A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 31
Trinta e um


Notas iniciais do capítulo

Oin



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/660000/chapter/31

Uchiha Sasuke

Era ascendente: cinco de novembro de 1523, Quarta-feira.

Não é um dia muito bonito. O vento sibila em uma temperatura baixa e a iluminação do sol não parece entrar o suficiente no escritório principal do castelo. Está tudo mais silencioso do que o de costume, o que dá um ar ainda mais sombrio para o dia, que cai uma fina camada de chuva, molhando a parte exterior da janela devidamente fechada. Ou talvez esse seja apenas o meu mau humor moldando a minha visão. Acabo de ler a carta resignada a mim, enquanto tomo um amargo café para começar o meu dia.

“Sua Alteza,

Já avistei inúmeras atividades ilícitas e suspeitas feito por indivíduos com características étnicas atípicas do país. As peles são tão claras como marfim, e os olhos amendoados, esverdeados ou amarelos. Característica típica e bem definida de um outro local. Tudo se assume que as nossas desconfianças estavam corretas, embora ainda não tenha uma prova concreta. Suponho que em menos de três dias já as terá em mão, seus subordinados são mais do que qualificados para o trabalho. No momento em que conseguimos iremos pedir uma audiência com o outro rei.

Nagato.”

Meu estômago embrulha logo depois de ler a carta. Eu deveria ficar feliz, é claro, mas não sou tão frívolo a ponto de comemorar um tráfico de pessoas. Dobro a carta novamente, a colocando em cima da escrivaninha de mogno do cômodo.

— O que acha sobre isso? — Minato me responde interessado.

Coloco as minhas mãos apoiadas sobre a escrivaninha e em meu queixo, pensando em uma resposta completa. Não há apenas Minato e eu no escritório pela manhã, como de praxe. Meu pai está deitado em uma improvisada porém confortável cama. Ele deu a ordem de que iria, de qualquer forma, estar por dentro e até mesmo guiar a situação. Nada fora do comum, pois Fugaku é o rei. Ainda que acamado e em estado terminal.

— Penso que um de nós irá ver o rei Gaara mais cedo do que o planejado.

Os dois adultos concordam sem usar qualquer palavra. Nós três parecemos mais pensativos do que nunca, o que é compreensível. Apesar de termos conhecimento de como são as atitudes e personalidades do rei Gaara, é notório ter em mente que ele é um rei novato. Sua atitude pode ser instável, imatura ou até mesmo precipitada. E isso deve ser tratado com cautela. Esse encontro deve ser feito com maestria.

— Com toda a minha sinceridade e sabedoria — Fugaku, meu pai e rei, inicia seu monólogo. — tenho a mais pura certeza de que Gaara irá conversar em termos amigáveis apenas com o rei.

Nem eu, nem Minato parecemos surpresos com a sua fala. É óbvio. O rei Gaara é sempre descrito como uma pessoa séria e sem tolerância, e como não somos duas nações amigas, apesar de em termos de cessar fogo, a lembrança da guerra é fresca para alguns cidadãos mais antigos. Fugaku e Minato, por exemplo, deveriam lembrar-se de algumas coisas. Como vários Uchihas mortos, minha avó e muitos tios-avôs inclusos. A realeza de Suna perdera também aliados importantes, mas, por sorte nenhum Sabaku havia sido morto. Então a raiva deles não era tão grande quanto a nossa, o que deixa a situação ao nosso favor.

— É certo que eu não posso ir, também. Isso será dito a ele, juntamente com o motivo real. — Fugaku olha diretamente para mim quando nos diz.

Agora sim eu o encaro pasmo. Como ele revelaria uma verdade tão delicada, que poderia trazer caos ao nosso país? Não é preciso dizer nada para que o rei perceba a minha indignação.

— Sasuke, deves entender que para um reinado dar certo, nem sempre devemos ser desconfiados o tempo inteiro. Temos mais a perder com a negativa de Gaara do que ele conosco, já que Orochimaru não parece interessado em Suna. Com uma informação preciosa dessas, Gaara deverá descobrir que algo de importante está para ser revelado, além de acontecer. Irás em meu lugar. — sua voz começa a falhar, e mesmo que eu fique preocupado com a sua situação, ainda tenho de discordar do que ele fala.

Não gosto do fato de que terei que abandonar o país, mesmo que por alguns poucos dias. Ele não está tão estável e temos o fato de que meu pai não pode aparecer em público enfermo do jeito que está. E é justamente isso que penso em dizer a ele. Sei que pode acarretar em uma discussão e Fugaku não se beneficiaria disso, pela saúde precária, mas é necessário contestá-lo agora.

— E Konoha? — indago, ainda não convencido. — Quem ficará cuidando do nosso país? Quem aparecerá em público? Sabes que aparência é muito importante nisso tudo. A nobreza vê o poder como um jogo de interesses.

Se as famílias mais nobres, como as dos duques, desconfiassem ainda mais do estado de meu pai, quem sabe o que aconteceria? Um golpe de estado pelos duques, pelos rebeldes radicais? Uma invasão de Orochimaru? Tudo deve ser analisado com máxima cautela.

— Eu cuidarei de tudo, assim como tenho feito com a maioria das burocracias. — Minato me responde.

Tenho confiança nele, mas o que a nobreza pensaria de um rei que não aparece mais? Ainda mais com o príncipe fora do país. Mesmo que não seja divulgada a minha ausência, as paredes têm bons ouvidos dentro do castelo. E fora também. Todos saberiam da ausência. Não divulgar seria ainda mais suspeito.

— Eu aparecerei diante da população. — antes que eu contesto a resposta do rei, ele continua a falar. — Tenho conversado com Tsunade e ela me deu liberdade de usar um analgésico poderoso. Irei conseguir ficar em pé por poucas horas. Dois dias, por pouco tempo, na frente dos nobres já tirarão qualquer dúvida do meu estágio terminal.

É claro que as suspeitas já correm soltas pelo castelo. Muitos nobres já conversam e discutem o que está acontecendo com o rei Fugaku. Sua aparição irá refutar a verdade e eles iriam parar de especular, mas há algo de estranho. Esse remédio é milagroso demais para mim. Confio na capacidade e conhecimento de Tsunade, mas ela já havia tido uma conversa franca comigo. O rei não tinha chances de andar por aí sem grandes problemas.

— Se fosse tão fácil assim — inicio, desconfiado. — por que não usaste esse analgésico antes?

Fugaku respira fundo, como se suspirasse. Minato olha para o chão, claramente desconfortável com a resposta que iria vir. Fico com calafrios, e mesmo que esteja de fato em um clima gelado, sei que não é pela temperatura.

— Não sou um exímio conhecedor de medicamentos… Mas Tsunade já havia me dito sobre o remédio e explicado de forma esplêndida. Ele abaixa o sistema imunológico do corpo e altera a funcionalidade dos neurônios. — não entendo muito bem a explicação, ficando ainda mais nervoso. — Os efeitos adversos são extremamente perigosos, e se eu tomá-lo apenas duas vezes, é certeza de que a minha vida será ainda mais encurtada. Mas é necessário.

— Você não pode fazer isso! — exclamo, assustado, triste e com muita raiva. — Não pode encurtar a sua vida por pura e espontânea vontade!

Como ele poderia pensar em algo assim?! Ele não pode fazer isso comigo, não agora em uma situação tão crítica. Não agora quando não tenho nem uma rainha ao meu lado para me ajudar...

— Posso, devo e vou. — sua resposta é curta, dura e dolorosa. — Não seja um garoto mimado. Sabes que o futuro de Konoha é muito mais importante que a minha vida. E você ainda não é o rei, portanto sua opinião não influencia em nada agora.

A resposta de meu pai é mais afiada que qualquer lâmina de um guerreiro ou bisturi de um médico. Fugaku me olha como se desafiasse a contrariá-lo mais uma vez, coisa que deixa claro que eu não sairia impune. Coloco-me no meu devido lugar, como príncipe. Ele é o soberano e por mais que eu odeie sua futura atitude, nada posso fazer ou controlar. Suspiro amargamente, sentindo um nó formar em minha garganta.

— Quanto tempo lhe sobraria?

— É desconhecido o tempo exato, mas é possível que você não me encontre vivo mais, quando voltar de Suna.

♦♦♦

.

.

.

Você pode ser qualquer pessoa. Um rei, um nobre, um plebeu, um escravo. Mas se sua única e presente família tem uma certa data de validade, não há ensinamentos ou experiência que te faça ficar bem. Vários sentimentos se apoderam de mim, e não sei lidar com tudo isso. Tristeza, medo, raiva, rancor de Kabuto. Tsunade tinha a desconfiança de que era ele quem havia colocado meu pai no estado em que está, e acredito piamente em seus instintos. Sinto uma vontade extrema de ir até os aposentos de Kabuto para esganá-lo até a morte, mas sei que isso não fará com que meu pai fique vivo.

— Droga.

Os espiões de Konoha estão mais que ocupados no momento. Vários foram enviados para o país do Som, onde Orochimaru é soberano, alguns estão com Nagato, em Suna, e a maioria se encontra nos próprios distritos do país, averiguando as situações dos locais e o que os rebeldes radicais andam tramando. Há poucos, de fato, no castelo, e não são os mais eficientes, pelo visto. Eles ainda não acharam nada de comprometedor no acervo e no quarto de Kabuto. Como se ele já soubesse que seria descoberto, em algum momento. Todos os dias mandam-me um relatório sobre a espionagem, e o de hoje não havia sido nada promissório.

Nesse caso, eu deveria estar junto de meu pai, aproveitando seus últimos momentos de vida. Uma pequena parte da minha mente deseja que Gaara não aceite me encontrar, mas logo tiro da minha cabeça. Não é nada esperto ou justo. Konoha precisa disso. E Konoha é muito mais importante do que os meus sentimentos e minha felicidade.

Se Itachi estivesse aqui, tudo seria mais fácil. Eu poderia ir, e Itachi, como o primogênito e o futuro rei, lidaria com a situação. Meu pai não perderia o pouco de vida que tinha. Mas ele não está mais entre nós. E, logo, logo, serei o último Uchiha vivo. Não terei mais nenhuma família.

♦♦♦

.

.

.

— O que você quer? — olho desconfiado para a silhueta feminina a minha frente.

Hanabi dá uma risada seca, como se soubesse que não estou de bom humor. Ela deveria saber. Hoje, só hoje, não consigo manter a máscara de indiferença. E por isso desejo que ela seja rápida em sua aparição. Não desejo ver ninguém na minha frente. Não tem sido um dia nada fácil.

— Descobri uma coisa aqui e ali. Tenho certeza de que a Vossa Alteza ficaria interessado em saber.

Ela olha para mim, esperando calmamente a minha resposta. Respiro fundo, tentando reunir a paciência que nunca tive, sem sucesso. Seus olhos perolados brilham em divertimento.

— Hanabi, não estou com paciência para joguinhos. Diga logo o que quer.

Ela ri da minha resposta, e tenho vontade de mandá-la embora. Mas sei que ela é uma Hyuga, e os Hyuga tem poder. Hanabi não viria aqui por nada. Ela sabe de algo importante.

— Alguns dias atrás, um bolinho foi infectado com bactérias. — ela diz, chamando a minha atenção. — Um bolinho destinado a Haruno Sakura, mas que, felizmente, não o comeu. Uma das candidatas pareceu amar o aperitivo, e Sakura, como uma boa pessoa que é, ofereceu o seu. No dia seguinte, Ino foi encontrada enferma, com uma infecção bacteriana. Sabe o que é mais engraçado? Um passarinho me contou que Kabuto havia passado pela cozinha.

Meu sangue ferve com a informação. Não consigo formular uma resposta a ela. Kabuto deveria ser preso e tratado como um traidor, ou um espião. Não tinha como deixá-lo andando no castelo, com espiões fajutos que nem haviam percebido a estranheza de sua ida na cozinha logo um dia antes de Ino pegar uma infecção. Teria que colocá-los em um treinamento intensivo, caso queiram continuar a trabalhar para os Uchiha.

 — É... Eu sei. Seus espiões deveriam ser treinados novamente. — ela lê os meus pensamentos. — Imagino que queira pensar melhor sobre isso tudo a sós. Vossa Alteza... Espero que não se esqueça desse pequeno favor. Até mais ver.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. :> Queria ter demorado menos, mas tô com provas ;; Comentários são bem vindos! Hasta la vista ;3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Escolhida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.