Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 19
Aceitação


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Peço desculpas por ter demorado uma semana a mais para postar! Além de estar um pouco ocupada, eu estava planejando o andamento desse capítulo que eu espero que vocês gostem muito da surpresa que preparei! E com este capítulo, atendendo a pedidos, teremos MAIS UM! Sim! Semana que vem teremos o último capítulo! Muito obrigada por todos que têm gostado tanto e me inspirado a escrever mais e mais!



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Uma semana havia se passado rapidamente. A rotina daquele país que voltava a sorrir com o cancelamento do matrimônio de seu rei com aquela bruxa não dava espaço para marasmo, tampouco qualquer tristeza mais que pudesse abalar a alegria tão típica do povo que vivia naquela ilha.

Sem contar que naquela noite, após tanto tempo, voltariam a ter um festival.

Tochas acesas, música, fartura de comida, bebida e, principalmente, alegria.

A festa, que havia sido programada para comemorar a recuperação de seu soberano, na verdade era a ocasião perfeita para anunciar algo bem mais especial. E se existia um álibi que envolvia seu tão amado rei, aquilo só era motivo para mais e mais comemoração. Mas onde o rei Sinbad, o homenageado, estava?

Todos se questionavam, afinal, seu soberano não havia nem sequer aparecido na festa e ansiavam por vê-lo. Nem mesmo os generais sabiam do paradeiro de seu rei, mas estes estavam mais ocupados se divertindo e bebendo, alguns brigando como sempre, como Sharrkan e Yamuraiha faziam. Aliás, todos não. Ja’far também não havia aparecido, mas esse todos acreditavam estar soterrado por pilhas e pilhas de pergaminhos. Naquela última semana, mesmo se dedicando a cuidar de seu rei, aquele que novamente assumira seu cargo como conselheiro daquele país, voltara a trabalhar assiduamente. Era normal que aparecesse apenas ao fim da festa para beber um copo ou outro e, por conseguinte, arrastar Sinbad aos seus aposentos. Seu sumiço nem de longe era motivo de preocupação para aqueles que só queriam saber de festejar e se divertir. Mas o palpite dos demais generais, dessa vez, estava bem errado...

Da sala que dava para o balcão principal do palácio onde podia ter uma visão privilegiada de todo aquele festival em sua homenagem, Sinbad estava bastante animado enquanto tentava se esconder atrás de uma das cortinas vermelhas.

— Venha!

— Não, Sin! Eu não vou!

Virou-se de frente para um emburrado Ja’far, cujas bochechas pareciam dois tomates.

Não vendo saída, foi até ele e o segurou pelo pulso.

— Vamos! Eu não posso me casar com você sem que meu povo seja comunicado! - Sinbad tentou ser convincente, puxando já o braço do rapaz.

— Eu não quero ser o alvo das atenções! Não mesmo! - Ja’far firmava os pés ao chão. - Isso não combina comigo!

— Está com vergonha de se casar comigo?! - o moreno fez bico.

— Claro que não! Mas eu não quero que todos olhem pra mim agora! Está cheio lá fora…

— E no nosso casamento vai estar MUITO MAIS! - Sinbad enfatizou. - Pode se acostumar porque no momento em que escolheu ser minha rainha, assumiu a responsabilidade de aparecer publicamente comigo. - ele estava sendo categórico e parecia até mesmo um tanto quanto irritado com a postura de Ja’far. - Agora vamos!

— NÃO!

Aquela luta prosseguiu por um bom tempo. Sinbad puxava com toda a sua força um decidido Ja’far que se agarrava aos móveis para não ser arrastado dali.

Estava desesperado. Odiava ser o centro dos olhares de todos e era exatamente isso o que Sinbad estava lhe propondo.

Porém, um breve deslize de seu conselheiro foi o suficiente para que Sinbad conseguisse puxá-lo. Ja’far tropeçou e, na tentativa de se equilibrar, passou por seu rei, quase caindo daquela sacada na qual se apoiou na mureta.

— Ahh!!! - ele suava frio ao ver a altura em que estava. - Está vendo o que fez? - aquilo era motivo suficiente para ele voltar a fechar o cenho e repreender o moreno.

— Pelo menos consegui te trazer até aqui! - Sinbad ria, tocando no ombro de seu conselheiro.

Ja’far observou de canto aquele imponente homem que, com aquele sorriso tão sutil o encantava a ponto de deixá-lo paralizado, apenas a encará-lo. As chamas daquelas tochas acesas refletiam naquelas duas gemas de ouro que seu rei tinha no lugar dos olhos.

Sinbad limpou a garganta antes de se posicionar diante daquele balcão.

— Povo de Sindria, tenho um anúncio a fazer!

A voz imperativa de seu rei foi o suficiente para que a música cessasse, os burburinhos também e todas as atenções se voltassem na direção dele. Uma grande comoção se formou quando o povo avistou a chegada de seu rei, que sorria abertamente ao lado de um envergonhado Ja’far, que tentava esconder o rosto por trás das longas mangas de suas vestes.

— Primeiramente, boa noite! - era necessário que pausasse para que todos voltassem a se calar após tanta exasperação ao lhe verem novamente e se atentassem a suas palavras. - Quero muito agradecer a todos que se preocuparam comigo e estão hoje comemorando minha recuperação! - aquela pausa foi o suficiente para uma enorme salva de palmas. - Mas hoje nós temos uma outra comemoração além dessa! - o rubor no rosto de seu conselheiro aumentava vertiginosamente. - Hoje farei um anúncio muito especial e motivo de muita alegria para mim e espero que seja para vocês também!

A curiosidade dos demais foi atiçada. Não só do povo, como dos generais que não sabiam de que seu rei estava falando.

— Eu quero anunciar que, daqui a um mês, teremos uma grande festa aqui em Sindria! -  apenas aquele anúncio trouxe euforia ao povo que tinha como principal características amar festas. - E essa festa será para comemorar o meu casamento!

Todos pareciam chocados com aquele anuncio. A maioria das pessoas pareciam extremamente felizes enquanto algumas moças choravam desoladas, nitidamente entristecidas por suas chances, com aquele rei que era dotado de tantas qualidades, terem acabado definitivamente. Mas a primeira princesa de Kou, que era sua noiva, não havia morrido? Quem era a felizarda que se uniria aquele que todos jamais acreditavam que se casaria (novamente).

— Eu irei me casar daqui a um mês com alguém que é muito querido por todos vocês! Depois de muitos anos de espera, eu finalmente decidi revelar quem será minha rainha! - e assim sendo, Sinbad colocou o alvo a frente de si. - O Ja’far e eu vamos nos casar!

O silêncio tomou conta daquele país.

Não havia mais rubor algum no rosto alvo que conseguira ficar ainda mais pálido do que de costume - se é que isso era, de alguma forma, possível. Os olhos verdes arregalados encontraram dezenas, melhor, centenas de pares que o encaravam da mesma forma.

A perplexidade nitida no povo que, é claro, estranharia o fato de seu rei estar se casando com… um homem. E a possibilidade de todos rejeitarem aquela ideia e seu rei fazia com que o mundo de Ja’far girasse.

Tremia sob as mãos firmes de Sinbad que o apoiava pelos ombros. Tentou encará-lo para conseguir ver aquele sorriso confiante e repleto de alegria que não desapareceu, mesmo diante da expressão de choque de todos.

Eles não diriam nada? Não reagiriam de forma nenhuma?

Foi quando subitamente aquela tensão foi quebrada por uma salva de palmas, assovios e muita comemoração. As moças que choravam não pareciam mais tristes e estavam, até mesmo, felizes?

Ja’far piscou, ainda receoso e um tanto quanto perdido naquilo tudo enquanto todos exaltavam aquela notícia que, apesar de inesperada, era maravilhosa.

— S-Sin… - ele gaguejou. - Eles… eles estão felizes?

— É claro que estão! - Sinbad assentiu, virando-se de frente para capturar o queixo daquele que era mais baixo. - Você está?

O rubor voltou a tomar conta do rosto do conselheiro de Sindria. Como resistir aquele homem? Mas, por que Sinbad estava fazendo aquilo aos olhos de todos?

— C-claro que estou!

Ja’far tentou desviar o olhar, mas foi nesse exato momento que o moreno se aproximou e abocanhou seus lábios, o indicador e o polegar suspendendo o rosto daquele que ouviu os aplausos e comemoração dos demais ao verem seu rei beijá-lo. Mal conseguia se mexer. Não tendo forças para afastá-lo, sentindo-se extremamente envergonhado, só pôde se entregar àquele beijo tão apaixonado que Sinbad usava para demonstrar a todos como o amava. Mas tudo o que Ja’far tinha em mente era: seria tudo aquilo um sonho?

Afastaram-se por um instante para recuperar o fôlego e Ja’far voltou a abrir os olhos para constatar que sim, aquilo era real.

Um tanto quanto paralizado ao ouvir a comoção diminuir, Ja’far foi posicionado novamente a frente do moreno, que o exibia extremamente orgulhoso.

— Acho que estão esperando que vossa rainha lhes diga alguma coisa. - Sinbad sussurrou em seu ouvido.

Ja’far tremeu, mas sabia o que tinha de fazer. Afinal, agora era uma autoridade a mais naquele país e seu trabalho era cuidar daquele povo, não era?

Imitando Sinbad e limpando a garganta, ele apoiou as mãos trêmulas sobre o balcão.

— B-Boa noite… M-muito… o… obrigado… - por que estava gaguejando? Que droga! - por… terem aceitado tão b-bem…

— Minha rainha está gaguejando tanto! - Sinbad sussurrava. - Será que a Arba faria um discurso melhor? - provocou.

Ja’far arqueou uma sobrancelha, simplesmente indignado, antes de empurrar o moreno.

— Eu quero dizer que estou muito feliz por terem aceitado nossa união e que é muito importante para nós isso, afinal, vocês são o que há de mais importante em nosso país! - ele disparou.

— Ahh, é assim que fala minha rainha… - Sinbad revirou os olhos.

— CALA A BOCA! - Ja’far gritou, fazendo aqueles que assistiam ao seu discurso estranharem aquela forma de falar com seu rei. - Então… - ele voltava a sorrir. - Eu espero que nada mude entre nós, mesmo comigo assumindo essa posição ao lado do Sin, digo, o rei Sinbad! Continuo sendo o mesmo Ja’far de antes e… espero poder fazer… - o conselheiro corava, abrindo um sorriso sincero. - ele muito feliz. - completou.

Foi o suficiente para que uma nova salva de palmas fosse dada e aquela sensação de viver um sonho voltasse a atingir Ja’far, a ponto de questionar a veracidade daquela realidade. Tudo estava tão perfeito! E pensar que há uma semana atrás estava sofrendo torturado por Arba, vivendo sem esperança de voltar a viver ao lado de Sinbad e agora estava ali, sendo assumido por ele depois de 20 anos escondendo aquele amor todo.

Mas ao sentir os dedos compridos daquele homem entrelaçando nos seus, trocando olhares com ele, Ja’far podia ter certeza de que aquela era a realidade.

A festa seguiu animada e todos aproveitaram ao máximo. Até mesmo Ja’far decidiu relaxar mais ao ver Sinbad rejeitar as concubinas. Mas aquela comemoração era o motivo perfeito para que seu rei e não apenas ele, os generais bebessem o máximo que pudessem. Sem preocupações, sem problemas… Tudo o que podiam fazer era festejar tanta alegria que voltava àquele país. Afinal, o que podia dar errado?

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Ainda ao alvorecer, o primeiro alarme foi soado. O segundo também e ninguém, nem um general nem ao menos guarda esteve a postos para avisar ao rei Sinbad da aparição de uma criatura dos mares do sul na costa oeste daquela ilha. Apenas após o terceiro alarme que Ja’far conseguiu abrir os olhos e, apesar do corpo maltratado pela ressaca e a cabeça latejar, saltou da cama que dividia com seu rei ao ouvir a última badalada daquele sino. O pânico tomou conta de si.

— O ALARME! - ele exclamou, levantando-se para ir até a janela.

Do alto da torre principal do palácio, onde ficava os aposentos de seu rei, conseguia ouvir alguns gritos e ver bem ao longe algumas pessoas que corriam em pânico.

— Não pode ser! - ele correu de volta à cama. - Sin! Oe, Sin!

Sacudiu o moreno que ainda estava adormecido e, lentamente, um tanto quanto confuso, abriu o par dourado para ver um Ja’far desesperado que se aprontava a se vestir.

— O… O que aconteceu? - sonolento, ele coçava os olhos.

— Algo muito ruim! - Ja’far respondeu de forma sucinta enquanto terminava de vestir a parte superior de seu uniforme. - O alarme estava soando e as pessoas parecem em pânico! Ninguém foi ver o que era? - ele buscava seu keffiyeh que estava jogado ao chão.

— Mas… não são nem 7 da manhã ainda. - Sinbad constatou pelo fato do sol ainda estar nascendo. - O que pode ter acontecido?

— O de sempre! Mas dessa vez todos nós decidimos beber até cair e ninguém estava a postos para lidar com uma criatura do mar!

— Fique calmo, Ja’far! - Sinbad afastou os lençois de seda para se levantar. - Nossos guardas de prontidão podem ter cuidado de tudo.

— Não é o que par…

— SINBAD-SAMA!

Ja’far foi subitamente interrompido pelo exclamar que vinha do lado de fora, acompanhado com as batidas na porta que condenavam a urgência de quem chamava seu rei.

— V-vá se trocar! - o alvo sussurrou ao notar Sinbad completamente nu a sua frente. - Já vai! - gritou em direção à porta.

Assim que Sinbad foi à procura de suas vestes, Ja’far se encaminhou até as portas duplas daqueles aposentos, abrindo-as para encontrar dois guardas, ambos ofegantes e desesperados.

— Ja’far-san! - o alívio ao encontrá-lo era nítido.

— O que aconteceu?! Por que o alarme foi soado?

— Uma criatura do mar, Ja’far-san! Atacou um casal de pescadores essa manhã! Tentamos contê-lo, mas o estrago já tinha sido feito!

Tsc! Que droga! Como eles est…

— Os dois acabaram morrendo, senhor. - o guarda se emocionou ao interromper Ja’far.

Não era possível!

Fazia anos que conviviam naquela ilha, sempre combatendo aquelas ameaças que, ocasionalmente apareciam e se tornaram uma grande atração turística. Não era dificuldade nenhuma para os generais de Sinbad deterem aqueles seres típicos do mar do sul, mas para pessoas comuns… Ja’far se sentiu extremamente falho. Se não tivesse se rendido à bebida e aos exageros da noite anterior, teria escutado o primeiro alarme e chamaria os outros ou ele mesmo iria salvar aquelas pobres pessoas.

— Ja’far-san? - notando a apatia do conselheiro daquele país, o guarda o chamou.

O alvo balançou a cabeça, tentando sair de seus devaneios por um instante. A culpa lhe corroía a ponto de, assim que Sinbad chegou atrás de si, querer descontar nele e dizer que era por isso que não bebia nem se dispersava de seus afazeres, mas isso seria tão injusto… Todos eram culpados, inclusive ele.

— Vamos agora onde aconteceu o ataque.

Ja’far se surpreendeu com a seriedade que seu soberano expressava. Aquela notícia, certamente, havia o abalado da mesma forma.

— O mínimo que podemos fazer é nos desculpar com os familiares dessas pessoas… Avise a todos que quero uma reunião urgente assim que voltarmos!

Sinbad saiu apressado e com uma expressão nada boa, seguido por um Ja’far que compartilhava do mesmo humor. Como puderam ser tão irresponsáveis? - questionavam-se.

Ao chegarem na costa oeste daquela ilha, depararam-se com as marcas da destruição daquele ataque. Quem diria que uma criatura do mar se aproximaria tanto da costa a ponto de destruir algumas residências. Algumas pessoas, feridas, já estavam sendo tratadas, enquanto outras permaneciam assustadas. Porém, apenas a presença de seu rei ali era o suficiente para tranquilizá-las. Não havia mais o que fazer a não ser recolher o que sobrara naquele cenário. Sinbad permanecia em silêncio apenas observando tudo ao seu redor. O que se passava pela mente dele? - Ja’far se perguntava.

— Não acredito que isso aconteceu! Eles saíam muito cedo toda manhã para pescar, tinham uma loja no centro.

O conselheiro de Sindria se atentou à voz de uma mulher que chorava.

— Sim, eles foram um dos primeiros moradores de Sindria! Acompanhavam o Sinbad-sama há anos!

Sinbad e Ja’far se entreolharam. Sabiam o que aquilo significava. Com certeza aqueles dois que haviam sido vítimas fatais eram duas das crianças que haviam libertado de Maader e os seguiam até os dias de hoje. Ao ouvir a notícia, Sinbad cerrou os punhos, parecia inconsolável. Foi dificil até mesmo para ele, em sua posição, não se entregar à emoção

— Majestade!

Pisti surgia do alto de um enorme pássaro que usara para sobrevoar aquela região.

— Reporte, por favor, Pisti.

Ja’far engoliu a seco ao ouvir a voz embargada de seu rei. Era um momento bastante delicado.

— Três residências foram completamente destruídas e duas lojas próximo à costa também. Todos que foram feridos estão bem, sofreram ferimentos leves, incluindo quem estava tomando conta do filho do casal que veio a falecer… - a loira explicava.

— Filho? - Ja’far arqueou uma sobrancelha.

— Sim, parece que o filho deles nasceu tem pouco mais de uma semana. - Pisti comentou com tristeza. - E parece que não há nenhum familiar para cuidar da criança…

— Bem… - Ja’far suspirou. - certamente algum casal que não pode ter filhos vai querer criar essa criança. - ele concluiu. - Pisti, - vendo que Sinbad parecia um tanto quanto atônito, o alvo tomou a frente. - ordene que as famílias que tiveram danos em suas residências vão para o palácio. Daremos início à reconstrução de suas casas hoje mesmo.

— Sim, Ja’far-san!

Assim que Pisti assentiu, o gigante pássaro se afastou deixando Sinbad e Ja’far a sós… ou não tão a sós assim quando ouviram o choro de um bebê que esperneava no colo de uma moça bastante jovem.

A criança chamou a atenção de Ja’far por ter ralos fios púrpura, parecidos com os de seu rei, sobre a cabeça. Acabou soltando um risinho ao constatar aquela semelhança com Sinbad. Era um recém-nascido, mas bastante forte e esperto, pelo jeito.

Vendo-se alvo dos olhares do rei de Sindria e de seu conselheiro, a moça corou e tentou, ainda mais, fazê-lo se aquietar.

— Shhh! Já disse que não tenho leite, bebê! - ela sacudia a criança, voltando-se ao moreno. - Me perdoe, majestade, não consigo fazer ele parar de chorar.

— N-não se preocupe, não tem problema! - Sinbad parecia um pouco distante, apesar dos olhos atentos naquela criança. - Ele não está com fome? - perguntou ao se aproximar.

— Acho que sim! - a moça de longos cabelos castanhos suspirou. - Mas nenhuma mulher da área teve filho ultimamente, não sei como vou dar de comer a ele.

— Leve-o ao palácio. - Ja’far propôs. - Com certeza alguma moça vai querer ser ama-de-leite dele.

Aquela solução parecia ideal, mas ao mesmo tempo em que arrancou um sorriso da jovem, o mesmo esmaeceu quase que imediatamente.

— O que houve? - Sinbad indagou em meio aos choros daquela criança.

— É que… eu não posso cuidar dele. Meu marido está viajando e eu cuidava do filho deles de manhã cedo quando iam pescar, mas se ele voltar e me ver com essa criança, pode pensar até mesmo que o traí...

Sinbad e Ja’far se entreolharam. Era uma situação complicada e a um nível em que, eles como governantes, nada poderiam fazer a não ser aconselhar aquela pessoa.

— Bem, assim como disse que alguma moça no palácio pode ser ama-de-leite dessa criança, com certeza alguém pode querer cuidar dele também. - Ja’far esboçou um sorriso, tentando confortá-la.

— De verdade?! - os olhos escuros da mulher brilharam. - Eu ficaria tão feliz! Com certeza… ele seria bem cuidado! Aliás… tsc, ele não pára de chorar! - ela permanecia a sacudir a criança de um lado para o outro.

Ja’far parecia angustiado vendo aquela situação quando, subitamente, tomou aquele pequeno bebê dos braços da jovem, aninhando-o em seu colo, balançando de um lado para o outro com uma leveza sem igual.

Tanto Sinbad quanto a moça pareciam chocados que, em pouquíssimo tempo no colo do conselheiro de Sindria, o choro daquela criança havia cessado.

Os olhos dourados pareciam encantados pela cena que tinha diante de si. Era como se Ja’far soubesse exatamente o que fazer. Cantarolando baixinho e afagando aqueles ralos fios púrpura, não demorou muito para que visse o menino adormecer em seu colo.

— Pronto. - ele sussurrou com naturalidade.

— Então ele estava sem fome? - a mulher indagou.

— Na verdade você precisa aprender a segurar o bebê. Estava deixando ele extremamente desconfortável. Tem que dar segurança a ele!

Sinbad não se conteve mais e gargalhou. Era como se todos aqueles problemas que subitamente assolaram sua manhã tivessem desaparecido ao ver seu Ja’far ensinando a uma moça como agir como mãe. E ele, mais do que ninguém, sabia que Ja’far entendia bem do que estava falando.

— D-do que está rindo, Sin? - as bochechas claras ganharam um forte rubor.

— Acho que podemos abrir as inscrições para o curso de “Como ser mamãe” com o conselheiro de Sindria, Ja’far-san, o que acha? - ele ria sem parar.

— Ora seu…

Se não estivesse segurando aquele bebê em seus braços, certamente teria acertado com um soco seu rei, mas só de ver aquela tensão que havia em seu rosto se dissipar, Ja’far estava satisfeito.

— Bem, - Sinbad interrompeu. - acho que não temos mais nada o que fazer aqui. Muito obrigado por ter cuidado dessa criança, senhorita. Pode ter certeza de que cuidaremos muito bem dele e pode visitá-lo quando quiser!

As esmeraldas cresceram quando viu o moreno dar meia-volta. Sem nada entender, apenas o seguiu rapidamente, mas temendo acordar aquele pequeno.

O-oe, Sin! Nem ao menos levamos essa criança para perguntarmos se alguém realmente pretende criá-la!

— Você quer criá-la, Ja’far? - Sinbad foi direto.

— ANH?!

Ja’far estava perplexo. Que tipo de proposta era aquela? Porém, ao mesmo tempo em que questionava a sanidade de Sinbad propor aquilo - aliás, ele estava realmente propondo o que estava pensando?  - estava sentindo uma imensa vontade de manter aquele corpo quentinho junto a si.

— Podemos dar o nome do meu pai a ele? - Sinbad perguntou.

— S-Sin… - Ja’far gaguejou. - O que está pretendendo?

O moreno o encarou de forma séria.

— Sempre se preocupou por eu não dar herdeiros para Sindria e está bem claro aqui que essa criança escolheu muito bem sua mamãe. - o alvo corava ao ouvir aquelas palavras.

— S-Sin, você está enganado! Eu… eu só estou acostumado porque ajudei a Rurumu-san a criar os filhos dela! Não é como se… se eu… pudesse assumir algo assim.

— E por que não? - Sinbad cruzou os braços. - Existe algo que você é incapaz de fazer? Me diga porque, sinceramente, eu não conheço nada que você não consiga fazer!

— Sin… - ele meneou a cabeça encarando o bebê que subitamente foi arrancado de seus braços. - O-oe!

— Bem, está decidido! - Sinbad apoiou a criança adormecida em seu ombro. - Já temos um filho! Realmente agora temos que nos casar! Não é, Badr? Não é? - ele sussurrou para o garoto.

— SIN!!!!! - Ja’far cruzou os braços. - Devia me perguntar se eu concordo ou não!

— Concordou ser minha rainha, fomos pra cama e pronto, temos um filho! - ele simplificou. - Nada de reclamar agora! Devia estar feliz de dar um golpe nesses num rei!

— Ora, seu...

Não tinha mais como fingir estar irritado com ele. Ja’far não se conteve e acabou rindo. Afinal, não era isso que lhe cativava tanto naquele homem? Aquele jeito simples e único, determinado e surpreendente que era capaz de lhe fazer cometer as piores loucuras?

Cerrava os punhos, hesitante, mas lembrou-se das palavras de Sinbad. Não seria capaz de ser a rainha que ele tanto queria? Foi quando a coragem lhe dominou e se agarrou em um dos braços de Sinbad, apoiando-se ali e seguindo de volta para o palácio ao lado dele. Até quando aquele homem lhe daria mais e mais vontade de viver, eternamente, ao seu lado?


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Notas finais do capítulo

Confesso que eu poderia escrever esses capítulos tipo omake toda semana, eu amo Sindria stuff - quem não notou, né? hahaha! Espero que tenham gostado da surpresinha! É mais uma força para a campanha #UmUteroParaJa'far porque né, a rainha merece! HAHAAH!
Bem, pessoal, semana que vem aí sim, o derradeiro último capítulo e teremos o tããããão ansiado e prometido... tcharannn! Vocês sabem o quê!



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