As primeiras eliminações após as meninas começarem a se conhecer foi um choque para todas. Aconteceram muito rápido, e ninguém esperava por tal coisa. Natalie Wounderworld e Marina Orletti foram as mais afetadas: Hwa Yang Mi era sua amiga. Prometeram manter contato, mas sabia que não iriam se ver por muito tempo, talvez até nunca mais. Mas, apesar de tudo, todas sabiam que isso ia acontecer: estavam numa competição, era inevitável. Mas poucos entenderam o que acontecera com a nova-asiática. Um dia aconteceram as conversas, e dois dias depois, sem mais nem menos, ela fora mandada para casa. Não sabiam se fora por opção própria ou se fora o príncipe. Já Maya Mahala Adichie, essa sim todos sabiam o porquê: tanto foram avisadas por Ada, quanto viram nos noticiários: seu projeto social havia dado problema, e ela resolveu voltar para ajudar. Junto com ela viera uma grande doação anônima, que todos sabiam que era do palácio. Pelo menos, as coisas acabaram bem.

Marina Orletti e Natalie Wounderworld observavam a chuva cair do lado de fora da janela do quarto da italiana.

— Eu ainda não acredito que a Yang Mi foi eliminada. E nem disse o porquê!

— Tenho certeza que houve um motivo, Mari. Vamos parar de pensar nisso! Vamos nos divertir um pouco!

Levantou-se e ligou o rádio touch screen, o que foi suficiente para Marina sorrir. Natalie escolheu uma música e começou a dançar, puxando a amiga junto. Dançaram e riram, e quando as criadas voltaram, puxaram-nas também. Acabaram fazendo a clássica briga de travesseiros e a bagunça que vem com ela. Disseram as criadas que não havia necessidade de limparem, e que não precisavam dormir no quarto naquela noite. Testaram maquiagens, roupas, imitaram as outras selecionadas, e, exaustas, dormiram ali mesmo, em moi as penas, vestidos e batons.

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Rebecca Allen Chermont estava tirando fotografias do jardim enquanto andava descalça, sentindo a grama em seus pés, e como sempre, se perdeu nas lentes da câmera, até, através desta, um certo príncipe italiano apareceu, com um sorrisinho no rosto que a selecionada não conseguiu decifrar. Tentou agir naturalmente, e pediu que ele fizesse “xis”. Massimiliano fez uma pose exagerada, o que fez ambos rirem. Rebecca abaixou a câmera e fez uma reverência.

— Vossa Alteza – cumprimentou.

— Senhorita Chermont, me chame de Massimiliano, por favor.

Admita, Rebecca, você corou um pouco.

— Nesse caso, você terá que me chamar de Rebecca.

— Fechado.

A morena se virou para guardar a câmera.

— Então... a que se deve essa ilustre visita?

Mass riu.

— Eu queria saber... – ele não sabia fazer aquilo. Não sabia chamar garotas para encontros— se você queria assistir a um filme.

Rebecca levantou os olhos, com a capa da câmera na mão.

— Um... filme? – O príncipe assentiu. – Eu amo filmes! Seria um prazer!

Ele ofereceu-a o braço, que ela aceitou.

— Gostaria de passar no seu quarto primeiro para deixar a câmera?

Podia ser só impressão, mas Rebecca tinha quase certeza que o príncipe estava insinuando que a câmera atrapalharia. Atrapalharia eles como um “dois”. Se Vicento estivesse lá, ele teria certeza. Ela assentiu.

Quando pararam na frente do quarto da selecionada, Massimiliano ficou apoiado no batente da porta enquanto Rebecca guardava a câmera em sua escrivaninha. Suas criadas a olharam cheias de segundas intenções, e ela apenas respondeu com o olhar de “eu sei, calem a boca” típico de amigas.

No caminho até a Sala de Cinema, o príncipe perguntou:

— Todas aquelas câmeras são suas?

— Uhum.

— Uau. Perdoe-me a ignorância, mas para que se usa tantas câmeras diferentes?

Ela sorriu.

— Não é ignorância, não. As lentes fazem muita diferença, assim como várias outras coisas, como zoom, qualidade da imagem, adaptação à luz, etc.

— Você tem uma favorita?

— Tem uma chamada Polaroid. É muito antiga, de bem antes da Guerra. Mas eu amo! Você tira a foto, e ela imprime na hora! Na máquina mesmo! Mas... não como nas atuais. A tinta dela demora a revelar, você vê a imagem aparecendo aos pouquinhos.

Mass sorriu diante da felicidade da selecionada ao falar daquilo.

— Já que você gosta de coisas antigas, acho que vai gostar daqui.

Mass abriu uma porta que dava à Sala de Cinema. Rebecca ficou sem fala.

— É... uma sala de cinema antiga?

— Uhum.

— Com as cortinas ao redor da tela. Com uma tela só! Com o chão na frente da tela com carpete! Isso... isso é lindo, Massimiliano!

— Que bom que gostou! Sabe, a tela não é por projeção, mas estou providenciando isso.

— Não se incomode! Quer dizer, você faz o que quiser, é a sua casa, mas... já é ótimo assim. Para ser perfeito assim só faltava...

— Pipoca?

Um mordomo apareceu perto deles com uma bandeja, onde dois sacos de pipoca repousavam.

— Estevan... o que eu já disse sobre trazer tudo em bandejas?

— Vossa Alteza, eu só sigo ordens da senhora governanta...

— Tonia. Preciso falar com ela sobre isso. Obrigado de qualquer forma, Estevan.

— Pipocas em bandejas, hein? – brincou Rebecca assim que o mordomo se afastou.

— Eu sei. Preciso dar um jeito nisso. Somos da realeza, não deuses!

Ambos riram. Mass levou a selecionada até uma estante com estranhas caixas de plástico com rótulos de papel colados nelas. E haviam estranhas coisas cintilantes dentro delas. Rebecca reconheceu de um documentário como uns tais de DVDs. O príncipe pegou uma das caixinhas e estendeu para ela. O papel estava desbotado, mas era possível ler em grandes letras garrafais “X-MEN”.

— O que acha deste? É bem antigo, mas...

— Parece ótimo!

Sentaram-se nas cadeiras e o filme começou. Era algo sobre pessoas com poderes especiais, uma escola especial, um senhor careca numa cadeira de rodas, um imã humano e um fumante com garras. Rebecca sentia vontade de comentar o tempo todo, mas se controlou. Descobriu que o método de enfiar pipoca na boca sempre que quisesse falar era bem eficiente.

Mais ou menos na metade do filme o príncipe lhe disse:

— Você pode comentar sobre o filme, se quiser. Sabe disso né?

Ela olhou para ele com olhos arregalados. Ele avia notado? Mass riu.

— Quando eu era pequeno tudo que eu queria era ser a Tempestade.

— Sério? Mas ela é mulher. – Rebecca pensara que, por ser do meio real, ele seria uma pessoa conservadora.

— Não importa. Ela consegue fazer chover quando ela bem entender. Era tudo o que eu queria.

Isso fez com que a selecionada gostasse mais dele. Depois de mais alguns minutos de filme, tanto Mass quanto Rebecca começaram a se aproximar, e, quase no final, o príncipe resolveu arriscar, afinal, ela era uma pessoa bem legal e que o deixava confortável. Se aproximou mais ainda, e sussurrou no pé de sua orelha.

— Sabe, você fica linda quando fica toda animada falando de suas câmeras.

Rebeca gelou um pouco por dentro, ao mesmo tempo esquentando. Levantou os olhos, encontrando os de Mass. Se aproximaram, ambos meio indecisos, mito nervosos. Estavam quase encostando seus lábios quando... Todas as luzes se acenderam.

— Porque diabos está tão escuro aqui? Estevan!

Massimiliano se virou, quase matando Vicento com o olhar.

— Ah, você está aí. Com uma garota! Foi mal!

—É, foi bem mal mesmo!

Antes que saísse, Vicento virou para trás e fez “joinha” com as mãos, como quem dizia “esse é meu garoto!”.