A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 41
Quarenta e um


Notas iniciais do capítulo

Demorei meses, mas tive motivo. Quando a gente perde uma pessoa muito importante na nossa vida, nada parece mais ser o mesmo. Como se não bastasse, o covid chegou na minha família, já fragilizada por uma grande perda. Perdi meu teto, e nada mais parece certo a se fazer.
Forcei a escrever esse capítulo, porque ninguém tem culpa do caos que está minha vida, fora que ajuda a distrair.
Ia ter mais coisa nesse capítulo, tal como a volta em Konoha, mais interações de Suna e Konoha na guerra, Tenten conhecendo Neji, que veio a pedido do país do arroz, enfim, muito mais. Só que não possuo forças nem cabeça para escrever tanto assim... E por um longo tempo. Não podia também ficar anos sem escrever esperando quando tudo estiver um pouco melhor, ou ao menos eu me acostumar com tudo isso. Já procastinei demais com a demora de outros capítulos. Espero que gostem, apesar dos pesares. O próximo terá sim o reencontro SasuSaku.



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Uchiha Sasuke
Era Ascendente: três de fevereiro de 1524, Quarta-feira.


O campo de batalha não é nada parecido como descrito nos livros. Não há nenhuma glória em matar uma pessoa, e as batalhas não possuem honra nenhuma. Trata-se de quem tem mais recursos, quem é mais esperto e traiçoeiro. É ouvido vários tilintares de espadas contra espadas, lanças contra escudos e várias outras armas. Depois de meses de confrontos, o país do rei Orochimaru muda de aparência. Casas quebradas, civis rendidos, sangue nas terras. O cheiro é pútrido, misturado de suor, sangue e morte. De fato, o campo de batalha não é um bom lugar.
Gostaria de estar ajudando na linha de frente junto a população, mas devo ser razoável. Não existe mais nenhum Uchiha. Caso eu morrer, o meu país fica sem rei, e tornaria as coisas muito mais difíceis. A guerra civil chegou a bater na porta de Konoha, mas consegui dar um jeito. Sem um rei, ela aconteceria em proporções cavalares, tenho certeza.
Suna tem ajudado muito na guerra com seus guerreiros; e mesmo que ainda haja uma certa distância entre o meu exército e o de Gaara, percebo a mudança na percepção das pessoas. Suna não era tão ruim assim, afinal. A guerra foram décadas atrás. Geração diferente, reis diferentes.
Minha divagação é finalizada quando aparece um soldado na porta da minha tenda. Ele me olha, indeciso, mas entra quando o permito.
— Informe, soldado.
— As linhas de frente estão avançando rapidamente, Majestade. Permissão para revindicar o território? — ele indaga.
Ainda que estejamos ganhando a guerra pelo número e por termos pegado o país de Orochimaru supostamente fora de guarda, o velho rei cobra estava resistindo muito mal, bem pior que o esperado. Isso não parece algo natural, e muito menos benéfico, como deveríamos supor.
— Concedida. Algo a mais? — ainda que possua a possibilidade de emboscada, não posso permitir que ele fique com o território.
— Nada a reportar.
— Dispensado.
O soldado logo sai da minha tenda, e só quando ele some da minha visão percebo como estou parecido com todos eles, ao ver o meu próprio reflexo em um espelho deveras sujo dentro de minha tenda. Meus olhos estão cobertos por olheira, meu cabelo é desgrenhado, minha roupa nem um pouco majestosa. Eu preciso de um descanso. Mas não há tempo para isso em uma guerra.


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♦♦♦


Ouso dizer que Tenten é formidável. Não concordo com a sua escolha de ir para a guerra sem pensar nos cidadãos que ficaram no país, mas ela tem uma inteligência e lógica para estratégia invejável, e muito melhor que a minha, muito embora eu jamais direi isso a ela. Todas as vezes que comento sobre estratégias, a testando, sua reposta sempre vai além do meu esperado. Portanto, em poucos meses ela já é transferida para ajudar, de fato, os estrategistas de Konoha, Suna e alguns do país do Arroz. Quando dou a notícia a garota, seus olhos brilham, faiscando orgulho e felicidade.
— Controle seu ânimo, Tenten. A guerra não é algo a se comemorar.
Ela me analisa por poucos segundos, ponderando o meu comentário. Seu sorriso ainda é de vitória, mas a mulher realmente parece ter levado em conta o que eu disse.
— Eu sei, Majestade. Estou apenas satisfeita por ter permitido eu, uma mulher, me juntar aos estrategistas.
— Não me importo com isso. Se és valiosa, tens de nos ajudar como pode.
Abruptamente, a garota me abraça apertado. Não consigo deixar de pensar em como ela me sufoca com tamanha força, comparando o seu abraço com o de Sakura, que não vejo há meses. Definitivamente não é a mesma coisa. Sem apego emocional, puramente de agradecimento.
— Obrigada, Majestade.
— Não nos decepcione. — uso o plural, para mostrá-la que não é sobre a minha percepção e a dela, mas sim de um país inteiro.
Ela faz continência para mim, mostrando um sorriso cheio de orgulho e satisfação.
— Não irei.
Não sei se Karin havia descoberto sobre Tenten e sua evolução no meio da guerra, pois exatamente no mesmo dia ela foi até a minha tenda sem ser chamada. Nunca havia feito tamanha ousadia, sempre esperando o meu tempo. Isso deixa-me bastante intrigado, fazendo com que eu não a rechace. Ela usa um vestido puído e cheio de poeira, o que é normal, visto que estamos no meio de uma guerra. Suas mãos estão torcidas por trás de suas costas, e o seu rosto possui um semblante decidido.
— Sasuke, tu precisas de descansar mais. — ela não me cumprimenta, já chegando no ponto.
Entendo que não é bem visto a falta de cortesia, mas admiro pessoas que não enrolam e chegam logo falando o que querem. Conversas não deviam ser feitas como um jogo, mas diretas e francas. Ela também não está de toda errada. Ando descansando muito pouco e me estressando por demais.
— Assim como todos os soldados. Achas que a minha situação é pior que a deles?
Meu argumento é irrefutável. Devo dar o meu sangue pelo meu país, assim como todos da população. Por não ter mais nenhum Uchiha não posso entrar em batalha e arriscar a minha via pondo uma ameaça a uma guerra civil, mas ao menos trabalho sem descansar para que o mínimo de pessoas morram, e possamos voltar ao nosso país rapidamente.
— Sei que não. Mas há apenas um rei. Quanto aos soldados...
Karin tenta justificar, mas isso só me deixa com raiva. Como se eu tivesse que me ver como um superior. Lembro de tudo que passei com Sakura, da sua história e como ela já sofreu. Por que uma pessoa comum tinha de ser menos importante? Isso não faz sentido algum. Balanço a cabeça em negação, bastante decepcionado com a Uzumaki, que ainda me olha com os olhos avermelhados faiscando de preocupação.
— Nem acredito que disse isso, Karin. — sussurro, cansado e decepcionado.
Ela arregala os olhos, mas não me encara mais. Põe a sua visão sobre os seus sapatos brancos encardidos, aparentando vergonha. É bom saber que ao menos ela percebe que disse algo que não deveria. A Uzumaki fica um pouco avermelhada, como a tonalidade de suas madeixas, e ainda não se põe a me olhar novamente.
— E-eu não quis dizer que são descartáveis, de forma alguma. Mas sabes que a vida da vossa majestade, ainda mais sem um herdeiro, é muito mais importante para a estabilidade do reino.
O que Karin fala, de fato, faz sentido. Eu havia pensado nisso também. No entanto, não posso fechar os meus olhos e me esquecer que todos os homem a quem estão dando o coração e o sangue têm uma vida. Que tipo de rei eu seria, se não pensasse neles?
— Entendo o seu ponto de vista, mas não vou me permitir pensar dessa forma. — minha voz sai firme, tal qual a de um rei.
Ela assente, já um pouco recuperada de sua vergonha. Sei que com o meu tom de voz ela não irá, de forma alguma, contestar o que eu disse. E isso é bom, não tenho tempo nem paciência.
— Tudo bem, perdoe-me, majestade.
Karin parece arrependida do que disse. Errar é humano, portanto, não vou me ater a ficar guardando rancor, como eu faria antes. Agora sou um rei, e preciso ter uma maturidade melhor.
— Já está esquecido.
Ela fica satisfeita com a minha resposta, e seus olhos avermelhados faíscam com um sentimento o qual fico sem entender. Karin dá passos lentos em minha direção, com um sorriso mínimo.
— Deixe-me ao menos ajudar-lhe a relaxar um pouco... — sua voz sai aveludada, e sei que há algo a mais nessa frase.
Suas mãos cálidas guiam-se até os meus ombros, permitindo que ela faça uma massagem nos tensos músculos das minhas costas. Seu toque não é ruim, sinto a delicadeza e muito provável habilidade já trabalhada na movimentação de suas mãos, mas não deixo de pensar em Sakura.
As mãos dela não seriam tão delicadas, por ter muitos calos pelo trabalho em seu distrito. Ainda sim, sinto falta de seu toque. Da temperatura da sua pele, e dos seus olhos absurdamente verdes. E Karin não tem nada disso. Embora mesmo que tivesse, sinto que eu acharia alguma outra diferença.
Percebo que Karin está prestes a me beijar quando paro de pensar em Sakura; e é nesse momento que acordo e decido parar com esse momento. O rosto magoado de Sakura paira em minha mente. Sei que ela não ficaria nada feliz com um beijo, ainda que eu não tivesse uma noiva escolhida. Mas o sentimento dela importa mais do que uma burocracia, além de não ter vontade de beijá-la no momento.
— Karin, eu... Preciso ficar sozinho.
Mais uma vez, Karin não olha nos meus olhos. Ela ajeita os seus óculos avermelhados no rosto, tampando-os, mas consigo captar a tempo o porquê disso. Há lágrimas brotando de seus olhos.
— Tudo bem... Sempre irei respeitar os seus desejos. — dito isso, ela sai da tenda, sem esperar uma resposta.

.

Era Ascendente: nove de Abril de 1524, Sábado.


Meses incansáveis de guerra me deixaram um pouco mais amargo do que deveria. Principalmente depois de receber uma carta como aquela de Sakura. Eu não conseguia acreditar no que lia. Penso, penso e penso mais um pouco, tentando entender o motivo disso. A guerra? Ou foi antes de eu ir? Sakura não é esse tipo de pessoa, mas não há como negar um laudo médico de Tsunade, vindo com a própria assinatura de Sakura na carta. Eu conheço sua letra, a ensinei a ler pessoalmente.
Abro a carta mais uma vez, tentando entender algo nas entrelinhas.


" Querido US,
Espero que esteja bem. Espero que todos estejam bem. Gostaria de te enviar essa carta para tratar de um assunto sério: sobre o que acontecera após sua despedida. Sei que fui impulsiva e o momento não parece correto, mas acarretou em uma situação complicada para mim e ele. Um fruto. Sei que não entenderás. Não era o momento certo, e certamente não sei se haveria um. Mas tu ainda não havia escolhido ninguém. Não pude cortar o fio da vida. Mesmo que fosse perigoso para mim, o motivo foi outro. Eu já amo o meu grande erro.
Me perdoe.
HS.
 "


Anexado a carta, há um relatório de Tsunade com o testemunho de ninguém menos que Uzumaki Kushina. A carta e o laudo médico estão cheio de fuligem, e um pouco borrados, mas conheço a veracidade de um documento médico. Este é real. E, além do mais, estamos em guerra. Impossível manter o protocolo de organização, como uma carta limpa, por exemplo. Principalmente quando a sua via foi de vários reforços de guardas do castelos. Eles não tem qualificação para transporte de carta, não foram ensinados. Devem tê-la guardado em locais impróprios.
Continuo a olhar a carta, sem saber o que fazer ou falar. Como ela havia feito isso comigo? Por quê? Sakura é uma das pessoas a quem eu considerava com uma maior lealdade a mim... Ou a menos era assim antes da guerra começar. Ou ela havia me enganado desde o começo? Teria eu sido feito de tolo desde o princípio?
Kushina não havia mandado nada a mim sobre o assunto. Imagino que ela pensou em ser um assunto delicado, e realmente era. Sakura partiu meu coração como ninguém havia feito. Dói muito, e não acredito que algum dia vá parar de doer tamanha traição. Um filho... Por deus, havíamos tido um momento junto um dia antes de partir! Resolvo responder a carta, mas não sei o que escrever. Seria uma resposta amarga, rude, e muito imprópria para um rei. Devo ser uma pessoa mais fria, que pensa mais antes de falar. Mesmo que eu queira muito saber quem é esse homem com quem ela teve um filho, logo depois da minha partida (pois a data da fecundação era muito próxima ao início da guerra), rasgo e amasso a folha a qual tentei escrever algo, colocando fogo logo em  seguida. Kushina me daria respostas quando a guerra acabasse. Hora de parar de pensar em distrações. Decido fechar cada sentimento que possuo em meu coração e destiná-lo apenas para a proteção do país. Não irei mais me permitir sentir nada por ninguém. A próxima soberana irá ser uma pessoa merecida para cuidar do país e de preferência alguém com quem não possuo vínculo algum sentimental. Sim, estou falando de Tenten.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, perdão por talvez não ser um capítulo excepcional. Eu tentei.



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