Antes de chegar à Hope's Peak Academy todos costumavam lhe dizer a mesma coisa: que esse lugar seria sua salvação.

Ele apenas concordava, era comum achar isso sobre aquele magnífico local. Mas ele não achava que seria daquela forma. Esperava que achassem que Hope's Peak o ajudaria a desenvolver seu talento ou melhorar um pouco seu temperamento, porém, só isso. Mas agora era realmente sua salvação. Depois de alguns anos finalmente "eles" o encontraram e agora ele iria morrer. Essa era sua certeza. Porém ainda restava uma coisa, e era essa coisa que o motivava agora: a esperança.

Apesar de "eles" estarem também dentro da academia, ainda não sabiam onde ele estava, era nesse momento que agradecia por ser um lugar enorme. O garoto corria silenciosamente pelo corredor, precisava fazer menos barulho possível, tentar ser invisível.

Sabia que agora era impossível, mas fazia seu melhor. Virou a cabeça para ambos os lados para ter certeza que estava sozinho. Notou melancólico que realmente estava. Sabia que era o melhor, mas sentiria falta deles. As pessoas que sempre lhe davam a mão, que sempre o motivavam com um sorriso, seus melhores amigos, poderia os chamar assim. E agora ele havia os abandonado, estavam juntos nesses torturantes dias e agora ele tinha fugido. Tinha achado a oportunidade perfeita e não podia desperdiça-la, era egoísta como qualquer ser humano e não poderia salvar a todos. Então tomou a pior decisão de sua vida, fugir era praticamente impossível e agora morreria.

Chegou ao fim do corredor e avistou a porta. Levou as mãos à frente do corpo para não se chocar contra a madeira. Parou no momento exato, mas para isso precisou derrapar, e notou desesperado que fizera um pouco de barulho. Empurrou a maçaneta e entrou rapidamente dentro da sala de aula. Fechou a porta lenta e silenciosamente e fez uma procura inútil por algum jeito de tranca-la. Porém o único jeito foi somente fecha-la.

Só então o garoto percebeu em como o rosto estava molhado. Sabia que havia corrido muito, mas não a esse ponto. Enxugou-o com o braço e notou chocado que não apenas suava, mas também chorava. Não era de seu feitio então foi uma enorme surpresa. Em seguida riu da maneira mais aterrorizante possível, estava mesmo desesperado. Apreciou um pouco mais esse novo sentimento antes de continuar em frente.

E lá estava, sua última salvação: a janela. Agradeceu silenciosamente por estar no primeiro andar. Chegou até ela ofegante a apreciou a vista uma última vez. Era um local bonito acima de tudo. Seu lugar favorito no mundo. Mas agora não podia gastar seus últimos minutos pensando naquilo. Levou as mãos trêmulas até os puxadores e não ficou surpreso quando percebeu que a janela estava trancada. "Eles" já esperavam que algum deles poderia fugir, tinham tudo em mente, típico deles.

Do outro lado da porta, ele escutara os passos apressados daqueles que o prendiam. Começou a chorar mais violentamente, tendo a certeza absoluta que morreria como qualquer rebelde. Tentou enxugar as lágrimas que escorriam o rosto uma última vez antes de usar seu último esforço para pegar o pequeno pedaço de papel do bolso do casaco. Então pode sorrir uma última vez antes da vida abandonar o corpo. Leu as letras feitas rapidamente por grafite momentos antes da porta ser violentamente aberta.

"Realizarei seu último desejo...

GAME OVER
'Ele' vai voltar por você"

Conseguiria sua tão esperada vingança.

♥

A primeira coisa que fiz foi bocejar. Não tinha tido uma noite assim tão boa e eu estava verdadeiramente cansado. Só então olhei para cima e vi uma visão deveras comum para mim: Hope's Peak Academy. As paredes amarronzadas juntamente com seu típico brasão. Perdi a conta de quantas vezes visitara esse local nesse último mês, o que tirou muito da minha animação por entrar nessa nova escola. Essa era uma das (muitas) desvantagens der ter pais superprotetores, eles só me deixariam entrar num colégio interno após terem certeza que era um "lugar seguro". Mas de toda forma ainda estavam receosos, me olhando com olhares preocupados. Por um momento, até mesmo pensei que nunca mais me veriam, mas infelizmente estaria de volta nas férias.

– Está certo disso, Aki? - Valentina, minha mãe, se aproximou de mim para me envolver em seus braços de maneira carinhosa... que sempre me enjoava.

– Estou, já falei - Bufei e me contorci para que ela me soltasse.

Meu pai me deu o resto que faltava de minhas malas e ambos se despediram da maneira mais melosa possível. Fiz o mesmo, sorrindo apenas para agrada-los, já que ficaria muito tempo sem vê-los e isso me deixava verdadeiramente feliz. Andei mais alguns passos e olhei para cima novamente. Então eu estava mesmo em Hope's Peak. Um dos melhores colégios do mundo, onde somente os melhores dos melhores entram, somente aqueles com talentos inacreditáveis. E agora esse seria meu lar.

Dizer que meu "talento" não era tão incrível quanto todos diziam seria falsa modéstia, porque, se ele não fosse eu não estaria aqui. "O garoto que sobreviveu", esse apelido me perseguiu por toda minha infância, a ponto de me dar nojo agora. Tudo isso por causa de uma decisão estúpida de meus pais de me deixarem fazer uma viagem de avião com meus tios aventureiros até a Colômbia.

Estava tudo indo certo -nos seus padrões normais- até chegar a hora de aterrissar. Não sei ao certo o que aconteceu, mas o avião simplesmente despencou do céu. Desmaiei segundos antes da queda e acordei uma semana depois, tempo suficiente para me informarem que eu fui uma das 3 pessoas que sobreviveram. Como um garotinho de 11 anos sobreviveu a uma queda de avião com nenhum ferimento grave ainda é um mistério, porém, após isso me tornei uma pequena celebridade. Foi então que eu soube, que aquilo não tinha sido uma coincidência. Aquele era meu talento.

E é isso que eu faço desde então. Sobrevivo. A dez dias sozinho em uma floresta. A um tanque de tubarões. A choques elétricos. Nada disso era capaz de tirar minha vida. Nem meus pais superproterores puderam me impedir, pois viram como eu era especial. E foi por isso que Hope's Peak se interessou em mim.

Aki Eiji –Super High School Level Survivor

Sorri uma última vez, me dando conta que meu corpo tremia levemente. Era comum estar nervoso, repeti para mim mesmo, até mesmo para mim. Mas era somente uma escola nova, só isso. Nada tão assustador. Um passo. Era só o que faltava. Foi então, eu estava dentro da escola. Eu achava que seria a melhor decisão da minha vida.

Mal sabia eu que também seria a pior