Acordo um pouco desnorteada, depois de um terrível pesadelo. Sinto algumas lágrimas correndo sobre meu rosto. Tento acalmar minha respiração alterada, quando olho pela janela ainda é noite... Preciso de ar.

Vou até a mesma e a abro sentindo o vento em meu rosto. Olho por toda extensão do reino, e penso no que minha mãe sempre me diz... Em breve eu terei que cuidar de tudo isso. Serei responsável por tudo isso, pelo povo e os soldados.

Será que vou conseguir ser uma boa rainha? Será que vou conseguir lidar com tudo? Nunca me preocupei com isso, porém depois de tudo que eu soube ontem e depois desse pesadelo, esse peso começa a cair sobre meus ombros.

Acho que nunca vou me esquecer desse sonho... Ver meus pais morrendo... E as palavras de meu pai tilintar na minha cabeça “Você será uma ótima rainha, assim como sua avó foi.” Depois vê-los mortos após uma invasão ao castelo, por causa do tal desconhecido da floresta... Pensar nisso está me causando arrepios.

Acho que esse pesadelo foi por que minha mente está sobrecarregada de informações que eu recebi tudo de uma vez, minha cabeça está entrando em circuito.

Olhando agora para o lindo céu estrelado bem acima de mim... O admiro e peço com todo o coração para que minha mente possa se organizar.

– Vó eu sei que de onde você está me ouve... Por favor, me ajude a entender... Ajude-me a compreender tudo isso... É tão difícil, estou tão confusa e preocupada... - Digo com lágrimas nos olhos novamente.

Fico alguns minutos tentando organizar minha mente, que está em total confusão.

Minha Vó era a pessoa mais importante do mundo para mim, ela era o mais próximo de uma amiga depois de Alana é claro.

Lembro-me dela me incentivando a ler, me ensinando a ter gosto pela leitura, coisa que minha mãe abominava e ainda abomina.

Sinto tanta falta dela, e digerir toda essa história vem sendo difícil.

Abaixo meus olhos para o jardim, e me deparo com alguém que não esperava, pisco algumas vezes tentando me esforçar para enxergar... É ele!

Entro, fecho a janela, coloco o robe e uma pantufa, dou uma olhada no espelho e desço...

Converso com os soldados e eles me deixam ir até o jardim... Vou em direção ao local onde eu tinha visto alguém há pouco tempo...

Procuro por ele olhando ao redor...

– Andrew? Andrew, cadê você? - Pergunto confusa o procurando.

– Clara? Estou aqui! - Ele diz e sigo sua voz.

– Andrew, o que faz aqui essa hora? - Digo me aproximando e me sentando ao seu lado no banco do jardim.

– Tive um pesadelo, então resolvi tomar um ar... - Diz olhando para frente e depois me encarando - E você o que faz aqui essa hora?

– Ahh... Então somos dois... Refiro-me a você está aqui no Palácio... – Sorrio - Eu te vi então resolvi descer e falar com você. - Digo e o vejo abrir um sorriso.

– Ahh isso... Eu e meu tio chegamos tarde, você deve ter ido dormir... O rei nos acolheu aqui no palácio, meu tio precisa resolver umas pendências. - Diz me olhando nos olhos - Ah sim... Está explicado. - Diz e pisca um olho.

– Ei você estava chorando? - Diz olhando para meus olhos vermelhos de choro - O que houve Clara? - Pergunta preocupado.

– Nada não... Eu tive um pesadelo assim como você... - Respondo tentando o contornar.

– Clara você não parece bem! Quer conversar? - Ele diz pegando em minhas mãos.

Sinto-me estranha com o seu toque. Mas ao mesmo tempo mais calma.

– Não Andrew, está tudo bem... Estou bem... Sério. - Digo e abro um sorriso.

– Se você diz que está tudo bem, ok. - Ele diz e me puxa para um abraço.

Eu devo está vermelha de vergonha. Isso foi imprevisível, ele não parece notar meu nervosismo, ou finge muito bem.

– Pode conversar comigo, você sabe... Ainda somos amigos. - Ele diz passando a mão em meu rosto.

– Sim... Eu sei. Obrigada. - Digo e me levanto - Vou tentar voltar a dormir... Boa noite. - Beijo seu rosto e vou em direção ao palácio.

Dou uma olhada para trás e me deparo com um sorriso, sorrio e aceno, ele acena de volta.

Entro e vou direto para meu quarto, deito na cama e penso em suas palavras... Eu sem dúvidas ainda sinto algo por ele, tem o mesmo toque só que mais carinhoso.

Adormeço um pouco mais aliviada... E feliz.

Andrew

Depois que Clara entrou no palácio, entrei e fui direto para o quarto que o rei me deixou ficar por esses dias.

Troco-me e deito na enorme cama... E meus pensamentos voam até ela...

Clara não mudou nada, continua aquela mesma menina frágil e meiga com que eu brincava quando criança. Só que agora muito mais linda.

Saio do devaneio quando ouço batidas na porta... Quem será à uma hora dessas?

– Entra - Eu digo.

Ele abre e entra.

– Eu vi você e a princesa lá fora... Está fazendo um ótimo trabalho... Ela está caidinha por você. Esse é o meu garoto. - Ele me diz com um brilho nos olhos e um orgulho palpável.

– Acho que ela gosta de mim! - Digo com um sorriso - Quer dizer, acho que ela nunca deixou de gostar...

– Que bom meu sobrinho! Sabia que você daria conta. - Diz com um sorriso triunfante - Estamos quase lá, só precisa cortejá-la. Faça-a cair de encantos por você. E aí meu plano vai começar a dar certo.

– Sim tio. Farei isso! - Digo e ele sorrir.

– Não me agradeça meu sobrinho, eu que agradeço! - Diz e pisca pra mim - Boa noite... - Ele diz e sai.

– Boa noite... – Exclamo.

Eu estou sentindo algo estranho, eu sempre soube que ela gostava de mim quando éramos pequenos... E agora parece que ela ainda gosta, ela me causa sensações esquisitas. Será culpa? Eu realmente fiquei preocupado, seus olhos estavam vermelhos e ela estava com uma expressão triste. Era notável que ela não estava bem, ela não quis falar. E foi até bom que não falasse, não sei o que é isso que sinto por ela. E não posso estragar os planos do meu tio.