A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 38
Trinta e oito


Notas iniciais do capítulo

Teoricamente, eu deveria estar estudando. Deveria estar fazendo outra coisa. Teoricamente.



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Uchiha Sasuke

Era ascendente: doze de novembro de 1523, Quarta-feira.

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Silencioso demais. Não que o castelo Uchiha fosse um lugar barulhento, mas não havia nenhuma alma viva conversando. Como se todos estivessem sem saber o que fazer. Uma taquicardia poderosa se apossa sobre meu peito, e penso em meu pai. Ele não podia estar... Podia? Perco a minha compostura e largo as garotas e os guardas que nos acompanharam a Suna e vou até o andar de meu pai. Os segundos demoram como milênios, mas consigo chegar lá. Estar ofegante nem me incomoda, diferente de Tsunade velando a porta do quarto de meu pai com um rosto pálido.

— Saia da frente. — eu digo a ela.

A curandeira mal olha para mim, parece nervosa. Temerosa.

— Sasuke, não! — ela exclama, mas é tarde demais.

Abro o quarto de Fugaku, trêmulo, depois de desvencilhar Tsunade da minha frente. Só que tudo que eu encontro é uma cama arrumada. Vazia.

— Sinto muito. — foi o que ela diz. — Eu disse que o medicamento acabaria com ele; e o Rei ainda tomou o dobro... Não sei como ele manteu as aparências por cinco dias, ainda mais lidando com aqueles malditos duques. 

Alguns diriam que Tsunade não foi delicada ao me dar a notícia, mas eu não. Não há uma forma que alivie a dor da perda de um membro da sua família. Principalmente quando se é o último. Meu pai sempre foi o modelo de vida que quis seguir; minha admiração. A pessoa que mesmo sendo rei, fora presente, de uma forma peculiar, mas nem um pouco ruim. Não sei como fui parar ajoelhado no chão; acho que perdi a força em minhas pernas. Só percebo quando Tsunade inclina suas mãos em minha direção.

— É melhor ir para seu quarto.

Sigo Tsunade no automático. Minha mente não acompanha o meu corpo. Foco no vazio deixado em meu peito. Isso de novo... Como quando aconteceu no dia em que Itachi falecera. Por que dói tanto? Não tenho forças nem para chorar. A curandeira passa em um quarto, pega algo e eu apenas a espero. Quando chegamos em meu quarto, a loira injeta algo em meu braço.

— Vossa Majestade está em choque. Vais dormir por algum tempo. — e antes que eu consiga responder algo, adormeço.

Kabuto aparece rindo, gargalhando. Até mesmo chora. Seu rosto está desconfigurado de tanta graça que sente, mas não entendo o motivo.

— Seu pai era um tolo. — diz entre os risos. — Nunca percebeu as minhas verdadeiras intenções.

Queria lhe dar um soco. Gritar. Mas voz alguma saí das minhas pregas vocais, e nem um músculo se move. Faço força, tento gritar novamente. Mas fico imóvel. Impotente. Inútil.

Percebo apenas que é um sonho quando sou acordado por Minato. Ele tem um aspecto triste e cansado.

— Sasuke. Precisamos conversar. — ele diz, e eu me sento na cama, olhando em sua direção. — Acho que, pela sua reação, imagino que já tem conhecimento da morte do seu pai.

— Sim. — minha resposta sai tão vazia que quase não reconheço a minha voz.

Sinto-me letárgico e com uma dor insuportável na cabeça, e de certa forma sei que não é culpa do injetável de Tsunade.

— Fugaku me deixou um trabalho. — ele me olha cauteloso. — Governar temporariamente até vossa Alteza se casar. Mais um Rei governando sem a ajuda de uma rainha poderia causar suspeitas, como se os Uchiha dissessem que precisam de apenas um soberano, e nunca foi assim por aqui. Então eu e Kushina iremos ficar temporariamente. Seu pai assinou um pergaminho antes de falecer, gostaria de ver?

— Não. Acredito em você.

— Mais uma coisa... Conversamos muito sobre essa situação quando vossa alteza estava longe. Concluímos que é necessário que se comunique com a população sobre a morte de seu pai.

Imaginei que o silêncio do castelo seria por sua morte. Teria sido imaginação minha? Como ninguém sabe?

— O corpo ainda não foi sepultado?! — pergunto, incrédulo.

Minato não olha para mim e esfrega as mãos, nervoso.

— Bem... Não.

— Isso é ridículo!

— Um rei falecido sem nenhum primogênito perto no país, com rebeliões espalhadas pelos distritos? Nada sábio.

Eu sei. Entendo isso. Mas ainda é ridículo pensar no corpo de meu pai, malcheiroso e em decomposição à espera da minha volta. Sinto a bile subir pela minha garganta.

— Amanhã farei o anúncio. E preparem o velório logo após.

— Iremos, Alteza. E... Sasuke? O corpo de seu pai está em bom estado. Tsunade o preservou nos calabouços do castelo. Talvez possa querer despedir-se com mais privacidade.

A ideia parecia cada vez mais idiota com a minha proximidade do cadáver de Fugaku. Ele está pálido, gelado, e duro feito pedra. Suas feições são como uma pessoa em paz, mas isso não faz sentido algum. Fugaku sempre teve uma expressão severa, até quando estava tranquilo. Não parece nada com ele. Também está mais magro, com uma aparência fraca. Fecho os olhos com força. Isso não é o meu pai. Ele não era assim. Não quero me lembrar dele dessa forma.

— Isso foi uma ideia idiota.

— Talvez tenha sido, mas sei que se arrependeria se não viesse. — escuto a voz de Naruto em minhas costas.

Nem preciso me virar, sua tonalidade já me faz ter certeza de que ele também não está bem com o ocorrido. Não o respondo porque, bem, ele está certo dessa vez. Dou uma última olhada só para ter certeza de que esse não é mesmo o Rei imponente que conhecia e depois dou as costas para ele. E não olho para trás. Naruto me segue silenciosamente até o meu quarto, mas para na porta, quando chegamos.

— Meu pai me disse que irá anunciar para a população amanhã.

— Sim. — a minha voz sai frágil, irreconhecível.

— Mesmo com a morte de um bem querido, a vida de alguém da corte não pode parar. É cruel, mas isso não muda nada. Sinto muito por isso, Sasuke. — Naruto me abraça logo após dizer meu nome. — Mas não se esqueça: você é forte. E sua família não acabou. Eu ainda estou aqui.

— Uhmpf, um irmão deveras irritante.

— O que vais fazer agora? — Naruto pergunta.

— Pensei em esboçar algo para o discusso de amanhã, mas acho que vou dar uma visitinha a alguém agora. Você vem?

Não sei o que Naruto havia imaginado que fôssemos fazer, mas de certo que não tinha pensado em irmos ver Kabuto. O ex curandeiro oficial do castelo está amarrado em um calabouço distante de qualquer lugar. Está sujo, mais magro, porém continua com o semblante arrogante no rosto, o que me irrita.

— Sasuke. Como vai seu pai?

Chuto o rosto do traidor sem dó; e ele cospe sangue em minhas vestes. Avanço mais em sua direção, mas Naruto me para.

— Precisamos do bastardo acordado. — ele me lembra, e concordo mentalmente.

— Seus subordinados são tão cruéis na tortura quanto uma criança brincando de ninja. — ele zomba. — E mesmo se não o fossem, sou muito bem treinado.

— Veremos. — digo, com a voz carregada de fúria.

— O que Orochimaru deseja com um espião em Konoha? — Naruto pensa em voz alta.

— Não sei... Quem sabe assassinar algum Rei? — dessa vez é Naruto que o agride.

Ele pega uma enxada enferrujada que jaz no local e bate em suas pernas. Kabuto urra, agora sem nenhum humor.

— Calado, regicida. Vamos embora, Sasuke. Não é o momento. Precisamos desse traidor vivo e se continuar assim, não conseguiremos isso.

Sei que ele está certo, precisamos das informações do curandeiro. Mas a vontade é de esfolar Kabuto vivo de forma lenta e dolorosa. No fim das contas, anuo e vou com o loiro. Vinganças bem executadas requer um tempo maior.

Quando volto, só, ao meu quarto eu fico divagando no que exatamente poderia dizer ou não dizer no discusso, se falaria à população sobre a guerra também, ou deixaria para outro momento. Passam-se horas dessa forma até que finalmente o sol se põe, e escuto uma batida discreta na minha porta. Não digo nada; não quero companhia. Mas a pessoa abre a porta ainda sim. Sakura entra com os olhos avermelhados e com um semblante de preocupação.

— Sakura. Agora não.

Sei que ela não tem nenhuma intenção ruim, na verdade fico um pouco menos triste por vê-la aqui, por mim, mas preciso pensar em meu discusso. É como Naruto disse: a vida de um futuro Rei não para. Nem com a morte de seu pai.

— Agora sim. — ela responde, firme. — Não há momento melhor. Sei que deves estar com a cabeça cheia e em breve estará muito ocupado, mas preciso te entregar algo.

Sakura estende os braços com um envelope. Ele tem o símbolo do clã Uchiha, fora que esse tipo ornamentado de papel... Nunca vira ninguém mais usá-lo, fora meu pai.

— É de seu pai. Ele... Me deu isto antes de irmos para Suna. E pediu para entregar caso o pior acontecesse.

Não deveria estar surpreso como estou. Fugaku era o rei. E reis tem completo domínio sobre o país e principalmente o castelo onde mora. Com todos os diabos, como ele não saberia da relação mais íntima que tenho com Sakura? Se já parece óbvio até para as garotas que não tem informantes. Pego a carta, trêmulo, e a abro sem cerimônia.

 

Sasuke,

 

Chegou a hora de dizer adeus. Se estás lendo isso, significa que não pude lhe dar a oportunidade de despedir de mim pessoalmente, o que é ruim, mas também tem seus lados positivos. Pelo menos não vais ter uma lembrança traumática de um Rei agonizando. Confesso que não estou achando fácil escrever esta carta - nunca fui muito bom com despedidas ou palavras. Queria dizer que tenho orgulho de ter a ti como um filho. Ouso dizer que você vai ser um ótimo rei: tens características minhas e de sua mãe, principalmente as boas. Gostaria que tivesse conhecido Mikoto. Gostaria que não tivesse perdido Itachi. Gostaria de não te deixar desamparado a governo de um país próximo de uma guerra, sem ainda nem ter uma esposa ao seu lado. Gostaria de ter passado mais tempo contigo. Quantas vezes tivemos a oportunidade de conversar sobre assuntos corriqueiros? Nunca. Mas tenho certeza de que se fizesse isso com alguém, seria contigo. Fui muito duro em diversos momentos, mas espero que perceba que apenas queria o seu bem; como bem sabes, reinar um país é necessário várias qualidades, e eu te corrigia sempre que possível. Hoje você já está moldado, como um bom soberano deve ser. E eu ou Konoha não poderíamos ter mais sorte.

 

Entenda. A minha morte foi em prol do país. Não tive escolha, reis abdicam tudo pela estabilidade do reinado. Até a vida. Você vai ficar bem, Sasuke. Tu és um Uchiha.

 

Acho que nunca lhe disse isso, mas eu amo você, filho. Que o seu reinado prospere como o meu nunca prosperou.

 

— Sasuke-kun... 

Só percebo que entrei em algum tipo de transe quando Sakura me volta para a realidade, chamando o meu nome. Sinto um intenso nó na garganta, mas não sinto o choro vindo. Não posso. Sou o próximo rei e devo colocar o país em primeiro lugar. As minhas emoções não importam.

— O que você está sentindo... Não pode simplesmente reprimir. Deixe o luto vir, Sasuke-kun. Está tudo bem chorar, se sentir triste. Era o seu pai e você o ama. Isso não lhe deixa fraco, mas humano. E isso também é importante para um Rei.

Entendo o que ela diz. É verídico. Quando ela sobe em minha e me abraça forte, permito-me chorar pela morte de meu pai pela primeira vez. Nunca chorei tanto na minha vida. Choro por Fugaku; que morreu por um assassinato indireto. Choro por Itachi; que não está aqui para me amparar. Choro por nunca ter conhecido minha mãe e saber como é um abraço materno. Enfim, as lágrimas transbordam de meus olhos durante um bom tempo. Só não me perco por esse mar de tristeza pois tenho Sakura do meu lado. E isso me faz ter certeza de que a amo de verdade e nunca amarei ninguém tanto assim.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam, se possível. Bjs



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