Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 9
Novas amizades.




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Estava voltando para casa sozinha depois da aula, mexendo no meu celular distraidamente quando tive a estranha sensação ode que estava sendo seguida. Quando olhei para trás vi que era a Helena e pude suspirar de alívio.

Eu morria de medo de ser assaltada, afinal vivia dando bobeira por aí com meu celular na mão.

− Oi. – Disse ela ofegante quando enfim conseguiu me acompanhar.

− Oi. – Sorri para ela. – Pensei que você estivesse no trabalho essas horas.

− Não. Na verdade, vou entrar mais tarde hoje. Pois tive que resolver uns probleminhas. – Disse ela. Helena estava sempre usando calças legging de todos os tipos de estampas possíveis, regatas ou baby look básicas e tênis de corrida. Os cabelos dourados presos. – Ah, me lembrei deu uma. – Ela se virou para mim. – Porque é que você não me contou antes que era tão famosa na internet?

− O quê? Não. – Eu ri, sem graça. – Eu não sou famosa na internet. De onde você tirou isso?

− Não seja modesta. – Ela brincou. – Eu vi seus vídeos um dia desses. E você tem mais de cem mil inscritos!

Era verdade. Talvez eu fosse mesmo um pouco famosa. Mas somente na internet e não tinha comentando com ela antes talvez pela falta de oportunidade. E além do mais, nós nem éramos amigas. Só nos falávamos algumas vezes na semana quando eu ia para os treinos de boxe.

− Então você viu meus vídeos. – Digo, totalmente sem graça. Ainda não era fácil para mim falar sobre isso cara a cara com as pessoas.

− Vi praticamente todos! Nossa, você é demais. Não é a toa que tenha tantos inscritos e uma penca de comentários positivos. Muitas pessoas te admiram e com razão!

− Ah, para com isso. – Solto uma risadinha. Estava tão distraída com a nossa conversa que nem percebi que já tínhamos chegado ao nosso prédio. Mas nenhuma de nós entrou e ficamos ali paradas na calçada. – Assim eu fico com vergonha!

− Não sei porque. – Ela riu, sem tirar os olhos de mim. – Você é demais! Suas dicas são ótimas, você fala muito bem, é divertida, tem roupas incríveis, faz as melhores maquiagens e penteados. Já te disseram que você parece uma bonequinha de porcelana? E que seus olhos puxadinhos parecem sempre sorrir?

Com tantos elogios eu ardia de vergonha.

− Obrigada, Helena.

− Me chame de Lena, por favor. Somos amigas! Nunca fiquei tão feliz por conhecer uma celebridade, sabia? Você bem que podia me dar umas dicas a partir de agora. Olha só para mim! Eu sou um fiasco nesse requisito.

− Não é verdade...

Ela fez uma careta e eu tive que concordar. Não que só porque eu estudava Moda e estendia do assunto saísse por aí julgando todo mundo. Afinal, cada um tem seu estilo e suas particularidades. Mas fico muito animada quando alguém me procura pedindo ajuda. Eu me sinto útil de alguma forma.

− Tudo bem, já que você quer ajuda pode me procurar a qualquer momento do dia e estarei a sua disposição.

− Sério? – Os olhos castanho-escuros dela brilharam de alegria. – Bom, muito obrigada. Pode ter certeza que vou aparecer sim. Muitas vezes. Pode esperar por mim.

Nos despedimos e ela subiu correndo, antes que se atrase para o trabalho. O que me fez lembrar que eu também tinha treino aquela tarde e que ele começaria as duas.

Almocei e atualizei o blog enquanto ainda tinha tempo. Depois tomei um banho e preparei para sair.

Cheguei dez minutinhos atrasada. Yuri me olhou com uma cara feia enquanto eu entrava. Mas depois ele sorriu e eu percebi que tudo não passava de uma grande encenação.

Hoje a aula foi bastante produtiva. Mas só porque o Yuri não ficou pegando no meu pé o tempo todo e acabou dando atenção mais atenção as outras alunas. Que eram muito mais atraentes e bonitas que eu. Ele era um aproveitador. Isso já estava muito claro para mim.

No final da aula foram todas saindo muito rápido, trocando olhares e risinhos entre si. Como sempre, eu ainda não tinha feito amizades e nem pretendia. Aquelas garotas não tinham nada a ver comigo. Ainda mais porque elas gostavam que o professor tirasse casquinhas delas.

Isso era um absurdo!

− Vou para casa hoje com você. – Disse Yuri com sua mochila nas costas se aproximando de mim enquanto eu recolhia minhas coisas largadas no canto da sala.

− E quem disse que eu vou para casa depois daqui? – Retruquei, mal-humorada. Ele sorria, debochado.

− Vai me dizer que tem algo mais importante pra fazer hoje?

− E se eu tiver? Não é da sua conta!

− Não seja grossa, Japonesa. Vamos lá. Eu sei que você vai para casa agora descansar e tomar um banho. Porque é exatamente o que você está precisando no momento.

− O quê? Você está me chamando de fedida?

Eu realmente me senti ofendida.

− Talvez eu esteja. – Ele me pegou pelo braço e eu meio que senti um choque pelo corpo. – Vamos lá.

Ele foi insistente o caminho todo até o prédio. Tentando de toda forma puxar assunto e me provocar. Mas eu não estava para papo furado hoje. Por sorte logo chegamos em casa.

− Sabe, você deveria ter vergonha. – Acabo deixando essa sair e imediatamente me arrependo.

− Vergonha de quê? De tentar ser legal com você?

− Não. Vergonha de se aproveitar de suas alunas.

− Elas gostam!

− E daí? Não é certo e você sabe.

− Pera lá, Japonesa. Somos todos adultos e cada um sabe o que faz. Não venha com esse ciúme bobo para o meu lado. Porque no meu coração tem espaço para todo mundo.

Que cretino! Tive que me segurar muito para não dar uma na cara debochada dele. Mas tive evitar que as coisas se agravassem ainda mais entre nós. Resolvi ignora-lo e subir para a minha casa, pois a tarde tinha sido muito longa.

Eu tirei o resto do dia de folga. Não gravei nenhum vídeo e nem fiz posts para o blog. Apenas recolhi a roupa suja no cesto e coloquei para lavar. Geralmente era o Lucas quem cuidava dessas coisas, mas do jeito que estávamos eu não queria aborrece-lo ainda mais.

Depois que coloquei a roupa na máquina de lavar, ouvi alguém bater à porta. Eu rezei mentalmente para que não fosse o Yuri para zombar de mim. Mas eu estava enganada. Era a Helena. E assim que abri a porta ela foi logo entrando como se já fosse de casa há muito tempo.

− Te interrompo? – Pergunta ela, virando-se para mim.

− Não...

− Ótimo! – Ela se sentou no sofá.

− Saiu mais cedo hoje?

− Pois é. Eu estava cansada e o meu chefe é bem tolerante quando está bem-humorado. E ele gosta de mim, então as vezes eu me aproveito disso. Sei que é errado, mas as vezes eu também preciso de um descanso, entende?

− Ah, entendo sim. Entendo perfeitamente.

− Tem alguma coisa para comer aqui?

− O quê? – Às vezes Helena era tão direta, eu ainda precisava me acostumar a isso. – Ah, sim. Temos algumas coisas. O que você deseja, senhorita?

Helena sorriu.

− Qualquer coisa que não seja uma bomba calórica.

− Ah, você faz dieta? – Perguntei a caminho da cozinha. Nem percebi de imediato, mas ela veio atrás de mim.

− Mais ou menos. Eu gosto de cuidar da minha saúde.

− Isso é bom! Mas então você não come de tudo?

− Esse é o lado ruim da coisa. Leva um tempo para acostumar, mas depois você fica numa boa, sabe?

Assenti. Abri a geladeira e dei uma olhada lá dentro. Tínhamos refrigerante, iogurte, suco, panelas com comida para não estragar, algumas frutas, verduras, muita água, ovos, presunto e queixo, comida enlatada, sardinha, manteiga, maionese, barras de chocolate e alguns restos.

− Bom, acho que você não vai gostar de nada que tem aqui pelo visto. – Observei, fechando a geladeira.

− Acho que vou ter que ensinar umas receitinhas saudáveis a vocês. – Ela brincou, risonha. – Parece que você e seu namorado gosta de comer muita besteira.

− Ele não é meu namorado!

− Não? – Ela pareceu surpresa.

− Somos irmão.

− Mesmo? Sorte minha, porque ele é um gato.

Não sei porque, mas aquele comentário me deixou levemente enciumada. Helena parecia ser uma boa garota. Era alegre, divertida, bonita. Mas eu não conseguia imaginar o Lucas com ninguém. Um pensamento tanto quanto injusto da minha parte já que agora eu tinha um namorado.

Por falar em namorado eu ainda não tinha contado isso ao Lucas e Kevin não tinha me mandando nenhuma mensagem desde ontem. Será que ele estava bêbado quando me pediu em namorado de novo?

− É, o Lucas é muito bonito mesmo.

Não tocamos mais no assunto.

Fomos direto para o meu quarto.

− Uau, tudo aqui é muito lindo. Você entende muito de decoração também.

− É, eu também sou muito boa nisso. Mas por onde você quer começar?

Ficamos conversando tanto tempo sobre tantas coisas que eu nem vi a hora passar e quando dei por mim o Lucas já estava em casa. Tinha acabado de chegar.

− Ah, oi garotas. Não sabia que tínhamos visitas.

− Lucas! – Levantei-me surpresa. − Essa é a Helena. Nossa vizinha. Ela também trabalha da academia onde eu treino. Helena, esse é o Lucas. Meu melhor amigo e irmão.

− Oi, Lucas. Prazer. – Helena sorriu, corada. Ela era tão segura de si mesma pelo pouco que eu já conhecia dela, que não imaginei que ela fosse ficar sem graça diante dele.

− Prazer, Helena. – Lucas se aproximou e se inclinou para lhe cumprimentar com um beijo no rosto.

− Por favor, me chame de Lena. Eu prefiro.

Eles trocaram sorrisinhos e o Lucas saiu para tomar um banho.

− Ele é fofo. – Ela observou.

Helena foi embora as nove horas. Eu bem que a convidei para ficar para jantar, pois o Lucas não saiu da cozinha desde que chegou e o cheiro estava ótimo, mas ela recusou e preferiu ir para casa, pois já estava ficando tarde.

− Pelo visto você está fazendo amizades novas. – Comentou ele assim que me sentei na bancada para comer.

− É, parece que sim. Helena é ótima!

− É, parece que sim. – Disse ele sentando-se ao meu lado. Fiquei morrendo de vontade de perguntar o que ele tinha achado dele=a, mas aí me lembrei que tinha coisas mais importantes para dizer.

− Preciso te dizer algo. – Ele parou de comer e olhou na minha direção. – Kevin e eu estamos namorando. De novo.

− Sério?

− Sim. Muito.

− Ah. – Ele levantou-se e pegou seu prato. – Legal.

− Lucas, você não vai terminar de comer?

− Não... – Ele colocou o prato intocável sobre a pia. – Perdi a fome e se não for pedir demais.... Lava a louça, ta?

Então ele simplesmente se trancou no quarto depois disso.

Sinceramente? Eu desisto de tentar compreender o Lucas. Ele foi tão infantil agora! Muito brava lavei a louça e depois fui para o meu quarto e resolvi mandar uma mensagem para o Kevin.

Kevin: Oi meu amor. Me desculpa. Eu tive um dia cheio hj. Resolvendo umas coisas com a banda

Eu: Ah, sem problemas. Pensei que tinha se esquecido de mim

Kevin: Não! Isso nunca

Mandei uma carinha envergonhada.

Eu: Tá fazendo o que agora?

Kevin: Comemorando com a rapaziada. Eu bem que queria te contar as novidades. Mas não posso por enquanto.

Eu: Td bem. Vc me conta qnd puder.

Ele não disse mais nada depois disso. E eu não insisti. Era um momento dele. Deixei ele aproveitar com os amigos.

Não me restou mais nada para fazer do resto da minha noite além de ir tentar dormir mais cedo.

E consegui.

Lucas se manteve afastado durante o resto dos dias daquela semana. Tudo bem que agora eu tivesse a Helena e o Kevin. Só que não era a mesma coisa. Helena era ótima, estávamos muito mais próximas agora que eu estava a ajudando. Mas faltava algo. E o Kevin vivia ocupado com seus shows e ensaios. Nós mal nos víamos.

Tentei conversar com o Lucas e tentei fazer tudo certo em casa. Mas ele me ignorava de todas as formas possíveis e quando não tinha escapatória ele dizia que estava ocupado com seu projeto da faculdade.

Eu bem que tentei dar tempo ao tempo. Mas estava sentindo falta de conversar com ele sobre tudo e ao mesmo tempo nada. Principalmente agora eu tinha muitas coisas para contar sobre o meu namoro e minha nova amizade com Helena.

Eu tinha acabado de terminar meu treino no final daquela quinta-feira quando resolvi passar no banheiro antes de ir para casa.

Peguei meu celular na bolsa e dei uma fuçada.

Eu tinha um novo e-mail. Resolvi abrir e quase cai para trás com o que li. Não era um e-mail qualquer como tantos outros. Era um e-mail de negócios. A primeira vez que estavam me convidado para um evento de uma grande marca e eu podia levar um convidado especial comigo.

Na hora pensei no Lucas. Ele iria adorar! Ele me entendia como ninguém. Mas então lembrei que não estávamos muito bem.

− Helena, posso falar com você rapidinho? – Ela estava atrás da recepção, provavelmente atualizando alguns cadastros no computador.

− Fala, Manu. Aconteceu alguma coisa?

− Quer ir a um evento amanhã comigo?

Ela arregalou os olhos.

− Claro! Eu adoraria.

− Que bom. Mais tarde falamos sobre os detalhes.

Helena não era como o Lucas. Mas era uma boa pessoa. E achava interessante tudo que eu fazia. Não duvidei nem por um momento que ela iria recusar o convite. Não agora que estávamos ficando tão próximas. Parece que finalmente eu tinha encontra uma boa amiga.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam da Helena?