Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 16
Consumação


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Acho que pela primeira vez eu escrevi um capítulo sem pausas, de uma só vez! Confesso que foi bastante cansativo. Não gosto muito de escrever cenas de ação - hahaha! Mas hoje teremos algumas cenas que eu planejei há muito tempo e espero ter conseguido passar o mesmo que visualizei quando as idealizei na escrita! ♥ Como sempre muito obrigada a todos que lêem, mandam reviews! É minha maior motivação para escrever sempre! ♥



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Os olhos esverdeados refletiram a lâmina da espada que a mulher tirava debaixo da mesa. Arregalaram-se ao vê-la girar aquela arma, com uma mão só, e com uma maestria sem par.

— Mas agora… não tem mais volta, Ja’far. - ela deu a volta na mesa para encará-lo de frente. - Vou matá-lo aqui e agora e assim você não irá sofrer vendo eu me tornar a rainha do país que nunca foi seu! Nossa história acaba aqui!

Respirou fundo encarando a bela mulher que sorria de forma confiante, o cabo da espada sendo, então, segurado firmemente pelas duas mãos da princesa de Kou. As lâminas gêmeas de Ja’far deslizando por seus braços para pousaram entre seus dedos. As longas mangas de suas vestes tornaram aquele movimento invisível aos olhos de Arba, que permanecia a sorrir enquanto caminhava ao seu redor.

— Não está com medo? - deslizando a língua pelo lábio superior, a bruxa não desviava de Ja’far o par de safiras.

— Hunf - o ex-conselheiro riu de forma cínica. - Vai me matar aqui? E o que dirá para o Sin quando ele encontrar meu corpo e tudo o que fez? Você não tem coragem. Não acabaria com seu teatrinho…

— E você acha que Sinbad faria o quê quando descobrisse que eu o matei?

Ja’far contorceu o lábio. Sabia muito bem o que ela tentava insinuar com aquele questionamento.

— Acha que ele se desesperaria? - prosseguiu. - Choraria por você? - ela fingia piedade em seu tom de voz. - Poooobre Ja’far. - cantarolou. - Seu rei nem lembra que você existe!

Não cairia naquilo tão facilmente. Naquela mesma noite havia constatado que Sinbad sentia sua falta, inclusive se afundava em depressão por não tê-lo ali, por ter se tornado submisso àquela bruxa. Aquela tinha de ser sua motivação para matar aquela mulher. Era tudo ou nada.

Vendo o pequeno sorriso que o alvo esboçou, Arba parou de caminhar e o encarou de forma séria. Aquele cinismo estava lhe tirando do sério.

— Do que ri? Caiu em si finalmente de que não é nada?

— Você é mesmo digna de pena, sua bruxa! - Ja’far decidiu encará-la com o cenho franzido. - O que ganha destruindo a vida dos outros? Você é tão burra que não soube conquistar um homem como o Sin! Um homem bom que, quem sabe, até mesmo se apaixonaria por você! E não vou negar, eu realmente temi isso!

— Ele se apaixonou por mim. - convicta, ela afirmava. - Só você, um depravado frustrado que não consegue ver! - Arba ria. - Acha que algum dia ele assumiria um romance com você? Outro homem? Ah, Ja’far… Por favor, todos sabemos que isso acontece nos corredores de qualquer palácio, mas esperava o quê? Que Sinbad se casasse com você? E quando o daria filhos? Sinbad tem vergonha de ter você na cama dele…

— É MENTIRA! - ele a interrompeu, vociferando. - Sin nunca precisou de mim! Pôde ter quantas mulheres quisesse, mas era EU, Arba, - ele levou uma das mãos ao centro do peito. - EU estava na cama dele! NÃO PRECISEI EMBEBEDÁ-LO PARA ELE ME COMER!

Ja’far perdera completamente a compostura.

Falar com aquela mulher lhe dava asco, despertava em si seus instintos assassinos mais sujos. Tinha vontade de matar, de sentir aquele sangue viscoso escorrendo por entre seus dedos. Mas não podia cair nas provocativas dela. Porém, Arba, por sua vez, parecia estar caindo bem nas provocativas do general.

— Você está começando a… me irritar. - ela declarou sem tirar o sorriso do rosto.

— Só agora? - ele questionou. - Você já me irritou há muito tempo!

Ja’far sacudiu as mangas para mostrar as lâminas e as linhas vermelhas amarradas firmemente aos seus braços. Estava pronto. Nem que fosse a última coisa que fizesse em sua vida. Nem que fosse apenas uma vã tentativa.

— VENHA! Diz que vai me matar, mas não sai do lugar! Está com medo?

Desafiador, Ja’far soriru de canto. Era o suficiente para despertar toda a ira que consumia Arba. Como um simples humano idiota como aquele era capaz de tirá-la do sério?

Não houve tempo para rebater com palavras.

As duas lâminas foram arremessadas, os fios vermelhos que pareciam serpentes seguindo em sua direção tão rapidamente a surpreenderam. Desviou de uma sem muito trabalho, porém, a segunda, ao invés de atacá-la, deu a volta em seu braço que segurava aquela espada. Ja’far puxou com firmeza a linha que prendia aquela mulher que, ao se ver presa daquela forma, gargalhou.

— É tudo o que pode fazer? Acha que com isso pode me derrotar?

Piscou os olhos e subitamente, aquela mulher não estava mais ali.

Ele não saberia dizer o que aconteceu.

Piscou novamente como se aquela ação pudesse reverter o que ele acreditou ser uma ilusão quando…

— JA’FAR!

A voz de seu rei ecoou por aquele salão, chamando a atenção do alvo que viu, no chão, aquela sombra se projetar sobre a sua própria. Ja’far tentou se virar para trás rapidamente, mas não teve tempo. Só pôde sentir aquela lâmina rasgar suas costas num corte diagonal.

— Argh!

O ex-conselheiro tombou de joelhos. Apesar de ser um ferimento superficial, o local atingido por aquele corte ardia e ele podia sentir o sangue quente escorrer dali. Ao mesmo tempo em que tentava encarar o recém-chegado que tinha os olhos dourados arregalados.

— OE, JA’FAR! - Sinbad mal teve tempo de encará-lo para fitar aquela mulher da qual, mais do que nunca, agora tinha nojo. - Sua…

Por aquela Arba não esperava. A chegada do rei de Sindria era algo inesperado. O que deveria fazer? O que era mais prudente - pensou.

— Ah… S-Sinbad-sama!

A mulher gaguejou, as mãos trêmulas deixando aquela espada ir ao chão. Os joelhos de Ren Hakuei se chocaram ao chão enquanto ela abraçava a si mesma, os olhos azuis arregalados.

— O… O que aconteceu? O que eu estava fazendo?!

Questionando a si mesma, esfregando os antebraços, a bela princesa parecia extremamente confusa e perturbada aos olhos de quem quer que fosse… Ao menos para aqueles que eram ingênuos o bastante para cair em suas tramas.

Ja’far balançou a cabeça de forma negativa.

Não era possível que ela estava tentando, mais uma vez, se fazer de vítima. Encarando Sinbad de forma preocupada, o ex-conselheiro perguntava a si próprio se seu rei cairia naquela interpretação barata daquela bruxa mais uma vez. Subitamente a dor física deu lugar a uma angústia sem par.

Sin…” - ele suplicou mentalmente, como se pudesse falar com o coração dele.

O moreno permanecia a encarar a moça que tremia, as pupilas dilatadas enquanto abraçava a si mesma. Deu dois passos em direção àquela que teve que segurar o riso mais uma vez. Era realmente muito tolo para acreditar - ela pensou.

Foi quando os olhos dourados a encararam e Sinbad cruzou os braços, fitando-a de forma autoritária. Em contrapartida, numa investida mais dramática, a moça soltava a si mesma para rastejar os poucos centímetros de distância entre eles para escalar com as mãos as pernas do rei de Sindria.

— S-Sinbad-sama!!! - ela chorava, erguendo o rosto para encarar aquele que permanecia extremamente sério.

— Já acabou, Arba?

O choque ao ouvir aquelas palavras foi tanto para Ja’far, quanto para a bruxa.

Sinbad sempre temera que a bruxa descobrisse que sabiam sua verdadeira identidade e agora estava ali, firmemente lhe encarando como se cobrasse explicações. As sobrancelhas franzidas e o ar de superioridade faziam Arba se sentir cada vez menor. Com aquela constatação, tinha certeza de que dramatizar era o melhor que fazia.

— A-Arba? E-está falando… da-daquela mulher que… era minha mãe, Sinbad-sama?

— JÁ CHEGA! - exclamou um impaciente Sinbad. - Eu ouvi tudo!

Ao mesmo tempo em que era difícil acreditar, Ja’far sentia um imenso alívio. Era como se finalmente tivesse obtido sua vitória. Mesmo fraco como era para enfrentar aquela maga poderosa, ele tinha certeza de que Sinbad agora sabia de tudo.

— Jamais esteve grávida de mim! Aproveitou da minha bebedeira para fingir que eu fui para a cama com você! Fez com que eu acreditasse nisso para se casar comigo! Além de tudo… Deixou o Ja’far à beira da morte. - ele a encarava com asco. - Pensei que não fosse tão suja, mas fez coisas ainda piores! Me enfeitiçou, me fez cometer atrocidades com a pessoa que eu mais amo nesse mundo! Você é um monstro, Arba!

O silêncio após a declaração de Sinbad foi sucedido por uma gargalhada estridente.

Saindo da posição que mais lhe adequava naquele momento, a bruxa se reergueu, trazendo consigo aquela espada. Porém, mesmo armada, ela não conseguiu intimidar um Sinbad que permanecia a encará-la seriamente.

— Ah, Sinbad… Se acha muito esperto depois de só depois de todo esse tempo ter sido capaz de concluir o óbvio?

— Acho justo também revelar para você que sempre soubemos que era a Arba! - rebateu. - Mas agora que sua trama chegou ao fim, eu que digo que acabou PARA VOCÊ!

E ao dizer aquilo, surpreendendo Ja'far, Sinbad desembainhou sua espada. A bela mulher arregalou os olhos, um sorriso de surpresa em seus lábios.

— Será capaz de bater em uma mulher?

— Você não é uma mulher! Você é um monstro!

Vendo como Arba permanecia calma e despreocupada ao ver o selo na lâmina da espada de Sinbad brilhar, Ja’far, ainda no chão, se preocupou. Por que tinha um mal pressentimento?

Logo aquele brilho cobriu o corpo do rei de Sindria, que era tomado pelas escamas azuladas de Baal.  Mas assim como aquele poder aparecia, subitamente o mesmo desapareceu por completo como se tivesse sido arrancado de Sinbad, o que trouxe pânico a Ja’far.

— Argh!

A espada caiu das mãos do enfraquecido rei que foi ao chão, os olhos arregalados enquanto tremia ofegante.

— SIN! - Ja’far exclamou, rapidamente tentando se colocar de pé novamente. - O QUE FEZ, SUA BRUXA?! - ele estava indignado.

— Ora, ora… Você não me perguntou o que eu faria se o seu… “Sin” - ela mimicou a forma de falar do alvo. - visse que o feri? Não pensou que ele tentaria me matar e que eu teria medo? Pobre coitado…

Ja’far se preocupou ao ver a mulher se aproximar mais de seu rei, que tentava se acalmar, ainda assustado pelo fato de não ter conseguido usar seu djinn. Por que se sentia tão fraco? - se questionava.

— Ah, meu querido Sinbad… Não devia ter ignorado todas as vezes em que se sentia indisposto na minha presença. - ela apoiou um dos pés em um dos ombros do moreno. - E ainda tentou usar seu djinn… Creio que mal tem magoi para respirar agora.

Arba explicava, sua posição com o rei de Sindria agora invertida. Ela no topo encarando o homem prostrado ao chão.

Ele não conseguia se levantar de forma alguma. Era como se suas forças tivessem sido completamente tomadas.

— Des… Desgraçada… - o moreno balbuciou. - Voc… ARGH!

Ele foi interrompido pelo chute desferido pela mulher que o atingira na altura de seu estômago.

— Sin!!! - Ja’far se desesperou.

— C-Chame os outros… Ja’far… - foi tudo o que Sinbad conseguia dizer. Sabia que Ja’far não seria páreo para aquela bruxa.

Não. Ja’far não deixaria Sinbad ali.

Mas por precaução, Arba se virou de frente para o ex-conselheiro.

— Então, Ja’far, podemos retomar o que estávamos fazendo. - ela sorria.

Apoiando-se na mesa, o alvo se reergueu. Respirou fundo tentando ser forte.

Seus olhos alternavam entre a bruxa e seu rei. A preocupação em conflito com seu objetivo, porém, aquele incidente deveria ser um incentivo para concluir sua missão.

Posicionou suas lâminas de volta as mãos ao ver que a mulher se aproximava novamente.

Tinha de ser forte por ele.

Tinha de vencer por ele.

Tinha de viver por ele.

Foi quando Arba investiu com tudo em sua direção. Os olhos azuis arregalados enquanto sorria abertamente ao atacá-lo, a espada firmemente segura em duas mãos.

Viu a lâmina rente ao seu rosto quando desviou para a lateral e rolou pelo chão, atento ao próximo movimento daquela que não precisou recuperar o fôlego para seguir perseguindo o alvo que, dessa vez, não permitiu que ela se aproximasse mais tanto para escapar da mulher.

Ao descer aquela lâmina no ar, a mesma deixava um rastro, tamanha  era a força aplicada em seu golpe.

Ja’far morreria se fosse pego, tinha certeza. Mas não poderia ficar fugindo eternamente.

Suas costas doiam devido ao último golpe recebido e tudo o que ele estava fazendo até agora era fugir. Mas como a enfrentaria de frente?

— Vai fugir até quando? - ela ria.

Ótimo. Ja’far havia constatado que Arba tinha certeza de que permaneceria fugindo. E assim o fez. Mais uma investida da bruxa, que parecia não se incomodar com a fuga do alvo e Ja’far correu. Mas assim que deu as costas à mulher, arremessou uma de suas lâminas para trás, guiando-se apenas por seus instintos na tentativa de acertá-la.

Tudo foi tão rápido e Arba não estava preparada para aquele ataque surpresa.

Arregalou os olhos ao sentir uma daquelas lâminas rasgar uma das mangas rosadas de suas vestes, abrindo um corte superficial em seu braço direito - mas o suficiente para arrancar um sorriso de Ja’far. Havia esperança. Tinha como atingi-la e certamente, com aquele ferimento, ela perderia um pouco a agilidade no manejo da espada.

— Ora seu… - a bruxa resmungou, ofegante.

Não devia permitir que ela descansasse. Devia aproveitar aquele momento. Sem dó, então, Ja’far lançou novamente seu household vessel. Se pudesse segurá-la e ter um contato maior para usar o poder de Baal…

Arba não precisou mover um dedo para se defender. Seu borg apareceu, trazendo desolação ao rosto de Ja’far. As lâminas se chocaram contra a barreira mágica e foram direto ao chão.

Parecia que ela havia finalmente cansado de brincar e decidira usar sua magia. Aquilo trouxe mais preocupação a Ja’far. Ainda mais quando fitou Sinbad.

O rei de Sindria tentava de todas as formas se reerguer. Ofegante, ele apoiava as palmas das mãos e os joelhos no assoalho. Precisava ajudar Ja’far. Depois de tudo o que aconteceu, era o mínimo. Não podia se permitir ser tão fraco.

Ver seu amado naquele estado lamentável foi demais para o alvo. Precisava ajudá-lo a se levantar, dizer a ele que cuidaria de tudo.

— SIN!

Sem pensar duas vezes, Ja’far deu as costas para Arba. Um movimento inocente e tolo que, certamente, custaria sua vida.

As gemas douradas de Sinbad se arregalaram ao ver a bruxa que abriu seu melhor sorriso ao se lançar na direção que seu conselheiro seguia. Bem mais ágil que ele, exímia no manejo da espada, Arba se aproximava bem mais rápido de Ja’far do que ele, distraído, de Sinbad, que assistia tudo aquilo de forma extremamente lenta.

O desespero lhe devolveu forças para se levantar ao mesmo tempo em que viu o alvo chegar ao seu encontro e, infelizmente, ao mesmo tempo também em que a ponta da espada daquela mulher tinha como alvo as costas de Ja’far.

Agarrou-o pelas vestes, puxando-o e simplesmente o arremessou para o lado. Ja’far sem nada entender  foi atirado ao chão por um aflito Sinbad que tomava, em seu lugar, o golpe de Arba.

Os olhos verdes refletiram o momento em que a lâmina da espada da bruxa atravessou completamente o peito de seu rei.

Ja’far estava completamente em choque.

Não era possível.

Era um sonho, não era? - ele questionava a si mesmo. - Não. Devia ser um pesadelo... - concluiu.

Trêmulo, com os lábios abertos tentando buscar palavras e fôlego para conseguir dizer algo - nem que fosse gritar, chamar por ele - Ja’far não conseguia ter reação alguma. Assistia a mulher puxar de volta a espada do corpo de seu rei que foi ao chão imediatamente. Apenas ao ouvir o baque surdo do choque de Sinbad com o assoalho, que Ja’far conseguiu sair daquele transe que, como ele desejava ser apenas um sonho - o pior deles, provavelmente.

— SIIIIIIINNN!!!

Ja’far gritou, as lágrimas caíam enquanto a gargalhada de Arba ecoou não só naquele salão, mas por todo o palácio.

As portas se abriram subitamente e os generais e servos que vinham assustados com os gritos de Ja’far se surpreenderam ao ver o corpo de seu rei ensanguentado ao chão, a espada na mão daquela que muitos ainda viam como a doce princesa de Kou derramando o escarlate que gotejava da lâmina, o mesmo que impregnava o assoalho num fluxo intenso.

— MAJESTADE!

— SINBAD-SAMA!

Todos estavam em choque com o que viram. Muitos ficaram sem conseguir se mover diante daquela cena, extremamente assustados e preocupados. Aqueles que não sabiam do retorno de Ja’far nem ao menos tiveram a surpresa de encontrá-lo ali de volta devido à tamanha comoção.

— Sinbad-ojiisan!

Do meio de tantos ali surgia um aflito Aladdin acompanhado de uma maltratada Yamuraiha. Ambos foram ao socorro do rei que fora impedido de assistir ao desfecho daquele confronto.

Ja’far arregalou os olhos surpreso. Como Aladdin estava ali? E trazendo Yamuraiha consigo? De fato ele seria o único capaz de desfazer a barreira que isolava a maga de Sindria.

“- Não posso deixar que vá sozinho enfrentar aquela bruxa! Mesmo que aja da maneira correta, não sei o que a Arba pode fazer para tirá-lo do caminho dela…” - o ex-conselheiro se lembrou das palavras do magi de Kou. Ele devia ter vindo em segredo para ajudá-lo.

— Olha só quem chegou… - a bruxa riu antes de voltar sua atenção ao alvo. - Mas disso eu cuido depois. Ainda não terminamos, Ja’far…

Arba se virou de frente para o ex-conselheiro que não conseguia esboçar nenhuma emoção mais. Encarava-a seriamente, os punhos cerrados e as linhas vermelhas frouxas em seus braços como se tivesse desistido de tudo. Ao menos foi exatamente isso que Arba havia compreendido.

— Você podia ter continuado em Kou, Ja’far… - prosseguia Arba. - Cuidando do meu querido filhinho… - ela se aproximava lentamente, como se medisse cada passo que desse. - E eu estaria logo mais me casando com seu querido “Sin”... E quem sabe, futuramente, sim, dando filhos a ele e o fazendo feliz. - a bruxa pausou para encará-lo. - Mas você não permitiu isso, Ja’far. Foi você quem matou o seu rei! - ela apontou com a espada o corpo de Sinbad. - VOCÊ é o culpado disso, Ja’far!

Fincava as próprias unhas em suas mãos, fazendo com que o sangue escorresse por entre seus dedos. Nem ao menos percebeu as leves escamas que iam surgindo na pele tão clara e iam se espalhando por seus braços.

— Nunca deixou de ser um assassino sujo, Ja’far! Encare seus amigos e generais e assuma que voc…

— CALA A BOCA!

O vociferar de Ja’far foi o suficiente para assustar não só Arba, mas todos que estavam ali. Mas mais do que isso, a eletricidade que era conduzida por aquelas linhas vermelhas foi o suficiente para que elas se erguessem e fossem na direção da bruxa.

Não queria demonstrar o quanto estava surpresa com tudo aquilo ao ver aqueles fios que voavam ao seu redor até que estes, subitamente, cercaram. O borg que tentou fazer foi ridiculamente quebrado com a eletricidade que o household vessel de Ja’far conduzia para, então, aquelas duas linhas darem duas voltas no pescoço de Arba.

— ARGH! O qu… AH! - ela se sentiu sufocar.

Os olhos semicerrados de Ja’far a encaravam com frieza. Uma frieza que, provavelmente, Sinbad não reconheceria mais após quase vinte anos. Ela tentava usar as unhas para puxar e afrouxar aquelas linhas que iam apertando cada vez mais seu pescoço.

— V-você… - a voz rouca tentava falar. - não vai fazer isso… Matar… a… a princesa… de Kou! Eu… eu sou Ren Hakuei… Sou ino… inocente…

— VÁ PARA O INFERNO!

Foi a última coisa que Ja’far disse ao terminar de puxar aquelas linhas, de uma só vez. Além de enforcá-la, as lâminas afiadas deslizaram pelo pescoço da bruxa e a degolaram.

Sem dó. Sem ressentimentos.

Ja’far viu a cabeça daquela que se dizia a princesa de Kou cair e rolar pelo assoalho até seus pés. Aquelas escamas que subitamente apareceram em sua pele esmaeciam diante de seus olhos, deixando leves rastros do que acontecera.

Enquanto isso, todos encaravam a cena assustados. Os demais generais não acreditavam no que tinham visto, perplexos diante da atitude de Ja’far, mais ainda os servos curiosos que ousaram ficar ali para assistir o assassinato da princesa Ren Hakuei.

Demorou um tempo para que Ja’far conseguisse reorganizar suas ideias e, então, tirar os olhos daquela cabeça cujos olhos azuis ainda o encaravam em agonia.

Cambaleando, foi até onde estavam Yamuraiha, Aladdin e seu rei, esse que era coberto por uma barreira dourada de rukhs que eram emitidos pelo cajado do pequeno magi. Agachou-se para vê-lo de perto.

— Não se preocupe, Ja’far-oniisan! O Sinbad-ojiisan vai ficar bem! - ele garantiu. - Já estamos cuidando de recuperar o magoi dele e já vão cuidar dos ferimentos que ele sofreu.

— Eu devia ter imaginado que a majestade estava tendo o magoi diminuído por essa bruxa… - Yamuraiha estava decepcionada consigo mesma. - Se eu tivesse desconfiado de tudo antes…

— Não pense assim, Yamu-san. - o magi sorriu tentando acalmá-la. - O que importa é que o Sinbad-ojiisan vai ficar bem e o Ja’far-oniisan conseguiu desmascarar a Arba! Além de você ter sido libertada também! - concluiu.

Toda aquela conversa passou despercebida para Ja’far.

Encarava desolado o rosto daquele que permanecia desacordado. Fitava aquele ferimento gravíssimo em seu peito. Tudo culpa sua.

Ousou levar as pontas dos dedos a uma das mechas púrpuras que caíam sobre seu rosto e ajeitá-la, hesitando acaricia-lo. Não merecia tocá-lo, refletia.

Recolheu a mão, resignando-se em sua posição quando viu os médicos da corte chegarem para cuidarem dos ferimentos de seu rei. Muitos servos estavam desesperados, chorosos ao vê-lo naquele estado, enquanto que os generais não sabiam como reagir.

E vendo aquelas expressões enigmáticas em seu rostos, ele só pôde se levantar e se aproximar de Masrur e Hinahoho, que eram os mais aflitos com o que acontecia.

— Eu, Ja’far, ex-general, ex-conselheiro e ex-chefe do parlamento de Sindria, assassinei a princesa Ren Hakuei! Além disso, sou culpado pela vossa majestade estar gravemente ferido. Peço que, por favor, tomem as atitudes cabíveis para punir um criminoso como eu!


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Notas finais do capítulo

Waaaah! Eu já tinha decidido há tempos de que íamos decapitar a Arba. hauahhau! Imaginei essa cena há bastante tempo! Eu realmente queria ter trabalhado melhor a aparição do Aladdin e como isso se deu, mas isso vai ficar para o próximo capítulo - não, ainda não acabou! Quem gostou da cabeça da Arba rolando grita "eu"! Hahaha! Muito obrigada por lerem, pessoal!



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