Volte para Dezembro escrita por paula bueno


Capítulo 1
Um - De volta.


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOI!
Eu devia estar estudando, mas não me aguentei e tive que postar. Talvez você ache vários erros, pode avisar e me corrigir se quiser huauhsa
Espero que gostem e boa leitura!



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Sempre pensei que o futuro reservava grandes coisas para mim. Desde muito nova imaginei como seria o futuro, sempre via uma jovem de cabelos loiros escuros, olhos em azul vivo, com roupas de marca e sardas que nem apareciam em seu rosto, em cima de um palco cantando para milhares de pessoas. Seu rosto estaria espalhado para Los Angeles inteira, todo os Estados Unidos a conheceria. Era a famosa Elise Cooper, aquela que todos duvidavam de sua capacidade e talento, todos diziam que ela não iria conseguir. Ela conseguiria e nunca mais voltaria para sua cidade natal e todos a invejariam.

Então eu cresci. Nada disso aconteceu.

A jovem cheia de sardas, desempregada e que está há alguns minutos da cidade pequena onde viveu dezoito anos, é a verdade sobre o futuro.

Dei uma última tragada no meu cigarro e joguei na fina camada de neve acumulada no chão. Suspirei pesadamente, era hora de enfrentar toda merda novamente. Fechei a janela do carro, coloquei um perfume para camuflar o cheiro do cigarro e dirigi as últimas ruas que faltavam para chegar em minha antiga casa. Cada metro que se passava parecia que eu ficava mais sufocada, tudo que eu não queria era voltar para cá, viver mais um minuto nessa cidade ridícula e hipócrita.

Parei em frente à casa bege que morei quase toda minha vida. Isso não mudou nada, desde a pintura até o boneco de neve que aquelas crianças fazem e deixam na frente da porta. E eles faziam a mesma merda todo ano, nunca cansam não? Puxei o ar mais uma vez e tomei coragem para sair do meu carro, peguei minha mala média que estava no banco do carona e caminhei em direção à casa. Nem precisei tocar a campainha.

— Elise! — Minha mãe me abraçou. Seu perfume doce em excesso quase me sufocou, mas aguentei, fazia um ano que não sabia o que era estar perto dela.

— Você não faz ideia da saudade que faz, filha. — começou com o longo papo — Fiquei tão feliz quando disse que viria passar o mês de dezembro conosco! Bill, desce aqui!

Ela me puxou em direção à sala enquanto começava falar sobre tudo que os vizinhos fizeram nesses doze meses. Meu pai desceu as escadas e caminhou em nossa direção. Como bom pai do século passado que ele é, tinha que me dar um abraço, mas sem demonstrar tanta emoção como minha mãe.

— Que bom que veio, Lise. — cumprimentou com meu apelido.

— Também fico feliz em ver vocês. — sorri forçada.

— E como foi em L.A? É tudo isso mesmo? — perguntou minha mãe, levamos minha mala para meu antigo quarto. Era hora de começar a encenação. Veja bem, não é que eu não goste de contar as coisas para meus pais, é que sai daqui para ter um futuro brilhante, do que adianta eu voltar com essa merda toda para ouvir um "eu te avisei"? Tudo que eu não quero é ter de ouvir toda essa baboseira, então fiz o que me pareceu certo.

— É incrível, mamãe! Você não faz ideia de como aquele lugar é ótimo. — Sorri como se tudo estivesse perfeito e mamãe não fazia ideia de como está ruim minha vida mesmo.

Nem tive tempo de lembrar de como estava meu quarto, minha mãe me levou para a cozinha tagarelando sobre o chocolate quente que ela ama fazer e eu amava tomar. Esse amava talvez esteja errado, agora isso não importa mais, estou aqui e por um longo mês terei de conviver com tudo isso de novo. Sou uma fracassada mesmo, nem para me manter sozinha eu servi!

O salmão das paredes da cozinha contrastava com os moveis e eletrodomésticos brancos, que era o contrario dos cabelos escuros de mamãe num tom quase preto. O engraçado é que sou loura, não um loiro extremamente claro, como uso agora, mas sim mais para acinzentado que puxei dos fios claro de papai. Sentei em uma das cadeiras que estavam em volta da mesa de madeira enquanto minha mãe buscava as coisas nos armários e fazia o chocolate.

— Os Parkers estão organizando uma festa para o natal, estávamos pensando em ir, mas como se você não quiser nós não iremos. Apesar de que seria uma ótima forma de rever o Andrew... — propôs.

— É, pode ser. — disse, pouco interessada.

Era como se eu já estivesse presenciado a mesma cena, lembro-me que foi uns meses antes da minha formatura, quando havia terminado com Andrew. Todos acreditavam que nós eramos o casal perfeito, minha família inclusive, porém não era bem assim, eu não era apaixonada por ele e, acredito eu, que ele também nunca fora por mim. O problema sempre foi que quando eramos crianças sempre surgia aquele papo de famílias amigas, o tal "quando eles crescerem irão casar" que raramente acontece. Nós namoramos, ele foi meu "primeiro" namorado e ficamos um bom tempo juntos, no entanto Andrew sempre esteve mais para melhor amigo do que meu grande amor. Só os outros que não entendiam e ficam fantasiando merda.

Tomei o chocolate quente com minha mãe, essa tinha felicidade notável, bem diferente do estado em que me encontrava. Não é por mal, eu amo minha mãe, porém, aqui não é meu lugar e tudo que eu não queria era voltar para cá. Eu sei, devia trocar o disco, só que cada vez que olho para essas paredes eu sinto uma falta enorme do sol de Los Angeles.

— Eu queria dormir um pouco, mãe. Cansei da viagem até aqui. — anunciei enquanto levantava da mesa.

— Ah, claro, sua cama está do mesmo jeito de sempre! — Ela sorriu, provavelmente orgulhosa.

— Tá bom...

Praticamente me arrastei pelos degraus da escada e me dirigi até meu antigo quarto. O mesmo lilas continuava nas paredes, assim como o mapa e seus vários pinos que marcavam os lugares que eu gostaria de visitar, a escrivania com alguns livros que tinha deixado, as cortinas brancas nos cantos da janela e minha cama de meio casal no meio do quarto. Esse lugar sempre fora um refúgio, onde eu sonhava e planejava todas as noites, mas agora ele parecia um quarto de hotel que nunca será verdadeiramente meu.Não sou mais a menina pura do interior que saiu deste mesmo lugar há um ano, estou realmente longe dela. E esse quarto não parece realmente meu, é como se eu tivesse me tornado outro ser. Eu me orgulhava disso, me orgulhava de estar bem longe de tudo aquilo que aconteceu, agora eu estava mais perto do que nunca.

Enquanto puxava um cobertor e me ajeitava em meio aos travesseiros me permiti imaginar o que aquela Elise de um ano atrás faria nesta situação. Possivelmente choraria e buscaria consolo nos braços de sua mãe, mas agora eu já não agiria assim. Nesse ano eu aprendi que nem sempre temos uma mãe para correr para os braços e temos que aprender a se virar sozinha. Era hora de mostrar tudo isso.

Senti duas mãos me sacudirem, sabia que Kris, minha amiga que dividia o apartamento comigo, não era, já que ela não faz o tipo de pessoa delicada. Então lembrei, eu estava na casa dos meus pais.

— Quê? — resmunguei, odiando ser acordada. Sorte que era minha mãe, pois outra pessoa não receberia uma resposta tão educada assim.

— Bill vai ao mercado, não quer ir? — perguntou. Eu sabia que ela queria isso, era assim quando papai iria fazer compras, sempre me levava junto. Até eu ir embora.

— Diga para ele me esperar, já vou descer. —prometi, então comecei a levantar-me e buscar um casaco quente. Olhei para fora e estava escuro, acho que dormi um pouco mais do que desejava. Culpa da garrafa de vodca que tomei para me despedir de LA. Caminhei até o banheiro, lavei meu rosto e passei a escova pelo meus fios embaraçados, para então descer.

Meu pai me esperava na sala, só desci as escadas e fui para seu carro. Mal caminhei na rua e quase congelei, que merda de cidade fria.

— Liga o ar — pedi. Meu pai ligou e em instantes já estava mais aquecida.

— Então Los Angeles não faz frio? — perguntou.

— É claro que faz — Fiz uma careta ao olhar pela janela —, mas aqui é pior, bem pior!

Papai riu, ele podia ser meio do século passado, mas ele não é como minha mãe que se me ouvisse dizer uma coisa dessas faria um discurso de como essa cidade é linda e perfeita. É legal o fato de que ele respeita mais minha opinião, mamãe sempre foi mais invasiva.

— E o que tem de bom lá?

Ah pai, como eu queria contar, mas não seria apropriado contar o quanto eu bebia e me divertia, por assim dizer, em Loa Angeles. Ele ficaria louco.

— É bem... divertido. Também têm mais chances para quem gosta de cantar, mais sol... — respondi, sendo o mais vaga possível. Meu pai apenas assentiu, talvez ele saiba que não estou afim de contar as merdas que eu faço.

O resto do caminho fomos em total silêncio, eu ainda estava meio dormindo e papai não pareceu se incomodar com o silêncio. Chegamos ao Heven's, o mercado que sempre fazíamos compras. E adivinhem, ele estava igual, sem mudanças neste ano. Ou nos últimos dez.

— Bill! — Sr. Heaven cumprimentou meu pai e depois olhou para mim. — Elise?

— Eu mesma. — forcei um sorriso.

— Que bom lhe ver! — Ele me puxou para um abraço, Sr. Heaven sempre foi muito legal, mas não precisava me abraçar, aquela sua barriga também achava isso, já que adorou nos separar. — Espero que aproveitem as compras.

Segui meu pai com um carrinho até as prateleiras do mercado. Não, ele não fazia as compras da casa, era só as coisas para o final de semana que mamãe colocava na lista. Tenho certeza que ele não ajuda mais ela com isso, porque ele estava demorando um século para achar as coisas nas prateleiras. Peguei algumas coisas, tipo cereal e iogurtes para mim. Estava ajudando meu pai escolher marcas de cereal, depois de um tempo você acaba por se acostumar. Senti alguém me cutucar e olhei na direção da pessoa. Não...

— Andrew?

Ele nem se importou em me responder, apenas puxou-me para um abraço. Fazia um tempo gigante que não encontrava ou falava com aquela cabeleira escura, achei realmente que ele não me trataria assim, como costumava me tratar. Retribui o abraço de uma maneira meio desajeitada, meio surpresa, meio em dúvida se seria realmente bom ter o encontrado.

— Você sumiu, loiraça! — Beijou-me na bochecha.

— Também é bom ver você... Andy. — Era realmente estranho chamar ele pelo apelido depois de não falar com ele por uma ano.

— O que te trás aqui? — perguntou, curioso.

— Final de ano, natal, férias... — Ficar sem emprego, não ter dinheiro... Era uma lista grande, mas ele não precisava saber disso tudo.

— É bom que esteja aqui — Ele sorriu — Marg ficaria muito feliz, ainda mais se você aparecesse na casa dela amanhã, é um dia bem especial.

Chegou o ponto em que eu ficava incomodada. Ele com certeza iria tentar me trazer de volta, ir aos mesmos lugares com aquelas pessoas, todo o meu passado voltando.

—Acho que não é uma boa ideia.

— É claro que é, Marg iria ficar contente de ter sua melhor amiga por perto, nem que seja por pouco tempo. — Insistiu.

— Só se for depois de me bater!

Ele riu, conhecendo o que provavelmente ela faria.

— Então você vem?

Não deveria ir, isso tudo não era certo com eles, mas eu sempre fui bem egoísta mesmo. E é só um dia, eu vou ficar presa nessa cidade por um longo mês, acabaria por vê-los algum dia mesmo.

— Vou. — prometi. Andrew sorriu mais abertamente e me abraçou de novo.

— É ótimo ter você de volta, Lise. — Caminhou em direção à saída. — Até amanhã!

Andy podia não saber, mas aquelas palavras me afetaram. Mal prestei atenção nas coisas que terminava de comprar, apenas peguei mais um cigarro e fui para o lado de fora fumar enquanto meu pai pagava. Isso não estava certo, não era tudo que eu tinha planejado, contudo agora não poderia negar que estou de volta.


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Notas finais do capítulo

Ok, estou bem nervosa. O que acharam? Beijos!