Saga Halfmoon escrita por Cyn


Capítulo 12
Onze




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Lucas Uley

...……….

Lucas

...……….

Chuva. Chuva. Chuva. Chuva. Chuva.

Gelada, fria e estúpida chuva!

Maldita hora que disse a Jamie que não me era preciso vir buscar.

De manhã, quando saímos de casa, não chovia e sempre pensei que chegaria a tempo á escola. Mas mal comecei a andar depois de deixar Josh na escola, e começou a chover a potes!

Estúpida chova!

–Desculpe, senhorita.

Viro-me para trás e franzo a testa tentando ver sobre as gotas que entravam em meus olhos. Vi um homem de cabelos loiros me olhar. Ele estava encharcado também, mas parecia não ligar á chova que nos cercava.

–O quê?

–Tem horas?

–Horas? Está a perguntar-me se tenho horas?- Pergunto meio confusa.

Ele não podia esperar até estar num lugar seco para perguntar alguém? Tinha de ser mesmo a garota no meio da chova paralisada como uma idiota?

–Sim, senhorita. Desculpe o incómodo.- E sorriu de lado de um jeito estranho.

Cara estranho.

–Não me chame assim. Não é muito mais velho que eu.- Dou de ombros tirando meu celular do bolso.- São…

–Deborah?

Viro-me para trás sabendo perfeitamente de que era aquela voz forte e rouca.

–Lucas.

Ele para ao meu lado e olha o homem á minha frente. Vi seu corpo ficar tenso na hora. Meus olhos me traíram um pouco e mal consegui desviar os olhos de seu peito nu.

Jesus, mas que músculos eram aqueles?!

–O que fazes aqui?

–Eu…- Calo-me quando a resposta vem da pessoa atrás de mim.

–Apenas falando com esta senhorita.

Olho de um para o outro. O homem loiro tinha um sorriso cínico no rosto e franzi minha testa.

–Conhecem-se?- Pergunto e Lucas se aproximou um pouco mais tocando minhas costas.

Até no meio da chuva ele conseguia ser tão quente, meu Deus!

–Somos… velhos amigos.- O homem diz e lambo meus lábios molhados da chuva.

Olho Lucas. Seus olhos castanhos estavam mais negros que o normal. Duros. Impenetráveis.

–Lucas? – Toco seu braço e ele parece acordar do transe e me olha.- Estás bem?

–Estou bem.- Diz tocando meu braço me puxando para mais perto dele, me forçando a andar.- Vamos. Tens de sair desta chuva.

–Sim, mas e o…

Olho para trás e não vejo ninguém. Nada. Nem uma mosca. Apenas a chuva e a estrada ocupava minha visão.

–Onde ele se meteu?

–Vem.

Pega minha mão e caminha pela chuva a passos largos. Tenho de correr um pouco para o acompanhar. Ele para quando chegamos a um café e me abre a porta.

–Vou ligar a uma pessoa, já venho. Não saias daqui.

Assinto e ele afasta-se um pouco encostando-se a uma árvore. Ali debaixo já não chovia tanto, mas mesmo assim ainda chovia. Entro e sento-me numa mesa longe da porta.

Tiro meu casaco encharcado e deito meu cabelo todo num lado apenas. O aperto e vejo a água pingar dele.

–Boa. Dava para encher uma piscina.

Minutos depois, Lucas sentou-se na cadeira á minha frente. Ele não parecia tão tenso.

–Tudo bem?- Pergunto e ele me sorri assentindo.

–Tudo bem.

Eu ainda não estava preparada para quando ele me sorria. Parecia que meu peito inchava, mas de um jeito quente e bom.

–Em que posso ajudar?- Uma garçonete nos pergunta e a olho.

–Dois chocolates quentes, por favor.- Lucas pede e ela lhe sorri mordendo o lábio inferior olhando seu peito.

Sério? Apenas falta uma placa na tua cabeça dizendo: Vadia! Cuidado!

–É para já.

Ela se vira e sai dali rebolando.

–Deborah? Deb?- Uma mão pega na minha e acordo logo olhando o rosto do rapaz moreno á minha frente.

–Oi?

–Estás bem?- Pergunta franzida a testa.- Chamei-te 4 vezes.

–Sim, não, tudo bem. Desculpa.- Coço minha nunca.- Estava… perdida.

–Ok.- Ri um pouco e então sua expressão fica séria.- O que fazias na chuva a esta hora? Não devias estar na escola?

–Devia. Devia e devo. Mas aí começou a chover e bom, começou a chover.- Dou de ombros.

–E o que aquele homem queria contigo?

Olhei-o ao reparar na maneira com que se referiu ao homem loiro. Parecia que seu corpo todo ficava tenso só de pensar nele.

–Preguntou-me as horas.

–Preguntou-te as horas?- Pergunta inclinando-se mais para a frente, como se tivesse ouvido mal.

–Isso mesmo.

–No meio da chuva?- Pergunta de novo, ainda incrédulo e levanto minhas mãos defendendo-me.

–Não sei de nada. Foi o que aconteceu. É estranho mas, não estou no estado de julgar ninguém. Eu mesma fiquei paralisada na rua 5 minutos quando começou a chover.- Dou de ombros e a garçonete aparece com os chocolates quentes.

–Se precisarem de algo é só chamar.- Fala mordendo o lábio inferior ao colocar os copos na mesa e olhando Lucas.

Bufo interiormente.

Lucas estava olhando algo atrás de mim, perdido em pensamentos. Acho que ele nem ouviu aquela vadia. Ela ainda olhou para ele uma última vez e tocou seu braço de prepósito antes de sair rebolando de novo.

Reviro meus olhos e pego meu copo apreciando o calor que emanava dele. Pego no canudinho e o levo a boca olhando Lucas.

–Não vais beber?- Pergunto quando ele fica ali parado sem mover um músculo.

Ele se mexe me olhando atordoado.

–Oi?

–Não vais beber?- Aponto para o copo dele com o canudo na boca.

–Sim. – Fala pegando no copo.- Ele não te disse mais nada?

Nego com a cabeça.

–Conhecia-lo de algum lado? Alguma vez o viste?- Pergunta.

–Não. Para quê tantas perguntas? Ele não é teu amigo?

–Ele é tudo, menos meu amigo, Deborah.- Fala e havia um som sinistro na sua voz que me arrepiou.

–Então de onde o conheces?

Apoio minha cabeça na minha mão o olhando, enquanto bebo pelo canudinho. Minhas roupas molhadas estavam fazendo alguma impressão, mas pelo menos não tinha frio.

–Longa história.- Suspira deitando-se para trás e bebendo o chocolate.

–Hm.- Digo o observando. Ele parecia bem mais calmo, como se o facto de ter metade do café o olhando não fosse nada. Ele era um rapaz que chamava a atenção, já devia estar habituado.- Posso fazer uma pergunta?

–Claro.- Sorri de lado, um sorriso calmo e suave.

Este garoto vai-me matar.

–Isso de andar sem camisola é só moda ou estais mesmo com calor?

Cruzo meus braços na mesa enquanto ele sorri largamente mostrando seus dentes brancos. Ele olha para o chão antes de me olhar de volta cruzando os braços em cima da mesa também.

–Digamos que não tenho frio.

–Não tens frio?- Pergunto com os olhos levemente arregalados.- Estão dois graus negativos lá fora e tu não tens frio? Eu morreria em 2 segundos se andasse como vocês.- Ele ri e num impulso toco seu rosto com os nós dos dedos.- Estás com febre? É porque só pode. E até estás quente.

Bem quente. Parece um forno.

Ele leva sua mão á minha e a aperta levemente me fazendo perder meu raciocínio. Seus olhos estavam mais escuros, mais intensos. Mas ele estava calmo. Bem calmo. E sorrindo.

–E tu estás gelada.- Sussurra e de alguma maneira a distância entre nossos corpos tinha diminuído.

Quase podia sentir seu hálito no me rosto.

–Eu sou uma pessoa normal.- Sussurro de volta inclinado minha cabeça para o lado.

–E linda.- Sua outra mão acaricia minha bochecha e sinto meu coração bater como um louco.

Tudo parecia tão distante. A conversa ao meu redor. A chuva idiota que caia lá fora. Apenas conseguia olhar naqueles olhos castanhos tão intensos, tão fortes, tão… Deus, tão… Lucas.

Eu podia sentir meu rosto completamente vermelho. E acho que eu queria dizer alguma coisa, pois meus lábios se abriram e fecharam algumas vezes, mas nada saia deles.

Quanto tempo ficámos ali? Não tinha ideia. Mas de alguma maneira, por algum milagre divino, minha consciência voltou a mim e sentei-me melhor tirando minha mão da dele e fazendo sua outra cair na mesa.

O frio logo tocou meus braços e me arrepiei.

–Não queres ir ao médico? De certeza? Tua temperatura não é nada normal!

O vejo sorri um pouco compondo-se também na cadeira.

–Eu estou bem. Tenho um organismo forte, não te preocupes. Mas acho melhor tu ires trocar de roupa ou ficarás doente.- Diz levantando-se.

–Eu não sou assim tão fraca!- Levanto-me também com minha mochila e meu casaco.- E apenas vou trocar de roupa porque não gosto nada de água e frio… e água fria!

Ele ri e vamos até ao balcão. Ele paga, e logo estamos fora do café. O sigo até seu carro preto. Não reconheci a música que tocava suave pelo carro, apenas conseguia prestar atenção no calor que o rapaz ao meu lado emanava.

Ele parou o carro em frente a minha casa e descemos. Abri a porta e o olhei enquanto entrava.

–Sabes… tu não precisas de ficar. Eu posso pedir ao Jamie para me vir buscar.- Digo baloiçando a chave na mão para esconder meu nervosismo.

Ele dá de ombros olhando em volta da sala.

–Eu não incomodo.

–De certeza?

Ele cruza os braços me olhando. Novamente, me perdi um pouco em seus braços.

Ele está a fazer de prepósito. Só pode!

–Sim. Não tenho nada para fazer mesmo.- Sorri e assinto torcendo as mãos na chave.

–Ok. Sendo assim eu não me demoro.- Viro-me para as escadas as subindo correndo.- Fica á vontade!- Grito quando já estou no andar de cima.

Entro no meu quarto e pego numa muda de roupa qualquer. Ando até ao banheiro e me enxaguo depressa na água quente. Sai-o rapidamente e me seco antes de me vestir. Eram umas simples calças rosa e uma camisola azul com um coração branco no centro, bem quentinha! Enxugo meus cabelos na toalha e ando até ao quarto de novo para pegar minhas botas.

Quando já estou despachada, volto para baixo. Lucas estava parado perto do armário onde haviam montanhas de fotas. Minha mãe adorava guardar memórias.

Lucas olhava uma em que eu estava com meu pai.

Tinha sido tirada por um amigo dele no primeiro jogo de basquetebol que fui ver com ele. Meu pai estava como sempre me lembrarei dele. Com um sorriso enorme, os cabelos negros embaraçados com o vento e os olhos azuis que sempre brilhavam com algo só dele. Eu estava ao seu colo com um braço ao redor de seu pescoço e o outro segurava o boné de meu avô que me ficava grande na cabeça. Eu lembrava-me pouco daquele dia, ainda era muito nova, mas lembrava-me perfeitamente do rosto de meu pai. A maneira como ele sorria para mim, como ria comigo, gritava.

Aquele dia foi apenas o começo de um monte de outros que aconteceram.

Bri não gostava de basquetebol e minha mãe não estava para ali virada. Josh tinha apenas 1 ano. Foi algo que começou nosso. Anos depois, Josh começou a ir connosco aos jogos, e não me importei. Continuava a ser uma coisa nossa, com Josh á mistura.

–Teu pai?- Lucas pergunta quando me vê.

–Sim.- Sorri-o olhando a foto.

Haviam ali muitas outras onde meu pai estava presente. Algumas onde apenas estava só eu, só o Josh ou só a Bri, mas meu pai nunca estava sozinho em nenhuma delas. Sempre estava com algum de nós.

–Sois muito parecidos.

–É.

Toco na moldura onde eu estava com Ryan e meus amigos de N.Y. Eu tinha saudades deles.

–Teu pai jogava?- Pergunta e o olho.

Ele olhava uma foto onde meu pai estava com o equipamento laranja e seu nome bem na frente da camisola. Minha mãe estava ao seu lado o abraçando com um sorriso grande no rosto. Bri estava do outro lado do meu pai e eu e Joshua á frente. Eu usava o boné de meu avô e Josh o que o nosso pai lhe comprara naquele dia.

–Não. Isso foi apenas um jogo para angariar dinheiro para a Casa de Apoio aos Sem-Abrigo. Mas meu avô jogava.

Ele assente continuando a olhar as fotos. Meu celular toca e vou até meu casaco. O pego e vejo o nome de Jamie.

–Ei, Jay!

–Deb, o que aconteceu? Não apareceste. Aconteceu alguma coisa?

–A chuva. A chuva aconteceu.- Digo abanando a cabeça, mesmo que ele não visse.

–Eu disse-te que te poderia ir buscar.- Ri.

–Eu sei. Mas eu pensei que chegaria a tempo á escola mas… enganei-me.

–Ok. Onde estás? Queres que te vá buscar?

–Estou em casa. E não precisas de vir, já arranjei boleia.- Olho para Lucas pelo canto do olho. Ele ainda observava as fotografias.- Mas obrigado mesmo assim.

–Tudo bem. Nos encontramos daqui a nada?

–Ya. Eu vou ter convosco á cantina.

–Na boa. Até já, Deb.

–Até.

Desligo e viro-me para Lucas. Ele se vira para mim com as mãos nos bolsos.

–Pronta?- Pergunta e assinto pegando meu casaco.

Voltamos para seu carro e ele dirige até á minha escola.

–Ainda chegas a tempo para almoçar.- Diz olhando para o estacionamento repleto de carros.

–Minha aula preferida.- Digo e ele ri me olhando.- Obrigado pela boleia. E pelo chocolate.

–Foi um prazer.

Sorri-o e retiro o cinto. Toco na maçaneta e antes que a possa abrir, sua mão se fecha na minha.

–Deb…Eu…Vai haver uma fogueira na reserva.- Ele para e me olha.- Tu podes ir se quiseres. Josh também, claro.

–Uma fogueira?- Pergunto curiosa.

–Sim. Costumamos fazê-la algumas vezes. É mais uma festa particular para os membros da reserva.

–Eu e Josh não somos da reserva.

–Não, mas Tony faz parte do Concelho então… podeis ir. Sois família dele agora. Beth e Heither também iram.

–Eu vou perguntar ao Josh. Depois digo-te alguma coisa, ok?

–Ok.- Assente sorrindo de lado.

Assinto de volta e aceno antes de sair do carro. Podia sentir seus olhos em minhas costas conforme andava pelo estacionamento, e por alguma razão, isso me fez sorrir.

Assim que abri porta de vidro e entrei, ouvi os pneus de seu carro cantarem para longe dali.

Entrei no corredor vazio e ri compondo minha mochila.

–O que se passa comigo?


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