Briefly Away escrita por Bloody Butterfly


Capítulo 3
3. Backspace


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, voltei! Dessa vez o POV. é da Maka, espero que gostem :3



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Capítulo Três: Retrocesso

POV. Maka

Quando fomos atraídos para aquela caverna, de alguma maneira, eu soube que estávamos caindo em uma armadilha.

Um sexto sentido, talvez, tenha me dito que não era uma boa ideia prosseguir naquele terreno desconhecido.

Considerei sim avisar a Soul minha impressão. Considerei falar para que recuássemos para nossa própria segurança e buscar nosso alvo em outra situação. Considerei apenas, porém acabei por não verbalizar nenhuma destas inseguranças.

Aos poucos entrávamos mais e mais, penetrando até o cerne daquele lugar sombrio e caindo perfeitamente nas garras de nossa presa.

Ainda lembro do sorriso doentio da bruxa moribunda sob meus pés, de como ela se vangloriava pelo fato de que, mesmo tendo perdido, morreria nos arrastando para o inferno junto com ela.

Eu e Soul nos entreolhamos com confusão em nossas expressões, pensando que a mulher estava delirando à beira da morte, porém foi nesse momento que o teto da caverna começou a cair.

Recordo-me dos estrondos que as pedras causavam ao atingir o chão, despedaçando-se. Um desabamento armado como último recurso da vilã melindrosa que já nem mais tinha vida para admirar o feito.

Soul praguejou em alto em bom som, puxando-me pelo pulso e me ordenando que corresse. Que corresse o mais rápido possível para escapar dali.

Em minha mente eu me repreendia por minha teimosia, que não somente me fez não compartilhar de meus temores com meu parceiro como agora colocava nossa vida em risco.

Que droga de Shokunin sou eu?!

Soltei a mão do albino e tomei a frente, tentando em vão nos guiar para algum tipo de saída. Precisava me responsabilizar por colocar nossa vida em risco ali. E foram estes pensamentos que fizeram a culpa pesar em meu peito, uma semsação amarga e desconfortável que ameaçava me tomar junto ao pânico claustrofóbico de estar em meio à um desabamento.

Metade da minha cabeça tentava desesperadamente arranjar estratégias para escapar, repassando na mente o caminho pelo qual viemos, já a outra metade tinha de se focar em desviar dos projéteis afiados que despencavam do teto e daqueles no chão. Era quase impossível pensar com tamanha adrenalina correndo nas veias.

Não vou mentir: fui sim atingida muitas vezes no caminho. Enquanto pensar me distraía, não pensar parecia ainda mais angustiante. Para piorar tudo ainda havia a deterioração do cenário me impossibilitando de reconhecer qualquer coisa à frente, o que acabou apenas por me desesperar mais.

E ainda havia Soul.

Confiava que ele estaria atrás de mim, que não tinha caído pelo caminho, e gritava as direções com todas as forças.

Por favor, por favor... Que esteja comigo. Que não esteja muito ferido. Por favor, Soul, eu não saberia o que fazer se te perdesse aqui.

Chamei seu nome alto, rezando para que minha voz o alcançasse através daquele escarcéu caótico que nos cercava.

Minhas pernas... Doem.

As pernas, os pés, o peito, a garganta, tudo doía demais. A energia parecia querer de esvair de mim a qualquer instante, já sentia-me um tanto tonta por respirar tanto pó e correr tanto, sabendo bem que meu corpo tremia com aquele esforço demasiado. Num ligar daqueles, temia que minha visão começasse a me pregar peças, que minhas pernas cedessem à dor, que minha determinação falhasse por um instante e que o cançasso tomasse minha consciência.

Fui abatida pela verdade um momento depois, quando meus pés desengonçadamente atingiram uma depressão e meu débil equilíbrio se desfez, ocasionando a queda. Não tive tempo de tentar a mortecer o choque contra o solo, caindo direto de cabeça contra os pedregulhos e rolando com o impulso.

Arfei, sentindo um líquido quente escorrer por minha testa sobre meu olho direito, cegando-me parcialmente. Minha visão não estava boa, como também não estava meu corpo. Os músculos não respondiam ao comando de levantar, os ouvidos não dicerniam mais os sons com clareza e de algum modo eu soube que não conseguiria me erguer.

Logo pressenti que Soul se aproximava, os braços gélidos rodeando meus ombros os sacudiam como se me comandassem a reagir, porém da boca dele não ouvi um som sequer. Talvez a respiração descompassada e a secura da poeira na garganta lhe impedissem de formar uma frase, ou talvez, pelo ardor em seus olhos, ele somente se sentisse incapaz de dizer o que fosse. Não me surpreenderia.

Naquele silêncio errático que se instaurava em minha mente, senti-me prestes a desfalecer. O que me mantinha acordada era apenas meu esforço para não ceder à dor.

Ah... Nós não vamos conseguir.

O pensamento fatídico parecia apenas uma constatação da verdade, e isso me atingiu de forma violenta.

Não vamos conseguir sair. O que eu faço, Soul?! É culpa minha. É culpa minha, mas você não pode ser arrastado pelas minhas imprudências de novo. Não quero ver... Você ferido por conta do meu egoísmo como da última vez.

A memória vívida daquele dia ainda me tirava o sono. Fazia tanto tempo, porém a imagem se tornara um trauma. Ver o sangue dele jorrar quando a lâmina rasgou seu peito e lhe atravessou a pele, sentir o pânico de vivenciar uma real posibilidade de perdê-lo e, por fim, ver aquela cicatriz permanente marcar seu corpo como uma eterna lembrança do que ocorreu. Não esqueci. Não poderia.

Só não quero ter de viver tudo aquilo de novo...

Sob o manto turvo de poeira e dor que nublava minha visão busquei com os olhos uma saída. Uma luz, uma rachadura, um abrigo, qualquer coisa que nos pudesse livrar da morte.

Estava sem tempo. A adrenalina corria em minhas veias, o sangue latejava em minhas têmporas e um sonido tinia em meus ouvidos.

E, de repente, ali estava.

Entre as depressões e os fragmentos de rochas caídos, minha saída era uma fissura larga no chão de pedra, larga o suficiente para que alguém passasse por ela. Foi uma ideia insana a que tive naquele momento. A possibilidade de sobrevivência era tudo o que eu via naquele mero segundo, e me agarrei a isso como meu último recurso.

Atrevi-me a encontrar uma última vez os olhos escarlate que me fitavam em desespero, memorizando com afinco aquelas orbes vermelhas que tanto me fascinavam, antes de proferir as palavras que seriam, em minha mente, uma despedida.

—Soul... —chamei-o num tom apelativo, minha voz arranhada pela poeira que sufocava minha garganta- Me desculpe...

Eu sabia que ele tomaria a responsabilidade. Sabia que ele se culparia. Sabia que aquele albino cabeça de vento nunca poderia esquecer o dia em que não conseguiu me salvar. Eu sabia muito bem. Eu o conhecia muito bem para ter certeza do que sentiria quando aquilo tudo acabasse.

Mas a dor dele parecia tão pequena quando eu imaginava que ele estaria vivo para reclamar comigo depois.

Viva. Sobreviva, por favor...

Concentrei toda a minha força num único golpe, acertando Soul direto nas costelas. O rapaz arfou ao ser arremessado para trás, rolando entre as pedras até cair na fenda escura. Talvez eu realmente não tenha podido me salvar, porém agora Soul tinha uma chance. Uma chance que era, naquele momento, muito mais do que eu jamais poderia pedir.

Deixe que que eu me sacrifique um pouco por você também... Quem sabe eu até pareça bem legal quando acordar, e possa me sentir orgulhosa por alguma coisa.

Quando fechei os olhos, deitada contra o solo, não senti mais nada.

A dor foi diminuindo, como se meu corpo fosse anestesiado, e os sons do mundo exterior também serenaram-se aos poucos. A adrenalina me deixou e senti um relaxamento gostoso tomar meus músculos rígidos. Só esperava não estar morrendo.

Se ele ficar bem... Eu também ficarei... Não é? E logo que esta frase me veio ao pensamento, perdi a consciência, sabendo que talvez não viesse a acordar nunca mais.


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