NOITE DE NÚPCIAS

Gaya conseguira adiar um pouco a noite de núpcias, com a ideia de que ainda não estava pronta fisicamente. Só em alguns meses é que estaria. Só preciso ganhar tempo para fortalecer a minha coragem. Pensava. Já sou a rainha mais nova, não preciso ser a que pariu primeiro. Aquela ideia, mais do que administrar o reino, a assustava. Mas não era só nisso que pensava. Pela manhã, tivera uma conversa produtiva com Adela enquanto comiam o desjejum:

–Você deveria me deixar agir como uma princesa comum. Tenho obrigações e tudo o que faço é te seguir por aí. –Reclamava a moça.

–As outras fazem isso: seguem-me por aí. E não acredito que sejam capazes de muito mais do que isso. –E a outra riu da dureza de sua ironia. –Ao menos você me aconselha e ouve o que tenho a dizer como uma amiga.

–Certo. Outra hora discutimos as minhas funções, agora... O que disse que queria me perguntar?

–O que acha de uma nova casta?

–Uma nova casta? –A outra se assustava. –Mas isso seria possível?

–Não sei, a ala científica deve me dizer...

–Mas qual seria a função dela? –Antes de respondê-la, Gaya respirou fundo, fechou os olhos e os abriu. Seria a primeira vez que falaria daquilo para alguém.

–Soldados. Uma casta inteira deles.

–Não acha um pouco exagerado? –Sobressaltou-se. –Sabe que já tivemos uma casta assim antes, mas os...

–É, eu sei o que eles fizeram com nossa casta de soldados. Mas não acha que assim estamos ainda mais subjugados? –Adela não tinha certeza do que devia dizer:

–Não sei. Talvez... Pense com muita calma antes de...

–Eu sei. Quando tive a ideia, me assustei comigo mesma. Mas é que precisamos ser mais fortes. Muito mais fortes...

–Mas você sabe que já temos uma proteção natural...

–Sim, eu sei. Mas não parece ser o bastante. Eles vivem em uma cúpula, pelos deuses! –E então parou de falar. A outra riu um pouco, mas nada respondeu.

Gaya já vinha pensando nisso há muito tempo. Na verdade, desde que assumira, sempre vinha pensando em coisas. Muitas coisas, e decisões para tomar o tempo inteiro. Decisões importantes cada uma delas. E ainda havia as audiências... E ela ainda não era uma rainha verdadeira. Não até o momento em que começasse a parir a próxima geração. O que estava fazendo até ali era adotar a nação, mas não ser mãe dela. De todos os seus problemas, esse parecia ser o que mais a incomodava. Esse e... Shai. Gostaria de saber notícias sobre ele. Não me dizem nada. Quase nunca. Já fazia um tempo. O rapaz era um herói! Não tinha razão torná-lo prisioneiro! Tudo o que ele fizera era facilmente justificável. Nada daquilo era sua culpa. Queria poder resolver isso, mas no momento tinha tantos outros problemas que... E quando via, a noite inteira se passava e não dormira nada. Tudo começaria novamente e ela nem sabia dizer se estava pronta. Mas sempre tenho de estar, querendo ou não. Seu senso de responsabilidade era implacável como uma doença terminal.