Salvation - Interativa escrita por Lady Doll


Capítulo 4
This Place - part III


Notas iniciais do capítulo

Finalmente estou aqui com um capítulo novo!
Sentiram minha falta?
Sei que demorei muito dessa vez, muito mesmo, e isso é imperdoável. E nem tenho desculpa para isso... apenas estava com preguiça, já que no total, eu levei apenas 3 dias para escrevê-lo. Não sei por que, foi bem divertido escrevê-lo, na verdade.
Espero que gostem!



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Dei a última garfada no meu bolo para conseguir fazer Alyss ficar quieta. Levei a xícara até minha boca para sentir o gosto típico de chá. Em seguida me levantei e suspirei antes de encarar a ruiva.

– Já vou indo! - Exclamei abrindo o maior sorriso que pude.

– Ah, mas por que, Aki? Está tão divertido - A garota reclama num tom meloso. Essa reação já era esperada.

– Não vi todos os cômodos do andar ainda - Murmurei, do mesmo jeito que eu estava acostumado a fazer com meu irmãozinho - Outra hora, quem sabe, eu tome chá com você novamente.

– Nah! Você irá fazer isso mesmo se não prometer. Se é assim, vou com você...

– Não! - Afirmei automaticamente - Você precisa... Ficar com a Miki, né? Tadinha, vai deixa-la aqui, sozinha?

A pintora arregalou os olhos, afastando-os do pedaço de bolo de morango que comia. Me desculpei mentalmente com ela, que me lançou um olhar compreensivo.

– S-Sim Alyss, Aki está certo. E... se quiser, eu posso ter desenhar.

– Sério? - A construtora se virou para a outra completamente animada, como uma criança que estava prestes a receber um presente dos pais. E continuou a dar sugestões para a loirinha.

Aproveitei esse momento para "escapar". Atravessei o corredor novamente olhando para cima, em direção as câmeras. A sala de artes era uma das últimas salas que faltava, e era para lá que eu ia agora. Antes de entrar pela porta esbranquiçada, olhei para dentro da enfermaria, agora vazia, para conferir se a fofa da Ayano e a... Riona ainda estavam presentes. Deduzi que já tinham ido para o ginásio.

A sala de artes tinha todas as paredes, e o teto, em cor azul-claro. Notei alguns armários de ferro ao fundo, que guardavam pincéis e potes-de-tinta. Além de carteiras, cavaletes com tela em branco estavam espalhados. Não resisti em pensar em como aquela sala era perfeita para Miki. Mostraria para ela em breve.

– Ei! - A voz masculina me tirou dos pensamentos sobre a loira. Só então lembrei que tinha mais alguém na sala.

Um garoto magro e loiro, de pele extremamente branca e óculos. Mexia em um dos armários, por isso segurava uma lata de tinta nas mãos. Deduzi que ele não parecia muito amigável.

– É... oi! - Comecei, patético como sempre. Ele continuou a me encarar, por isso resolvi dar uma de Alyss para continuar a conversa - Nicholas Rubin, acertei?

– Sim - Respondeu seco - Mas não faço ideia de quem você seja.

Nicholas Rubin - Super High School Level Banker

– Sou Aki Eiji!

– Certo. Mas eu não perguntei como você se chamava - Deu de ombros, levando um sorriso profissional ao rosto. Cogitei um tempo para me decidir se ele me odiava ou não.

– Desculpa...

– Tá bom, isso não importa. Vamos falar sobre algo importante: essa sala. Está vendo algo de útil aqui?

– Acho que não... - Murmurei após olhar o local por completo.

– É porque não tem nada. É inútil como tudo nessa escola! - Bem, acho que ele está irritado.

Fiquei sem saber o que dizer, um pouco assustado até, tentei falar a coisa mais inteligente que consegui:

– Você já acordou há bastante tempo, então. Não descobriu nada de útil?

– Nada, como já falei. As coisas estão bem estranhas, você já deve ter percebido. Por que não há ninguém além de alunos aqui?

– É né, essa é uma das coisas estranhas que há aqui. Estou mais preocupado com a possibilidade de terem nos sequestrado.

Nicholas abana a mão entediado, revirando os olhos. Podia praticamente ler seu olhar que dizia: "por que sequestrariam gente estúpida como nós?" Tudo bem, talvez eu esteja ficando paranoico achando que todos são, digamos, ignorantes, parte da culpa vai para Sora e Riona. Ou talvez, seja isso que eu pensava. Eu não sei, meus pensamentos ficavam mais confusos a todo minuto. Minha cabeça rodava e por um segundo pensei que ficaria louco, foi então que alguém abriu a porta da sala. Irei agradecer essa pessoa pelo resto da minha vida.

Me virei para vê-lo. Primeiramente, tentei ignorar o fato dele ser quase o dobro do meu tamanho... odeio minha altura! Bem, ele era bem musculoso. Tinha cabelo preto ondulado, pele bronzeada e olhos azuis. Ele abriu um sorriso satisfeito ao entrar na sala.

– Nick! - Exclamou alegre - Finalmente te encontrei. Por que você fugiu de mim?

Praticamente consegui escutar o banqueiro engolir em seco, o que estava acontecendo? O que fosse, era ao menos interessante.

– Eu não fugi! Apenas cansei de esperar naquele ginásio estúpido - Respondeu pronunciando as palavras com nojo.

– Em um momento você estava bem do lado, no momento seguinte olhei e você tinha sumido. Acho que isso é fugir. Ou você aprendeu a se teletransportar? - Ele perguntou divertido.

– Engraçadinho - O loiro franziu o nariz, sarcástico - Eu queria visitar outros lugares, a culpa não é minha se você fica babando olhando para o teto como um idiota e não percebeu quando eu saí.

– Mas você nem me avisou - O moreno fingiu estar triste, voltando ao normal rapidamente, com seu sorriso bobo - Me assustou, sabia? Demorei bastante para te encontrar.

– Bastante? Acha que eu sou burro? Eu não sou! Sei que você só saiu do ginásio e entrou na primeira sala que encontrou: aqui.

– Você estava me observando? Que mágico, como você fez isso?

– Que...? Eu não estava te observando, deixa de ser burro. Só é fácil prever as ações de gente burra, seu burro!

– Nick, você está bem? - Ele perguntou calmamente - Você repetiu "burro" três vezes.

– É... porque... bem...

– Você está corando, que bonitinho - Okay, está começando a ficar difícil permanecer em silêncio. Parte de mim queria dizer algo, mas outra parte queria ficar em silêncio rindo internamente... e essa parte era mais forte.

– Vai... se...

– Pare, não diga isso - Reclamou o interrompendo. Dava para perceber o quanto ele estava se divertindo por implicar com o loiro.

– Me deixe em paz!

Nick resmungou palavras incompreensíveis e andou até um dos cantos da sala, voltando a mexer nos armários.

O moreno abanou a cabeça negativamente, rindo baixinho e depois se virando até mim.

– Oi, desculpa não ter me apresentado antes, mas já sabe... então, qual é seu nome?

– Ah sim. Sou Aki Eiji, SHSL Survivor.

– Aki Eiji... Que nome bonito! O que significa?

– "Esplêndido outono" - Dei de ombros.

– Perfeito então! Combina bastante com você, ambos são bonitos.

Espera, o que está acontecendo? O que ele estava dizendo? Porém, ele continuou, mudando de assunto:

– Me chamo Ali Haddad al Gala!

Ali Haddad al Gala - Super High School Level Geometer

– Se não fosse por você, eu teria repetido de ano, de verdade - Comentei, incrivelmente sério. Ali tinha simplificado muitas fórmulas de geometria, as deixando bem mais fáceis. Isso facilitou e muito a vida dos alunos, principalmente a minha. Nunca fui muito bom em matemática, sabe?

– Tinha dificuldade na matéria?

– Claro! Não sei como você consegue ser tão bom.

– Nem tanto, na verdade. Fiquei surpreso quando Hope's Peak me convidou, achava que somente era um pouco bom em geometria. Mas não considero isso incrível.

– Tem razão, seu talento é estúpido! - Não acredito que Nick disse isso. O banqueiro ainda insistia nesse assunto... Era divertido, de toda forma.

– Nick... - O moreno voltou a sorrir.

– Não me chame assim. Meu nome é Nicholas! - Lembranças ruins com Riona, lembranças ruins.

– Nicholas... por que você me trata assim, eu não te fiz nada.

– Você sabe, mulçumano!

– Então é por isso? – Pela primeira vez, Ali parecia verdadeiramente triste. Porém, acho que foi somente minha impressão, já que ele parecia do mesmo jeito de sempre - Mas eu não sou tão ruim assim.

– Acredite, você é! - O loiro abaixou a cabeça, como se tivesse se lembrado de algo ruim. E eu não estava entendendo nada, e expressão de seu rosto, vi que Ali também não. Nick... (será que posso chama-lo assim?) Então se afastou e saiu pela porta. O moreno parecia decepcionado, e murmurou algo como " mas eu não vou desistir".

– Bem, ignore-o por um tempo, não o conheço há muito tempo... na verdade, o conheci hoje... mas já entendi um pouco sobre ele. É um bobo hehe - Ali explicou. Estou confuso - Vamos para o ginásio então, Akizinho.

O segui pelo corredor. "Akizinho". Realmente, deve ser assim que ele me vê. Odeio minha altura, sempre vou odiar. Estávamos perto do ginásio quando avistamos um garoto. Tinha cabelos negros e usava roupas simples, se comparado aos outros alunos. Não entendi direito o que ele estava fazendo, após olhar uma segunda vez percebi que estava apenas parado no meio do corredor.

– Ei! Olá cara! - Ali, que obviamente também tinha o visto, acenou no seu tom alegre.

O estranho virou-se para nós no tempo suficiente para conseguirmos ver seus olhos castanhos antes de caminhar... na direção contrária à nossa. O que? O chamei novamente mas não teve efeito algum, já que ele continuava a andar. Por acaso ele estava fugindo?

Após o tempo de confusão, decidi ir atrás dele, mas por curiosidade do que por qualquer coisa.

– Ei, garoto, espere! O que houve, por que você está fugindo? - Tentei puxar assunto quando estava perto o suficiente dele. Dessa vez ele parou. Se virou para me encarar e... chutou meu joelho.

– NÃO CHEGUE PERTO DE MIM! - Gritou, com uma ira inacreditável.

Sem muitas opções, recuei para trás, vendo que se não o fizesse ele continuaria a me espancar. Porém, mesmo assim ele continuou até Ali me salvar, o segurando pelos braços. Ignorei a dor presente em várias partes do meu corpo e tentei inutilmente fazer meu corpo parar de tremer devido ao susto. Acalme-se Aki, é somente dor, nada que você não esteja acostumado.

– ME SOLTE! - o garoto continuou a gritar, tentando se libertar - E NÃO TOQUE EM MIM! Nunca!

– Só depois que você ficar calmo - Ali explicou pacificamente. Agradeci eternamente por ele estar aqui, caso contrário eu já estaria morto agora - Aki, você está bem?

– E-estou - Me amaldiçoei por ter gaguejado.

– Quer que eu te leve para a enfermaria ou algo do tipo? - Abanei a cabeça em negação.

O estranho continuou com seus protestos, se debatendo cada vez mais. O geômetra, que mal fazia esforço para segura-lo, finalmente o soltou. Pensei que continuaria a me bater, mas eu vez disso ele apenas fugiu. E dessa vez eu não iria atrás dele.

– O que está acontecendo? - Uma voz feminina perguntou, saindo da entrada do ginásio. Tenho que admitir que fiquei aliviado quando vi que se tratava de Alyss - Meu Jesus! Aki, o que aconteceu com você?

– Cala a boca - Retruquei impaciente demais para respondê-la devidamente.

– Você se encontrou com o Kanji, não foi? - Ela riu - Não se preocupe, você não foi a primeira vítima de seus ataques.

– Mas quem é ele?

– Kanji Yoshiaki, o SHSL Inventor, ora.

Kanji Yoshiaki - Super High School Level Inventor

– Inventor?

– Sim. Sabe, seu talento é improvisar qualquer coisa com objetos irrelevantes, no papel - Eu acharia isso impressionante se ele não tivesse me batido. Tentei me lembrar de alguma informação que li sobre ele no site de Hope's Peak, mas não havia muitas informações ao seu respeito. Sinistro.

– E por que ele é... daquele jeito?

– Não sei, não o conheço.

– Então como sabe tanto sobre ele, não tinha quase nada escrito no site.

– Mas eu não sei muita coisa, somente o que já falei. Porque sei o que um inventor faz, claro!

Decidi desistir de falar com a construtora e somente ir até o ginásio. A esse ponto, eu já estava cansado. Pelo visto eu era o último a chegar, visto que Ali já tinha entrado enquanto eu conversava. Não foi difícil o avistar conversando com Nick, que não parecia nada satisfeito.

– Você já conhece todo mundo? - Alyss perguntou saltitando atrás de mim.

– Não, acho que ainda não conheço duas pessoas - Balbuciei.

– Então vou te apresentar a elas, me diga quem são.

Aproveitei para olhar como seria o ginásio. Parecia como o de qualquer escola, só que muito maior. Tinha marcações esquisitas no chão, algumas bolas e equipamentos, arquibancadas e portas que levavam para os banheiros.

– Aki olha, olha! - A construtora balançou meu braço até conseguir minha atenção, me desconcentrando completamente - Olha o desenho que a Miki fez de mim.

Nem tinha percebido quando a pintora se aproximou de nós. Ela segurava o caderno de desenhos entre as mãos trêmulas e o ergueu para que eu pudesse vê-lo. Observei atentamente o desenho, e novamente me impressionei com seu talento.

– Nossa, está maravilhoso Miki... mas por que ela está usando uma cartola e essa roupa? - Perguntei confuso.

– Porque a Alyss pediu - Murmurou.

– Dessa forma eu pareço o chapeleiro maluco! - A ruiva exclamou orgulhosa. Realmente, ambos tinham bastantes semelhanças.

– Tá... - Murmurei - Eu ainda não conheço a garota de capuz nem o garoto com o gatinho de pelúcia.

Ela assentiu prontamente e me puxou pelo braço até a garota desconhecida... como se eu fosse incapaz de ir até lá sozinho. A estranha estava encostada em uma das paredes, e parecia bem concentrada observando o ginásio e a todos. Quando nos aproximamos, ela olhou para nós e sorriu de lado.

– Hi Nanda! - A construtora exclamou - Vim aqui apresentar vocês dois. Nanda, esse é Aki. Aki, essa é Nanda.

– Se não me engano Aki, você é o SHSL Survivor, estou certa? - Nanda perguntou após me cumprimentar - Mas você sobrevive a tudo? Como?
Abri a boca para respondê-la, mas a ruiva se adiantou e o fez antes de mim:

– Sim, ele sobrevive a tudo, sabe? Podem jogar uma bomba aqui agora e ele irá sobreviver - Estaria tudo bem se ela tivesse dito apenas isso, mas fez o favor de acrescentar - Igual uma barata.

Tive vontade de sair dali imediatamente... ou de dar uma voadora em Alyss. Acho que a segunda opção era a melhor. Meu dia não estava sendo tão bom. Pelo menos, Nanda deu uma risadinha:

– Isso é legal! - Comentou sincera. A agradeci no mesmo tom.

– E agora você, Nanda - A construtora continuou - Ela é a SHSL Mentalist. Desvendou alguns casos criminais com suas habilidades de mentalista, descobriu alguns criminosos, e os fez admitir, sem querer, seus crimes. Além de fazer algumas mágicas, o que é muito maneiro.

Nanda Courtney - Super High School Level Mentalist

– Sério? Puxa, seu talento é bem útil! - Afirmei realmente impressionado.

– Talvez até mesmo para nossa situação - Alyss murmurou distraída, cruzando os braços - Vai que alguém seja assassinado aqui, você poderá facilmente descobrir o culpado ou sei lá... impedi-lo.

– Não seja assim pessimista - A mentalista arqueou as sobrancelhas, parecia um tanto assustada - Não tem chances de alguém matar aqui dentro.

– Não estou sendo pessimista, isso é somente uma hipótese.

– Então não tenha hipóteses pessimistas. Tudo vai ficar bem, aposto.

– Porém, tudo aponta que será isso que acontecerá. Veja, presos por grades, acordamos num lugar desconhecido... pelo menos era conhecido para mim... não sabemos que diabos está acontecendo e tem venenos na enfermaria. O que mais poderia acontecer? Todo mundo vai se matar daqui a pouco, só pode. Você não acha?

– Eu... não sei - Nanda cochicha, se encolhendo minimamente. Essa conversa estava começando a me assustar.

– Alyss, é melhor parar de falar isso. Não é legal - Aconselhei.

– Não me culpe por falar a verdade - Suspirou - Então vamos falar com o Soushi logo. Até mais Nanda.

Acenei em despedida antes de ser puxado pela ruiva até as arquibancadas. Lá estava o último aluno que me faltava conhecer. Era loiro, tinha os olhos em cor semelhante e segurava um gato de pelúcia.

– Olá! - Ele exclama alegre quando ficamos ao seu lado. Minha primeira impressão foi que era uma pessoa extremamente gentil e alegre. Espero que seja isso, estou ficando cansado de pessoas me batendo ou me xingando.

– Aki, esse é Soushi. Soushi, esse é Aki - Alyss não se cansava de ser assim?

– Aki, estava mesmo querendo te conhecer. É um prazer! Me lembro de te ver na TV muitas vezes e acabei virando seu fã - Aww, ele é mesmo adorável.

– Muito obrigado, mas eu não sou tão legal assim. Você que é, também me interesso por seu talento - Balbuciei envergonhado. Ele era mesmo meu fã, ninguém nunca tinha me dito isso.

Soushi Kuruyama - Super High School Level Sniper

Sua mira perfeita, o fato de nunca errar o alvo, acertar exatamente onde quer, não importa o quão longe estava, até mesmo com um alvo em movimento. Já fez várias missões até mesmo fora do país. Esse é seu talento. Já tinha o visto fazer isso pela televisão, e era mesmo inacreditável. No começo, até tinha achado que era falso, mas isso antes da fama de Soushi aumentar.

– Poxa, vocês já se conhecem. Queria poder apresentar vocês - A construtora resmungou, conseguindo tirar um sorriso de nós dois.

– Não se preocupe Alyss, você já fez um bom trabalho - Garantiu o atirador, afagando o ombro da outra que concordou em agradecimento.

– Ei, qual é a dessa pelúcia? - Inquiriu, apontando para o gato.

– Ah, nada de mais. Apenas gosto dele por ter sido eu mesmo que fiz.

– E qual é o nome dele?

– Aru.

– Aru? Se não me engano significa "existir" ou algo do tipo - Expliquei - O que até combina com um gatinho de pelúcia. Pensou nisso na hora de decidir o nome?

– Na verdade não... apenas gostei de como soava - Falou um pouco constrangido.

– Entendo.

– Já está na hora de alguém aparecer pra explicar essa merda toda, não está? - Alguém gritou no meio da quadra. Não me surpreendi em ver que se tratava de Sora, que estava de braços cruzados enquanto Amaterasu, sua coruja, pousava em seu ombro. Akihiko a acalmou, sussurrando-lhe alguma coisa.

– Aposto que não é nada demais o que está acontecendo - Soushi comentou, se obrigando a dar um sorriso de lado, mas pude notar um pouco de medo em sua voz - Talvez apenas estejamos um pouco nervosos com tudo isso.

– Não sei - Dei de ombros, feliz por pelo menos uma pessoa estar tentando ser otimista.

Dirigi minha atenção até Sora, que continuava a resmungar o quanto estava impaciente. Não podia culpa-la, aquele urso havia dito que explicaria tudo, e já estávamos todos lá, com exceção de Kanji.

– Não seja tão impaciente Sora, já estou aqui - Uma voz aguda exclamou, me fazendo pular de susto e me levantar. Logo reconheci aquela voz, a mesma que tinha saído do televisor.

Todos se viraram para a origem do som para ver aquele maldito urso. A maioria demonstrou surpresa. Algumas gritaram, como Ayano, outras ficaram em silêncio. Mas ninguém disse palavra alguma, até Francine levar os braços até a cintura e bufar.

– Então você é mesmo de verdade, Freddy? - Ela não parecia tão surpresa, pelo menos se comparada aos outros. Eu ficaria chocado se não a conhecesse, porque nesse caso... tinha certeza de que era louca.

– Ué, claro que sou! Por que acharam que eu não era? Já tinham me visto antes - Deu de ombros, como se fosse algo incrivelmente óbvio - Freddy? Uou, mal os conheço e já ganhei um apelido. Estou emocionado mas... Por que Freddy? Não combina comigo e nem com meu nome, que é Monokuma.

– Porque não é pra combinar com seu nome - Estou começando a achar que a youtuber não estava levando a presença do urso a sério. Definitivamente louca - Então, vamos ter que sobreviver cinco noites aqui dentro enquanto você tenta nos matar?

– Do que você está falando? O que você fumou, Francine? Mas até que você é inteligente. Só errou pelo fato de serem só cinco noites e que serei eu quem os matarei.

Não conseguia olhar para nada se não Monokuma, porém, pelo canto do olho, pude ver Francine engolindo a seco quando seu nome fora pronunciado, talvez não esperasse que o urso o soubesse. Outro silêncio constrangedor pesou o local, porque, claro, ninguém se atreveria a dizer algo.

– Vamos, digam. Perguntem alguma coisa! Adoraria ter uma conversa com vocês. Aposto que tem um monte de dúvidas, e eu adoraria respondê-las.

– Quem é você? O QUE FEZ COM A GENTE? - Riona gritou, tapando a boca com as mãos em seguida.

– Calma, calma! Não precisa gritar, assim você me assusta - Exclamou, abanando as patinhas no ar e corando, o que fez meus olhos se arregalarem. Daquele jeito, e fazendo aquelas expressões ele parecia tão... humano - Bem, vou respondê-la. Quem sou eu? Sou Monokuma, vosso diretor. Meu dever aqui e cuidar de vocês, garantindo que tudo ocorrerá bem e nada de errado irá acontecer. O que fiz com vocês? Essa é simples, nada. Eu não fiz nada. O que está lhes acontecendo não é culpa minha.

A pelúcia disse tudo gentilmente, e muitos até o considerariam fofo. Provavelmente ele tinha dito as palavras lento demais, já que sua última frase me fez sentir mais medo do que eu já estava sentindo antes.

– E-e-então por que estamos presos aqui? - Gaguejou Soushi, que fazia um enorme esforço para pronunciar qualquer palavrar. O atirador se abraçava e pude notar que tremia um pouco. Fiquei subitamente frustrado, o garoto estava tão otimista há minutos atrás.

– Oh não, vocês entenderam tudo errado. Não estão presos aqui, vocês poderão sair, mas precisam fazer uma coisinha para isso. Matar alguém - Engoli em seco, isso era mesmo sério? O urso explicara tão casualmente que achei que tinha entendido errado. Olhei em volta e percebi que o restante tinha uma expressão semelhante a minha. A maioria estava confusa ou assustada. Maxine tinha os olhos lacrimejando. Sora o encarava com ódio. Nick não parecia se importar ao todo. E Yoake não tirava os olhos do game boy, ainda o jogando. Suspirei, por um momento fiquei mais preocupado com o gamer do que com Monokuma.

– Muito engraçado, urso de pelúcia - Exclamou Sora , sorrindo sarcástica - Cadê as câmeras e o apresentador estúpido para rir da nossa cara? Pegadinha sem graça essa, não?

– Pode esperar sentada que eles nunca aparecerão... ou melhor, pode ir procurá-los pela escola, assim você não me interrompe mais - Bufou com o olho vermelho brilhando. Parecia bem irritado - Não minto e isso não é uma pegadinha. É a realidade. E agora, se me permitem, irei dizer as regras. Lembrem- se bem de não a desobedecerem em hipótese alguma.

1 - Os alunos poderão viver sua vida normalmente dentro da escola. Sair dela é proibido.

2 - Violência contra o diretor, Monokuma, é proibida, assim como a destruição das câmeras de segurança.

3 - Os alunos só poderão dormir em um quarto, ou seja, no dormitório.

4 - O único jeito de se "graduar" é matando um de seus companheiros sem ser descoberto. Só é permitido matar no máximo 2 pessoas.

5 - A pessoa só será dada como morta após 3 pessoas verem seu corpo.

6 - Depois de um assassinato, ocorrerá o Julgamento Escolar. A presença de todos é obrigatória.

7 - No Julgamento Escolar, os alunos tentarão descobrir a identidade do criminoso. Se ele for descoberto, será dado como culpado e será executado. Se não for descoberto, todos os alunos, menos o culpado serão executados.

8 - Entre 10 da noite e 7 da manhã é designado o horário noturno. Não será permitido a enteada em nenhum dos cômodos, além dos dormitórios, lanchonete, cozinha, ginásio, enfermaria e salas de aula.

9 - Os alunos que quebrarem as regras acima serão punidos com uma execução.

10 - Novas regras poderão ser adicionadas.

– As regras estão bem claras? É claro que estão, se não entenderam é porque são burros e eu não me importo. Não se preocupem se esquecerem de alguma regra, todas estão escritas no vosso ID. E nesse momento, eu já vou, antes que me façam perguntas sem sentido. E não se esqueçam: a culpa é de vocês.

E antes que alguém conseguisse dizer qualquer coisa, um alçapão abriu debaixo do urso, que foi engolindo por ele. No instante seguinte, a maioria dos estudantes começou a falar ao mesmo tempo. Ayano levou as mãos a cabeça enquanto a balançava negativamente. Alyss parecia mais preocupada com o alçapão, afirmando que ele não estava na construção original. Em outro canto, Maxine tentava acalmar Soushi que tremia mais do que nunca. Decidi parar de olhar para os outros e encarar somente o chão. Minha mente dava voltas enquanto eu tentava processar as novas informações.

– SILÊNCIO, CALEM A BOCA! - Yuuchiro gritou, e magicamente conseguiu chamar a atenção de todos. O ilusionista pigarreou antes de continuar - O pânico não ajudará em nada, precisamos mesmo é manter a calma.

– Vocês acreditam mesmo no que aquele urso falou? Não parece verdade para mim - Nick bufou, como se nada dissesse respeito a ele.

– Nick... pode ser verdade - Ali murmurou, tocando o ombro do outro de maneira amigável. Mas, como eu já esperava, o banqueiro pulou para trás, evitando-o.

– Eu não pedi sua opinião, merda. E não encoste em mim!

– Ele está certo! Pode ser verdade - Yuu concordou - O melhor é acreditar nisso por enquanto. Sinto por perguntar isso mas... ninguém aqui está pensando em cometer um assassinato, está?

O silêncio foi dado com uma negação.

– Ótimo!

– Por que isso está acontecendo? - Nanda inquiriu, se encolhendo.

– ... Não faço ideia - O mágico sussurrou, ao notar que toda a atenção foi dirigida a ele - Talvez... é... pensem só, nó não somos pessoas "normais", somos? Temos, querendo ou não, um talento especial. Veja o Aki, por exemplo - Senpai me notou! - Ele é o SHSL Survivor, capaz de sobreviver a tudo. E a um assassinato? Ele sobreviveria? Provavelmente é isso que quem nos prendeu aqui esteja procurando, alguém inteligente o suficiente para fazê-lo.

– Espera, deixe-me ver se entendi - Balbuciei, tendo noção de que ele não queria dizer que queriam descobrir alguém capaz de ME matar - Querem achar alguém capaz de cometer um assassinato perfeito?

– Isso aí... bem, é uma teoria... pode ser. Se for assim, mantenham em mente que isso é um teste e nosso objetivo é falhar.


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Notas finais do capítulo

A conversa deles continuará no próximo capítulo, decidi terminá-lo dessa forma porque... não sei, mas acho que ficou melhor assim.
Pronto, finalmente as apresentações dos personagens terminaram. Já têm alguma teoria sobre quem será assassino, vítima ou sobrevivente?



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