Devaneios de um coração em pedaços escrita por karoliveira


Capítulo 6
O acidente


Notas iniciais do capítulo

Vocês me perdoem de coração! Eu estava em semana de provas e formatura, tava uma loucura! :(



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Parecia um conto de fadas, o que eu estava vivendo. De fato. Era quase como um sonho que eu jamais ousaria sonhar.
Eu e Audrey estávamos levando as coisas com calma. E aquilo era maravilhoso. Ele não me pressionava para passar tempo comigo, ou sequer pra falarmos de relacionamento, era natural. Estávamos destinados a ser.
Até aquela noite.
Eu estava cochilando, quando acordei com meu celular tocando. Era tarde e chovia muito forte. Era o pai de Aud, e o meu coração já acelerou. O que será que tinha acontecido?
— Alô?
— Oi querida, tudo bem? Escute, Audrey está com você? Está uma tempestade horrível e não consigo falar com ele.
— O que? Como assim? Senhor Recknoir, ele saiu quatros horas atrás. Deve... Deve ter algo errado. Ele deve ter chegado e... E... Vocês não viram, é isso.
Minhas pernas começaram a tremer violentamente na cama, meu coração acelerou. Levantei da cama em um pulo e fui chamar Michael.
— Você... Tem certeza, querida? — Me perguntou ele, com a voz trêmula.
— Eu vou procurar por ele, John. Mando notícias. Michael levantou assustado.
— O que houve?
— John ligou dizendo que... Que... Aud não chegou em casa e... E tá essa tempestade lá fora, Michael... Já... Já fazem quatro horas! — Eu não conseguia conter o nervosismo na voz. Michael me abraçou, pegou um casaco.
Peguei o meu também e saímos no meio da chuva. Eu moro no meio da estrada entre a cidade e a praia. Como a praia era mais próxima e ele morava na praia, fazia mais sentido procurarmos por ele na rota na praia. Mas algo em mim me dizia que era perda de tempo, eu precisava ir na direção à cidade!
— Vamos pela cidade.
— Mas querida...
— Que eu esteja errada, Michael, mas vamos por aqui.
Seguimos, devagar, pela estrada. Estava muito escuro e quase não dava pra ver nada. Meu coração doía cada vez mais. Ele poderia estar ferido, precisando de ajuda e ninguém aparecia pra ajudá-lo. E se ele tivesse morto? Não, eu nem poderia pensar nisso. Não consigo imaginar um mundo sem os olhos castanhos de Audrey. Michael de repente pisou no freio, me fazendo despertar.
— Olhe, é a picape de Audrey! — Exclamou Michael, já pulando do carro. Fui atrás. E parei antes que pudesse chegar até o carro. Procurei forças pra gritar, mas o ar que estava em meus pulmões, fugiu, a força que me mantinha em pé, desapareceu e eu caí de joelhos no asfalto molhado. Fiquei aproximadamente um minuto ajoelhada, encarando o carro de Audrey, estarrecida, procurando processar o que estava vendo, desejando profundamente que fosse uma ilusão.
O carro de Audrey foi atingido por uma árvore e parcialmente arrastado para a margem da estrada, quase não dava pra ver. A árvore provavelmente caiu por conta do temporal no exato momento em que Audrey passava por perto. Ele deve ter tirado os óculos. Teimoso. Molhou eles enquanto saía da minha casa e dirigiu sem eles. Teimoso. Tentei sentir raiva dele. Então, eu vi o seu rosto. Banhado em sangue, implorando silenciosamente por ajuda. Meu coração doía compulsivamente. Eu não conseguia me mexer. As lágrimas escorriam juntamente com as gotas violentas da chuva.
— AURORAAA! POR CÉUS! FAÇA ALGUMA COISA! — Gritava Michael desesperado tentando tirar Audrey de dentro do carro.
Andei, desnorteada até o carro e liguei para a emergência.
— 911, emergência. Em que posso ajudar?
— A-alô. Meu na-namorado sofreu um a-a-acidente, na estrada 471, próximo à cidade.
— Estaremos enviando uma ambulância. Fique calma, senhorita! Em cinco minutos a ajuda chega, mas antes de desli...
A atendente continuou falando e falando. Pareceu-me que haviam passados horas até a ambulância chegar. Eu só conseguia encarar, de longe, Aud quase morto. Seu corpo lutando silenciosamente para sobreviver aos hematomas, às dores, hemorragias. Ele precisava sobreviver. Meu mundo não poderia sucumbir de uma única só vez. O que, por céus, eu faria em um mundo onde não mais existisse Audrey Recknoir?
No caminho para o hospital, respire fundo e liguei para os pais dele.
— Oi, querida!
— Senhor Recknoir, eu sinto muito... Aud sofreu um acidente. Estamos indo para o hospital em uma ambulância.
— Você está com ele? Ele está acordado? Estamos indo!
— Tô, tô! Mas ele está inconsciente... Sinto muito, muito...
Estava na ambulância ao lado dele. Segurando sua mão que não reagia ao meu toque. Seus olhos permanecia fechados e seu rosto parecia cada vez mais pálido.
— Droga! Aud, você não é nem louco de me deixar sozinha! — Falei baixinho enquanto as lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto.
Será que eu não poderia ser feliz? Eu estava destinada a me sentir sempre culpada e solitária? O que era que o universo tinha contra mim? Eu estava começando a me recompor, estava indo bem, a minha situação com Aud estava melhor do que nunca e agora... Ele pode morrer!
Ao chegarmos no hospital, a equipe médica o levou diretamente para a sala de cirurgia e disse que só falaria quando os pais dele chegassem.
Eu me sentia exausta. Era como se eu estivesse carregando uma tonelada de ferro nas costas e não aliviava nunca. Michael entrou no saguão e me abraçou. Eu só conseguia encostar em seu peito e chorar, mas não um choro qualquer, um choro com direito à soluço e rios de água escorrendo dos olhos.
Eu sentia algo dentro de mim perdendo a vida. Era como se Audrey estivesse realmente morto.
Os pais dele, juntamente com o irmão mais novo chegaram. Os abracei, mas não conseguia encontrar palavras para falar. Eu me sentia culpada. Eu não estava com ele, não sei a causa do acidente, mas uma culpa dolorosa pairava sobre mim.
— Querida... — A mãe dele se aproximou de mim, e doeu quando eu a olhei nos olhos, era como se estivesse olhando pra ele — Não é sua culpa, você tá me entendendo? Você nem... Estava com ele. E por céus, o que ele estava vindo fazer na cidade? — Ela me abraçou forte. E choramos mais.
Naquela noite eu não dormi. Não porque estava ensopada dos pés à cabeça ou porque estava deitada em um banco gelado de hospital, mas porque eu não queria acordar e viver o pesadelo de um mundo sem Audrey.


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