Colisões escrita por The Stolen Girl


Capítulo 1
Saudade do que deixou de ser


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura *-*



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O dia que eu tanto esperava, que tanto imaginei, por noites seguidas, chegou. Sem avisar, num dia qualquer, num lugar mais qualquer ainda. Estava esperando o sinal abrir, quando olhei para o outro lado da rua, e lá estava. Imediatamente senti o peso da aliança em meu dedo, me puxando pra baixo, como se tivesse uma força invisível. Pensei também que o nome escrito nela não era e nem será o seu. Lembrei da minha filha que estava me esperando na escola, e de como seus olhos não saíram negros como os seus, mas sim verdes escuros como o do pai. Senti falta daquela marca de nascença que você tem no mindinho, e que ela provavelmente também teria se fosse sua filha. Meus dedos formigaram quando vi sua barba por fazer, exatamente como era quando estávamos juntos. E aí teve aquele momento de pensar nas coisas boas que vivemos, claro. Ali, no semáforo, eu voltei no tempo.

—Sabe que eu amo isso, não sabe? – você me disse, sorrindo.

—Isso o que?

—Suas mãos pequenas que cabem tão bem nas minhas.

Então me perguntei se sua nova companheira teria mãos assim também. Pior, pensei se teria ou não uma esposa, ou apenas uma namorada. Minutos depois vi que não usava aliança, mas meu coração apertou-se, porque não usar aliança não significa que não se é comprometido. Afinal, o que eu estava pensando? Eu me casei, o que te impediria de fazer o mesmo?

Será que ainda se lembra de nós? Fiquei me perguntando se teria me visto e se pensou tudo isso também. De repente lembrei de como você apoiava meu sonho em cursar arqueologia, e em como acabei virando psicóloga. Será que ao menos você conseguiu tornar-se o que queria? Sorri ao recordar de sua imensa vontade em ser jornalista. Sempre achei que tinha cara de um, na verdade.

Incrível como tanta coisa aconteceu, tantas mudanças e momentos, e eu não te esqueci. Chega a ser estranho. Éramos tão jovens. Aliás, ainda somos. Acho que temos tanto ainda para viver. Porém, os dias que passei ao seu lado me fazem falta desde que as circunstâncias nos separaram.

E te ver depois de tanto tempo, foi um choque, entende? Sentir na pele novamente todos os efeitos que você me traz, mesmo distante, como se os anos não tivessem se passado. À medida que meu coração pula em meu peito, penso que muitas pessoas, se soubessem desses meus sentimentos guardados e adormecidos, me julgariam por estar casada e ter tido uma filha com um homem que aparentemente não amo. Mas acontece que nada é assim tão simples.

Nossa história me marcou. Não é como se eu sempre te enxergasse nele, ou estivesse com ele por obrigação. Você é aquela memória que preenche meus pensamentos antes de dormir. É aquele nome que eu lembro quando o tempo está passando e eu procuro algo pra fazer. Acho que isso se deve às marcas que você deixou no meu coração.

Tudo isso é tão profundo, tão imenso. Todos os anos em atrito, faiscando dentro de mim. E quando o sinal abre e somos obrigados a caminhar, seu olhar encontra o meu, com um misto de reconhecimento e surpresa. É claro, quem diria que nos encontraríamos aqui, depois de tantas mudanças. Uma cidade tão grande, da qual eu sempre quis sair, mas quem acabou saindo foi você. Eu achei que não te veria mais. Mas aqui está você, em todo seus um metro e setenta e cinco de charme, talvez um pouco mais encorpado que antes, mas com a mesma expressão serena e apaixonada pela vida.

E então sorrimos um pro outro, você talvez pensando se devia ou não dizer algo, por fim dizendo “Olá”. Minha resposta pode ter passado despercebida em meio ao barulho de pessoas atravessando. Assim como minha voz continua baixa e fina, a sua permanece melodiosa e firme, um verdadeiro remédio para os meus ouvidos.

Meu coração segue comprimido enquanto ando, e a vontade de olhar para trás e correr até você é tão grande. Meus pés pesam, sem vontade de seguir em frente, teimosos. Ao pisar do outro lado na calçada, é impossível controlar o impulso, e olho para onde estava, te vendo andar tranquilamente. O suspiro que vem a seguir é involuntário e, quando estou prestes a me virar, você está me olhando também, e seu semblante não é mais surpreso e sim nostálgico.

E todos os sentimentos aprisionados em mim transformam-se em lágrimas, que molham meu rosto, marcando o chão a meus pés, o local do nosso reencontro. Se você percebeu que eu estava chorando, nunca saberei. Porque apesar da infinidade desse momento, não passou disso.

A humanidade em nós não permitiu que fosse algo maior. Meu lado covarde se fez presente, e assim permiti que a rotina me engolisse novamente. E o que restou foi a saudade do que não foi, do que deixou de ser. Seguindo meu dia, o que preencheu meus pensamentos foi aquele texto que li um dia, dizendo assim: “Nós não passaremos de nós… Restos de planetas, pó de estrela e saudade. E a colisão não passará do simples ato de colidir, o nosso mais profundo verbo: Eu colido, tu faíscas, nós universo.”


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Deixem seus reviews, e muito obrigada por ler ^^

https://fanfiction.com.br/historia/691285/Antes_da_colisao/ (link da outra história relacionada a esse casal, para quem se interessar)