Virei-me e pude ver que a tal voz era de alguém já conhecido: Sr. Tino!

–Olá minha querida! –disse ele com um sorriso radiante.

–O que está fazendo aqui? –perguntei, dando alguns passos para trás.

–Está com medo de mim? –perguntou com sua voz macia e cínica. –Acho que não tem ouvido boas coisas a meu respeito...

–Não. Com toda certeza não! –respondi, eu estava com medo.

–Oh! Mas que absurdo! –ele era bem teatral. –Não acredite em nada do que dizem por aí!

–Eu preciso ir...

–Não, não precisa!

–Como?

–Pensei que Crepsley estivesse te aborrecendo... –disse ele num tom sério.

–E está! Mas isso é um problema meu e não...

–Não o quê? Não precisa de mim? –deu uma risada. –Angeline, você precisa da minha ajuda mais do que precisa de sangue!

–Mas você não é uma pessoa boa! É encrenca!

–Não, meu bem, eu sou a sua única oportunidade de sair de encrencas! –disse e tocou o meu cabelo. –Você virá até mim em breve. Vai precisar somente escolher o jeito fácil ou o jeito difícil...

–O que quer dizer com isso? –empurrei sua mão.

–Que quanto mais resistir e teimar em não aceitar que estou certo coisas ruins acontecerão!

–Está me ameaçando?

–Oh! Longe de mim. Só estou avisando como um... Pai! –deu um sorriso perverso de lado, girou a bengala e virou de costas para mim. Deu alguns paços e sem olhar para trás disse: - Estarei à sua disposição Angeline, mas é melhor para todos que não demore!

Dito isso, sumiu entre as árvores, e eu voltei o mais depressa possível para o acampamento. Chegando à tenda encontrei Ofídio compondo uma canção e logo notou que eu estava estranha.

–Nossa! Você demorou de chegar! Qual foi?

–Briguei com Crepsley.

–Tá na cara... Aí, deviam tentar se entender...

–Eu sei, mas é que eu não consigo olhar para ele sem lembrar que tudo na minha vida mudou por culpa dele!

–Ele não é ruim, Bia! -Ofídio começou a me chamar de Bia, pois achava cansativo chamar-me o tempo inteiro pelo nome completo... As outras pessoas do circo também aderiram o apelido.

–Eu sei que ele não é ruim. É só que... –dei um suspiro –O que faria se tivesse que tomar uma atitude que não deveria tomar, mas precisa, para que coisas ruins não aconteçam?

–Hum... Ah! Sei lá... Se fosse para proteger alguém que eu gosto... Depende da atitude!

–Como assim? –eu estava preocupada com a conversa que tive com Sr. Tino.

–E se essa atitude me trouxesse mais problemas do que antes de tomá-la?

–Quer dizer que na tentativa de evitar um problema poderia causar outro ainda maior?

–Tipo isso! Do que exatamente está falando? –o que Ofídio dizia fazia todo sentido.

–Nada não... só perguntei por perguntar!

–Ah saquei... –respondeu e me olhou como se dissesse: eu não acredito, mas tudo bem!

–Eu vou dormir. Estou muito cansada!

–Eu também! Bia, você não tem se alimentado direito né?

–É claro que tenho!

–Você anda tão pálida...

A verdade é que eu realmente não estava me sentindo tão bem... Eu sabia exatamente do que o meu corpo precisava, mas eu não queria aceitar!

–Eu estou numa boa, não se preocupe! –dei um sorriso, e logo depois fomos dormir.

Foi uma noite terrível! Tive muitos pesadelos e acordei pela manhã como se tivesse levado uma surra. Quando me levantei, fiquei tonta e quase caí!

–Droga! –respirei fundo e quando estava firme fui tratar de me arrumar para começar o dia.

Fui tomar café da manhã com Ofídio e os outros, mas nada me descia! Era como se tudo fosse repulsivo e logo dei um jeito de sair de perto da comida. Cacei alguns esquilos, mas não consegui nada mais do que ficar enjoada. Não era possível que eu teria que ceder aos avisos de Larten! Eu preferia morrer!