pessoas na comemoração de hoje não gostam de mim e nem ao menos me conhecem. Talvez porque eu seja vice presidente, ou por nunca ter me relacionado com nenhum colega de trabalho. Nada é pior do que um homem rejeitado, Helen. Não se engane. - ela assentiu - Falando nisso, você tem namorado?

— Sou noiva. - seu rosto se iluminou - Assim que terminar a faculdade vou voltar para minha cidade e casar com meu namorado. Estamos juntos desde o colégio. - senti um goste de bile na boca. Não queria mais ouvir o resto da história.

— Que bom, Helen. - disse seca.

Ela poderia muito bem ser a Claire de anos atrás, era como se eu estivesse me olhando no espelho.

Senti um misto de raiva e rancor, e preferi não falar mais nada. Ela não tem culpa do que aconteceu comigo.

— É aqui. - apontou para um prédio antigo - Muito obrigada.

— Providencie um carro para você. - seu rosto se iluminou - Poderá usar também nos finais de semana, se quiser viajar para sua cidade, ver seu noivo, não tem problema.

— Muito obrigada, Claire. De verdade. - ela me abraçou. Fiquei um pouco sem reação, mas não a contive. Sei como é bom não se sentir sozinha em um lugar sem amigos.

— Tchau, Helen. - acenei para ela, que já estava fora do carro.

— Boa viagem, Srta. Walsh. - assenti, mesmo sabendo que a viagem seria tudo, menos

"boa".


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Notas finais do capítulo

E então? Espero do fundo do coração que tenham gostado :)
Se gostou, não esqueça seu comentário que me ajuda pra caramba! Hahahah
Vejo vocês na semana que vem!
Mais uma vez, posso até demorar para responde-los, mas o farei!
Bom final de semana,
Até breve,
Beijão~