Exame Final [Hiatus Eterno] escrita por O Marido


Capítulo 6
Ato I: O Programa.


Notas iniciais do capítulo

'U'
Chegou o 6° capítulo.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/660140/chapter/6

— Não... Não pode... Não pode ser! — Balbuciou Alyson, ainda se recusando a admitir que algo tão macabro estivesse prestes a acontecer ao seu filho... Filho que ela tanto amou e protegeu durante todos os anos depois de seu nascimento. Sem sombra de dúvidas, a pessoa mais importante para si.

Alyson buscou sustento apoiando as mãos no sofá. Sentia-se tão abatida que possivelmente iria desabar ali mesmo. Manteve seu olhar na direção da televisão, no entanto, ela só conseguia enxergar um nada, um vácuo... Um vazio por onde a sua mente transitava. Quase sem forças para falar, ela sussurrou:

— Paul...

***

15 anos antes...

31 de dezembro, 2000.

A garota de pele clara razoavelmente magra acabava de saltar de um taxi, numa rua pouco movimentada. Com um enorme sorriso no rosto, ela permanecera sob a forte chuva que caía no município onde morava até que conseguiu apanhar todas as suas sacolas de compras. Em seguida, a jovem acenou agradecida para o motorista e ele entendeu com outro aceno, dando continuidade à sua jornada de trabalho.

Já a moça, como se ignorasse as gotas que molhavam-na de cima a baixo, seguiu tranquilamente pelo jardim de sua aparente casa, rumo à entrada. Deu algumas risadas baixas entre um passo e outro e logo chegou perante a pequena porta branca de madeira. Ela desfez-se de suas sacolas por um período curto para girar a maçaneta e, após, capturou-as novamente e entrou.

— Estou chegando com os presentes do meu garotinho e do papai. — Comentou, de forma infantil e contente, ao passo que fechava a porta.

Sem perca de tempo, tirou o casaco encharcado e o pendurou num gancho próximo. Se virou para a mobília, ainda risonha, e sentiu toda a sua parede de risos desmoronar quando seu olhar foi de encontro com três malas grandes que jaziam próximas da mesa da cozinha.

Não teve nenhuma reação até notar o homem que saía da sala com uma criança no colo. Ele sorria enquanto acariciava as pequenas mãozinhas do filho, que ria em retorno. E uma extensa mancha roxa ao redor de seus olhos demonstrava sinais de recentes lágrimas.

— James...? — Só então a mulher obteve sucesso em pronunciar algo. O marido, porém, pareceu ignorar. — O que são essas malas?

O baixo e quase calvo rapaz deu alguns passos calmos até a mãe da criança e abandonou gentilmente ela em seus braços. O sorriso que manteve no rosto por todo o percurso finalmente desapareceu quando ele voltou para perto das malas.

— Estou indo, Alyson. — Disse, pesadamente. Seus olhos marejaram de imediato. — Desculpe, desculpe mesmo. Mas está tudo acertado, essa oferta de emprego é a minha vida e eu não posso deixá-la passar assim, sem ao menos tentar.

— Está... Está me deixando? Deixando a mim e a seu filho?

— Não, não “deixando”. Estou indo para Santana para “subir de vida”. Pretendo ficar sozinho somente até me ajeitar por lá, por no máximo uma semana. Quando conseguir encontrar uma casa boa, a primeira coisa que farei será ligar para você e dar o meu endereço...

— E... e pra que? — A garota de 22 anos ainda não entendia. — Pra que tudo isso, se a nossa vida já está bem arranjada em Ambuera? Quer jogar tudo fora porque de um simples emprego?

— Não é um emprego qualquer, Alyson, é chefe da maior concessionária de carros do país. Milhões de pessoas sonham a vida toda em chegar a um cargo como esse, e eu fui o felizardo.

Alyson sentiu as lágrimas automáticas que escorreram por sua face. Não sabia como teve forças para argumentar alguma coisa após aquela notícia trágica, mas parecia que sua força tinha se esgotado. Ainda abraçada ao pequeno bebê de cabelos loiros e pele clara, ela acompanhou com o olhos a James, que tragou suas malas e seguiu para a porta.

— Espero que você entenda. — Assentiu ele, girando a maçaneta e sentindo as gotas de chuva tocarem seus cabelos. — Faço isso por nós e...

— É o último dia do ano, James. — Alyson o interrompeu, angustiada. — Quatro dias atrás, não se recorda de estarmos degustando o nosso peru de natal naquela mesa? Eu, Paul e você?

Os dois fitaram a mobília da madeira por alguns instantes. Realmente se lembraram de como foi perfeita a ceia que viveram.

— Se ir, não terá mais “nós”. A partir do momento que atravessar essa porta, será apenas o Paul a minha família!

— Eu... Eu queria que você entendesse, juro que queria... — James falou, se conformando. — Mas vejo que de nada adiantará ficar mais tempo para explicar o mesmo.

O homem se aproximou dos entes para dar um último e carinhoso beijo de despedida na testa de seu pequenino. Alyson podia facilmente recuar e impedir o ato, mas preferiu não fazer. James também passou afetuosamente seu polegar no rosto da esposa e enxugou as lágrimas que desciam constantemente. Aquele fora o gesto de adeus.

***

17 de novembro, 2015.

As lembranças seguintes encontravam-se muito bagunçadas para sua mente em choque acessá-las. Todavia, já não havia nada para lembrar. Depois de aquilo, seu ex companheiro se dirigiu para fora da casa e pegou o primeiro taxi que apareceu. E fora a última vez que Alyson viu o pai de Paul pessoalmente.

“Eu... Eu prometi a mim mesma, depois daquele dia, que cuidaria de você com todas as minhas forças, Paul. Prometi que nunca te deixaria faltar nada, que nunca te abandonaria como o seu pai fez. Até hoje, eu consegui manter essa promessa. Contudo, a que eu fiz, a 15 anos, foi para a vida toda. E é por isso... Exatamente por eu te amar tanto, meu filho... Que nunca irei deixá-lo participar dessa monstruosidade!”.

Determinada e confiante, a mulher limpou seu rosto habilmente e correu para a porta. Agora era tudo ou nada. Ideias ainda não tinham surgido em sua cabeça, mas assim que apanhasse o filho, daria um jeito de tirá-lo dali. Escondê-lo do governo. Mantê-lo são.

Alyson saiu de casa em passos largos. Repentinamente, travou pé ante pé sobre o gramado quando assistiu ao veículo de luxo parar perante a calçada. Era uma grande limusine preta, bastante sofisticada por traços únicos de ouro nas portas e nas rodas. Enfim, ela percebeu que outras passavam pela rua, provavelmente buscando as demais casas específicas.

Um símbolo esverdeado permanecia centralizado em cada uma das portas dos veículos. Era um círculo branco, cujo, em seu interior, guardava duas letras iniciais. Mesmo vendo-os apenas de relance e a alguns metros de distância, a pálida tinha convicta certeza se tratar dos oficiais do Exame Final.

— Onde a senhorita Baker pensava em ir, a essa hora da manhã? — Perguntara o oficial baixo e meio gordo que saia do veículo pela porta do motorista. Ele mantinha um sorriso sarcástico em sua face enrugada, e sua voz era um tanto fanha.

— Eu...

— Poupe suas palavras. Nós dois sabemos para onde pretendia ir, exatamente como a senhorita sabe o que estou fazendo aqui. Tenho ordens diretas para coletar a sua assinatura em um documento importante que mostra que a senhorita libera, ciente, seu filho Paul Baker para o Exame deste ano.

Foi como levar um tiro bem no meio do peito. Mesmo que ela já suspeitasse – e até soubesse ao certo – do assunto, aquelas eram as últimas palavras que queria ouvir enquanto vivesse. No entanto, Alyson sabia que essa não era a hora para fraquejo. Tomada por uma tamanha impulsividade, ela gritou no ato de fúria:

— Jamais! Jamais terão a minha permissão!

O oficial, com Ted escrito no crachá de seu uniforme verde, riu solenemente e iniciou alguns passos na direção da mulher.

— É melhor repensar, dona. Não tenho muita paciência com o sexo feminino!

***

“Como conseguem? São tão pequenas e, ainda assim, carregam folhas enormes nas costas por longos caminhos.”. Paul mentalmente comentava ao passo que acompanhava, curioso, uma equipe de formigas contornar seus sapatos pretos. O adolescente até se esquecera do Alistamento que faria a alguns minutos devido ao clima calmo e silencioso que o acompanhava.

Porém...

— Paul...? — Uma voz masculina surpresa cortou o ar.

O loiro, reconhecendo-a quase que de imediato, se virou com um sorriso animado rumo a tal. E ali na calçada, a pouco mais de 5 metros, ele reviu um de seus grandes colegas de turma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nos vemos em breve. Um grande abraço a todos que estão acompanhando e comentando a história.
õ/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Exame Final [Hiatus Eterno]" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.