Chaos escrita por Diane


Capítulo 20
Capítulo 19 - Ai, seus dedos...




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Perspectiva de Alexander Kroell

 

 

Você vai me ajudar?

Alexander levantou os olhos do livro de física e encarou Christine. Com aquela expressão, qualquer um acreditaria que ela era um anjo, padres fariam missas glorificando os santos por deixar um anjo cair na terra. Se soubessem o serzinho cruel que ela era, os padres ficariam chocados. Mas talvez ele devesse parar de pensar em padres. Ler sobre as torturas da Inquisição talvez o estivessem deixando neurótico. Ok, talvez esses padres fossem amar Christine. 

 

— Eu espero sinceramente que não esteja pensando em se tornar um padre. Isso deixaria as freiras muito felizes. 

 

Alec não gostava de freiras. Em geral, quase todas elas pareciam uma professora de ciências que ele teve quando era criança. Múmias esqueléticas que se vestiam de preto.

— Não sinto vontade de deixar freiras felizes. 

Christine se sentou no braço da poltrona onde ele estava e arrancou o livro de física da mão dele e jogou longe. O podre livrinho voou e se chocou contra as adagas penduradas como lustre. O livro virou pedacinhos 

— Sente vontade de me ajudar? — Ou eu corto sua cabeça, ela pensou.  

— Tente — Ele sorriu.

Christine tinha acordado decidida a encontrar uma maneira de anular os poderes de um descendente de deuses. Estava disposta a dissecar alguns defuntos, analisar DNA, cada pedacinho para descobrir o que dava os poderes. E descobrir uma maneira de tirar. E fazer isso com Trivia, e depois, torturar uma inofensiva Trivia. Fazer coisas que fariam os malditos padres parecerem anjinhos.

 

Ela queria que ele procurasse alguma coisa sobre isso na biblioteca das pirâmides. Uma biblioteca mais antiga do que a de Alexandrina. Ele lia, e ela e Jake cuidavam dos defuntos e talvez Rose, ela também cursava medicina. Enquanto isso, Ilithya iria conversar com Perséfone, uma antiga amiga e tentava descobrir algo sobre a cura paranormal de Trivia. É, titia tinha amigas diferentes...  

Era uma organização excelente. Alec nunca gostou de defuntos, ele fazia eles, mas não gostava de conviver muito perto. Eles fediam... a defunto. Tracas, alguns ratos mortos talvez. Leptospirose era a pior hipótese. Mas de qualquer forma, como um descendente de deuses, ele não pegava doenças de mortais.

Tudo certo. Exceto que no dia anterior, Christine havia dito que Trivia estava viva e matara Raphael porque ele não deu conta de mata-la. Doeu, principalmente no orgulho dele. 

— Ah, pare de mimimi — Christine colocou os pés no outro braço da poltrona, se equilibrando tão perfeitamente que nenhum milimetro dela encostou nele. 

— Você pode mandar qualquer um para ler os livros. 

— Eu não posso contar meus planos para qualquer um, idiota! Vanessa não sabe conter a língua, Damien é lerdo, Sam não leva nada a sério, Mary é uma tonta. Meus gatinhos iriam unhar os livros tentando virar as página e não podemos destruir preciosidades. 

Era irônico ela considerar livros preciosidades, sendo que ela tinha acabado de destruir um excelente livro de física.  

— Ok, praga sanguinária, projeto de Sekhmet. Eu vou ler os livrinhos.  

Ele se levantou abruptamente, planejando derruba-la da poltrona. De algum modo ela ergueu o corpo inteiro nas mãos e depois que ele saiu, ela se jogou na poltrona e se se deitou nela. Encostou a cabeça no braço da poltrona e deixou a cascata de cabelos castanhos suspensos, quase encostando no chão. Ela chutou o ar com a perna esquerda. Alec desviou os olhos da perna dourada constituída por anos de artes marciais. 

Alec se virou e começou caminhar até a porta. Não era produtivo ficar no mesmo quarto que Christine naquela posição. Ou talvez fosse. 

Ela semicerrou os olhos e sorriu.

— Alec?

— Fale, capeta.

— Eu tenho que ir em uma reunião do conselho. Mas tenho que arranjar alguns defuntos de descendentes de deuses. Vá lá no conselho em meu lugar.

 Ele revirou os olhos. 

 — Nem um por favor?

 — Ah, você está louco para ir lá e infernizar Trivia. 

 Alec as vezes se perguntava se ele não era louco.

 

Perspectiva de Rosie.

 

 Era plenamente entediante ficar sozinha na mansão Kroell. As suas aulas em Havard ainda não haviam começado, sua casa estava destruída e seus tios... desaparecidos. Ela não podia ir para a Pirâmide. E Candy Crush estava se tornando entediante. 

 Ela começou a vasculhar todas as categorias da Netflix. Nada a interessava. Rosie estava começando a sentir falta daquela época quando coisas estranhas aconteciam. Talvez isso se tornara um vício. Ela estava viciada em adrenalina.

 Preciso de um psiquiatra, a ruiva pensou. 

 Aí, do nada, Mikhail apareceu na sua e frente e disse:

 — Seu avô morreu! O exército dele é todo seu!

 Olá tédio, pode voltar.

 Que avô? E que tipo de psicopata doentio rima morreu com seu, principalmente noticiando alguém sobre a morte de um possível avô. 

 Rosie desligou a TV, fez uma pequena reza para a deusa da paciência e das formas de lidar com coisas estranhas, só então se virou para Mikhail. 

 — Que foi? Eu gosto de rimas, principalmente as cruéis. 

 — Primeiro, me explique. Que avô que morreu que eu nem saiba que existia. 

 Excelente dia para descobrir que se tem um avô, não acha?

 —  Naturalmente você não sabia. 

Lucian, um cara loucão, lunático, idiota e um filho da meretriz que nunca ria.

Ele era  seu vovô também, adotou seu tio.

Lucian, puf, morreu sem soltar um pio.

Não faça essa cara, ele só foi para o além.

Você ganhou exércitos e propriedades, pode ficar feliz, que mal tem?   — Mikhail cantarolou alegremente.

 Rosie respirou fundo. Sua antiga professora de yoga dizia que isso ajudava a manter a calma. Se bem que sua professora de yoga, Madelaine, fosse muito apta para dizer isso já que um dia ela já arremessara uma cadeira na cabeça de um aluno. 

 "Eu poderia arremessar uma cadeira na cabeça de Mikhail", pensou. Pelo menos ele pararia com aquele poeminha sádico. 

Mas se ela arremessasse a cadeira era bem provável que ele a transformasse em um cadeira.  

Tudo bem, ela não era narcisista como Vanessa ou Christine, mas ela ainda valorizava sua aparência. A ruiva supunha que Damie não iria acha-la muito sexy se ela fosse uma cadeira.

Então ela desistiu do plano de cadeiras voadoras.

— Se eu tinha um parente, mais ou menos, vivo, porque vocês não me avisaram?

— É, seu tio e seu pai tiveram um desentendimento com Lucian. Perguntei para ele, quando ele estava morrendo, se ele queria ver você. Ele não disse palavras bonitas.

 Então Rosie se perguntou que tipo de desentendimento faria um homem morrendo se recusar a ver a própria neta por rancor. 

 Vovô não foi um anjo, pensou.

 

 

Perspectiva de Christine.

 

 

Arremessei o pobre microscópio pela janela. E sorri malignamente quando ouvi um gritinho vindo de lá embaixo. Ponderei sinceramente se eu devia gritar algumas desculpas, porque ser atingido por um microscópio voador devia ser desagradável. Certa vez minha mãe disse "Se você não gostaria que algo ocorresse com você, não faça isso com os outros". Certamente ela apreciaria ser enganada sobre o pai durante dezoito anos.

 Ah, mas que a senhora Nyx se dane. O principal era que eu fiquei revirando sangue de  humanos e descendente de deuses no microscópio e não achei nenhuma diferença.

 "Ah, pelos deuses. Não faz nem uma hora que você começou e já está se estressando porque não achou nada?" Alec teve a delicadeza de me lembrar.

 Lamentei muito pelo microscópio voador e resolvi ir dormir. Tirar um cochilinho da tarde, entende. 

 "Você me mandou aqui, nessa reunião idiota, para ficar dormindo. Vá lá arranjar um jeito de matar Trivia", Alec parecia bem indignado comigo. 

 Ok, ele queria me socar.

 "Não dá para me concentrar se eu estiver com sono".

 "Entendo como presidiários conseguem cavar túneis com colheres. Isso está lamentável. Mas, pera, se eu tivesse uma colher, eu usaria para matar Mikhail".

 "Por quê? Eu gosto dele."

 "Ele não para de falar. Não para mesmo. Agora mesmo ele estava falando das dificuldades no mundo humano que surgem durante as guerras" 

"Ok, mas isso é verdade", admiti. "Ilithya falou que a Segunda e Terceira Guerra da Itália ocorreram por culpa da sua mãe". 

"Segundo Ilithya,  um apocalipse zumbi, caso ocorra um, também vai ser culpa da minha mãe. Mesmo ela estando morta, ela vai dizer que mamãe começou uma rebelião entre os mortos".

 Eu gostaria de ter uma irmã. Ok, tenho várias irmãs deusas espalhadas por aí, provavelmente. Mas uma irmã que crescesse junto comigo. Para eu ter alguém com quem implicar nas horas vagas. O mais próximo disso que tive foi Layla, e Trivia matou ela. 

 "Não se esqueça que Trivia também tentou me matar, o amor da sua vida". 

 "Alguém acordou muito confiante hoje", respondi. 

 "Alguém acordou meia louca hoje, ah, mas você acorda louca e estressada todos os dias". Oh, sério?

 "Me fale uma novidade".

 "Vá dormir, capeta, você está me irritando". Capeta? Eu? Prefiro pensar em mim como Lilith.

 "Tudo bem, padre santo". 

"Só se for Cesare Bórgia".

 "Preste sua atenção na reunião, animal". 

 Aí eu rolei para minha cama, Idia deitou a cabeça no meu cabelo e antes que eu pudesse reclamar com ela sobre pelos no meu cabelo, capotei de sono.

 Tão fácil. Não, crianças, existe Chaos, meu vovôzinho do mal. 

 Vovôs normais levam os netos para pescar. Chaos gosta de induzir pesadelos em você.

 Eu estava tendo um sonho normal, estava em uma praia, nadando alegremente ( Coisa que não posso fazer nesses tempos de guerra). É, dizem que os sonhos refletem nossos desejos, e talvez quem disse isso estivesse certo. Não havia nada que eu desejasse mais do que ir para uma praia e relaxar.

 Aí veio um tsunami na minha cara.

 A água estava na abaixo da minha cintura e as ondas eram baixinhas. Aí do nada, uma onda do tamanho de um prédio se materializa do nada.  Nem tive tempo de correr, aquela coisa era enorme. 

 Quer saber o pior? A onda era transparente, dava para ver algas dentro dela. Uns peixinhos, e quintos dos infernos, aquilo era uma Kraken?

 Droga, eu tinha certeza plena que aquele polvo maligno, com dentes pontudos, vinte metros cada tentáculo e ele devia ter pelo menos uns cem, era um Kraken. Minhas armas fariam apenas uma ligeira coceira naquela coisa. Que porcaria de polvo tem dentes?

 Aí tsunami desabou sob minha cabeça. Tudo ficou escuro, acho que foi porque fechei os olhos, de qualquer forma.

Quando os abri novamente, surpresa, estava numa sala de tortura.

Meus braços e minhas pernas estava presas nos pés e descanso de mão da cedeira com correntes de ferro puro. E, é claro, Chaos estava na minha frente, com um bisturi na mão. Sorria como se tivesse ganhado na loteria.

 Ele começou a se aproximar. Tentei me debater, mas as correntes machucaram ainda mais meus pulsos. Então decidi outra abordagem.

 — Vai me torturar enquanto durmo, vovôzinho? Dei meu melhor sorriso debochado Cara, você deve estar muito entediado. Torturar pessoas nos sonhos delas, que baixo. 

 Ele gargalhou.

 Torturar você... não minha amada netinha. 

 Ele sorriu e deixou de parecer um homem de olhos dourados para se tornar um rosto que eu conhecia muito bem. O meu.  Os mesmos olhos castanhos zombeteiros, cabelos longos até abaixo da cintura, pele dourada. O filho da meretriz estava até usando as minhas botas favoritas.

 Ele deu um passo para frente e se desequilibrou. Morri de rir. O deus do Caos não sabia andar de salto. Juro pelos deuses, a tropeçadinha dele foi épica. 

 Eu prefiro torturar os poucos que você ama, um por vez. 

E na frente dele, surgiu Idia, deitada numa maca, na forma de gatinha.

 Só lembro de gritar igual uma louca enquanto ouvia miados e via o sangue escorrendo. As correntes tinham arrancado pedaços da minha pele, eu tinha certeza. Eu jurei que eu ia matá-lo, xinguei-o de formas incrivelmente criativas. 

 Então, quando acordei, abracei Idia até ela reclamar.

 

 

Perspectiva de Kimberly.

 

 

 

A porcaria da faca nunca atingia o centro alvo, não importava quanto ela se esforçasse. Algumas vezes nem atingia a porcaria do alvo. Bom, certas coisas não eram para algumas pessoas. Talvez arremesso de facas não fosse para ela. 

 E foi em um desses arremessos que ela quase matou Christine M. Caudermoon. Quase. 

 A intenção era acertar o alvo, mas por infelicidade do destino, o alvo ficava próximo a porta de entrada, e Christine estava entrando na sala. Um lampejo prateado voando, a bruxa entrando e Kimberly fechou os olhos. Houve um barulho alto, o som de uma pancada. 

"Esse não é o som de uma faca se cravando no pescoço de alguém", Kim pensou e abriu os olhos. 

 Ela gargalhou enquanto segurou a faca a centímetros do pescoço. Kim nunca detestou alguma gargalhada como ela detestava a de Christine. Parecia a risada que o demônio soltaria ao ver pessoas queimando. 

  Não é hoje que eu morro.

 "Que pena!", Kimberly pensou. 

 Opa. Ela devia ter pensado em voz alta. Em menos de um piscar de olhos,  Christine estava na sua frente. Os olhos prateados brilhavam tanto quanto a faca na mão dela. E ela quebrou a com uma pancada do dedo mindinho. Os pedacinhos de metais voaram e farfalharam ao cair no chão.

 O que disse?  A filha de Nyx arqueou uma sobrancelha escura.

 Então, Kimberly teve um daqueles lapsos de coragem que ela lamentaria mais tarde. Ela sempre lamentava. 

 Que pena.

 A bruxa sorriu. Usou um estilhacinho da faca para limpar as unhas enquanto a encarava.

 Por que um serzinho como você acharia que minha morte é uma dádiva? 

Serzinho. Isso e o desprezo no olhar de Christine foram o bastante para deixa-la louca

 Porque você fode com a vida de todo mundo. Tudo isso que está acontecendo é por causa de Diana que não abaixou as orelhinhas e casou como uma boa menina. Você tem um imã para encrencas e destruição. Você se diverte acabando com as esperanças das pessoas. Você se acha o ser mais genial do mundo. Acha que é mais inteligente do que qualquer um, com essa coisa de Havard, médica geneticista, Einstein garotinha. Mas na verdade, você finge ser inteligente.

 Christine olhou muito seriamente para Kim.

 — E você, finge ser burra?

 Kim ficou quieta, caçando argumentos. Por isso ela detestava discutir, sempre levava patadas na cara. 

 A filha de Nyx revirou os olhos. 

 — Pelo visto não deve estar sendo tão difícil. Mas fale, quais esperanças suas eu destruí?

 Os olhos de Kim lacrimejaram de raiva.

 — Naquele dia, eu ia convida-lo para ir comigo ao Baile de inverno. Você não pode ficar contida, cravou as garras nele antes que eu pudesse falar Kimberly gritava então E destruiu tudo. 

 — Foi para você aprender a ficar esperta. 

 Foi puramente instintivo. Kimberly deu um tapa em Christine. Bom, quase deu um tapa. A maldita bruxa segurou sua mão antes.

 Que azar o seu, fazer isso justo hoje, que meu humor está péssimo. 

 Kimberly tentou livrar a mão do aperto, mas era como se uma garra de ferro estivesse a prendendo. As pernas delas viraram chumbo de uma hora para outra. Então Christine quebrou, primeiramente, os nós da sua mão. Depois os dedos, e por fim o braço. E quando terminou o trabalho com a mão esquerda, também, ela sorriu e estourou o nariz de Kimberly com um soco.

  É para você aprender a ficar esperta.


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Notas finais do capítulo

Podem me matar. Podem mesmo. Sei que querem. Eu estava de castigo, um garoto que pelo qual eu tinha uma quedinha me irritou. Aí eu arrebentei o nariz dele. Mamãe não gostou. Sabe, me irritou acabou o amor.

Chris é um amor, certo?



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