A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 29
Vinte e nove


Notas iniciais do capítulo

MAIS UM ♥



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Haruno Sakura

Era ascendente: vinte e sete de outubro de 1523, Terça-feira.

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Não vi Sasuke desde o dia em que nos beijamos. Ele não tem aparecido muito, imagino por estar atarefado, além de ainda ter uma injúria pelo incidente com os rebeldes. Há muito que eu gostaria de dizer a ele, mas não acho palavras. E nem coragem. Conhecemos-nos tem pouco tempo e tudo está confuso. Nunca tive uma ideia de como é uma relação, seja de amizade ou de paixão. Sinto que o que tenho com ele são ambas, ao menos da minha parte. Um beijo é muito significativo na nossa cultura. Não somos acostumados com esse tipo de afeto, a não ser que seja em uma situação de comprometimento. Fora o meu primeiro beijo, afinal.

A sorte é que tenho as aulas com o professor de literatura. Ele tem me ensinado a ler e estou progredindo a cada dia. Naruto diz que sou um gênio, já que às vezes nos vemos na aula, mas não sei se é o caso. Hinata às vezes vai comigo também, faço questão de levá-la sempre que possível. Apesar de ela negar que não sente nada pelo amigo do príncipe, é mais do que na cara que existe certo sentimento. Ela o ajuda nas aulas de literatura quando vai e isso até anima o professor, que reclama da falta de interesse do Uzumaki.

— Quando Hinata não vem, ele fica tão mais chato... — Reclama logo quando nossa aula acaba.

— Porque tu preferes prestar atenção até nos mosquitos. 

Ele ri do meu comentário sem ficar realmente chateado com a minha sinceridade. Um ponto bom do garoto.

— Fico feliz de termos nos conhecido. E de Hinata também. — Ele confessa.

Certeza de que Hinata ficará radiante com essa confissão. E um pouco vermelha.

— Gosto de ti. És um bom amigo.

— Agradecido. — Ele sorri. — Ainda bem que ao menos posso ter contato com algumas belas donzelas do castelo. O sombrio rei e príncipe acha que posso atrapalhar a escolha. — Ri, desacreditado.

— Não parece ser um competidor de romance. 

— Não... Só gosto de ter companhias diferentes. E de irritar a vossa alteza.

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— Fiquei sabendo que a vossa alteza irá chamar várias garotas num mesmo dia.

Hinata desconversa, mudando de assunto, logo quando lhe digo sobre Naruto e eu pontuei sua felicidade exuberante.

— É mesmo? — Não sei porque me dou o trabalho de fingir nenhum interesse.

Assim como ela não me engana, eu não a engano. Hinata tem a consciência de que eu e Sasuke somos amigos.

— Isso é deveras estranho. Veja bem, Sakura-san, não há tempo o suficiente para ele passear com tantas a sós. Acho que irá mandá-las para a casa.

Espero que Hinata esteja certa. Pela primeira vez no castelo, desejo de verdade participar dessa tola disputa. Não almejo a soberania, mas me importo com o país. E com Sasuke. E deve ter sido por isso que, no meio da conversa com Hinata, um guarda real aparece onde estávamos.

— O rei requer a presença de Haruno Sakura imediatamente. — o guarda, que não é Sasori, avisa.

Hinata ergue a sobrancelha confusa. Olho para ela ainda mais confusa e um pouco assustada. Por que o rei iria querer me ver? Não fiz nada de errado, fiz?

O encontro dos rebeldes. Deve ser isso.

— Diga-me onde tenho de ir.

O guarda não me responde. Na verdade ele nem digna uma olhada rápida para mim. Apenas sai do confortável jardim onde estava com Hinata. Supus que eu tivesse de seguir o quieto e um tanto ríspido guarda e fiz isso. Foi uma caminhada longa. O guarda me leva para o último andar do castelo. O aposento do rei. Bate em uma porta e espera uma reposta que não vem, mas abre a porta do mesmo jeito. Estranho sua atitude, mas talvez seja um protocolo de aviso, ou alguma coisa assim.

— Entre no quarto. — Pela primeira vez o guarda fala algo a mim.

Não o respondo, irritada por ele ter ignorado a minha presença. Não é porque não sou da nobreza ou realeza, ainda fora uma atitude grosseira. Quase marcho em direção ao quarto, e a primeira pessoa que avisto é Tsunade.

Ela continua bela e preservada como sempre, com os cabelos presos em dois rabos frouxos. Seu olhar é cansado e ela tem sua atenção direcionada a uma grande cama de dossel banhada a ouro.

Quase não reconheço o rei. Está mais branco do que nunca e muito magro. Seu rosto envelhecera também, como se tivesse perdido vinte anos em meses. Agora entendo o porquê dele não aparecer mais para o país. Está enfermo.

— S-sua majestade. — faço uma reverência tosca a ele, nervosa com a presença. — Tsunade-sama.

— Sakura. — Tsunade me cumprimenta, indo em direção a porta. — Vou deixá-los a sós.

O rei me avalia com um olhar indecifrável. Ele se senta na cama com dificuldade, mas não ouso o ajudar. Ele é conhecido por ter um orgulho tão grande quanto o próprio castelo.

— Ouvi muito falar de você por Tsunade e Naruto. — Sua voz rouca lembra a de Sasuke, exceto pelo fato de estar fraca. 

Fico um pouco decepcionada por não citar o próprio filho, mas não vejo um motivo para ele ter falado de mim ao pai. Os sentimentos são meus e não do príncipe. Hesito em responder e ele percebe a tensão que paira sobre mim. Deve estar acostumado.

— Foi um bom trabalho a sua atitude com os rebeldes. — Ele me elogia, e olho para o rei, cética. — Ainda que tenha sentido na pele algo parecido, não imaginaria que uma garota escolhida pelo duque mais relapso fosse tão inteligente assim.

De fato, o duque do meu distrito não era lá uma pessoa muito esforçada, interessada ou inteligente. Ele apenas gostava de se gabar e comer a pouca comida que existia por lá.

— Ele não me escolheu por conhecer a minha inteligência. — não sei o que dera em mim.

Fico assustada com a minha própria resposta e temo o pior. Mas, de forma inacreditável, o rei Fugaku ri. Uma fraca risada, com um quê de tristeza.

— Você deveria tomar cuidado com o que fala. E com quem fala. 

— De-desculpe-me, majestade. — Me curvo diante da cama, tremendo.

Como posso ser tão astuta em alguns momentos, e tão impulsiva a ponto de ser burra em outros?! Droga.

— Não me ofendi. Minha esposa era bem parecida com vossa senhoria. — Ele me conta, para a minha surpresa. — Bem, apenas parte da personalidade. A aparência não tem realmente nada a ver.

Dizem que a rainha Mikoto era uma pessoa boa, gentil, sagaz e cativante. Não era atoa que ninguém havia aceitado outra ao lado do rei. Fico sem saber o que responder.

— Fico lisonjeada.

— Deveria mesmo. — Ele concorda. — Mikoto foi, acima de tudo, uma ótima pessoa. Mas não lhe chamei para isso. Não estou muito forte, então serei breve. Tens a minha benção para ser a próxima rainha.

Quase exclamo de uma forma audível e nem um pouco polida. Consigo segurar ao menos isso, mas meus olhos se esbugalham e minha boca fica ligeiramente entreaberta, fora a quentura que sinto em meu rosto, demonstrando vergonha.

— Sem conhecimento aprofundado algum sobre política já fez mais que muitos antigos reis. E seu conhecimento sobre a plebe será muito bem vindo.

Não o respondo. Fico apenas olhando o vulnerável e doente rei, chocada.

— Sasuke não me diz nada sobre o que acha das escolhidas. Não tenho poder sobre a escolha dele, também. Mas depois do que me foi contado de todas as garotas restantes, a minha aposta está em você. 

Penso por alguns instantes no que responder. Decido que não há nada a dizer sobre isso, mas também não ficaria calada.

— Eu me importo com o país, majestade. E com Sasuke também.

E, pela primeira vez, vejo Fugaku sorrindo de forma genuína.

♦♦♦

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Fico o restante do dia em meu quarto, pensando na conversa breve que vê com o rei. Jamais imaginaria conversar a sós com ele e ainda mais receber a sua benção. Logo após sorrir, conversamos um pouco mais, só que de coisas diferentes. Nada a ver com a ascensão de seu filho ao trono. Como o estado do meu distrito. Como o duque nos tratava, se recebíamos algum tipo de saúde e educação obrigatória. Sempre ouvi dizer que Fugaku era, de fato, um homem bom, embora fosse duro e reservado. Vi isso em sua conversa, embora de uma forma amenizada, provavelmente devido à sua enfermidade. As pessoas tendem a ver as coisas de uma forma bem diferentes quando passam por maus bocados. Já presenciei situações assim mais vezes do que gostaria.

O que mais me surpreendeu, no entanto, fora o que ele havia dito no final.

“Não diga nada disso ao Sasuke. É uma ordem.”

Fora a primeira vez que senti peso em uma fala. Vi que precisava cumprir, também. Com toda a certeza a aposta de Fugaku iria influenciar o filho. E ele queria que Sasuke escolhesse o seu próprio futuro. Não seria justo para as outras garotas, também.

O que me faz lembrar uma verdade. Eu ainda não tenho a mínima ideia se irei ser a escolhida ou não. Sasuke aparenta ter um afeto por mim. Afeto que não sei se é como o meu. Ainda que seja, entendo o lado dele. Gostar não é o suficiente. Não para o futuro rei da nação. Uma escolha egoísta pode acarretar em um governo ruim para milhares de pessoas. Eu realmente entendo isso, e apoiarei a sua escolha. Mas ainda é doloroso para mim, e certamente para Sasuke também.

O que estaria fazendo agora? Resolvendo a situação com os rebeldes, outra burocracia? Descansando? Cuidando de seus ferimentos?

Não tenho uma clareza total dos meus sentimentos ainda, mas sei que quero ficar ao seu lado, embora não compreenda o que isso realmente significa. É mais do parece.

E é com esses pensamentos que, no meio da noite – quase madrugada – saio do meu quarto, para pensar com mais clareza. Ou talvez só quisesse vê-lo, depois de dias. Lembro-me de Naruto dizendo que ele gosta de pensar em um local específico. Não é certeza de que estará lá, mas ao menos irei sentir um pouco mais perto.

Demoro alguns minutos para achar a localização. Fica em uma parte do jardim, um pouco próxima ao mausoléu dos Uchiha. Onde Itachi e todos os seus antecedentes descansam em paz. Não vejo Sasuke quando vejo, por isso fecho os meus olhos, sentindo a brisa fresca da madrugada, e penso um pouco no que posso fazer. No que farei daqui para frente.

— Sakura. — a voz surpresa de Sasuke preenche meu ouvido e aquece o meu ser. — Vi você de cima. O que está fazendo aqui?

Abro os olhos e percebo uma janela do castelo. Deveria ser algum tipo de local que ele também costuma ficar.

— Sasuke-kun. — olho para o príncipe, feliz de vê-lo. — Senti sua falta.

Se ele desceu três andares só por ter me visto, significa que gostaria da minha companhia também, o que me deixa radiante. E mais corajosa para abraçá-lo forte. Sasuke retribui o abraço, mas percebo uma falta de jeito considerável. Quando o solto ele não me olha nos olhos, constrangido. Eu poderia achar que era pelo nosso beijo, mas apenas sei que é por causa da intensidade do abraço e da falta que ele havia feito no meu dia-a-dia.

— Uhm. — ele resmunga, mais tímido do que raivoso.

Seria uma cena cômica se não fosse adorável. Sorrio para ele ainda mais. Dessa vez sua roupa não está trocada ou atrapalhada, embora ainda pareça um tanto cansado.

— Tem tido algum progresso na leitura?

— Sim! — conto a ele, bastante animada. — É um ótimo professor, ainda que Naruto não concorde.

Ele franze o cenho ao escutar o nome do amigo. Sei que coisa boa não irá vir, já que percebi a estranha amizade de ambos.

— Espero que aquele tapado não esteja lhe atrapalhando.

Se ele soubesse as piadinhas que Naruto faz sobre a si durante as aulas... Até mesmo o professor, bem às vezes, dá uma fraca risada, escondida do Uzumaki. Ele se gabaria muito da sua capacidade de humor, se soubesse.

— Não, nem um pouco. — Sasuke me olha cético e começo a rir. — Bem, ele interrompe a aula várias vezes, já que somos ensinados ao mesmo tempo. Mas nada que seja preocupante.

Sasuke balança a cabeça em negação.

— Humpf, aquele idiota... Deveria achar outro professor para você.

— Não se preocupe, Sasuke-kun. Tudo está indo muito bem. — embora eu preferisse que você me explicasse sempre. — Logo, logo estarei lendo vários livros! — ele parece satisfeito com a minha animação. — Não sei como lhe agradecer.

— Não é necessário.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Cada um preso em sua própria mente. Sasuke deveria ter muita coisa para se preocupar, é claro. Eu mesma tenho algumas. Mas, nesse exato momento, tudo o que passa na minha cabeça é que eu irei entrar nessa competição ridícula das garotas. E irei ganhar. E é com esse mesmo pensamento que faço a atenção de Sasuke voltar a mim.

— Então, Sasuke-kun... — eu digo, e ele olha para mim. — Eu sei que tens muitas coisas a se preocupar agora, provavelmente até mesmo mais do que imagino... Mas quero que saiba que mesmo que eu tenha menos conhecimento do que muitas garotas aqui, eu não vou desistir de você. — não sei que tipo de coragem se apossa sobre mim, mas nem tremo, nem fico vermelha. — Sei também que não pode escolher alguém por proximidade, o reinado é mais importante, esse é o problema de estar na sua posição. Mas eu sou uma plebeia. Eu tenho o direito de me casar com quem gosto.  E vou lutar para que eu consiga isso e fazer com que tanto o meu direito de casar com quem gosto vire realidade, quanto a sua obrigação de reinar ao lado de uma mulher capacitada.

Não espero uma resposta. Sasuke fica olhando para mim, com uma expressão indecifrável. Eu apenas vou a sua direção com os passos decididos. Ele não sai do lugar. E estou cada vez mais perto. Quando os nossos lábios se encontram pela segunda vez, sei mais do que qualquer coisa que estou fazendo a escolha certa. Não só por ele, mas por mim também.

— Sakura... — ele sussurra o meu nome logo após de separarmos.

Mas não dou o tempo necessário para que o nosso encontro se prolongue mais. Não sou de ferro. Meu coração começa a disparar muito, e minhas pernas bambeiam. Antes que eu perca a compostura, despeço-me do garoto por quem eu acabo de ter a maior certeza de que estou perdida e completamente apaixonada.

— Até mais ver, Sasuke-kun.

Dito isso, vou-me embora, o deixando perdido em seus próprios pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e me contem: o que acharam? bjsss ♥



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