6- Connor Lork e os sacrifícios:

O observei analiticamente, curiosa com sua forma e cor.O apalpei e obviamente, era duro.Olhei para Kile e fechei a cara quando vi que ele debochava de mim silenciosamente enquanto me observava.

—Meio estranho, não?- ele perguntou calmamente e eu assenti, voltando o olhar para baixo.

—É a primeira vez que vejo e toco em um, admito que é estranho, tipo, muito estranho!- Ele riu um pouco e eu o apalpei mais uma vez.Kile gemeu e eu soltei o gesso que cobria minha perna quebrada.O olhei risonha.-Como conseguiu esse corte aí mesmo?- perguntei apoiando meu queixo em meu punho.Ele apenas revirou os olhos e comeu um pedaço da torta sobre a cama.

—Caí de boca no chão, depois de tropeçar nos seus sapatos.- ele resmungou irritadinho e eu deitei enquanto ria.Havia sido hilário quando ele caiu, mesmo que ele tivesse derrubado toda a sopa na minha cabeça.

—Caiu de boca, hmmm!- eu ri mais quando ele tacou a almofada em minha direção.Os últimos dois dias haviam sido uma chatice.Eu quebrei a perna quando rolei escada a baixo, foram duas fraturas um tanto graves e que me irá me levar a fisioterapia quando tirar o gesso daqui a 5 semanas.

Liam mentiu a polícia e aos seguranças da empresa.O cara de pau teve a ousadia de dizer que não me machucou e eu concordei com ele.O destino dele seria pior que a cadeia.

Lívia que me encontrou desacordada na escada, ela tinha mania de descer e subir as escadas da empresa quando se sentia muito gorda.Se ela não tivesse me achado, eu provavelmente seria dada como sequestrada.Ninguém usa as escadas e está mais do que na hora de isso mudar.

Meus médicos me deram uma folga por enquanto da Empresa e eu que não sou nem boba, vou aproveitar esse tempo para ficar com meus irmãos e começar a arranjar uma pessoa para cuidar da empresa durante a seleção.

Kile se tornou muito útil e um bom amigo cuidando de mim.Já que eu estava meio inválida, Gerald e Lívia levavam as crianças no parque na frente do prédio para aproveitarem enquanto podiam o relacionamento deles, porque Lívia iria ficar com os Milton enquanto a escola não começava e Kile quem ficava aqui para não me deixar ficar no tédio.

—Você está namorando?- perguntei curiosa enquanto fazia uma trança em meus cabelos ruivos.Uma bem ruim, porque parecia mais um ninho de rato do que meus cabelos lisos.Ele negou com a cabeça, embora tenha corado.Elevei uma sobrancelha.-Amando?Gostando?- vi um rápido lampejo em seus olhos azuis, confirmando que ele estava gostando de alguém.

—Ninguém.- ele mentiu e eu ri.

—Vamos!Eu sou a garota!- chutei e ele riu, negando com a cabeça e corando.-Livia!As secretárias!As meninas do Palácio!A Princesa!As universitárias!- Helena captou outro lampejo e outro vez ele corando.Riu.-A princesa!- ele a olhou um tanto inquieto e ela sorriu.

— Não abra a boca!- ele murmurou ainda corado e eu sorri.-Quero só ver você se enver...- a campainha tocou e ele se levantou rapidamente.Salvo pela campainha?Talvez.Me encostei na cama e agarrei o livro em que estava na cabeceira.Consegui ler uma página antes do Kile aparecer com uma mulher com roupas profissionais, uma prancheta e um sorriso caloroso.Me arrumei na cama e fechei o livro.

—Co-licença Srta Lork.Sou Sarah Lancet, fui contratada pelo Palácio para ser a sua agente durante essa semana.- ela explicou calmamente e eu franzi a testa.Minha agente?

—É um prazer, Srta Lancet.- sorri cordialmente e estendi minha mão.Ela a apertou calmamente.-Mas não entendi muito bem essa parte de agente.- comentei sorrindo fraco.-Sente-se.-ofereci indo para o lado.Ela se sentou no pé da cama e me estendeu a prancheta.

—Obrigada.- ela rapidamente agradeceu.-Sabemos que a senhorita gosta tudo no papel, ou melhor, o Conselho Real sabe.E eles acharam que seria mais fácil da Srta Compreender o que está no papel.- ela avisou e eu ouvi atentamente.Assenti e levei meus olhos para a prancheta.

Era uma programação do que aconteceria durante a semana inteira.Que consistia em mais atualizações de segurança, provas de vestimentas, atualizações de regras e outras cositas más. Estavamos dois dias atrasados, por conta do meu acidente.

—Admito que adorei que vocês me apresentaram as coisas em um documento.Na edição passada não teve isso.- murmurei ainda encantada.Sarah sorriu.

—Apenas você teve isso, pois você sofreu um acidente esses dias e o Conselho achou melhor lhe mostrar o quanto nossos dias estavam corridos.- ela explicou e eu suspirei.

Quanto mais rápido melhor, certo?Tomei a consciência de que era melhor eu cumprir essas coisas logo para eu poder dormir ou ler ou voltar a viver minha vida.Tanto faz.Então fitei Sarah e perguntei o que faríamos a seguir.Ela sorriu.Fui levada até a sala por Kile e quase surtei ao ver uma equipe completa de tesoureiros, maquiadores e coisa e tal.

Sarah me contou que faríamos umas fotos minhas com alguns vestidos e uma coroa falsa.Ela pediu que me maquiassem e enquanto isso eu conversava com Kile.

—Foram três!- eu exclamei quase rindo.Nos últimos dois dias eu fiz cinco tortas, e só ele comeu 3.Ele revirou os olhos enquanto o maquiador, Teodor, ria.

—E você comeu as duas últimas, sua dragoa!- ele exclamou e eu logo explodi em gargalhadas.Não fiquei brava, era verdade, eu comia muito.

—Olha Kile, sapatos!Tropece neles para eu rir vai!- debochei e ri quando ele resmungou uma coisa bem feia.Assim que ele se jogou no sofá, as crianças entraram junto com Lívia e Gerald.Logo recebi olhares confusos de todas as partes.

—Esses são os seus irmãos?- perguntou Sarah calmamente.Assenti e o maquiador, Teodor, se afastou de mim quando Mel e Toby vieram até mim por meio de Gerald e Lívia.

—Oi meus anjinhos!- puxei Toby para meu colo e sorri quando ele me beijou no nariz e apalpei meu rosto.Mel gritou indignada e eu ri.

— Mas que menininha ciumenta!- Gerald a balançou um pouco enquanto a mesma fazia cara feia.Ele logo tornou a olhar em volta.-Preparativos para a Seleção?- ele perguntou e eu assenti.

— Que tal uma foto das crianças também?- Sarah sugeriu de repente e eu franzi a testa.-Seus irmãos também irão receber vestimentas, uma vez que irão com a Srta para o Palácio.

—O QUE?- ouvi Connor gritar lá do outro lado da sala e lancei meu olhar cortante a ele.Sério que ele tinha que gritar?Era uma das regras da casa.Se você estiver com raiva, se tranque no quarto e grite sobre o travesseiro.Ele veio pisando duro até mim.-Eu não quero ir.Não é justo você me arrastar junto com você!- ele disse raivoso e eu o olhei um tanto arrasada.

—Connor, eu só os vou le...

—Por que é uma egoísta!- gritou chamando mais atenção.- Eu não sou uma garota que vai para a droga de um palácio a quilômetros de distância!Eu não fui selecionado, você foi e injustamente está me arrastando!- a raiva e a magoa foram os sentimentos que me abalaram.Ele não tinha esse direito.

— Não grite, Connor Eduard Lork!Eu sou sua irmã mais velha e exigo respeito!- ordenei em uma voz seria e que provavelmente intimidou a todos.-Em momento algum, em oito anos, eu gritei com você.Em momento algum te derespeitei.E se você quer lavar louça suja na frente de desconhecidos, pois bem, lave, mas com discrição e educação, o que certamente você aprendeu com seus pais e comigo.- olhei diretamente em seus olhos, para intimidar mesmo.- Agora, peça desculpas e se quiser conversar comigo racionalmente, entre no seu quarto e espere eu ir até lá.A partir de agora, considere-se em quarentena.- disse friamente e ele apenas respirou fundo.

—Me desculpe, Helena.- disse debochadamente e ele fez uma reverência.Oh, eu fiquei puta da vida.

—Duas semanas de castigo.Quero uma redação sobre a formação de Illéa, contando datas, nomes e tradições.Pode colocar a atual Linha real.- ele fechou os punhos.-Você tem uma hora e meia.Vá.- ordenei e ele foi.Não observei ninguém, apenas fechei meus olhos e respirei fundo várias e várias vezes.

Educação foi a coisa que esse garoto mais recebeu durante esses oito anos.Ele nunca havia levantado a voz uma vez sequer, comigo ou com os outros para se tratar com uma pessoa com tanta raiva como fez hoje.

As fotos saíram boas.Toby e Mel se comportaram e estavam super fofos vestidos com roupas de gala.Me incomodava o fato que meu irmão não estava ali conosco, se divertindo.Até mesmo Kile, Lívia e Gerald se juntaram nas fotos.Acabamos por arrastar mais pessoas para as fotos e logo todos do apartamento, com exceção de Connor, estavam amontoados em uma foto só.

As meninas da costura, Lia e Liv, tiraram as medidas das crianças, Connor também, e de mim.Ouvi mais sobre as medidas de segurança do Castelo e das Selecionadas e logo encerramos por aquele dia.

Minha conversa com Connor só foi lá pela uma hora da manhã, depois de que todos foram embora depois de nos enchermos de Pizza e donuts.Todos trabalharam demais e duramente e achei justo nos deliciarmos com algo bom.

—Connor...toc toc.— bati levemente na porta enquanto me apoiava na muleta e equilibrava um prato com donuts.Connor me olhou e eu observei as folhas sobre sua cama.Havia desenhos e havia a redação que eu pedi.-Posso entrar?- perguntei calmamente.Ele assentiu e eu empurrei a porta com o ombro.Dei um pulo pra frente e quase fui ao chão.Nada caiu e eu suspirei aliviada.

—Deixa eu te ajudar.- murmurou se levantando da cama.Ele veio até mim e pegou o prato de minha mão, ao mesmo tempo que parava ao meu lado.Passei um dos braços pelo seu pescoço e ele me levou até a cama dele.Me sentei e larguei a muleta.Ele iria se afastar, mas segurei seu braço e o obriguei a se sentar à minha frente.

—Vou deixar você me falar o que houve mais cedo.Não vou te interromper, não vou brigar, por hora, mas eu preciso entender.- falei seriamente e ele coçou a nuca.Então endireitou o corpo e me fitou.

—Fiquei com raiva, muita raiva, quando você nos contou que havia se inscrito nessa...nessa...- ele rangeu os dentes e fechou os olhos.Respirou por um minuto inteiro e voltou a abrir os olhos, parecendo mais calmo.- nessa seleção.- suspirou.Assenti.- Mas eu fiquei quieto, as chances de você ser selecionada eram quase nulas.E então você foi selecionada!- ele exclamou um tanto irônico.- Que maravilha não?Primeiro seus pais morrem e ai sua irmã mais velha, seu porto seguro, é selecionada para ser uma das garotas que vão se arrastar por um príncipe metido a besta e que vai deixar todos para trás por talvez, meses.- assenti e logo entendi.Era a saudade dos pais e dela também.Era como se ela tivesse traído Connor no momento que tocou a caneta na primeira linha do formulário.

—Tudo bem.Eu entendi.- murmurei e o incentivei a continuar.

— Então eu descubro que vou ser levado junto com você.Para viver uma vida que não é minha.Que eu não desejei em momento algum.Achei injusto.Fiquei com raiva, sim!- ele começou a gesticular tão rapidamente que me deu até mesmo uma tontura.

—Segura a emoção!- pedi segurando seus pulsos.Ele respirou fundo e eu o soltei.Cocei minha testa e comecei minha explicação.Precisava explicar.Eu devia isso a ele.- Uma vez, a oito anos atrás, eu e mamãe estávamos em uma situação parecida.- murmurei olhando para a porta.- Você tinha acabado de nascer e eu tinha 9 anos.E eu simplesmente não queria mais um irmão.E eu gritei com ela do mesmo jeito que você gritou comigo.Eu a chamei de egoísta porque ela estava me arrastando para uma vida que envolvia Eu, você e nossos pais.E antes era apenas eu e eles.- voltei meus olhos para os de Connor.- E ela me ouviu.Mas também disse que todos nós um dia faríamos sacrifícios pela família.E o meu foi levá-los junto comigo.- levei minha mão ao cordão no pescoço de Connor.A dois anos atrás, papai o passava pelo pescoço de meu irmão.Aquele cordão era meio que uma espécie de "sorte no potinho" com uma mistura de amor infinito.- Porque, pensar em ficar dias, semanas e até mesmo meses longe de vocês três é insuportável, Connor.Eu sinto que é meu dever não larga-los.Sinto que meu dever é ama-los e prepara-los para o mundo, e principalmente, pensar racionalmente e fazer sacrifícios.Por que é isso que os pais fazem pelos filhos.- murmurei e observei Connor chorar enquanto encarava o cordão.- Papai se sacrificou, mamãe se sacrificou, e é a minha vez se sacrificar, mesmo que tenha que leva-los juntos.E isso é o seu sacrifício.Abandonar seu lar para acompanhar sua irmã maluca para uma coisa mais maluca ainda!- Eu ri um pouco e ele riu também.Limpei seu rosto e o levantei.Ele olhou nos fundos dos meus olhos.- Amar é se sacrificar, Connor.E enquanto eu amar você, meu sacrifício é o seu sacrifício também.- murmurei e ele assentiu.

Não falamos mais nada depois disso.O deixei comer e fui para o meu quarto.Kile estava lá, deitado sobre a cama enquanto lia para Mel, que estava em seu colo.Sorri e ele piscou enquanto eu ia para o banheiro.

Lívia me ajudou a tomar banho.Conversamos durante um bom tempo e eu me senti aliviada.Fazia um bom tempo que eu não me sentia assim, livre.Mel estava dormindo quando retornei ao quarto.Apenas Kile estava lá, deitado em minha cama preguiçosamente.Bufei e me deitei ao seu lado.

—Vai dormir aqui de novo?- perguntei curiosa.Ele assentiu e voltou a ler.Liguei a TV e deixei ela rodar enquanto lia um livro também.Não deu outra e logo Gerald enfiava a cabeça para dentro do quatro.

—Lena, posso dormir com a Lívia?- ele perguntou meio acanhado e eu olhei para Kile.Ele me olhava de volta por cima de seus óculos de leitura.Nós dois então olhamos para Gerald por cima de nossos óculos.Sim, eu uso óculos.

—Contanto que não façam barulho.- murmurei elevando as sobrancelhas.Kile riu ao meu lado enquanto Gerald corava.

—Usem proteção!- ele exclamou e Gerald nos mostrou o dedo antes de sair do quarto.
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