Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 11
Precioso


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Como estão? Capítulo saindo no fim de semana e por quê? Porque essa semana é meu aniversário e estarei viajando! ♥ Então não terei muito tempo de me dedicar, então decidi escrever antes para que não corra o risco de ficarmos sem capítulo essa semana! A fic está entrando em sua reta final, só posso agradecer a todos que lêem, aqueles que acompanham desde o início e muitos que começaram agora também! Muito obrigada pelo feedback tbm, fico imensamente feliz por saber o que estão achando da fic!



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 A noite já havia caído e, de certa forma, estava agradecido por aquele dia ter passado de forma tão rápida. Não havia se preocupado em jantar. Havia dispensado os servos que se ofereceram para auxiliá-lo a organizar sua bagagem, mas Ja’far preferia cuidar daquilo ele mesmo. Não levaria muitas coisas, apenas o necessário. Se precisasse de algo, compraria em Kou.

 Abriu as gavetas da cômoda de mogno para reunir poucas mudas de roupa que depositou sobre sua cama. Apesar do braço direito ainda estar imobilizado, ele se esforçava para realizar suas atividades normalmente.
Ajeitou as peças uma a uma dentro da mala e suspirou pesado.

 A ansiedade era muita. Ao mesmo tempo em que desejava sair daquele lugar, ver-se livre de todo aquele inferno que aquele palácio havia se tornado, seu coração palpitava angustiado. Perguntava-se o que estava fazendo, afinal, quando em sua vida pensou que um dia partiria dali?

 Encarou o próprio reflexo no espelho de corpo inteiro que o refletia, sentado em sua cama. Parecia ontem a primeira vez que tinha entrado naquele lugar, que haviam construído com tanto esforço e trabalho árduo.

 “Os aposentos do Ja’far são surpresa! Eu mesmo fiz questão de decorar tudo da maneira que ele gosta!” - a voz de seu rei ecoava. Podia se lembrar com perfeição da animação de Sinbad ao trazê-lo àquele quarto pela primeira vez, fazendo questão de vendá-lo, guiando-o até ali de mãos dadas. O lugar que, como seu próprio soberano havia dito, havia sido decorado de acordo com o gosto daquele que conhecia tão bem.

 Impossível não abrir um sorriso ao se lembrar daquele tempo…

 Como tudo havia mudado...

 Mordeu o lábio inferior e levou a mão até a fronte, agarrando o rubi esculpido que ali ficava pendurado. Puxou-o de uma só vez, arrebentando a correntinha de ouro que a mantinha segura em sua cabeça. Encarou a pedra preciosa de forma melancólica. Se existia algo que devia deixar para trás era aquele objeto.

Caminhava apressado pelos aposentos de seu rei. Nitidamente furioso, seguiu até um dos criados-mudos e abriu uma das gavetas. Nada. Não estava ali nada exceto dois livros e um tinteiro.

 Deu a volta na enorme cama e se agachou para abrir o outro móvel. Remexeu as gavetas, até que finalmente encontrou. Lá estava um dos anéis de Sinbad, que ele havia esquecido de colocar naquela manhã.

 Ja’far suspirou aliviado, mas já preparava, mentalmente, o sermão que daria em seu rei. E se não tivesse notando a ausência de um de seus metal vessels e seu uso fosse necessário, de alguma forma?

 Já pronto para retornar para o escritório de sua majestade, Ja’far se surpreendeu ao encontrar um pequeno embrulho em cima do móvel, o qual não havia notado ao adentrar o quarto, afinal, estava tão preocupado com a possibilidade de Sinbad ter perdido aquela joia.

— Um presente?

 Curioso e inquieto, Ja’far tomou o embrulho em mãos, desfazendo o laço em fita vermelho que selava o pacote. Introduziu a mão ali e de lá retirou uma pequena caixa de veludo.

 Engoliu a seco. Sabia que não devia estar fazendo aquilo, mas seu coração já estava acelerado. Sinbad estava pretendendo dar aquele presente à alguma moça?

 Abriu a caixinha e encontrou um belíssimo pingente com um generoso rubi talhado e polido preso a uma corrente de ouro. Seu coração falhou uma batida.

 Lembrava-se de seu rei agindo de forma estranha na última viagem que haviam feito a Sasan. Ficara horas afastado deles, caminhando pelo comércio, mas já havia um mês… Será que estava reunindo coragem para entregar a alguma concubina? Ou…

 O mundo de Ja’far simplesmente caiu ao se lembrar da última festa da Aliança. Lembrava-se da rainha de Artemyra, inúmeras vezes, tentando aproximar Sinbad de uma de suas várias filhas que, claro, era tão bela quanto sua mãe. Praticamente durante toda a festa, ela tentava dar um jeito de deixá-los a sós, falando em matrimônio sem parar. Será que Sinbad havia aceitado?

 Será que havia acontecido algo entre eles e seu rei agora tinha que assumir o compromisso? Iriam a Artemyra em algumas semanas, provavelmente era por isso que Sinbad estava guardando aquele…

— JA’FAR!

 As portas duplas se abriram, revelando um preocupado Sinbad, que arregalou os olhos ao ver o que seu conselheiro tinha em mãos. Ja’far, por sua vez, permaneceu estático, as mãos trêmulas segurando a joia e a caixa.

— Tsc, o que está fazendo?!

 Sinbad nem ao menos tentou ser sutil. Marchou furioso até eu conselheiro parecendo bastante preocupado com sua descoberta. Então tudo fazia sentido, Ja’far refletiu.

 Fechou de uma vez só a caixinha e a entregou de forma rude a Sinbad, que se esforçou em não deixá-la cair.

— Não se preocupe. - respondeu friamente. - Agora entendi tudo.

 Ja’far seguiu em direção à porta, assustando seu rei que o acompanhou e o segurou pelo braço.

— Oe, o que aconteceu?!

— ME DEIXA EM PAZ! - retrucou um trêmulo Ja’far, que mordia o lábio inferior na tentativa de conter aquelas lágrimas que não, seu orgulho não permitiria derramar. - Já entendi tudo! Acatou a proposta da Mira-sama então! Pensei que, no mínimo, eu teria o direito de saber! - ele soluçou, sua tentativa de não chorar havia sido em vão.

— Q-quê? Do que está falando? Mira? - Sinbad balançou a cabeça. - Oe!

— Não minta pra mim! Ficou em pânico ao ver que descobri o seu…

— Fiquei em pânico porque descobriu o SEU presente de aniversário! - Sinbad foi mais rápido, interrompendo Ja’far.

 Os olhos esverdeados cresceram. O conselheiro de Sindria piscou, desentendido. Do que Sinbad estava falando? Estava inventando alguma história para se safar, tinha certeza.

— Meu aniversário foi mês passado, Sin! - Ja’far cruzou os braços.

— Falo do NOSSO aniversário!

— Q-quê?

 Ja’far gaguejou, sentiu as bochechas arderem com o corar. Sinbad o encarava de forma séria, as orbes douradas não vacilavam, mostrando que ele dizia a verdade.

 Vendo o alvo sem ter o que dizer ou saber como agir, o rei suspirou pesado.

— Droga… Eu ia te dar mais tarde! Não era para ter visto!

 Sinbad coçou a cabeça e então entregou a caixa a Ja’far, que estava extremamente sem jeito ao ouvir aquilo e ao receber aquilo.

— S-Sin… - ele não sabia o que falar.

— Quando vai parar de cismar que quero me casar com alguma princesa sei-lá-de-onde?

 Ja’far desviou o olhar, abaixando a cabeça. Estava envergonhado de sua própria atitude.

— Hoje faz um ano que… que nos beijamos a primeira vez. Você lembra? - Sinbad não recebeu resposta, o que o fez sorrir de canto. - Claro, você não pára de trabalhar. - e de forma divertida, bateu de leve um tapinha na testa do alvo. - Mas eu me lembrei! Encomendei com um joalheiro de Sasan. Você sabe, lá eles tem as melhores joias… Queria que fosse algo especial. - explicou.

— S-Sin… - Ja’far soluçou, misturando o constrangimento à emoção. - N-nunca ganhei um presente… Não sei se posso aceitar…

— Você vai. É uma ordem.

 O moreno suspirou e tomou a caixinha de volta das mãos de Ja’far. Abrindo-a, retirou de lá cuidadosamente a joia, dando meia-volta em seu conselheiro, que nada compreendeu. Então passou a corrente dourada em torno da fronte de Ja’far, alinhando aquela brilhante pedra preciosa entre os olhos do alvo.

 Ja’far piscava, confuso, quando ouviu o fecho ser preso e sentiu os dedos de seu rei ajeitarem seus cabelos, antes que ele desse novamente a volta e o encarasse com um largo sorriso.

— Ficou lindo! Exatamente como achei que ficaria!

 Mais uma vez as bochechas tão claras coraram, dessa vez de forma tão forte que chegava a ocultar as sardas que adornavam o rosto tão bonito.

 Sinbad tomou a mão de seu conselheiro, melhor, seu amante e o conduziu até aquele enorme espelho que os refletia, segurando-o pelos ombros para que Ja’far pudesse ver-se com aquela bela jóia pendurada em sua fronte, seguindo exatamente a linha de seu nariz. E, pela primeira vez em sua vida, ele se sentiu…

— Lindo, não? - Sinbad completava seu pensamento.

— S-Sin… - Ja’far o via pelo reflexo do espelho. Abraçou a si mesmo, estava embaraçado.

— Que foi? - o rei se assustou, virando-o de frente para si. - Não gostou? Eu… eu posso trocar! Pensei que ia gostar de um rubi! Pensei em esmeraldas, mas… mas gosto tanto dos seus olhos, ia acabar me confundindo! - ele ria daquela forma doce e cativante que Ja’far não resistia.

— Eu adorei! - foi a forma que ele encontrou de interrompê-lo. - É… é lindo… mas… mas eu não devo usar uma joia que você me deu! É um presente que… que devia dar a uma mulher… uma princesa nobre de algum reino que… merecesse ser sua rain…

— Ja’far. - dessa vez, Sinbad tratou de lhe interromper. - Me ouça. - ele tomou as duas mãos do mais jovem e os levou abaixo de seu queixo. - O lugar que existe ao lado do meu só pode ser ocupado por uma pessoa… Essa cama também só pode ser ocupada por uma pessoa além de mim… A única rainha aqui é você! Você que merece as joias que vou dar, os carinhos e meu amor.

 Ja’far estava atônito diante de palavras tão doces que lhe eram ditas.

 Suas mãos tremiam, mas eram contidas pelas fortes que a amparavam, o polegar de seu rei deslizando sutilmente por sua pele, lhe acariciando. Os olhos dourados dele não desgrudavam dos seus. Era uma forma única de provar que ele não estava mentindo quanto ao que dizia.

 Naqueles momentos, costumava se perguntar se era merecedor de tanto. Por anos vivera como um assassino, sendo culpado até mesmo de matar seus pais. Conhecer Sinbad tinha sido a maior dádiva de sua vida. Havia ganhado tanto ao lado daquele homem. Dignidade, respeito, amor…

— Eu te amo, Sin…

 Não haviam palavras melhores que pudessem expressar o que Ja’far sentia. Era tudo tão grandioso dentro dele, mas simplesmente impossíveis de serem expostas da maneira que mereciam.

— Feliz aniversário, Ja’far!

 Cerrou os olhos para receber o melhor presente, o beijo de seu rei, que era apenas o início de tantas trocas de carinho e amor. Ele merecia tanto assim? "

 Aquelas lembranças eram tão palpáveis. Desde aquele dia praticamente não tirava aquela joia. Era como se fosse o símbolo da aliança entre os dois, de tudo o que representavam um para o outro. Era como se pudesse reafirmar aquelas palavras que Sinbad havia lhe dito a cada vez que se via usando aquele adorno.

 Mas agora… aquilo não passava de uma bela lembrança.

 Largou o pingente e a corrente sobre a cama e secou as lágrimas que ressurgiram, teimosas.

 Encarando-se no espelho, ele não se reconhecia sem aquele enfeite, mas esboçou um sorriso confiante.

— A partir de amanhã serei uma nova pessoa… - ele suspirou.

 Duas batidas na porta chamaram sua atenção. Levantou-se rapidamente e seguiu em direção à porta.

— Já vai!

 Girou a maçaneta e não encontrou ninguém. Um pouco atordoado, olhou para os dois lados do corredor, sentindo-se confuso.

— Que estranho! Será que só achei que tinha ouvido algo?

 Do corredor paralelo, um escondido Sinbad ouvia a porta se fechar após as palavras de Ja’far. Cerrou os punhos, sentindo a parede contra suas costas.

 Como queria ir falar com ele! Como queria ir pedir para que esquecessem tudo e se acertassem. Não acreditava mesmo que Ja’far partiria, mas pelo menos queria deixar tudo claro com ele. Não havia mais o que esconder, sabia que havia ido para a cama com Arba, o que de certa forma facilitava as coisas.

 Sua consciência pesava menos mas, em compensação, seu coração doía mais ao pensar que Ja’far tinha certeza de que era um canalha. Pior ainda pensar que ele era capaz de matá-lo.

 Sinbad balançou a cabeça. Tinha de ter mais orgulho próprio. Ja’far havia cometido um erro também, estavam quites, afinal. Não… Ele sabia que não era assim.

 Esmurrou a parede, consumido pela angústia. Sua cabeça latejava, o cansaço lhe consumia, mas não se via capaz de fazer nada. Queria invadir aquele quarto e beijá-lo, pedir perdão nem que fosse de joelhos, fazer amor com ele para que se esquecessem de tudo e pensassem em nada mais que não fosse eles mesmos, mas o conflito batia forte com seu orgulho. Seguiu pelo corredor vazio e encarou a porta fechada. Tocando sutilmente naquela superfície como desejava tocar Ja’far. Balançou a cabeça mais uma vez, tentando libertar sua mente e seu coração daquele desejo. Seguiu para seus aposentos decidido.

 Precisava se esquecer de tudo aquilo e ele sabia muito bem quem era a companhia perfeita para aquilo… A bebida.

 —-------xxxx--------

 Acordou num sobressalto. Onde estava?

 Seu coração acelerou, temia ter feito uma nova besteira.

 Ainda desorientado, Sinbad se sentou procurando pelo chão rastros daquela mulher. Não havia dormido com ela de novo, não é? - questionava a si mesmo, encontrando algumas garrafas vazias espalhadas no caminho pelo qual engatinhava.

 As nuvens cobriam o sol. Olhando pela janela ele não tinha noção de que hora era. Levantou-se percebendo ainda com as mesmas vestes do dia anterior, nem mesmo havia se banhado. Tudo parecia tão silencioso no palácio. Por que tinha um mau pressentimento?

 Não era hora para orgulho.

 Correu e saiu de seus aposentos e indo até o mais próximo, estranhando de imediato a porta que estava aberta. Ja’far nunca costumava deixar seu quarto aberto assim.

OE, JA’F...

 Sinbad congelou assim que atravessou aquela porta. A cômoda estava vazia, como o criado-mudo. Algumas gavetas estavam fora do móvel e… vazias. Completamente vazias.

 Adentrou pé-ante-pé o lugar, tentando não ser consumido pelo choque. Não podia acreditar. Era mentira, Ja’far jamais seria capaz de abandoná-lo. Era um blefe, tinha certeza.

— Não é possível! P-pare de brincad...

 Sentiu pisar em algo que ficara preso em seu sapato. Estalou a língua e levantou o pé para encontrar o pingente e a corrente de Ja’far. Arregalou os olhos, simplesmente atordoado com o que estava vendo.

 Tomou a joia em suas mãos sem acreditar no que estava acontecendo. Ja’far não iria embora. Ja’far não abdonaria aquele presente ali, aquela joia que era tão especial para eles. Mas não tinha tempo de pensar em nada mais. Sabia que o navio para Kou partiria ao meio-dia, certamente não havia ido embora. Iria ao porto e impediria aquela loucura, nem que trouxesse Ja’far pelos cabelos. Estava decidido.

 Desceu as escadas correndo o máximo que pôde, não se dando ao trabalho de cumprimentar os servos que se curvavam perante a presença de sua majestade. Muitos se assustavam com a expressão tão tensa de Sinbad. Mas tudo o que importava para ele agora era ter a certeza de que seu melhor amigo, seu amante, a razão de sua vida… não tinha ido embora.

 Seguiu apressado, chegando até o jardim externo, em direção aos portões principais quando encontrou seus generais vindo na direção oposta.

 Estavam chegando, mas de onde?

 Yamuraiha tentava consolar uma chorosa Pisti que não continha as lágrimas. Sharrkan tentava se segurar ao máximo. Os mais jovens pareciam mais abalados do que aqueles que, nitidamente, estavam mais revoltados do que, de fato, emocionados.

 Sinbad piscou. O que havia acontecido? E… onde estava Ja’far? De onde voltavam?

Oe! O que aconteceu?

 A pergunta de Sinbad chamou a atenção de todos. Hinahoho e Drakon foram os primeiros que desviaram o olhar de forma indiferente a seu rei, já os outros permaneciam a lamentar o ocorrido. Ninguém naquele momento gostaria nem de encarar seu rei… mas pior ainda era vê-lo questionar o que tinha acontecido, como se não soubesse de nada.

 Vendo-se sem resposta, Sinbad ficou ainda mais aflito.

— Eu estou perguntando! - ele cruzou os braços.

 Bufando, ele se aproximou do fanalis que não mexia um músculo sequer.

Oe, Masrur, pode me dizer de que enterro estão voltando? Por que essa choradeira toda? E onde está o...

 Sinbad sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo quando encarou os olhos do ruivo. Masrur o encarava com uma frieza sem par. Aquele que costumava não demonstrar em nada suas emoções, parecia subitamente ameaçador.

— Q-que aconteceu? - o rei gaguejou.

— Pare de perguntar o que aconteceu como se não soubesse! - Pisti disse entre lágrimas.

Oe, Pisti, não desrespeite nosso rei! - Yamuraiha ralhou, preocupada.

Tsc, ele fala como se não soubesse de nada! - a loira estava inconsolável.

— Acabamos de voltar do porto.

 Todos ficaram surpresos ao ouvir aquela voz. Encararam o ruivo que se mantinha impassível e que, normalmente, não se manifestava para absolutamente nada, devido a sua natureza.

— É tudo o que tem que saber, Sin-sama. - completou Masrur com a mesma frieza.

 Sentindo o chão que havia sob seus pés ruir de uma só vez, Sinbad caía em si. Mas não era possível. Não era ainda hora do navio para Kou partir.

— Do que estão falando?! O navio que parte hoje do porto sai ao meio-dia!

— Já é duas da tarde, Sinbad. - Hinahoho cruzou os braços. - Se não ficasse enchendo a cara todo dia, teria acordado mais cedo, mas pra quê? Não impediu o Ja’far de fazer a besteira que fez!

— Eu quero ir com o Ja’far-san! - Pisti chorava.

 Não.

 Sinbad se negava a crer que Ja’far havia partido.

 Não.

 Ele havia prometido ficar sempre ao seu lado.

 Não.

 Simplesmente não.

— Parem de brincadeira! Eu sei que Ja’far jamais faria isso! - Sinbad tentou rir em meio ao nervosismo. - Eu sei que cometi muitos erros, mas… - ele riu. - mas essa brincadeira de vocês não tem graça. Vamos, me diga onde está o Ja’far!

— Não há brincadeira nenhuma, majestade. - foi a vez de Sharrkan falar. - Pedimos muito que o Ja’far-san reconsiderasse, mas…

— Não… Não é possível. - Sinbad balançava a cabeça, incrédulo. - Ele não me abandonaria! - vociferou. - Não nos abandonaria! Não abandonaria Sindria! Tsc, Yamuraiha, quero que faça contato com o navio e peça para que voltem agora mesmo!

— Sinto muito, majestade, - a maga soluçou. - mas já faz duas horas que o navio partiu, certamente não estão mais dentro do raio da minha barreira.

— Duas horas…?

— Anteciparam a partida, já que o clima não está muito bom. O mar está revolto. - Sharrkan explicou.

Tsc, não importa! Não deviam ter partido sem a minha autorização! - Sinbad estava revoltado. - Preparem um navio agora mesmo! Eu irei atrás deles!

— JÁ CHEGA! - foi a vez de Drakon exclamar, assustando seu rei. - Aquiete-se e assuma a consequência de seus atos! Ja’far foi embora porque perdeu VOCÊ! Não é você a vítima que o perdeu! Você o expulsou daqui com suas atitudes mesquinhas e insanas! Nem parece o Sinbad que tanto admiramos um dia! Estamos COM VERGONHA de servir a você!

— Drakon-san! - Yamuraiha cobriu os lábios.

 O silêncio dominou após aquelas palavras que Drakon praticamente cuspiu. E por mais que ficassem receosos com tamanho desrespeito a seu rei, ninguém sequer tentou amenizar a situação. Sinbad permaneceu em silêncio encarando seu general assimilado antes de abaixar o rosto, envergonhado de si mesmo, tomando coragem para se dirigir àqueles que eram mais que seus subordinados, eram seus amigos, sua família.

— V-vocês concordam com as palavras do Drakon?

 Todos se entreolharam, faltava coragem em assumir. Porém, talvez era isso o que faltasse em Sinbad, que o julgassem. Será que a falta de um julgamento adequado era o que deixava suas rédeas tão soltas a ponto de cometer as atrocidades que fizera com Ja’far.

 O rei os encarou e, sem coragem de respondê-los, todos apenas assentiram. Era um golpe forte demais para Sinbad, que apenas sorriu de forma melancólica estando extremamente desolado.

— Entendo… Obrigado por… serem sinceros comigo. - ele buscava palavras. - Eu… realmente falhei com todos vocês e… espero remediar isso de alguma forma.

— Comece colocando aquela bruxa pra fora deste reino! - Drakon seguia impiedoso.

 Sinbad engoliu a seco e o encarou. Aquela era, definitivamente, a pior parte.

 Se tivesse confiado nas palavras de Ja’far…

— Eu não posso...

 Aquelas palavras despertaram a revolta dos demais, que simplesmente não aceitavam a atitude de Sinbad. Odiavam com todas as forças aquela mulher, afinal, ela havia sido o pivô de todas as brigas, de tudo o que acontecera para culminar naquele instante.

— O Hina já sabe e… vocês também devem saber… - o rei tomou fôlego. - Eu fui para a cama com a princesa Hakuei, então… naturalmente, irei assumir as consequências do meu ato, como… como o próprio Drakon disse… Me… Me casando com ela.

— QUÊ?! - todos exclamaram em uníssono.

— Casar com aquela mulher? Ela vai ser nossa rainha?! - Sharrkan estava revoltado.

— Então nunca vamos nos livrar dela? - Pisti soluçava.

— Eu sinto muito. - Sinbad se curvou. - Mas só posso tentar remediar um pouco de todas as atitudes vergonhosas que cometi… Me perdoem… Estão… estão livres para partirem também, se desejarem. Não obrigarei ninguém a assumir esse fardo que só pertence a mim.

 O silêncio permaneceu após a última sentença do rei. Não havia mais o que dizer, de ambos os lados. Sinbad, por sua vez, seguiu para o interior do palácio sem nada dizer, sem ao menos encará-lo. Faltava coragem. Faltava ânimo.

 Deixou que a corrente e o pingente ainda seguros em sua mão deslizasse por entre seus dedos, escapando de sua mão e ficando para trás, caído ao chão e sendo banhado por uma, duas, três gotas de chuva. Definitivamente, a ausência de Ja’far fazia com que aquele lugar paradisíaco nem ao menos lembrasse Sindria…

 Mas aquela pequena joia não ficaria ali, jogada ao tempo.

 Uma delicada e suave mão de unhas longas e bem feitas a colheu do chão. Pendurando-a entre seus dedos, a levou à altura dos olhos azuis que refletiam a pedra escarlate.

— Então essa aqui é a coroa da rainha de Sindria? Que bom que a deixou para mim, Ja’far. Acho que vai… - a bruxa ria, passando a corrente de ouro em torno da própria cabeça. - ficar muito melhor em mim do que ficava em você...

 Era o início de uma forte tempestade...


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Notas finais do capítulo

É, Sin, não adianta chorar! Existiam duas versões sobre o Ja'far indo embora. Eu quis tornar menos doloroso, mas acabou sendo mais? Eu queria muito fazer uma história sobre o pingente do Ja'far, mas com ele nas mãos da bruxa agora... Ainda vai dar o que falar. E agora, quem poderá proteger nosso rei? Já que nossa rainha decidiu abandoná-lo - ou não? Hahaha! Muito obrigada por lerem e lembrando sempre, comentários, sugestões, críticas são muito bem-vindos sempre! Beijão!



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