A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 43
Quarenta e três


Notas iniciais do capítulo

Está chegando ao final... Bem final mesmo hehe



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Uchiha Sasuke

Era ascendente: dez de maio de 1524, Terça-feira

Tão rápido quanto o meu pedido, as portas da capital são fechadas. Envio vários mensageiros, dois de confiança para cada distrito para fecharem qualquer tipo de caminho para sair do país, além de mandar uma ordem com a assinatura da família Uchiha de que deveriam me mandar os distritos mapeados com todos os lugares mais propensos a ter esconderijos (como cavernas, florestas não muito visitadas etc) marcados em cada mapa. Eu conversaria com Shikamaru, um antigo guarda e agora estrategista, e também Tenten, ainda que eu deveria conversar sobre a criança com ela e o que isso significaria para nós dois.

— Isso está demorando demais! — Sakura cada dia que passava fica sem mais paciência e com mais cansaço.

Dava para ver que quase não dormia e sequer se dormia em algum momento sem ajuda de medicamentos calmantes. Eu mesmo não estava bem, não dormia bem e sempre precisava de ajuda para resolver algumas questões burocráticas com Minato e Naruto, que se tornou razoavelmente responsável durante os anos em que fiquei longe. A guerra nos trouxe alguns milagres, de fato.

— Eu sei. Mas não temos muitas pistas; ele foi um guarda desde os dezenove anos. Ninguém nunca pensaria isso dele. — respondi, também tenso. — Por isso não deveriam ter ligado quando saiu do castelo.

Talvez fizeram vista grossa por ver Sasori cabulando alguma ronda para sair? Ou comer, ou relaxar. Sei que existem pessoas que fazem isso, e embora me desagrade não posso ficar mandando embora as pessoas em um momento de crise, principalmente porque não temos tanta mão de obra disponível.

— Com todos os diabos, como não iriam desconfiar quando ele tinha a nossa criança?! — Sakura continua irritada com a situação. — Não é a primeira e nem a segunda vez que os guardas desse castelo cometem uma gafe como esta. É uma época difícil de contratar, uma vez que a maioria está tentando se recuperar do trauma da guerra, dos próprios machucados físicos ou tentando ajudar sua família que ficara aqui. Mas isso precisa mudar, Sasuke-kun.

Ela tem razão. Kabuto, Sasori e até mesmo Konan. O primeiro sempre debochava mesmo quando esteve preso (e até mesmo no dia de sua execução, de acordo com Kushina), como se soubesse de mais coisas que não fazíamos ideia. Zombava dos meus espiões e de todos os empregados do castelo no geral. A família Uchiha era muito fechada, e isso nos permitia ter menos fraquezas contra um inimigo. Mas todo tiro pode sair pela culatra, pois essa distância fez com que não tivéssemos a oportunidade de conhecer melhor de quem cuida do nosso próprio castelo. O maior e único grande erro de Fugaku.

— E vai mudar, eu prometo.

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♦♦♦

 

Mais uma semana se passa e as coisas não poderiam estar piores. Sakura não dorme sem medicamentos, e tampouco eu. Preciso de cada vez uma quantia maior, pois os demônios da guerra acomodam meu sono, e todos os dias quando finalmente consigo dormir com toda a preocupação em achar meu filho, os pesadelos me acham. Morte, dor, o cheiro pútrido da morte. Cenas de estupro dos civis, corpos queimados. A falta de meu pai, o horror que toda guerra me passou como um Rei novato. Toda vez que me deito e consigo dormir, parece que acordo ainda mais cansado de forma física e psicológica.

— Eu não posso aumentar mais a sua dose. — Tsunade diz. — Já está tomando dois medicamentos intercalados apenas para isso, com doses fortes. Isso não faz bem para o seu organismo, Majestade.

Eu entendo que ela não quer arriscar a minha saúde, pois sou o Rei, mas dessa forma não estou conseguindo render em nada. Naruto e Minato fazem todo o trabalho pesado e mais pareço um fantoche do que um Rei de verdade. Fugaku ficaria decepcionado com a minha situação.

— Mas quase não consigo dormir. E quando consigo, são pesadelos da guerra. — sou franco, pois não deveria mentir para a melhor curandeira, ela saberia. — E preciso estar mentalmente bem agora, preciso… Talvez aumentar apenas um pouco, não me importo com alguns sintomas adversos.

Tsunade franze o cenho e nega com a cabeça. Ela procura alguns papéis em sua sala e me entrega com uma expressão séria.

— Não é não. Vossa majestade não está entendendo a situação. Já estás com uma dose com efeitos adversos; olhe para si mesmo e preste bem atenção. Sua mão treme o tempo todo, não consegues comer muito bem. Estás sempre prostrado, como se corresse em uma maratona, fora a arritmia leve. Não irei arriscar sua vida, se queres aumentar a dose por si mesmo eu saberei e irei-me embora.

Respiro fundo, e agora também percebo a dificuldade que estou tendo para fazer algo tão trivial. Respirar. Tsunade está certa, mesmo que eu não goste disso. Não posso mais aumentar a dose de nenhum medicamento, e o ideal seria até mesmo parar com eles aos poucos. Mas faria isso assim que encontrasse o meu filho.

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♦♦♦

Quando fui chamado para a sala dos estrategistas a sós não pensei que receberia uma notícia tão boa quanto aquela. Uma carta do distrito três nos informava que existia uma caverna próxima a um pequeno vilarejo onde haviam várias plantas medicinais e comestíveis desaparecendo, além de animais abatidos de forma distinta da cultura local. Eram poucos, mas depois de alguns dias foi notado a perda.

— Isso é bom. — digo, satisfeito. — O distrito três fez um ótimo trabalho. De acordo com o relatório a quantia de comida parece ser muito alta para apenas uma pessoa. De duas, mas talvez três, uma vez que meu filho ainda é uma criança.

— Sim. — Shikamaru confirma. — Eles já estão rondando a área discretamente; não é possível que Sasori saia sem ser visto. Deves partir ainda hoje, ao anoitecer.

— Irei. Apenas vou informar a Sakura antes, para acalmá-la — e possivelmente tentar, sem sucesso, fazer com que ela fique no castelo — e também iremos nos reunir pensando em uma melhor estratégia para que consigamos recuperá-lo sem nenhuma baixa.

— Daqui a uma hora reunimos todos aqui, então? — Shikamaru indaga e eu confirmo com a cabeça. — Está combinado, Majestade. Acho que vou dormir durante esse tempo.

Nem tento reclamar sobre a atitude preguiçosa do estrategista. Quanto mais ele descansava mais a sua cabeça funcionava. Deixo que ele se ajeite do jeito que achar melhor e vou em direção ao quarto de Sakura. Ela está deitada em sua cama, acordada, mas não parece perceber a minha entrada mesmo que eu tenha batido em sua porta três vezes.

— Sakura.

Sakura olha para mim, levemente surpresa. Eu não havia aparecido em seu quarto em nenhum dia desde que voltei, então sei que passa várias coisas sobre a cabeça dela. Nunca fora uma pessoa burra, muito pelo contrário. Imagino que já esteja ciente de que vou contar algo sobre o paradeiro de seu filho.

— Sasuke-kun? — ela indaga, sem rodeios.

— Trago notícias. Existem algumas evidências de que Sasori está no distrito três. Partirei ao anoitecer, após uma sessão com os estrategistas.

Ela levanta da cama de sopetão com uma energia que não sabia de onde havia vindo. Tão cansada e magra como eu, talvez pior. Muito provavelmente pior. Mas ainda viva, pelo nosso filho.

— Sabes que não irei ficar aqui. É o meu filho. — ela me encara séria.

Eu deveria negar o pedido dela, mas não parece nada justo. Ela cuidou dele quando eu não estava, deu amor, deu tudo que poderia dar a uma criança. E Kushina diz que a criança foi muito bem criada. A agonia de ficar parado no castelo enquanto a ação acontecia nunca fora a cara de Sakura, principalmente tratando-se de um filho.

— Eu sei. — não consigo negar.

— Bom. — ela responde.

Desde o rapto é a primeira vez que a vejo sorrindo novamente. Um sorriso genuíno e bonito. Seus olhos cansados brilham com uma esperança crescente e ela me dá um abraço apertado. O corpo de Sakura está magricela por não comer bem durante esses dias, mas isso não faz com que eu não reaja ao seu contato. Muito pelo contrário, depois de tempos sem contato algum com a mulher que eu amava na guerra, um simples abraço me deixa muito mais agitado do que eu deveria. Sinto o meu corpo mais quente, como se ela me desse mais força vital e uma dose de felicidade brota em meu humor. Sem pensar muito no que estamos fazendo eu a beijo e ela corresponde de forma intensa. O nosso beijo é demorado, pois aproveitamos o máximo que podemos. Não sei quantos foram, na verdade. Quando me dou por notar estamos deitados em sua cama e os lábios de Sakura estão inchados e avermelhados. O seu rosto está levemente corado e acredito que o meu esteja da mesma forma, como se fossemos dois adolescentes aprendendo a amar. Mas não somos.

— Sakura… — eu sussurro para ela. — Precisamos conversar sobre isso.

— Sim. — ela concorda. — Mas depois que acharmos o nosso filho.

Eu poderia dizer que depois disso levanto-me de sua cama e vou embora, mas estaria mentindo. Passo a uma hora até o encontro com os estrategistas com a mulher que amo, em sua cama.

Quando a hora chegou, vamos juntos até a sala de estratégia. Shikamaru está sentado bocejando com tédio, Minato me dá um pequeno sorriso, como se quisesse me tranquilizar. Em menos de dois minutos, a última pessoa que chega é Tenten. Ela acena para mim, animada. Sakura, que parecia um pouco melhor, fecha a cara novamente, mas dessa vez não é de preocupação e sim de incômodo. Seu olhar diante de mim é frio; eu gostaria de dizer a ela sobre Tenten, mas sei que não escutaria de qualquer forma. Pelo menos por agora. Isso me incomoda bastante, pois sei que ela tem certeza de que ando tendo algum tipo de relação com as duas, mas não é o caso. Eu pensei sim em deixar Tenten como rainha mas puramente por ser uma boa estrategista e pelo bem de Konoha. Não sinto nada romântico com ela, e sei que isso também é o caso da Mitsashi.

— O mínimo de pessoas deve ir. — Shikamaru começa a falar sobre a estratégia. — Quanto mais gente, mais fácil ele perceber, mais fácil ele trocar sua localização também.

Todo mundo assente, unânime da decisão. Como eu e Sakura iríamos de qualquer forma, daria espaço para mais um ir?

— Eu diria para não ir, majestade. — Minato diz, sorrindo. — Mas sei que não aceitaria. Portanto, fora você, vamos fazer uma votação para a outra pessoa.

— Bom que não insista, então. — resmungo mas ele continua sorrindo, entendendo a minha situação.

— Eu vou. — Sakura diz olhando diretamente para Minato e Shikamaru. — Sou a mãe, eu preciso.

— Entendo como se sente, mas não sei se é o melhor… Suas emoções podem atrapalhar caso o pior aconteça. — Shikamaru não mente, ele é direto e diz o que acha.

Dá para ver com nitidez a discordância de Sakura, mas ela não diz nada de início, esperando que todos falem para se defender. Ela observa atentamente Minato, mas apenas de ver o olhar de pena do pai de Naruto sei que ele não irá concordar com ela, mas com Shikamaru. Vendo que ninguém irá falar nada, ela decide dizer, por fim.

— É verdade que posso pensar mais nas minhas emoções por ser meu filho, porém sou a única por aqui que teve um contato com Sasori. Eu posso tentar distraí-lo e também sei como sua personalidade é.

— Mas isso você pode nos contar, Sakura. — Minato diz. — Me desculpe, mas concordo com Shikamaru.

Por mais que esteja com raiva de mim, ao ver dois votos contra, Sakura me procura desesperada. Trata-se do nosso filho, afinal. Eu poderia aproveitar dos dois votos e deixá-la por aqui, mas sei que ela jamais me perdoaria, além de tentar fugir e procurar por si só. E isso poderia ser caótico.

— Entendo o perigo de dois pais procurarem pelo seu filho, mas não é justo deixar uma mãe sem notícias. Sakura também é esperta, acho que ninguém pode negar isso. Sei que ela não cometeria nenhum erro, mesmo se tratando de ser a mãe. — mesmo que ela parece aliviada por eu votar em sua ida, Sakura não olha para mim.

Apenas o voto de Tenten falta, e vejo a tensão no rosto da Haruno. Ela nem tenta encarar Tenten, que está pensativa. Sei que a cabeça da morena está arquitetando o que pode ser melhor no momento, mas tenho medo de sua resposta. Dependendo dela, pode ser que as duas tenham algum tipo de briga, considerando o stress que Sakura está, e com razão.

— Bem… — ela coloca dedão esquerdo no queixo, pensativa. — É difícil pensar no que pode ser o melhor. Uma mãe pode não pensar de forma certa mesmo sendo sim muito inteligente, porque no fim das contas o que é mais importante do que o próprio filho? Isso levando em conta que só de olhar para você é nítido que não dormiu direito esses dias. — ela diz para Sakura, alheia a toda tensão. — Ao mesmo tempo és a única pessoa que tinha algum tipo de relacionamento com o tal Sasori. Pelo que me contaram ele tinha uma certa queda por você, então talvez sua aparição desestabilize ele, e essa será a melhor chance que podem ter… Então, por fim, acho melhor que ela vá.

Sakura chega a perder a compostura de tão surpresa que fica com a decisão de Tenten. Para falar a verdade, se eu não conhecesse Tenten, eu também perderia a compostura. Ela sempre analisa o que é o melhor para a situação, excluindo qualquer tipo de sentimentalismo, dela ou não. E mesmo que não excluísse sei que ela não se sente dessa forma por mim, só de ver o quão alheia ficou com a tensão de Sakura. Falando na mãe do meu filho, ela ainda está boquiaberta, e não tece nenhum comentário. Os votos, no final, ficaram a favor dela. 

Ao resolver as questões de quem irá e como serão as supostas estratégias, todos saem do cômodo. Sakura fora a primeira a sair, deixando explícito que não estava preparada para conversar comigo depois de tudo isso que havia ocorrido hoje. Olho significativamente para Tenten e ela assente com a cabeça, e me espera antes de sair. Fecho a porta, tranco só por precaução e ficamos enfim sozinhos.

 — Não pensei que fosse tratar com tanta naturalidade essa situação. — fui sincero, e Tenten dá uma curta risada.

— Majestade, eu não nasci ontem. — ela brinca, de fato não parecendo mesmo incomodada com nada. — Eu percebi tudo assim que começaste a falar de seu filho e dela. É nítido o sentimento.

Ela finaliza e me espera responder. O que eu poderia dizer? Ela não está mentindo, e sei que não conseguiria esconder a verdade a ela. Tenten e eu temos um relacionamento saudável, e mesmo que não tenhamos nenhum sentimento romântico ficaria mesmo muito esquisito caso eu casar com ela. Quero dizer, com todos os diabos, ela sabe que eu amo Sakura, fora já ter um bastardo! E ainda havia rido. O que está acontecendo por aqui?

— Sinceramente eu não sei o que dizer. — suspiro, derrotado. — Não falaste nenhuma mentira e mesmo que eu tentasse negar o óbvio tenho convicção de que tu não cairás em nenhuma balela minha.

— É verdade. Não cairei.

— Então, o que faremos? — indago.

Tenten dá de ombros, mas sei que não está ressentida. Na verdade ela parece até mesmo um pouco aliviada. Talvez a garota também tivesse alguém por quem se importava, no fim das contas. Isso faria bastante sentido, visto que ela não se abalara nem um pouco.

— Sasuke — ela inicia, mais uma pessoa falando o meu nome ao invés de majestade, será que sou respeitado por aqui? — nós ficamos próximos com o tempo de guerra juntos. É justo que você, mais do que ninguém, saiba disso. Eu sempre tive muito interesse por burocracias políticas, sobretudo sobre exército. Então quando eu fora escolhida pelo meu distrito não podia ter ficado mais feliz. Mas nunca senti nada por vossa Majestade, e sei que é recíproco. E, olhe, eu tentei por muito tempo. — ela ri. — Não me entendas mal, és uma boa pessoa, mas está longe de ter uma personalidade que me atrai romanticamente.

Não, eu não tenho paixão alguma com Tenten e compartilho de seu pensamento por ela, mas confesso que doeu um pouco no meu orgulho ouvir aquilo. Permito-me fazer uma careta mínima, que faz ela rir novamente.

— Não posso dizer que fiquei feliz ao ouvir isso.

— Oh, eu sei. Acho que ninguém gostaria. Mas estamos a sós, e precisamos colocar todos os pingos nos i’s. Veja bem, pelo que fiquei sabendo, Sakura é bem inteligente. De um jeito diferente meu, ou do seu. Temos inteligências parecidas, mas se me permite dizer sou melhor em estratégias de guerras e tu és muito melhor em burocracias do país. Sakura é alguém que o faria se aproximar mais da população, e tens uma ousadia que medida pode fazer seu reinado crescer exponencialmente. Eu jamais diria isso em qualquer outro dia, mas apenas quando me disse sobre seu filho percebi o quão longe eu estava deixando-me levar.

Eu entendo ela. Entendo mesmo. Sinto-me assim com Sakura, mas não posso deixar os meus desejos egoístas vencerem pois diferente de Tenten sou o rei. Mas por sorte ou astúcia dela eu havia sido convencido de que essa seria a melhor forma. E ainda mais, sei que isso não significaria perder Tenten para ninguém do jeito que eu a queria.

— Você se apaixonou por outra pessoa. — eu disse o óbvio.

— E é absurdamente mais complicado do que se fosse com você. — ela finaliza.

— Por que eu tenho a impressão de que sei quem é? — indago, mas não falo minha suspeita. — De qualquer forma, Tenten, eu gostaria muito que se juntasse ao meu conselho. Com Minato, Shikamaru e tu, sinto que nada me pararia.

Sim, gostaria de sua presença intelectual. Afinal de contas, sei que Tenten é muito inteligente e pode melhorar ainda mais com os anos, pois sua idade não é avançada. Fico curioso com a sua resposta, pois se a sua paixão for quem eu estiver pensando, ele não mora nesse país. Mas confio que ela daria um jeito nisso, se quisesse. Trata-se de Tenten, afinal.

— Será uma honra, majestade.

.

.

♦♦♦

Sakura havia me dado um gelo. No caminho para o distrito três ela havia se sentado o mais longe possível na carruagem, e não dava brecha alguma para a conversa. Imagino que esteja se sentindo traída por mim depois de nosso momento juntos e ainda sim eu chamar Tenten para discutir a estratégia, mas ela não tinha conhecimento de que eu já havia desistido de ter a morena como minha escolhida. E esse não era o momento certo para contá-la, então a deixei em paz. Mas é claro, isso não significa que eu tenha gostado de ficar longe dela ou de não permitir-me ficar chateado com isso.

Quando chegamos no distrito três, pela manhã, já na pacata cidade suspeita, um alvoroço de guardas do local vieram nos recepcionar. Eles pareciam ansiosos e temerosos, e um deles continha uma carta em sua mão.

— Vossa majestade! — o que tinha a carta diz, em meio a gaguejos. — Desculpe-me a insolência e pressa, mas é urgente.

— Prossiga.

— O suspeito teve a audácia de nos enviar uma carta!

O que isso significa? Se ele sabe que estamos aqui pode ser que já tenha escapado… Não, não faz sentido. Todas as saídas possíveis estão barradas e ele não teria mais nenhum outro local seguro para ficar. Talvez esteja planejando uma troca? Pego a carta das mãos dos guardas e os peço espaço. Mas é claro que Sakura não deixa de ler ao meu lado.

 

Cara Sakura,

 

Deveria ter aceitado a minha ideia de fuga quando lhe foi dada. Agora não tenho mais escolha alguma senão enviar o mapa de todas as entradas do palácio Uchiha a Orochimaru. Sempre fui um espião, mas gostaria de não me envolver mais, e não enviarei o mapa se vier comigo. Sinto coisas bonitas por ti e não queria envolver-te. Venha a sós até mim na caverna e você, eu e seu filho poderemos ficar a salvo de tamanha loucura e quem sabe sermos todos felizes juntos como uma família.

Sasori.

— Esse homem é insano! — solto, horrorizado. — Não é óbvio que eu leria tudo e iríamos direto o cercar?

Sakura analisa o que eu disse, mas nunca tirando a máscara de desgosto. Ela não esquecera de que está com raiva de mim, nem mesmo em um momento crítico como esse.

— Nem ele seria tão burro. — comenta Sakura, seca. — Acho melhor eu ir sozinha e tentar enganá-lo.

— De jeito nenhum! — exclamo.

Ela dá um sorriso irônico em minha direção. Sei que excedi sua paciência, mas agora não é o momento de medir as palavras. Temos de ser diretos e rápidos, pois Sasori pode muito bem mudar de ideia e enviar o maldito mapa para algum outro espião, nunca se sabe.

— Não confias em mim? Já fiz alguma coisa para essa desconfiança?! — ela cospe as palavras com amargura. — Eu vou voltar com o meu filho e seu bastardo estará sob sua visão. E assim você pode casar com a Tenten em paz.

Respiro fundo para não perder a cabeça junto a ela. Disse coisas que não deveria sequer ter pensado, afinal eu apenas havia deixado Tenten ajudar em uma estratégia. Sei que também disse que ela seria uma rainha melhor, mas foi coisa do passado. Ela deveria entender isso assim que passei mais um momento junto a ela. Eu não teria o feito caso escolhesse Tenten.

— Quem agora está desconfiando? — suspiro. — Por deus Sakura, esqueça Tenten e me escute por um segundo! Ir sozinha é loucura!

Ela cede e começa a pensar mais, mas seu rosto ainda está nervoso e não a culpo. Estamos perto, muito perto, mas nosso filho ainda está em perigo. E o país também.

— E o que sugere, então?! — ela indaga, insatisfeita.

— Vamos juntos.

— Não! Ele pode matar o nosso filho e ainda ferrar com o país, você não entende?

— Ele não irá. Se ele não se importasse tanto com sua vida já teria o feito. É narcisista o suficiente para achar que você irá cair em uma armadilha ridícula quando você mesmo já o negou.

— O país é assunto seu. — ela me fala, mas compreendo que não pensa dessa forma, pois também se importa.   Mas se algo acontecer ao meu filho — ela me olha com uma expressão fria. — eu nunca irei te perdoar.

.

.

♦♦♦

Seguimos o caminho em silêncio, pois Sakura continua a ficar ressentida comigo e eu não me defendo, pelo menos não por enquanto. Gostaria de falar com ela em um momento mais oportuno sobre ela ser a escolhida. Sempre fora ela, afinal. Demoramos cerca de uma hora e meia, pois decidimos ir a pé até o local. Não queríamos chamar a atenção de Sasori, principalmente porque Sakura não estava sozinha, e isso iria enfurecê-lo.

Quando chegamos a tal caverna sinto um asco repentino. Logo aos três primeiros passos adentro, sinto o cheiro de podridão, morte e éter. Uma raiva crescente também se apodera sobre mim, pois sei que grande parte desses experimentos deveriam ter sido feitos com cidadãos do meu país.

Encontramos Sasori logo cedo, e o sorriso em seu rosto some quando vê que estou ao lado de Sakura. Ele observa bem que estamos com uma espada, cada um com a sua em suas mãos, e isso o enfurece ainda mais. Também percebo a quantia de comida estocada. Agora fazia sentido. Ele comia e possivelmente o meu filho também, mas estava estocando para quando for embora. Chegamos no momento certo.

— Eu devia já ter enviado a droga do mapa. — ele resmunga ao me ver. — Parece que a vida cobrou de mim por ter confiado em uma mulher. — ele diz, áspero, e seguro Sakura para não ir até ele, furiosa.

— E porque eu deveria confiar em um espião?! — Sakura indaga, com nojo.

— Está certa sobre isso. — ele diz, mais calmo. — Mas de todas as pessoas, logo ele… Não sei se tenho muita sorte ou muito azar.

Sasori poderia me matar, e isso faria com que ele tivesse sim muita sorte. Mas caso tudo dê errado sei que ele ficará ainda mais furioso por ser eu. Vejo em seu olhar invejoso a vontade de ter Sakura para si, ainda em uma situação horrível como essa. Meu asco aumenta.

— Sorte?! — indago, jocoso. — Orochimaru perdeu a guerra, mesmo que tenha escapado o que acha que um homem com um exército mínimo poderá fazer contra o meu país?

— Hah! — ele ri, debochando de mim. — Não conheceste o que ele fez com os soldados selecionados. Mais força, mais velocidade. Menos perguntas e muita ação.

Sasori não espera mais nenhuma palavra de minha boca. Ele pega uma espada enferrujada no local e corre em minha direção furioso. Sei que ele está desesperado, pois seus movimentos são impensados e na teoria um soldado deveria ser mais habilidoso do que a mim. Principalmente tratando-se de um soldado modificado por Orochimaru. Suas mãos estão trêmulas, mas ainda tenho dificuldade em barrar o seu golpe com a minha própria espada. Ele não me dá folga e continua golpeando com fúria e força, e eu fico cada vez mais na defensiva. Tinha medo de que pudesse mudar os seus golpes para Sakura, ou por deus, mostrar onde está o meu filho e apenas o matá-lo sem dó nem piedade.

O único atributo superior que tenho sobre ele em habilidade são a movimentação dos meus pés, e uso isso como uma vantagem para que tente ao menos o encurralar na parede. Mas Sasori não é tão burro e quando começo a chegar mais perto ele simplesmente para de me seguir, ainda em posição de combate.

— Já chega! — exclama Sakura, irritada. — Basta, Sasori. Você perdeu. Mesmo que nos mate aqui sabe que há inúmeros guardas cercando essa caverna agora e não tem nada que você possa fazer sobre isso.

— Você… — ele olha com nojo para Sakura. — Te dei duas chances, saí do castelo sem a ordem do Orochimaru-sama mas já com o mapa e ainda não sabe aproveitar o que a vida lhe dá?!

Tão rápido quanto grita com Sakura ele corre em sua direção com a espada. Ela é habilidosa com muitas coisas. Com as palavras, têm um raciocínio rápido, é uma ótima curandeira e sei que não demoraria a aprender a arte do espadachim, mas como nunca havia de fato sido ensinada sei que ela está em apuros. Sakura segura a espada de forma correta, mas percebo que não está confiante, pois sua postura é de defesa. Basta Sasori dar dois golpes em sua direção e ela já fica encurralada, mas ainda se defendendo. Ele ri, e a assusta, gritando inesperadamente. Sakura dá um pequeno pulo, sem conhecimento de que ele havia feito puramente para assustá-la e brande a espada em sua direção.

— Não! — eu grito, já atrás dele, mas Sasori havia enganado a nós dois.

Ele apenas chuta Sakura na parede, que cai, e brande a espada em meu braço. Jorra sangue dele, embora o corte seja superficial. Sasori ri, vitorioso, e é nesse momento que uma Sakura muito furiosa pega a própria espada e bate em sua cabeça. Sasori cai no chão, inconsciente, e os amarramos com grossas cordas que encontramos no cômodo.

Meu braço lateja muito e sinto que há algo em sua lâmina assim que sinto a dor. Isso não é natural e Sakura parece perceber melhor do que eu. Ela corta parte do seu manto e amarra o meu machucado firmemente.

— Vou precisar fazer um torniquete. — ela diz, tensa. — E não se esqueça de ir aliviando a pressão do manto a cada dois minutos, pode ser perigoso caso não o faça.

— Tudo bem. — respondo cansado. — Agora vamos procurá-lo. Deixe Sasori amarrado, os guardas podem pegá-lo quando formos embora.

A procura é demorada, ainda mais porque decidimos encontrar o mapa que ele supostamente deveria entregar de forma indireta a Orochimaru. O achamos sem esforço em um de seus bolsos. Sasori me decepcionara com tamanha tolice, mas isso é favorável. Existem muitos locais já construídos nessa caverna, o que me faz ter a mais pura certeza de que muitos espiões passaram por aqui, até mesmo pelo número de buracos, ou quartos. A cada passo que dou meu braço dói mais. Sinto uma dor crescente mas tranco o maxilar e continuo seguindo em frente sem reclamar. Procuramos com tochas nas mãos, mas não achamos o nosso filho de primeira. Quando finalmente encontramos uma porta mais elaborada Sakura abre a porta com violência. Isso só prova o desespero em encontrar o seu (nosso) filho, além do amor incondicional que ela sente por ele. Vejo, no fundo da pequena e suja sala, um menino encolhido. Pela falta de luz não consigo enxergá-lo muito bem, mas assim que Sakura o coloca no colo eu consigo vê-lo. Não havia como sequer pensar que não fosse um filho meu. De acordo com Tsunade, ele havia nascido prematuro, porém sua estatura não era tão pequena assim, para uma criança de dois anos. Seus olhos eram negros, como o meu, e seus cabelos teimam em espetar na sua parte de trás, assim como na pintura que eu havia visto. O menino parece cansado e assustado por ter sido raptado, contendo duas bolsas escuras debaixo dos olhos, representando uma funda olheira mas não tinha nenhuma evidência de que havia chorado, diferente de Sakura, que mantinha o rosto inchado de tanta preocupação e tristeza.

— Mamãe, eu tô bem. — embora o menino falasse em um tom mais lento e um pouco embolado, fico surpreso que ele já consiga falar direito com apenas dois anos.

— Nós vamos tirar você daqui, Itachi. — ela o acalma, e ele a aperta mais em seu colo, num abraço.

Algo em mim muda ao ouvir o nome da criança. Sim, eu já tinha conhecimento de que ele se chamava Itachi, mas eu ainda não havia absorvido tudo que acontecera. Até então muitas coisas estavam confusas, como se ele era mesmo o meu filho ou porque a Sakura colocaria esse nome caso não fosse, e tentei bloquear da minha mente e meu coração a todo custo tudo sobre esta criança. Mas agora não era mais necessário, pois havíamos o encontrado. Não consigo parar de olhar para o meu filho. Sobre como ele era pálido como qualquer outro Uchiha, ou como segurava a mãe firmemente, sentindo-se seguro puramente por ter ela por perto. Sua voz ainda era infantil, obviamente, mas eu sentia que já havia ouvido uma voz como essa… Seria a minha própria voz antigamente? A de Itachi quando eu era bem novo? Não tinha ideia.

Meu coração começa a acelerar e eu fico nervoso, como se conhecer essa criança fosse algo importante demais. Tão importante que eu precisaria me preparar, e eu não tenho ideia se estou mesmo pronto. Uma família... O meu coração bate forte e rápido, as minhas mãos estão trêmulas, e os meus lábios teimam e se repuxam para os cantos, como um sorriso inevitável.

— Sakura — eu a chamo, ainda nervoso. — vamos sair daqui.

O meu braço começa a latejar cada vez mais. E além disso eu não queria que o meu primeiro encontro com meu filho fosse em lugar como esse. O esconderijo de Orochimaru era sujo, escuro e exalava o odor de éter e morte. Sakura concorda, sem me perguntar nada, e anda ao meu lado segurando o nosso filho firmemente.

Assim que saímos daquela caverna repugnante, o menino retira o rosto da nuca de Sakura. Seus olhos se fecham, desacostumados com a luz, mas isso não dura muito tempo. Ele olha para mim, com curiosidade, e aponta para o meu rosto, boquiaberto.

— Você é o… papai? — ele pergunta, curioso, ainda apontando a mim.

Sakura deveria ter falado sobre mim… E há também pinturas no castelo de Konoha com representações fiéis a mim. Ou ele simplesmente me achou parecido demais com ele, o que parece mais cabível para uma criança tão nova. Ando em passos lentos até os dois, ainda nervoso, com o coração disparado e um sentimento quente dentro do meu peito, e pela primeira vez na minha vida sorrio para alguém de verdade, mostrando os meus dentes.

— Sim. O meu nome é Sasuke.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e beijos!



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