Não Me Deixe Ir escrita por Juliane Bee


Capítulo 14
Experimente contar a alguém o que aconteceu hoje!


Notas iniciais do capítulo

Hello, it's me!
Sei que o aniversário é meu, mas hoje, quem vai ganhar um presente são vocês :)
Queria muito postar um capítulo no meu aniversário, para manter mesmo a tradição hahah e consegui, yey! Obrigada a todos que já me desejaram feliz aniversário. Tudo em dobro para vocês! Posso pedir presente? Que vocês por favor comentem esse capítulo, que é um dos mais difíceis que já escrevi.
Escrever é emoção, mas escrever cenas como a do capítulo de hoje, nossa, mexem com meu psicológico de uma maneira.. Decidi aprofundar um pouco o passado da Claire, e como ela não vai contar para ninguém o que aconteceu (por enquanto), achei melhor postar uma memória, relatando tudo que aconteceu aquela noite. Assédio é uma coisa séria, abuso, estupro, violência contra mulher, é ridículo ainda vivermos em uma sociedade machista. O que eu puder fazer, como mulher, filha e futura mãe para defender minha posição como igual perante a sociedade, vou fazer. Machismo pra mim não cola. Se nem meu pai - que é meu pai - falou alto comigo, por que um homem qualquer pode fazer isso? Não.
Esse capítulo mostra o nascimento da nova Claire, empoderada e segura de si. BELA, RECATADA E DO LAR, essa é nossa protagonista. Bem sucedida, justa e feliz (do seu jeito), precisa falar alguma coisa? :)
Foi bem difícil escrever esse capítulo - emocionalmente falando -, mas fiquei feliz com o resultado final. Hoje (23) completo 19 anos, e percebo que amadureci muito desde minha primeira fic, há 3 anos. Sempre gostei de personagens fortes, e Claire me orgulha muito. Quando dizem que ela sou eu, me sinto realizada. Obrigada por tudo, leitores :)
Espero que curtam o cap, que seguiu uma trilha do ano de 2006 mesmo hahah relembrem um pouco esses sucessos!
Boa leitura!
ps: vou responder todo mundo em breve!
ps2: lembram dos trabalhos que falei? O vídeo para faculdade e tals? Tirei 9,5 hahaha
ps3: NÃO ESQUEÇAM MEU PRESENTE! QUERO TODO MUNDO COMENTANDO ESSE CAPÍTULO! Quem comentar vai ganhar um brigadeiro :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/660787/chapter/14

Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

How to Save a Life— The Fray 

(...)

2006

Senti minha cabeça girando.

O copo de bebida já não estava mais em minhas mãos, mas eu não fazia ideia de onde o tinha colocado. Jenny sorriu me encarando. Seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo, enquanto seu piercing reluzia no umbigo.

— Vamos, vai ser divertido. - disse no telefone - Você não pode ficar na bad por causa do James a vida toda. Qual é, Claire!– ri fraca.

Não era só isso.

Só Deus sabe quantas vezes pensei em contar para ela o que (realmente) estava acontecendo na minha casa, mas não quero importuna-la com um fardo pesado demais, não é justo.

— Tá, eu vou. - sabia que seu eu falasse não ela insistiria até eu aceitar. Papai também tem comentado que não saio mais, que deveria me preocupar menos com tudo isso, viver como uma garota da minha idade, então porque não deixa-los felizes?

A bebida já estava fazendo efeito, meu corpo estava leve e minha cabeça vazia. Era tão bom me sentir assim.

— Claireee - gritou.

— Eu não acredito! - ri alto.

Nas últimas semanas viciamos em Gimme More, novo sucesso da Britney Spears pós-rehab.

Me aproximei dela.

— Duvido você ir até aquela pilastra e dançar como se fosse pole dance. - ela sorriu dissimulada.

— Isso é uma aposta? - balancei a cabeça como se estivesse em um show de heavy metal. Meu nível de álcool no sangue estava alto.

Ela correu até lá, girando como uma louca.

— Sua tentativa de ser sensual falhou. - disse a ela, que agora me encarava.

— Minha vez.. - franzi o cenho.

Como sempre ela transformou isso em uma competição.

— Duvido você ir até lá dançar com Mike. - apontou para alguns garotos que dançavam sozinhos. Mike Vega, dono da casa, estava entre eles.

Seus pais eram o casal de dentistas mais famoso da cidade (um dos únicos) e juntos construíram um império. Pelo que Jenny me disse, eles viajaram para um congresso, por isso a festa pode acontecer.

Que tipo de pais autorizaria uma farra de adolescentes regada a vodca?

— Eu notei que ele não tirou os olhos de você desde que chegamos. - sussurrou em meu ouvido - Vai! - ela já estava me empurrando - Você merece se divertir.

Parei por alguns instantes.

Uma sensação de pânico me atingiu, um sentimento ruim.

— Acho melhor não. - voltei até ela.

— Claire, você e o James terminaram há quatro semanas. Deixa ele pra lá, pense em você agora. - Jen tinha razão, ele nunca vai me perdoar mesmo.

Fui até os garotos, passando na frente de Mike.

Tentei fazer meu olhar mais provocante, andando para o outro lado do cômodo, na esperança de que ele me seguisse.

Girei para encara-lo melhor, percebendo que ele estava se aproximando.

— Bingo.. - sussurrei.

— Nunca pensei que te veria aqui. - disse enquanto dançávamos juntos - Claire Walsh na minha humilde residência. - riu.

— Porque não? - encarei-o. Seus olhos eram de um verde esmeralda lindo. - Que eu saiba não sou propriedade de ninguém, posso ir aonde quiser.

— O que acha do meu quarto? Podemos ficar mais a vontade lá. - notei que as pessoas ao nosso redor nos encaravam. Ótimo, minha fama de vadia vai crescer ainda mais.

A última vez que conversei sozinha com um garoto, sem meu namorado, gerou uma das maiores fofocas da cidade. Aparentemente eu traí James com Nate Collins. Para piorar, Nate namorava Kim, minha ex-cunhada. Digo ex, porque nós terminamos. James e eu. E eu odeio ter que lembrar disso.

Desejei um gole de bebida.

As pessoas gostam de fofocar.  Dessa vez elas terão um motivo real.

Entrelacei nossos dedos, ele entendendo o recado.

Segui Mike pelas escadas, observando as fotografias pelo corredor.

— Você era um bebe tão fofo. - soltei um gemido.

— Quer dizer que não sou mais fofo? - fez uma careta.

Ele era tão lindo que chegava a ser surreal.

Notas excelentes, ótimo esportista, capitão do time de lacrosse, participa da comunidade, toca piano na orquestra da cidade, é gentil com todo mundo. Não pode ser. Alguma coisa não está certa, ninguém é assim tão perfeito.

— Então, como é ser o Menino de Ouro? - perguntei enquanto entrava no quarto - Nossa! - me surpreendi com a quantidade de troféus espalhados pelo cômodo.

— Pois é, todo mundo tem essa reação quando entra aqui. - sorriu, os dentes perfeitamente alinhados.

— Seus pais fizeram um ótimo trabalho. - sorri para ele.

— Obrigado. - disse sem graça - Poderia até pedir um desconto pra você, mas não é necessário. Você não precisa disso, Claire. - senti minhas bochechas enrubescerem - Você fica linda assim, sabia? - ele se aproximou.

Me afastei um pouco. Ainda não estava pronta para fazer isso, me sentia uma adúltera. Não estava traindo James, mas sim meu coração. Eu ainda o amo.

— Mike.. - tentei afasta-lo com as mãos. Ele pegou meus dedos e os beijou, um a um.

— Você não sabe o quanto invejei James todos esses anos. - afastou uma mecha de cabelo do meu rosto, tirando-o também do ombro, que ficou exposto - Tão linda. - afagou a região - Ele podia te beijar, te abraçar, te tocar.. - tentou abaixar a alça do meu vestido.

— Mike, eu não estou afim.. - olhei para a porta, mas seu corpo me impedia de chegar até lá. Teria que passar por ele para isso.

— Tudo bem, Claire. Nós vamos com calma.. - começou a mordiscar minha orelha, passando para meu pescoço.

— Não! - empurrei-o, mas ele era forte demais. Senti meus olhos marejados, eu estava apavorada.

Um sorriso sádico se formou em seus lábios.

— As agressivas são as que eu mais gosto.

— Não se aproxime ou eu grito! - ameacei, mas ele gargalhou.

— As pessoas lá embaixo sabem muito bem o que viemos fazer aqui, ou você acredita mesmo que elas pensam que subimos para conversar melhor? - voltou a se aproximar - Claro que não, não seja burra.

— Eu to falando sério, Mike. - minha voz saiu trêmula.

— Você tá muito estressada, deixa que eu te ajudo a aliviar a tensão. - e me jogou na cama, posicionando seu corpo sobre o meu.

— Saía de cima de mim! - senti um gosto de bile na boca. Eu estava com tanto nojo que podia vomitar ali mesmo.

Mike puxou a alça do vestido, expondo meu seio direito.

— Linda.. - seus olhos brilhavam, vi meu reflexo neles.

Mesmo com os olhos embaçados pelas lágrimas, eu tentava arrumar uma maneira de sair dali, observando todo o quarto. Era questão de sobrevivência sair dali.

Sua boca estava próxima o suficiente da minha, ele estava prestes a me beijar. Consegui sentir sua excitação através do jeans.

— Seu monstro! - foi involuntário, e quando dei por mim vi seu corpo estirado no chão. Em minhas mãos um abajur pingava algumas gotas de sangue. Não faço ideia de onde surgiu essa força, mas era o que eu precisava para que ele saísse de cima de mim.

Levantei da cama em um pulo.

— O que você fez? Sua vadia.. - colocou as mãos no rosto, que agora sangrava.

— E o que você estava prestes a fazer, hein, seu babaca? Isso é pouco para o que você merece, nojento! - puxei a alça do vestido - Eu vou acabar com você!

Ele riu.

— Vai, é? - disse sereno - Quero ver alguém acreditar em você, uma vadiazinha barata. - mordi a bochecha, eu estava com tanta raiva - Você me atacou porque eu não quis transar com você, que tipo de garota faz isso?

— O que?

— Essa sua história não tem fundamento nenhum, acha mesmo que alguém vai acreditar? - sua tranquilidade era doentia.

— E daí? O burburinho fala por si só. - ele ameaçou se levantar. Levantei o abajur.

— Experimente contar a alguém o que aconteceu hoje para ver o que faço contigo.. - senti um arrepio percorrendo minha espinha - Não só com você, mas com seu namoradinho.

— Você não.. - ele voltou a sorrir - Eu odeio você com todas as minhas forças, seu babaca!

— Você fica um tesão falando desse jeito. - balancei a cabeça assustada.

— Um dia você vai pagar por isso.. - abri a porta correndo, e saí de lá.

Parei nas escadas ofegante, eu não conseguia respirar.

Fitei meu pulso, agora roxo aonde Mike tinha apertado.

Os últimos acontecimentos martelavam em minha cabeça, eu só queria sair dali. Fugir.

Desci as escadas a procura de Jenny.

— Hey! Que rápido! - não precisa, ela me encontrou.

— Vamos embora daqui. - puxei-a pelo braço.

— Não, nem vem! Você já arrumou alguém, mas eu estou esperando Sam vir dançar comigo, o que provavelmente vai acontecer uma hora.. - ela continuou falando, mas eu não estava ali. Tinha saído de órbita.

O que tinha acabado de acontecer?

Foi real?

— Eu preciso ir embora, mas por favor, se cuide. - interrompi sua fala, procurando a porta de entrada.

— Claire?! - deixei-a falando sozinha.

Esbarrei em algumas pessoas até conseguir sair da casa. Procurei minhas chaves no bolso da calça jeans, não conseguindo pega-las por conta das mãos tremendo.

— Por favor.. - sussurrei, tentando me controlar.

Liguei o automóvel com a mesma velocidade que um fugitivo corre da polícia. Eu só queria sair dali. Dirigir para longe, me esconder.

Parei o carro no meio da estrada, abrindo a porta para vomitar. Eu estava me sentindo suja, nojenta.

Chorei tentando me recompor antes de voltar a direção. How to Save a Life tocando na rádio. Nas últimas semanas escutei essa música interpretando erroneamente. Eu não perdi amigo nenhum ao longo do caminho, James nunca foi a pessoa que eu imaginei.

Eu ME perdi.

Respirei fundo, observando meu reflexo no espelho.

Era a última vez que alguém me machucava.

A última.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Curtiram?
Falei que seria forte, espero honestamente que vocês curtam :)
Sem perguntas hoje, sintam-se livres para perguntarem qualquer coisa, responderei tudo. Pessoal ou de fic, ou ambos hahah qualquer pergunta para nos conhecermos melhor :)
Até breve,
Beijo grande~
Se cuidem!!
— Ju.